Sementes de amor
A influencia paterna é decisiva no futuro dos filhos, mas não fecha a porta
para mudanças
“O
perdão possibilita a vida onde reina a morte e dá significado á relação que
perdeu o sentido”
Augusto César
Maia é psicólogo clínico em Campinas, SP.
O rei Salomão escreveu: “Eduque a criança no
caminho em que deve andar, e até o fim da vida não se desviará dele” (Prov.
22:6, BLH). Este provérbio inspirado confirma a teoria de que o caráter é
modelado pelos pais e de que a sua qualidade depende muito do tipo de educação
recebido na infância.
O provérbio também nos adverte que, se educarmos uma criança no caminho
errado, sem amor, ela terá grande dificuldade para se desviar desse caminho e
dessa carência. Cria-se uma resistência em mudar de caminho e um vazio
acompanha cada passo da existência. Na vida adulta, ela perceberá o mundo de
Outra maneira: o sabor não é tão
temperado, a visão não é tão
colorida, a emoção não cativa tanto, a idéia não motiva o suficiente e o sonho
não é sonhado.
À medida que progredimos em nossa
compreensão desse provérbio, torna-se evidente que os filhos só conseguirão
ter paz de espírito quando removerem o medo, a desconfiança e as mágoas do
passado. Assim como as plantas precisam de um solo adubado para crescer, as
sementes do amor, da confiança e do perdão só crescem se receberem os elementos
necessários para a vida.
Aqui estamos diante de um dilema: como alguém que não foi amado pode amar?
Como superar a interferência nociva dos pais e recuperar o terreno estragado
pelas experiências passadas? A verdade é que nossos pais fizeram o melhor que podiam. Não podemos negar a dura
realidade de que, se tivéssemos que passar pelas mesmas experiências deles,
provavelmente teríamos um comportamento semelhante. Nossos pais cresceram
exatamente como seus pais (os avós), e nós aprendemos a amar, ter medo, ser
sentimentais, frios, desconfiados, controladores, manipuladores, autoritários
ou sedutores com eles.
A experiência clínica demonstra que, quando o paciente toma consciência de
que foi estragado nas primeiras experiências com os pais, este insight
normalmente desencadeia sentimentos de raiva. Mas, para a maioria das pessoas, é difícil reconhecer como legitima a raiva
evidenciada pelos seus ressentimentos. Resultado: o “engolidor de sapos”, cedo
ou tarde, poderá ter o seu estômago corroido pela raiva não expressa, ou quem
sabe uma sensação de coceira inexplicável, ou Outra
reação psicossomática.
O apóstolo Paulo nos adverte, em Efésios 4:26, para tomarmos cuidado com o que fazemos com a raiva.
Para ele, devemos ser verdadeiros com as nossas emoções, mas observar um
limite. Podemos irar, mas não devemos pecar. Ou seja, cuide de você, expressando aquilo que sente, e
também do outro, precavendo-se com suas palavras e ações. Paulo completa a
frase, dizendo: “Não se ponha o sol sobre a vossa ira.” Em outros termos: Não
vá dormir com raiva, pois isso vai lhe fazer muito mal à saúde.”
Não devemos fingir ter perdoado quando na verdade não o fizemos. Contudo,
não precisamos exteriorizar nossas mágoas e rancores diretamente para os nossos
pais. À medida que descobrimos esses Sentimentos dentro de nós e os expressamos
na segurança de um esquema psicoterapêutico ou espiritual (oração),
conseguimos reconhecer que as mágoas que nos fazem sofrer são de nossa
responsabilidade.
Para remover
as teias que permetam nossas mentes, devemos enxergar nossas mágoas, perdoar
nossos pais, perdoar a nós mesmos e aceitar o perdão de Deus, Precisamos
encarar a nossa culpa, sem fuga ou vitimização, para nos libertarmos dela, O
perdão regenera, possibilita a vida onde reina a morte, traz luz onde existe
treva, dá significado à relação
que perdeu o sentido, enfim, faz crescer.
Sinais dos Tempos Novembro-Dezembro/2003
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