Amor incondicional
Quando amamos e somos amados,
rompemos com as desilusões e crescemos
“A tentativa de estar sempre certo está associada
diretamente ao medo da humilhação”
Augusto César Maia é psicólogo
clinico em Campinas, SP.
Por volta dos
três anos de idade, a criança já ultrapassou o estágio da primeira infância e
começa a adquirir certa independência. Já que pode falar e entender as
palavras, os pais esperam que possa começar a obedecer às suas ordens. À
criança deverão ser ensinados os modos de se viver civilizadamente.
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Sua recém-descoberta independência e seu interesse consciente pelo prazer
da vida forçam-na a entrar em conflito com seus pais. Se esses conflitos forem
constantes e violentos, provocam feridas emocionais nos dois lados. Quando a criança
é ferida ao expressar o seu jeito de ser, ela aprende a diminuir sua
vulnerabilidade à dor.
A criança tem agora uma crescente necessidade de dar, de expressar sua
afeição, de descarregar energia, seja no jogo com outras crianças, seja na
forma de afeição pelos adultos de seu ambiente. Suas necessidades, anteriormente
voltadas para dentro, estão agora dirigidas para o mundo e precisam ser supridas. Porém, quando os pais negam essa
possibilidade, a frustração vem. A criança, então, desenvolve como mecanismo
de defesa um enrijecimento em sua personalidade. A rigidez é tanto física como
emocional.
Nesse tipo de relacionamento, os pais demonstram aceitar bem o filho;
porém, inconscientemente, alimentam o firme propósito de modificá-lo,
melhorá-lo, aperfeiçoá-lo. Percebe-se em suas atitudes que não estão satisfeitos
com os filhos “como estão” e “como são”, e ficam desejosos de transformá-los em
pessoas “melhores”. Assim, os filhos são ensinados e motivados a ser
perfeccionistas.
A
característica básica dos pais perfeccionistas é o seu grau de exigências, insatisfação, frieza e indiferença no relacionamento familiar, O principal objetivo desses pais acaba
sendo a inconveniente tarefa de promover o aperfeiçoamento forçado dos filhos (ou mesmo do cônjuge). Essa atitude pode transformar o aperfeiçoamento num campo de batalha.
A criança constantemente corrigida não só adquire o
sentimento de que está sempre errada, mas também se torna
receosa de cometer erros. Se alguém é educado com idéias tão rígidas em
relação aos erros, ao primeiro sinal de aparente
fracasso, desmorona e fica em ruínas.
As constantes comparações são favoráveis ao surgimento dos mecanismos de
defesa — as famosas
cobranças internas. A criança passa a valorizar aquilo
que precisa fazer, e a minimizar o que pode realizar. Como conseqüência, o
errar significa ser rejeitada e ser motivo de vergonha e vexame. Portanto,
podemos dizer que a tentativa de estar sempre
certo está associada diretamente ao medo da humilhação. Estar certo todo o tempo
adquire um enorme valor, e se torna aos poucos uma obsessão.
Se na infância não houver o amor incondicional que a criança necessita
para sentir que é alguém, na vida adulta ela cairá facilmente num círculo
vicioso; a pessoa que não recebeu amor gratuito, por
mais que seja amada verdadeiramente mais tarde,
desenvolverá uma percepção distorcida — o amor que lhe dão é insuficiente, senão falso. Continua como criança, sentindo-se indigna do amor
e procurando no perfeccionismo esse amor inexistente.
E preciso valorizar as pessoas. E no outro que encontro minha meta, meu
sentido. Dependendo da profundidade da comunicação afetiva com os outros é que me comunico comigo mesmo. Enfim, só me descubro
quando percebo que faço parte de uma relação. É na satisfação
que me advém do relacionamento com os outros que sinto que tenho valor. Quando
amamos e somos amados, crescemos, pois rompemos com
as desilusões.
Sinais dos Tempos Março-Abril/2002
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