A doutrina Adventista do Juízo Investigativo
Dr. Mário Veloso
Secr. de Campo da Divisão Sul-Americana
O Ministério Adventista
nº 2 Mar-Jun1981
Em nosso desenvolvimento deste tema precisamos seguir um esquema muito
claro para evitar toda confusão, pois a menor confusão poderia levar-nos a obscurecer
a totalidade do que queremos apresentar, podendo arrastar-nos para alguns dos
tantos erros que soem ser cometidos ao tratar de um assunto como este.
Portanto, esta introdução tem duas partes bem definidas: a primeira se
ocupa de dar-nos quatro dados prévios indispensáveis para o desenvolvimento do
tema, e a segunda nos oferece o esboço de seu desenvolvimento, depois de expor
o problema do qual queremos tratar nesta exposição.
Dados
Prévios Indispensáveis
Não se pode
desenvolver um tema sem definir primeiro o que entendemos por ele; assim, definiremos
o Juízo Investigativo, depois indicaremos a necessidade de conhecê-lo, então
sua importância e, por último, a data quando é realizado.
Definição. — A definição que damos a seguir foi extraída da Enciclopédia Adventista:
“É um termo adventista para a fase preliminar do grande juízo final por
meio do qual Deus intervirá nos assuntos humanos para acabar com o reinado do
pecado e inaugurar o eterno reino de justiça, de Cristo”1
Esta definição não estará completa se não dissermos em que consiste o
juízo investigativo e qual é o seu propósito.
“Consiste num exame dos registros
do vida dos que alguma vez professaram aceitar a salvação em Cristo, e cujos
nomes, portanto, foram inscritos no “livro da vida do Cordeiro”. 2
Seu propósito é verificar se eles
estão em condições de ser cidadãos do eterno reino de Deus.
A necessidade de conhecer o juízo
investigativo. — Esta necessidade
é claramente expressa no seguinte parágrafo:
“O assunto do santuário e do
juízo de investigação, deve ser claramente compreendido pelo povo de Deus.
Todos necessitam para si mesmos de conhecimento sobre a posição e obra de seu
grande Sumo Sacerdote. Aliás, ser-lhes-á impossível exercerem a fé que é
essencial neste tempo, ou ocupar a posição que Deus lhes deseja confiar.”3
As duas primeiras
declarações do parágrafo citado não são mais que duas formas de dizer a mesma
coisa. Destacamos a força enfática dos verbos utilizados: “deve” e
“necessitam”. É um dever e uma necessidade conhecer o juízo investigativo ou o
ministério e a obra de nosso grande Sumo Sacerdote. É uma necessidade e um
dever porque este conhecimento é uma das colunas fundamentais da vida do
verdadeiro cristão. Um está vinculado a sua relação pessoal com Deus: a
capacidade de exercer fé nEle quando tudo parece opor-se à fé; e o outro está
vinculado a sua relação com o próximo, visto que a posição que Deus nos quer
confiar sempre estará relacionada com a salvação de nosso próximo por ser
este o supremo interesse de Deus sobre a Terra.
O próprio ser do cristão é um
ser de fé e ação que se fundamenta em Deus. A ação é uma ação evangélica de proclamação. A fé é uma viva relação não
só com o evangelho, mas também com o vivo conteúdo do evangelho: Cristo Jesus.
Tudo que um cristão é depende de sua relação pela fé com Cristo e com a missão
dada por Cristo. Se tanto a fé como o cumprimento da missão, são afetados pelo
conhecimento do juízo investigativo, esse conhecimento certamente se converte
numa necessidade e num dever cristão nesta hora de crise em que nos compete
viver.
Importância do juízo investigativo. — Só um parágrafo de O Grande
Conflito será suficiente para aclarar a tremenda importância dessa parte
da obra de Cristo: “A intercessão de Cristo no santuário celestial, em prol do
homem, é tão essencial ao plano da redenção, como o foi Sua morte sobre a
cruz.”4 “O resto do parágrafo que citamos
diz o seguinte:
“Pela Sua morte iniciou essa obra,
para cuja terminação ascendeu ao Céu, depois de ressurgir. Pela fé devemos penetrar até o
interior do véu, onde nosso Precursor entrou por nós. (Hebreus 6:20.) Ali se
reflete a luz da cruz do Calvário. Ali podemos obter instrução mais clara dos
mistérios da redenção. A salvação do homem se efetua a preço infinito para o
Céu, o sacrifício feito é igual aos mais amplos requisitos da violada lei de
Deus. Jesus abriu o caminho para o trono do Pai, e por meio de Sua mediação
pode ser apresentado a Deus o desejo sincero de todos os que a Ele se chegam pele fé.”5
Data do juízo investigativo. —
Não nos
compete analisar aqui todos os pormenores referentes à data do juízo
investigativo, mas simplesmente declarar que se realiza no tempo que decorre
entre 1844 e a Segunda Vinda de Cristo.
Problemas a Serem Estudados e Esboços de seu
Desenvolvimento
O assunto que queremos estudar é simplesmente
determinar a obra que Crista está efetuando no juízo investigativo, a quem
afeta e como. Para alcançar este objetivo analisaremos primeiro os serviços do
santuário e o juízo investigativo, depois a obra de Crista desde Sua ascensão,
e finalmente faremos uma síntese do que a Igreja Adventista crê acerca do
juízo investigativo.
Os Serviços do Santuário e o Juízo Investigativo
A doutrina do
juízo investigativo está relacionada com a doutrina do santuário; portanto não
podemos estudar o juízo investigativo sem considerar primeiro o ministério do
santuário.
No ministério do santuário havia dois serviços e três espécies de
sacrifícios relacionados com eles. Um era o serviço diário. Realizava-se
no átrio e no lugar santo, cada dia do ano (Heb. 9:6). Os sacrifícios apresentados eram o sacrifício
da manhã e da tarde — o contínuo — e os sacrifícios que os pecadores
apresentavam como oferta por seus pecados individuais, O segundo era o serviço anual, realizado no lugar santíssimo uma vez por ano (Heb. 9:7), quando
eram oferecidos sacrifícios especiais. Este recebia o nome de Dia da
Expiação.
Os Sacrifícios
Eram a atividade mais importante
que se realizava no santuário. Foram o “elemento dominante da religião
hebraica” desde “os tempos mais antigos até a destruição do segundo templo no
ano 70d.C.”6
O assunto que
queremos estudar é
simplesmente determinar a obra que Cristo está efetuando no Juízo
investigativo.
O sacrifício
continuo (Tamid).
— Este sacrifício consistia num
animal (cordeiro) que era oferecido inteiro, junto com uma oferta de cereal e
uma libação (cf. Êxo. 29:38-42; Lev. 6:13; 24:3, 4 e 8; Núm. 28:3 e 6; I Reis
18: 29-36; II Reis 25:29 e 30; II
Crôn.2:3; 24:14; Esd. 3:5; 9:4; Ezeq.39:14; 46:13-15). Seu nome em hebraico,
tamid, significa continuidade, perpetuidade, denotando que devia ser feito
continuamente. Por conseguinte, cada dia do ano, de manhã e à tarde, eram
oferecidos esses sacrifícios para benefício de todo o povo. Assim se provia
expiação para todos. Onde quer que um israelita vivesse, podia elevar o
coração a Deus, volver o rosto para Jerusalém, confessar seus pecados e
apoderar-se da gratuita provisão dessa expiação (1 Reis 8:37, 39, 44, 45, 48 e
49).
Sacrifícios individuais. —
Os indivíduos também ofereciam seus
próprios sacrifícios à medida que a oportunidade o tomava possível. Estes eram
uma expressão de sua gratidão, de sua fé e de sua aceitação da provisão divina
para salvá-los do pecado. Nem todas as oferendas dessa espécie eram
sacrifícios de animais, como por exemplo a das primícias, mas os sacrifícios
expiatórios tinham de sê-lo — pois “sem
derramamento de sangue não há remissão” (Heb. 9:22) —
como a oferta pelo pecado e a oferta pela culpa (Exo. 29:10 e 19; Lev.
1:4; 3:2, 8 e 13; 4:4, 24, 29e33; 16:21;
24:14; Núm. 27:18; Lev. 5:16 e 19; 7:1-7
e 14; Núm. 5:7 e 8; 6:12; 18: 9;
II Reis 12:17; Esd. 10:19).
Sacrifícios especiais no Dia da
Expiação. —
Este dia, chamado em hebraico Iom Cafarim, significa dia de proteção,
dia de expiação, dia de refúgio. A expiação é, então, “refúgio por meio de
representação”.7 Um refúgio sempre implica a existência de um
perigo; neste caso a perigo era ser eliminado “do seu povo” (Lev. 23:29). O
refúgio provido não era um lugar onde as pessoas pudessem abrigar-se, e, sim,
um substituto, um representante: o sacrifício oferecido. Três eram os
principais atos do ritual do Dia da Expiação: Em primeiro lugar vinham os
sacrifícios que o sumo sacerdote oferecia por si mesmo e por sua casa. Em
segundo lugar se oferecia o sacrifício mais importante de toda a cerimônia: o
bode para Jeová, que provia o sangue expiatório ou purificador. E em terceiro
lugar vinha a cerimônia relacionada com o bode para Azazel, cuja sangue não
era derramado, pois havia somente um sangue expiatório: o do bode para Jeová.
Os ritos desse dia, o único dia de jejum prescrito na lei mosaica, estão
registrados em Levítico 16, complementado pelos relatos de Lev. 23:26-32 e
Núm.29:7-11.
Registro dos Pecados
Como se produzia a contaminação
do pecado? Meticuloso estudo de todo o sistema de sacrifícios do Santuário
mostra claramente que havia um registro de pecados. Este registro era produzido
por transferência: o pecado se transferia do pecador culpado para a vítima
que era sacrificada, depois para o sacerdote que comia a carne e por último
para o altar e para o santuário, onde era derramado e aspergido o sangue, ou
estava presente por meio da pessoa do sacerdote quando entrava nele.
Lemos em Jeremias 17:1: “O pecado de Judá está escrito... nas pontas dos
seus altares.” Em Levítico 10:17, repreendendo a Eleazar e Itamar por não haverem
comido a carne do sacrifício, disse Moisés:
“Por que não comestes a oferta pelo pecado no lugar santo? pois
coisa santíssima é; e o Senhor a deu a vós outros, para levardes a iniqüidade da congregação, para fazerdes expiação
por eles diante do Senhor.” (O grifo é nosso.) Lemos também
em Lev.4:17: “Molhará o dedo no sangue, e o espargirá sete vezes perante o
Senhor, diante do véu.” “ Por esta cerimônia, mediante o sangue, o pecado era
figuradamente transferido para o santuário.”8
A obra do sacrifício diário era uma obra de
reconciliação em prol do homem pecador. Seu pecado era perdoado. O transgressor
era livrado de sua iniqüidade, mas ficava um sangrento registro do pecado no
santuário. Neste sentido, o sacrifício diário cumpria dupla função: era um
substituto que obtinha o perdão para o pecador e um meio para registrar o
pecado no santuário. O perdão do pecado não elimina a obra do juízo final, mas
garante a libertação do pecador, porquanto o registro desse pecado foi
efetuado pelo sangue do substituto que, pelo ato do sacrifício, se transformou
no autêntico possuidor da culpa.
No santuário celestial, o “verdadeiro tabernáculo” (Heb. 8:2), do qual o
santuário terrestre somente era uma “figura e sombra” (Heb. 8:5), também se
guardam registros da conduta dos homens. Tanto Daniel como João, em suas
descrições do juízo, nos falam de uma cena em que “se abriram os livros” (Dan.
7:10; Apoc. 20:12). Esses livros não são códigos de leis, e, sim, registros de
conduta.
A Escritura Sagrada nos fala de dois
livros ou espécies de livros: o livro da vida (Exo. 32: 32; Sal. 69:28;
Exo. 32:33; S. Luc. 10:20;
Filip. 4:3; Heb. 12:23; Apoc. 3:5; 20:12 e 15), e o livro de memórias ou
memorial (Mal. 3:16 e 17). No livro da
vida são registrados “os nomes de todos os que já entraram para o
serviço de Deus”. 9 No livro de memórias, as obras
boas e também as más. Sobre o registro de boas obras, Ellen C. White diz o seguinte:
“Estão registradas as boas ações dos que ‘temem ao Senhor... No livro memorial de Deus toda ação de
justiça se acha imortalizada. Ali, toda tentação resistida, todo mal vencido,
toda palavra de terna compaixão que se proferir, acham-se fielmente
historiados. E todo ato de sacrificio, todo sofrimento e tristeza, suportado
por amor de Cristo, encontra-se registrado.”10
A obra que Cristo está desempenhando no Juízo
Investigativo, está relacionada com os
santos que têm
existido desde Adão.
Acerca do
registro das obras más, ela afirma: “Pecados de que não houve arrependimento e
que não foram abandonados, não serão perdoados nem apagados dos livros de
registro, mas ali permanecerão para testificar contra o pecador no dia de
Deus.”11 Há vários textos bíblicos que fazem
alusão a um registro dos pecados dos homens. Ver, por exemplo, Ecles. 12:14;
5; Mal 12:36 e 37; I Cor, 4:5;
Isa. 65: 6 e 7.
É claro,
portanto, que o serviço diário expiava o pecado e o registrava no tabernáculo
até o Dia da Expiação, quando se purificavam todos os pecados nele acumulados
durante o ano todo.
Limpeza dos Registros
“Os pecados de
Israel, sendo assim transferidos para o santuário, tornavam contaminados os
lugares santos, e uma obra especial se tornava necessária para sua remoção.”12
Deus ordenara que fosse purificada cada uma das partes do sagrado
santuário, e também o altar. “E o purificará, e o santificará das impurezas
dos filhos de Israel.” Lev. 16: 19 e 16.
O objetivo da principal cerimônia
do Dia da Expiação era limpar os registros dos pecados de Israel que se haviam
acumulado durante o ano todo. Para isto o sumo sacerdote entrava no Lugar
Santíssimo com o sangue do bode de Jeová. No entanto, não era unicamente purificação e
juízo o que se fazia no santuário durante o Dia da Expiação; pois o
sacrifício continuo não cessava nesse dia, indicando assim que continuava a
salvação do pecador por meio da administração do perdão.
O sangue do bode de Jeová era para beneficio do povo (Heb. 7:27; Lev. 16:30
e 33) e para expiação “pelos filhos de Israel por causa dos seus pecados” (Lev.
16:34), Esse mesmo sangue purificava o Lugar Santíssimo, o lugar santo, o
altar e todo o tabernáculo.
Quando a expiação pelo povo e a purificação do santuário já haviam sido
realizadas, e quando todos os que queriam ser reconciliados já haviam sido
reconciliados, então, e só então, entrava em cena o bode para Azazel (Lev.
16:20), O sumo sacerdote colocava sobre ele os pecados acumulados no
santuário e, depois, pela mão de um homem, o bode era enviado ao deserto para
que morresse ali (Lev. 16:21 e 22). Esse bode não era sacrificado, pois não
constituía a expiação pelo pecado, mas era punido com a morte de fome e sede no
deserto.
O bode para Azazel era símbolo de Satanás. 13 Por isso não podia ser sacrificado pelo
pecado. Unicamente Cristo é “a propiciação pelos nossos pecados” (I S. João
2:2; 4:10).
Cristo é Sumo Sacerdote no santuário celestial (Heb. 8:1 e 2). Ele aplica
ali os méritos de Seu sacrifício aos pecadores arrependidos (Heb. 9:12-15). O santuário celestial também precisa ser
purificado como o era o santuário terrestre, figura daquele. Hebreus 9:23
diz que “as próprias coisas celestiais” seriam purificadas “com sacrifícios..,
superiores”. Daniel profetizou dizendo:
“O santuário será purificado.” Cap. 8:14. O registro dos pecados que
Deus mantém no Céu parece ser o que confere impureza ao santuário celestial.
Visto que o Dia da Expiação do santuário terrestre era um serviço de
purificação dos registros do pecado do ano todo e de todo o povo de Deus, o
Dia da Expiação final ou juízo investigativo, deve estar relacionado com uma
obra semelhante. Com esta conclusão estamos prontos para considerar o ponto
seguinte:
A obra de Cristo Desde Sua Ascensão
A obra de Cristo desde sua ascenção abrange duas atividades que correspondem a dois períodos definidos: o primeiro
vai desde Sua ascensão até 1844, e o segundo, desde 1844 até Sua segunda vinda
em glória. A idéia de duas atividades distintas na obra de Cristo desde Sua
ascensão é claramente expressa no parágrafo que segue:
“Depois de Sua ascensão, nosso Salvador iniciaria Sua obra como nosso Sumo Sacerdote... Assim como
o ministério de Cristo devia consistir em duas grandes
divisões, ocupando cada uma delas um período
de tempo e tendo um lugar distinto no santuário celeste,
semelhantemente o ministério típico consistia
em duas divisões — o serviço diário
e o anual — e a cada um deles era
dedicado um compartimento do tabernáculo.”14
Desde a Ascensão Até 1844
A obra de
Cristo durante esse período era representada no santuário terrestre pelo serviço
diário. Isto significa que durante todo esse tempo, Cristo esteve
oferecendo perante o Pai. “Seu sangue em favor dos crentes arrependidos”.15 Cristo esteve aplicando Seus méritos a
todos os que se arrependiam, com o objetivo de perdoar-lhes os pecados e livrá-los
de suas culpas. Era uma obra de perdoar aos pecadores e de libertá-los. O perdão
era e é produzido pelos méritos do sacrifício de Cristo, e a libertação do
pecado era e é produzida pela transferência do pecado do pecador para Cristo.
Tudo isto ocorre no plano do indivíduo e da prática, mas não no plano de Deus
e da legalidade. Neste último plano ainda há uma obra a ser realizada, pois “o
sangue de Cristo, ao mesmo tempo que livraria da condenação da lei o pecador
arrependido, não cancelaria o pecado; este ficaria registrado no santuário
até à expiação final”. 16
Depois
de ascender ao Céu, Cristo entrou no Lugar Santíssimo do santuário celestial
(Heb. 9:12) para ser entronizado (Apoc. 3:21) e para inaugurar Seu ministério
ou dedicar o santuário, assim como Arão entrou no lugar santíssimo do santuário
terrestre quando o dedicou e iniciou os serviços nele (Lev. 9: 8-12). Depois
continuou Seu trabalho normal no primeiro compartimento. Este ministério consiste em suster Sua Igreja
(Apoc. 1: 12 e 13), enviar Seu Espírito
(Apoc. 4: 5; 5:6), interceder em favor dos pecadores (Apoc. 8: 3 - 5).
Desde 1844 Até a Segunda Vinda de Cristo
A obra de
Cristo desde 1844 era representada no santuário levítico pelo serviço anual
realizado no lugar santíssimo.
Intercessão para perdoar. — É verdade que em 1844 Cristo entrou no Lugar Santíssimo para iniciar
a segunda parte de Seu ministério em favor dos pecadores, isto é, o ato de
apagar os pecados dos registros celestiais, mas isto não significa que Cristo
tenha abandonado Sua obra de perdão e de libertação dos pecaores. Pelo
contrário, assim como no Dia da Expiação não cessava o sacrifício contínuo,
tampouco, durante o juízo investigativo, cessa Cristo Sua obra de perdoar os
pecados. Só que desde 1844 Cristo
acrescentou ao ato de perdoar os pecados o ato de apagá-los dos registros. Esta idéia é claramente expressa no seguinte
parágrafo:
“Quando, no cerimonial típico, o
sumo sacerdote deixava
o lugar santo no Dia da Expiação, entrava perante Deus para
apresentar o sangue da oferta pelo pecado, em favor de todos os israelitas que verdadeiramente se arrependiam de suas
transgressões. Assim Cristo apenas completara
uma parte de Sua obra corno nosso intercessor para iniciar
outra, e ainda pleiteia com Seu
sangue, perante o Pai, em favor dos pecadores.”17
Intercessão para apagar: Obra de Juízo. — O ato de apagar abrange
necessariamente uma obra de juízo (Apoc. 5, 14 e 15), pois deve ser determinado
quem ou o que será apagado, ou quem
ou o que não será apagado. Com isto
já estamos dizendo que é apagado: nomes do livro da vida e pecados do livro de
memórias.
Os nomes apagados do livro da vida são os daqueles que havendo primeiro
aceito a Cristo, depois pecaram e se afastaram dEle, negando-O como sacrifício
expiatório. Em Êxodo 32:33 Deus disse a Moisés: “Riscarei do Meu livro todo
aquele que pecar contra Mim”; e em Apoc. 3:5 lemos o seguinte: “O vencedor
será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome
do livro da vida.” Isto significa que quem não vencer será apagado do livro da
vida. Em todo caso, para determinar quem alcançou a vitória pelos méritos do
sangue derramado por Cristo e quem não a alcançou, é necessário um processo de
julgamento, e é isto que constitui o juízo investígativo. Neste juízo Cristo
apaga nomes do livro da vida e também pecados do livro de memorias.
Os pecados apagados do livro de memórias são aqueles de que seus autores se
arrependeram e receberam o perdão pelos méritos do sacrifício expiatório de
Cristo. A Bíblia faz muitas referências ao fato de que os pecados serão
apagados. Lemos no Salmo 51:1: “Segundo a multidão das Tuas misericórdias,
apaga as minhas transgressões”; e no verso 9 encontra-se a frase: “... e apaga
todas as minhas iniqüidades.” Neemias roga a Deus que aos inimigos de Seu povo
não lhes seja encoberta a iniqüidade, “e não se risque diante de Ti o seu pecado”
(Neem. 4:5). Em Isaías 43: 25, Deus Se apresenta dizendo:
“Eu, Eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões”, e Pedro roga a seus
ouvintes que se arrependam, “para que sejam apagados os vossos pecados” (Atos
3: 19).
Segundo o que dissemos, há uma grande diferença
entre o ato de perdoar o pecado e o ato de apagar o pecado. O perdão é algo
que pode ser conhecido e experimentado por viva fé no Senhor, o que elimina o pecado da vida do pecador. O
ato de apagar o pecado é um processo legal que elimina o pecado de seu registro
e conduz à eliminação final do pecado em si.
Quem é julgado. — Havendo aclarado que a obra do juízo
investigativo é essencialrnente uma tarefa em que se
identifica quais os nomes que devem ser apagados do livro da vida e a quem é
aplicada a expiação de Cristo para apagar seus pecados do livro de memórias,
precisamos estabelecer agora que pessoas são submetidas a essa espécie de
juízo. Tiago White, num artigo publicado na Review and Herald de 29 de janeiro de 1857 e intitulado: “O Juízo”, declarou que no mundo há duas
classes de pessoas: os justos e os
pecadores e acrescentou:
“Ambas essas classes serão julgadas antes que ressuscitem dentre os
mortos. O juízo investigativo da casa ou igreja de Deus, ocorrerá antes da primeira ressurreição,
e o juízo dos ímpios ocorrerá durante
os mil anos de Apocalipse 20, e eles serão ressuscitados no fim desse
período....O juízo dos justos é realizado enquanto Jesus oferece Seu sangue
para apagar-lhes os pecados.” 18
Segundo Tiago White, as pessoas
julgadas no juízo investigativo são os justos ou a igreja de Deus, visto que
os ímpios serão submetidos a julgamento durante os mil anos. Esta idéia se harmoniza
perfeitamente com o que foi declarado por Ellen G. White:
“Assim, no grande Dia da Expiação
final e do juízo de investigação, os únicos casos a serem considerados são os
do povo professo de Deus. O julgamento dos ímpios constitui obra distinta e
separada, e ocorre em ocasião posterior. “E tempo que comece o julgamento
pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que
são desobedientes ao evangelho?” 19
Podemos inferir, portanto, que no juizo
investigativo somente são consideradas as vidas dos filhos de Deus que viveram
através dos séculos e cujos nomes se encontram
no livro da vida. Mas não só dos que estão mortos, mas também dos que estão vivos. Paulo disse a Timóteo: “Os pecados de alguns homens são
manifestos precedendo o juízo; e em alguns manifestam-se depois.” I Tim. 5:24, Almeida, antiga. “Isto é, alguns homens
revelam ou confessam seus pecados e vão a juízo enquanto o sangue de Cristo
pode apagá-los e os pecados podem ser olvidados; ao passo que os pecados não
confessados, pelos quais não houve arrependimento, continuarão a existir e
deporão contra o pecador no grande dia do juízo de mil anos.” 20
Quando serão julgados os vivos? — Se no juízo investigativo também
serão julgados os justos vivos, perguntamos imediatamente: Quando começa o juízo dos vivos?
A primeira resposta a esta pergunta é: Perto do fim do juízo
investigativo. Assim o diz Ellen G.
White, ao escrever: “Começando pelos que primeiro viveram na Terra, nosso
Advogado apresenta os casos de cada geração sucessiva, finalizando com os
vivos.”21 Todavia, não
se saberá quando esse juízo houver terminado. É o que declaram estas palavras:
“Quando se encerrar a obra do
juízo de investigação, o destino de todos terá sido decidido, ou para a vida,
ou para a morte. . . . Os justos e os ímpios estarão ainda a viver sobre a Terra em seu
estado mortal: estarão os homens a plantar e a construir, comendo e bebendo,
todos inconscientes de que a decisão final, irrevogável, foi pronunciada no
santuário celestial.” 22
Quanto à data em que terá início o juízo dos vivos, podemos inferir, portanto, que a única coisa
que sabemos é que os justos vivos são os últimos a ser julgados. Não se sabe
quando se iniciará o juízo dos vivos, nem quando terminará. O que sabemos com
toda a certeza é que no fim do juízo investigativo serão apagados dos livros
de registros os pecados dos que perseveraram até o fim, e os nomes de todos os
outros — os que não perseveraram até o fim — serão eliminados do livro da vida
(Exo. 32:32 e 33; Apoc. 3:4; 20:12 e 15; 22:19).
Qual é a norma do juízo?— Na passagem da primeira Epístola de Pedro, onde ele faz alusão ao juízo
investigativo, isto é, ao juízo que começa “pela casa de
Deus” (Cap. 4:17), depois de afirmar que “o fim de todas as coisas está
próximo” (Cap. 4:7) e após declarar que Deus “é competente para julgar vivos e
mortos” (Cap. 4:5), ele assevera: “Se alguém falar, fale segundo as palavras de
Deus.” Cap. 4:11, Almeida, antiga.
Esta é a norma de conduta dos que estão inteirados de que o juízo começa por
eles, porque fazem parte da “casa de Deus”. A norma é expressa na frase: “as
palavras de Deus” — Lógia theou, diz
o texto grego.
Que são estas lógia? Que espécie
de palavras são estas? Sem dúvida, têm que ser palavras proferidas por Deus em
forma de normas de conduta, visto que em todo o contexto do juízo no qual Pedro
as pronuncia elas têm necessariamente esse caráter. A mesma palavra lógia é empregada por Estêvão em sua
defesa perante o Sinédrio. Disse ele: “É
este Moisés quem esteve na congregação no deserto, com o Anjo que lhe
falava no monte Sinai, e com os nossos pais; o qual recebeu palavras [lógia] vivas para no-las transmitir. A
quem nossos pais não quiseram obedecer. Atos 7:38 e 39. Gehard Kittel em
seu famoso dicionário teológico, comentando o significado deste texto, diz que
ele “se refere claramente à revelação do V.T. no Sinai, especialmente à Torah (ou ao Decálogo), o qual foi
recebido por Moisés.”23
As lógia mencionadas por Pedro
como norma de conduta que devemos observar ao preparar-nos para o juízo de Deus
são as mesmas lógia que Estêvão disse
terem sido recebidas por Moisés no Sinai, isto é, “as Dez Palavras , o
Decálogo ou Lei Moral. Este Decálogo é a
norma de conduta do juízo investigativo.
Síntese da Doutrina Adventista do Juízo Investigativo
Esta
síntese da doutrina adventista do juízo investigativo é extraida do livro O Grande Conflito e se encontra na SDA Encyclopédia, sob o título
“Investigative judgment:”
1. A obra do juízo investigativo e o
ato de apagar os pecados serão cumpridos antes da Segunda Vinda de Cristo.
2. Cristo Se dirige ao Ancião de
Dias, no Céu, no fim dos 2.300 dias em 1844. Nosso grande Sumo Sacerdote entra
no Lugar Santíssimo e comparece ali à presença de Deus para empenhar-Se no
último ato de Seu ministério em favor dos homens: a execução do Juízo
Investigatívo.
3. Jesus Se apresenta como Advogado
de Seu povo para rogar por ele diante de Deus.
4, No grande Dia da Expiação final e Juízo Investigativo, os únicos casos
considerados são os do professo povo de Deus.
5. Começando com os que primeiro
viveram na Terra, nosso Advogado apresenta os casos de cada geração sucessiva,
finalizando com os vivos.
6. Cada obra do homem é apresentada
diante de Deus e registrada como ato de fidelidade ou infidelidade.
7. Os livros de registros do Céu, nos
quais estão registrados os nomes e as obras dos seres humanos, determinarão a
decisão do juízo.
8. A lei de Deus é a norma pela qual
o caráter e a vida dos homens serão julgados no juízo.
9. Todos os que verdadeiramente se
tenham arrependido do pecado e que pela fé reivindicaram o sangue de Cristo
como seu sacríficio expiatório terão o perdão aposto a seus nomes, nos livros
do Céu. Tornando-se eles participantes da justiça de Cristo, e verificando-se
estar o seu caráter em harmonia com a lei de Deus, seus pecados serão riscados
e eles próprios havidos por dignos da vida eterna.
10. Quando alguém tem pecados que
permaneçam nos livros de registro, para os quais não houve arrependimento nem
perdão, seu nome será omitido do livro da vida, e o relato de suas boas ações
apagado do livro memorial de Deus.
A obra do sacrifício diário era uma
obra de reconciliação em prol do homem
pecador.
Seu pecado era perdoado.
11. Quando terminar a obra do Juízo
Investigativo, o destino de todos terá sido decidido, ou para a vida, ou para a
morte.
12. Quando se encerrar o Juízo
Investigativo, Cristo virá e com Ele estará a Sua recompensa para retribuir a
cada um segundo as suas obras.
V. Conclusão
À guisa de
conclusão deste estudo sobre a obra de Cristo no Juízo Investigativo,
mencionaremos os seguintes pontos:
1. A obra específica que Cristo está
desempenhando no Juízo Investigativo está relacionada com os santos que têm
existido em toda a história do mundo, desde Adão. Esta obra de julgamento
nada tem que ver com os ímpios, os quais serão julgados durante os mil anos
de Apocalipse 20.
2. O Juízo Investigativo é uma obra
de intercessão semelhante à que o sumo sacerdote realizava no Lugar Santíssimo,
no Dia da Expiação. Seu objetivo é determinar quem permanecerá no livro da
vida e quem não, o que é decidido verificando quais as pessoas cujos pecados foram
apagados do livro de memórias porque aceitaram o sangue expiatório de Cristo
na cruz.
3. A principal obra de Cristo durante
o Juízo Investigativo é, portanto, o ato de apagar os pecados dos que
perseveraram até o fim, permanecendo sob os méritos do sangue de Cristo até o
último dia de sua existência.
4. A atividade de Cristo em apagar os
pecados dos registros não exclui Sua intercessão para perdão dos pecadores, que
rio santuário era representada pelo serviço diário, pois Cristo continua
perdoando pecados e o fará até o momento de pronunciar o decreto final de
Apocalipse 22:11.
5. A eliminação final do pecado de
sobre a Terra será realizada quando Cristo exigir de Satanás o pagamento de sua
responsabilidade na existência do pecado. Assim como o bode para Azazel era
punido pela morte no deserto, Satanás será punido no fim, porque como
instigador do pecado de cada indivíduo e como originador do pecado no Universo,
tem uma responsabilidade cuja culpa Cristo não expiou na cruz. Cristo só expiou
a parte da responsabilidade e culpabilidade que o homem tem no pecado, e isto
é especialmente real no caso daqueles que O aceitaram e que pelo arrependimento
obtiveram o perdão pelos méritos do sangue de Cristo.
6. Quando se encerrar o Juízo
Investigativo, depois de haver decidido os casos de todos os justos, começando
pelos mortos e terminando pelos vivos, Cristo terá apagado todos os pecados de
Seus filhos dos registros celestiais, e em virtude dessa obra eles ficarão
diante de Deus como se nunca houvessem pecado, prontos para ir viver com Ele
para sempre no Reino eterno que Cristo Jesus estabelecerá de acordo com Suas
promessas.
Bibliografia:
1. SDA Encyclopedia. pág. 600
2 Ibiden
3 EIlen G.
Whíte. O Grande
Conflito, pag.
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of the Bible.vol.4 pag.147.
7. Robert B. Girdlstone. Synonyms of the Old Testament, pag. 134
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9. EIlen G. White, O Grande
Conflito. pãg. 486.
10. Idem, pag. 481.
11. Iden. pág 486.
12. Ellen G. White, Patriarcas e
Profetas. pág.367.
13. Idem, pág 371.
14.
Idem,, pág. 370.
15.
Ibidem.
16. Ibidem
17. EIlen G.
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102.
18. The
Judgment. Revíew and Herald. 9:100 (29- 1-1857 ).
19. Ellen G.
Whíte. O Grande Conflito pág 486.
20.
Tiago
White. Review and Herald. 9:100 (29-1-1857 )
21.
Ellen G. White, (1) Grande Conflito, pág. 482.
22. idem, pàg. 490.
23. Teological Dictionary of New Testament, vol.
4. pãg. 138.
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