Toque de equilíbrio
A disciplina apropriada é uma forma de amar e ajudar no processo de socialização
“O modelo educacional rígido
reforça a imaturidade, o egoísmo, o individualismo e a brusca do irreal”.
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Augusto
César Maia é psicólogo clinico em
Campinas SP.
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Costumamos
pensar que o castigo provoca arrependimento na criança. Porém, ele quase sempre
produz sentimentos de medo, vingança e culpa. Pais e educadores que machucam,
ofendem e castigam suas crianças poderão exercer controle sobre elas, mas não
as tornarão pessoas dignas, felizes, com amor-próprio e maturidade para
enfrentar o mundo. Ao contrário, estarão formando pessoas imaturas e com serias
dificuldades para dar e receber amor.
Todavia, é bom deixar claro que as sanções de pai e mãe não fazem mal algum
se forem seguidas de amor, dentro de um princípio de respeito mútuo e
reciprocidade. Pois estabelecer a disciplina apropriada é uma forma de amar e de se relacionar com
a criança, ajudando-a a dar sentido à vida e a criar responsabilidade por suas ações.
É importante ressaltar ainda que
disciplina não é punição. Punir implica em ferir alguém em retribuição, ou
revidar uma ofensa. Isso é feito por nossa causa e não por causa do ultraje.
Nenhuma quantidade de punição levará à submissão duradoura. Em alguns casos, quanto mais os pais punem, mais os
filhos retaliam, e os pais em desespero gritam: “Não sei mais o que fazer.” Em
muitos casos, o resultado é desastroso para a família.
Quando uma
criança é constantemente punida por alguma falta especial, não só adquire o
sentimento de que está sempre errada, mas também se torna receosa de cometer
erros. Se ela não consegue alcançar o sucesso ou se manter no topo (fazer as
coisas “certas”), será desprezada, rejeitada, pois quem erra fica à margem.
Se alguém é
educado com idéias tão rígidas em relação ao erro, ao primeiro sinal de
aparente fracasso desmorona e fica em ruínas.
Quando as pessoas elaboram uma maneira de ver o mundo através de uma
rigidez opressiva, monótona e sem esperança, muitas vezes buscarão o álcool,
as drogas, a violência, o perfeccionismo ou o misticismo como válvula de
escape.
O modelo educacional rígido reforça a imaturidade, o egoísmo, o
individualismo e a busca do irreal. Esse tipo de educação é inadequado e ineficiente, pois não
existe uma maneira de aprendizagem que seja por si só isenta do erro.
Precisamos exercer constante vigilância para não desenvolver inconscientemente
um modelo errôneo de educação.
No modelo errado, as pessoas valorizam aquilo que precisam fazer e
rninimizam o que podem realizar. Como conseqüência, o estar errado significa
ser rejeitado pelo outro que nos é significativo. O erro passa a ser motivo de vergonha,
aumentando o medo de ser punido. Portanto, podemos dizer que a busca de estar sempre certo estará associada
diretamente ao medo da punição e à baixa auto-estima da pessoa. Estar certo todo o tempo adquire um enorme valor
e se torna aos poucos uma
grande obsessão.
O problema é que há sempre o perigo de se estar errado, e de que a auto-estima,
ao ser destruida (punida) a partir da ridicularização do erro, gere uma
angústia crônica. A personalidade estará tão comprometida em acertar que, na
vida adulta, poderá ficar relutante em aceitar que uma
idéia sua
possa estar errada. Isso acontece pelo simples fato de que o que está em jogo
não é a idéia em si, mas o medo da punição.
A disciplina, ao contrário da punição, coloca a criança como mais importante
que o erro; é feita por
causa da criança, para ajudá-la a ser uma pessoa equilibrada. Quem disciplina
tem em mente que o disciplinado é um ser que aprende com seus erros, com as
experiências e as conseqüências que seus atos acarretam.
Sinais dos Tempos
Novembro-Dezembro/2002
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