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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

HERODIAS PEDE A CABEÇA DE JOÃO BATISTA



HERODIAS, UMA MULHER QUE SE DEGRADOU PELA VINGANÇA E HOMICÍDIO

"Quando ela (a mulher) escolhe fazer o bem, fá-lo em muito maior medida que qualquer homem. Mas no momento em que ela se vende ao pecado, o seu ódio para com os homens de Deus é muito mais ardente, muito mais feroz, mesmo fatal."
Abraão Kuyper*

Marcos 6:17-28

"A cabeça de João Batista", sussurrou Herodias (Mar. 6:24). Não havia qualquer hesitação na sua voz, nem qualquer traço de dúvida.
À sua volta muitas outras pessoas estavam a falar. Um grupo selecionado de visitantes tinha-se reunido no palácio para a celebração do aniversário do rei Herodes Antipas. Muitos príncipes eminentes, oficiais militares de alta patente e importantes hóspedes de Galiléia tinham vindo ao banquete, atendendo ao convite do monarca (v. 21).
Salomé, a filha de Herodias, inclinou-se prudentemente para a mãe e perguntou: "Que pedirei?" (v. 24)
Perante tal pergunta, Herodias mal pôde suprimir um sorriso de triunfo. A vingança brilhava-lhe nos olhos. Não teve dificuldade em encontrar uma resposta, nem por um momento. Exigiu a cabeça do profeta, João Baptista.
O plano de Herodias tinha resultado. Finalmente ia ver-se livre do homem que tanto odiava. Onde as palavras tinham falhado, vencia a astúcia. Herodes, o marido, seria agora forçado a matar João. Não tinha ele acabado de dizer a Salomé, na presença de todos, "Pede-me o que quiseres e eu to darei"? Tinha mesmo confirmado essas palavras com outras: "Mesmo que seja a metade do meu reino, eu ta darei" (v. 23).
Herodias conhecia a inclinação do marido para a crueldade. Ele partilhava dessa característica da família como o pai, Herodes, o Grande (Mat. 2:13). De fato, Herodes não era um homem de moral elevada. Afinal de contas, não tinha ele repudiado a esposa legal – uma princesa árabe – por ela, Herodias, a mulher do seu irmão Filipe? Não tinham ambos abandonado os seus cônjuges para viverem juntos?
Herodias estava plenamente consciente do orgulho e sensualidade do marido. Esses traços serviram de base à sua reflexão e constituíram a razão que a levara a desafiar Salomé, pouco antes, a dançar perante os hóspedes. Nessa época e região tais danças eram vulgares numa festa, embora não para judeus ortodoxos.
A dança sensual da moça excitou os presentes. Os seus movimentos fascinaram as pessoas que tinham passado a noite a comer e a beber. Achando que aquela atuação voluntária – e aos seus olhos fantástica – tinha de ser altamente recompensada, o rei fez uma declaração injustificável.
Herodias sabia também que Herodes não era um homem corajoso. Ele não ousaria reconhecer que num impulso tinha prometido algo que de fato não queria fazer. Não iria admitir que a vida de um homem não pertencia ao domínio de um monarca terreno. Embora não tivesse o direito a dispor de uma vida, nesta situação ele não consentiria que o seu juramento fosse considerado inválido e sem poder.
Orgulhoso e egoísta, Herodes escolheria de acordo com os seus próprios interesses e contra os do profeta. Mas Herodias tinha de o forçar a fazer essa decisão. O marido hesitava ferir João de sua livre vontade.
Não era esta a primeira vez que Herodias tentava matar João Batista. Até então, o marido tinha sempre protegido o profeta dos seus vis planos. Todas as tentativas que fizera para tirar a vida a João haviam falhado. Mas agora, tinha finalmente preparado uma armadilha a Herodes. Fizera-o com tanta habilidade, que o marido foi apanhado desprevenido. A luta pela cabeça de João Batista tinha terminado. Herodias triunfara.
O seu ato hediondo não tinha resultado de um súbito impulso. Ela não tinha agido num acesso de loucura. Havia trabalhado arduamente naquele plano diabólico durante cerca de ano e meio. Estes fatos foram o pano de fundo do drama horrível que estava prestes a desenrolar-se.
A maneira como Herodes e Herodias viviam escandalosamente juntos era um insulto às leis do povo entre o qual viviam. As Leis de Deus condenavam o que eles estavam a fazer, com palavras muito claras. "E quando um homem tomar a mulher de seu irmão, imundície é; a nudez de seu irmão descobriu; sem filhos ficarão" (Lev. 20:21).
Todavia, tornava-se difícil para os súditos de Herodes e Herodias censurá-los. O monarca e a esposa eram pessoas de grande autoridade. Representavam o imperador romano cujas tropas ocupavam o país judaico.
Foi então que surgiu um homem que não se deixou intimidar pela autoridade real que eles tinham. Falava em nome de Deus. Ele, João Batista, transmitia as Suas ordens sem medo das pessoas. A sua mensagem era incisiva e simples: "Arrependei-vos, porque o Reino dos céus está próximo" (Mat. 3:1-6).
A sua voz, onde se podiam ainda notar a rudeza e a agressividade do deserto onde tinha vivido (Luc. 1:80) ressoava através da Palestina.
A mensagem não era desconhecida. Profetas anteriores, homens como Moisés (Dt. 30:9-11) e Jeremias (Jer. 18:11), tinham proclamado a mesma chamada à conversão. Também eles tinham exortado a nação a melhorar o seu tipo de vida. Se os israelitas se tivessem arrependido, Deus teria perdoado os seus pecados e restaurado a sua terra (2 Crôn. 7:14).
Todavia, a pregação de João era extremamente urgente: o Reino do Céu estava próximo. "Preparai o caminho do Senhor", clamava ele "endireitai as suas veredas" (Mat. 3:3).
Muitas pessoas reconheceram a voz de Deus. Juntavam-se a João em grande número e confessavam os seus pecados. Como prova de que os seus corações haviam sido transformados, eram batizados.
A voz de João não bateu só à porta dos seus concidadãos. Soou também nos portões do palácio do tetrarca, o título correto de Herodes (Luc. 3:19). O título de "rei", embora lisonjeiro, era incorreto, uma vez que ele só governava sobre as províncias da Galiléia e Peréia, um quarto do território judaico.
Herodes e Herodias não eram israelitas, mas edomitas, descendentes de Esaú. Jacó, de quem descendiam os judeus, não se contava entre os seus antepassados. Contudo, eles tinham em comum com os israelitas os patriarcas Abraão e Isaque. Eram portanto parentes afastados dos judeus, no meio dos quais viviam.
A mensagem do profeta não visava apenas a nação dos judeus. Visava também Herodes e Herodias, pois eles precisavam igualmente de se arrepender. Necessitavam voltar-se da direção errada em que seguiam. Deus tinha um recado para eles. Após a sua conversão poderiam receber o perdão e a restauração.
João não se contentou em deixá-los com uma exortação genérica. Não hesitou em advertir o casal pessoalmente. "Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão" – dizia ele francamente a Herodes. Salientou também outros crimes que o tetrarca estava praticando (Luc. 3:19-20).
Não se poderia conceber uma diferença maior entre o justo e resoluto profeta e o imoral e indeciso Herodes. Todavia, tinha-se desenvolvido entre os dois homens uma certa relação. O rei sentia-se atraído para o profeta, apesar do fato de João sempre lhe ter declarado a verdade dura. Reconhecia em João qualidades que a ele lhe faltavam: retidão e uma vida santa. Por isso, Herodes tinha mandado vir João muitas vezes à sua presença para o ouvir falar. Como resultado, o rei ficou cada vez mais confuso, mas não se verificaram quaisquer mudanças espirituais na sua vida.
Herodias via esta fraqueza do marido perante o profeta como um perigo adicional. A mulher através de cuja influência dois casamentos haviam sido desfeitos queria estar certa de que não seria repudiada. Desde o momento em que João tinha exposto a sua ligação pecaminosa, passara a odiá-lo – a ele, o perturbador da sua paz. Queria apanhá-lo de qualquer maneira!
Acima de tudo, Herodias queria evitar que Herodes se deixasse influenciar ainda mais por João Batista. Por isso, pediu-lhe que prendesse João, e finalmente conseguiu-o. A possibilidade de o matar parecia estar agora ao seu alcance, pois a prisão ficava dentro dos muros da fortaleza onde morava a família real. Todavia, Herodes continuava vigilante, no seu próprio interesse e no de João. Ele sabia que a morte de João podia resultar num tumulto, pois as pessoas consideravam-no sem dúvida uma profeta (Mat. 14:5). E o seu «trono» tão inseguro poderia não resistir a tal revolta.
Assim o profeta que começou por trazer as pessoas de volta a Deus estava encerrado numa prisão. O homem de quem Jesus dissera, "Entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista" (Mat. 11:11), estava cativo. Era presa de uma mulher mesquinha e sedenta de sangue e de um homem cruel e indeciso. Privado da sua liberdade, jazeu acorrentado – dia após dia, semana após semana – até que, por fim, chegou a duvidar da seu próprio chamado" (Mat. 11:2-6).
Herodias provou o ódio que lhe tinha. Com uma precisão mortal, armou as suas ciladas em torno de João. Apanhou também Herodes nessas armadilhas, minando a sua vigilância.
Como acontece com muitos pais, Herodias tinha a característica de usar a sua filha para seu próprio proveito. Mesmo essa filha foi sacrificada ao seu plano diabólico, cuja fase final estava agora à vista.
Salomé, influenciada pela mãe, não perdeu tempo a apresentar o seu pedido diante do rei. As suas reações foram ainda mais cruéis que a da mãe. Verificou que a sua horrível missão exigia rapidez. Tinha de fazer depressa o seu trabalho, antes que a disposição do rei mudasse. De outro modo, ele poderia voltar atrás com a sua oferta estouvada.
"Quero que, sem demora, me dês num prato a cabeça de João Batista" (Mar. 6:25).
Nem mesmo a mãe tinha ido tão longe. Mas o ódio da mãe tinha envenenado os pensamentos da filha. Para Salomé não bastava que João fosse assassinado sem um julgamento aberto, sem ser interrogado ou sem qualquer tipo de defesa. Ela não se contentava em que ele tivesse de deixar esta vida sem dizer adeus aos amigos. João continuaria a ser profundamente humilhado até à morte; o prato com a sua cabeça rígida constituiria um suplemento à sobremesa da festa de aniversário de Herodes, na base do pedido explícito de Herodias e Salomé.
Os grandes dias festivos constituíam oportunidades durante as quais os monarcas mostravam muitas vezes misericórdia, mas Herodias degradou horrivelmente este dia de festa. Assassinou um homem inocente cujo único "crime" tinha sido o de falar corajosamente as palavras de Deus, e fez de dois dos seus parentes cúmplices do seu crime.
Embora os nomes de Herodes e Herodias significassem "heróico", raras vezes os significados dos nomes estiveram em tão flagrante contradição com as vidas dos que os usavam. Os seus atos não brotavam de heroísmo. Pelo contrário, foram ditados pelo inferno.
A galeria de retratos que a Bíblia apresenta mostra muitas mulheres pecadoras, mas poucas delas foram tão perversas como Herodias. Poucas tiveram as mãos tão manchadas de sangue como ela. A possibilidade de se arrepender foi-lhe claramente oferecida, mas rejeitou, cometendo assim o maior dos seus pecados.
Antes de João ter sido encarcerado, tinha apontado para um homem que percorria a terra da Palestina, pregando e fazendo muitos milagres – Jesus de Nazaré. "Vede! Ali está o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo", dissera João Batista (João 1:29). E acrescentou: Eu não sou importante, mas Ele é (Mar. 1:7). Eu sou apenas o Seu arauto, a voz que O anuncia, o dedo que aponta para Ele.
Os judeus entendiam este simbolismo. Aquelas palavras prediziam que Jesus – como um Cordeiro inocente de acordo com o seu pacto com Deus (Êxo. 12:1-6) – daria a Sua vida para os redimir. Dali em diante não seriam necessários mais sacrifícios de animais para substituir o homem pecador. Jesus era o Messias anunciado – o Salvador do homem, do Seu povo, do mundo inteiro (João 3:16).

Jesus, o Filho de Deus, identificou-se de tal modo com os pecadores, que tomou sobre Si próprio a sentença de morte que pesava sobre eles. Desse modo, a exigência de Deu de que o pecador tinha que morrer, foi satisfeita; az sua condenação caiu sobre Cristo, em vez de sobre a humanidade. O culpado fica livre, porque o Inocente suportou a pena (Isa. 53:5-12). Sempre que uma pessoa admite e confessa o seu pecado e recebe Cristo como Salvador, recebe o perdão de Deus. A salvação é agora acessível a todos.

João exortou Herodes e Herodias de modo que eles pudessem ter também uma parte nesta nova relação com Deus. Mas para isso, tinham de confessar os seus pecados, de renovar as suas vidas. João queria que eles se encontrassem com o Messias que já vivia entre eles. Mas o casal recusou atender ao apelo de Deus.
Quão diferente foi a resposta da mulher samaritana numa situação idêntica. Como Herodias, ela era conhecida publicamente pela sua imoralidade (João 4:18). Também ela foi visitada pessoalmente, embora pelo próprio Jesus (vv. 7-26), e não por João.
Essa mulher, reconhecendo que o pecado a tinha conduzido a um beco sem saída, chegou a uma fé salvadora. A sua vida modificou-se radicalmente e tornou-se uma bênção para outros. Diversas pessoas da sua aldeia vieram a crer em Jesus Cristo por meio do seu testemunho (vv. 28-29).
Todavia, com Herodias aconteceu o contrário. A vida dela degenerou. Tornou-se uma maldição para o ambiente em que vivia. Teve a crueldade de carregar a consciência da sua própria filha com o sangue de um dos servos escolhidos de Deus. A sua filha Salomé nunca revelou sinais de arrependimento. A consciência dela, como a da mãe, estava demasiado cauterizada.
Herodias teve também uma influência destrutiva sobre o marido. Ao princípio, Deus tinha visto uma possibilidade para a conversão de Herodes. A porta do seu coração tinha permanecido entreaberta à fé até que, pela influência de Herodias, se fechou redondamente.
Quando, algum tempo mais tarde, Jesus foi sentenciado à morte, deu atenção a Pilatos. Na cruz, Cristo abriu mesmo o céu a um assassino (Luc. 23:39-46). Mas nada teve a dizer a Herodes (v. 9), que havia perdido a sua oportunidade. Como Herodias, ele não tinha escutado quando Deus lhe falou através de João. Ambos experimentaram o fato de que Deus freqüentemente fala mais que uma vez à mesma pessoa (Jó 33:14). Mas quando esta não atende a Seu chamado pode perder a sua oportunidade para sempre.
Herodes, que em tempos tinha tentado evitar a morte de João Batista, teve parte na morte de Jesus (Luc. 23:8-12). Ele continuou a tradição sanguinária da família. O seu coração estava endurecido.
A vida de Herodias teria sido diferente se ela se tivesse corrigido a tempo e ouvido a advertência de Deus. Infelizmente, preferiu o pecado; ignorou o amor de Deus que a tinha avisado a tempo. Recusando aceitar a solução para o seu problema, trouxe a desgraça sobre si própria. Endureceu o coração (Prov. 28:14) contra os ensinos do Senhor. O maior pecado de Herodias não foi o adultério ou o assassínio; foi a incredulidade.
"Quem ama a disciplina ama o conhecimento, mas o que aborrece a repreensão é estúpido" (Prov. 12:1). Estas são palavras de Salomão, o homem mais sábio de todos os tempos.
"Retém a instrução e não a largues", avisou ele também, "guarda-a, porque ela é a tua vida" Prov. 4:13).  " o que abandona a repreensão anda errado " (Prov. 10:17).
Herodias rejeitou a repreensão que visava o seu bem, e as conseqüências foram desastrosas, tanto sob o ponto de vista material como espiritual. Flávio Josefo escreveu que a ambição de Herodias acabou por ser a sua ruína. Ela abusou da sua influência sobre Herodes e incitou-o a pedir ao imperador Calígula o título de rei. O pedido foi recusado, Herodes foi exilado e desprezado para o resto da vida (Flávio Josefo, Antiquities of the Jews, Livro 18, cap. 7). Herodias partilhou da humilhação do marido. Tal foi a recompensa de uma mulher que, por causa da vingança, se degradou a ponto de cometer um homicídio.

Herodias, uma mulher que se degradou pela vingança e homicídio
(Marcos 6:17-28)

Perguntas:
1. Por que é que Herodias estava interessada na morte de João Batista? De que meios se serviu para atingir o seu alvo?
2. Em que sentido é que a influência de Herodias afetou o marido e a filha?
3. De que modo é que a advertência de João Batista podia ter influenciado a vida de Herodias ?
4. Que pecados cometeu Herodias? Qual lhe parece ter sido o pior? Por quê?
5. Estude Deuteronômio 30:9-10 e II Crônicas 7:14. Quais são as condições para se poder experimentar a bênção de Deus?
6. Haverá ocasiões na sua vida em que também deixa de ouvir a orientação de Deus e perde assim parte das Suas bênçãos?




FONTE: LIVRO SEU NOME É MULHER 2



* De Women of the Old Testament, por Abraão Kuyper, p. 60.

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