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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

TOQUE DE EQUILIBRIO



Toque de equilíbrio
A disciplina apropriada é uma forma de amar e ajudar no processo de socialização

“O modelo educacional rígido reforça a imaturidade, o egoísmo, o individualismo e a brusca do irreal”.

Augusto César Maia  é psicólogo clinico em Campinas SP.

Costumamos pensar que o castigo provoca arrependimento na criança. Porém, ele quase sempre produz sentimentos de medo, vingança e culpa. Pais e educadores que machucam, ofen­dem e castigam suas crianças poderão exercer controle sobre elas, mas não as tornarão pes­soas dignas, felizes, com amor-próprio e matu­ridade para enfrentar o mundo. Ao contrário, estarão formando pessoas imaturas e com se­rias dificuldades para dar e receber amor.
Todavia, é bom deixar claro que as sanções de pai e mãe não fazem mal algum se forem seguidas de amor, dentro de um princípio de respeito mútuo e reciprocidade. Pois estabele­cer a disciplina apropriada é uma forma de amar e de se relacionar com a criança, ajudan­do-a a dar sentido à vida e a criar responsabi­lidade por suas ações.
É importante ressaltar ainda que disciplina não é punição. Punir implica em ferir alguém em retribuição, ou revidar uma ofensa. Isso é feito por nossa causa e não por causa do ultra­je. Nenhuma quantidade de punição levará à submissão duradoura. Em alguns casos, quanto mais os pais punem, mais os filhos re­taliam, e os pais em desespero gritam: “Não sei mais o que fazer.” Em muitos casos, o re­sultado é desastroso para a família.
Quando uma criança é constantemente pu­nida por alguma falta especial, não só adquire o sentimento de que está sempre erra­da, mas também se tor­na receosa de cometer erros. Se ela não consegue alcançar o sucesso ou se man­ter no topo (fazer as coisas “certas”), será desprezada, re­jeitada, pois quem erra fica à margem.
Se alguém é educa­do com idéias tão rígidas em relação ao erro, ao pri­meiro sinal de aparente fracasso desmorona e fica em ruínas.  Quando as pessoas elaboram uma maneira de ver o mun­do através de uma rigidez opressiva, monóto­na e sem esperança, muitas vezes buscarão o álcool, as drogas, a violência, o perfeccionis­mo ou o misticismo como válvula de escape.
O modelo educacional rígido reforça a ima­turidade, o egoísmo, o individualismo e a bus­ca do irreal. Esse tipo de educação é inade­quado e ineficiente, pois não existe uma ma­neira de aprendizagem que seja por si só isen­ta do erro. Precisamos exercer constante vigi­lância para não desenvolver inconscientemente um modelo errôneo de educação.
No modelo errado, as pessoas valorizam aquilo que precisam fazer e rninimizam o que podem realizar. Como conseqüência, o estar er­rado significa ser rejeitado pelo outro que nos é significativo. O erro passa a ser motivo de ver­gonha, aumentando o medo de ser punido. Por­tanto, podemos dizer que a busca de estar sem­pre certo estará associada diretamente ao medo da punição e à baixa auto-estima da pessoa. Es­tar certo todo o tempo adquire um enorme va­lor e se torna aos poucos uma grande obsessão.
O  problema é que há sempre o perigo de se estar errado, e de que a auto-estima, ao ser destruida (punida) a partir da ridiculariza­ção do erro, gere uma angústia crônica. A personalidade estará tão comprometida em acertar que, na vida adulta, poderá fi­car relutante em aceitar que uma
idéia sua possa estar errada. Isso acontece pelo simples fato de que o que está em jogo não é a idéia em si, mas o medo da punição.
A disciplina, ao contrário da puni­ção, coloca a criança como mais im­portante que o erro; é feita por cau­sa da criança, para ajudá-la a ser uma pessoa equilibrada. Quem disciplina tem em mente que o disciplinado é um ser que aprende com seus erros, com as experiências e as conseqüências que seus atos acarretam.

Sinais dos Tempos          Novembro-Dezembro/2002


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