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domingo, 4 de fevereiro de 2018

CRISTO NO SANTUÁRIO CELESTIAL



CRISTO NO SANTUÁRIO

CELESTIAL

As seguintes declarações sobre ensinos denominacionais fundamentais envolvendo a Crísto e Seu ministério sumo-sacerdotal e o papel dos escritos de Ellen G. White em questões doutrinárias foram formuladas e aceitas pela Comissão Revisora do Santuário, em Glacier Víew, Ranch, Colorado, em 10 a 15 de agosto de 1980.


A doutrina de Cristo nosso Sumo Sacerdote no santuário celestial nos traz certeza e espe­rança. Ela conferiu significação à vida dos pioneiros da Igreja Adventista do Sétimo Dia; ainda é um campo fecundo para nossa meditação e crescimento espiri­tual.

Este ensino característico foi reafirmado na Declaração de Crenças Fundamentais adotada pela assembléia da Associação Geral, em Dallas, no mês de abril de 1980. Nossa reiterada con­vicção foi ali expressa da maneira que segue:

“Há um santuário no Céu, o verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem. Nele Cristo ministra em nosso favor, tornando acessíveis aos crentes os benefícios de Seu sa­crifício expiatório oferecido uma vez por todas sobre a cruz. Ele foi empossado como nosso gran­de Sumo Sacerdote e começou Seu ministério intercessório por ocasião de Sua ascensão. Em 1844, no fim do período profé­tico dos 2.300 dias, Ele iniciou a segunda e última etapa de Seu ministério expiatório. É uma obra de juízo investigativo que faz parte da eliminação final de todo pecado, prefigurada pela purificação do antigo santuário hebraico no Dia da Expiação.  Nesse serviço típico, o santuário era purificado com o sangue de sacrifícios animais, mas as coisas celestiais são purificadas com o sacrifício perfeito do sangue de Jesus. O juízo investigativo re­vela aos seres celestiais quem,dentre os mortos, está dormindo em Cristo, sendo, portanto, nE­le considerado digno de ter par­te na primeira ressurreição. Tam­bém torna manifesto quem den­tre os vivos permanece em Cris­to, guardando os mandamentos de Deus e a fé de Jesus, estando, portanto, nEle, preparado para a trasladação ao Seu reino eter­no. Este julgamento vindica a justiça de Deus em salvar os que crêem em Jesus. Declara que os que permaneceram leais a Deus receberão o reino. A con­clusão desse ministério de Cristo assinalará o fim do tempo da gra­ça para os seres humanos, antes do Segundo Advento.”

Este documento é uma elabo­ração da declaração de Dallas. Ele apresenta o consenso da Co­missão Revisora do Santuário, a qual se reuniu nos dias 10 a 15 de agosto de 1980, em Glacier View, Colorado. A comissão procurou fizer uma avaliação sé­ria e franca de nossas posições históricas, analisando-as à luz de criticas e interpretações alterna­tivas que têm sido sugeridas. Tais sugestões são benéficas por­que nos impelem ao estudo, nos obrigam a elucidar nossa inter­pretação, conduzindo-nos desse modo a melhor compreensão e mais profundo apreço das verda­des que formaram o Movimento do Advento.
Assim a doutrina do santuário, que tanto significou para os ad­ventistas primitivos, incide so­bre os crentes em nosso tempo. Vê-la com mais clareza é ver mais claramente a Cristo; e essa visão avivará a vida cristã e dará poder a nossa pregação e testemunho.

1.   O Significado da Doutrina

Conquanto o simbolismo do Santuário seja proeminente em toda a Escritura, com Cristo, o Sumo Sacerdote, como a idéia dominante no livro de Hebreus, o pensamento cristão tem dado relativamente pouca atenção a este assunto. No século dezeno­ve houve, porém, um repentino desabrochar de interesse em Cristo no santuário celestial. Nossos pioneiros concatenaram as idéias de Levítico, Daniel, Hebreus, Apocalipse e outras partes das Escrituras numa sin­gular síntese teológica que com­binou o sumo-sacerdócio de Cris­to com a expectativa do fim da História. Cristo não estava sim­plesmente ministrando no san­tuário celestial; Ele iniciara a etapa final desse ministério, cor­respondendo ao Dia da Expiação de Levítico 16.
Para os primeiros adventistas do sétimo dia essa nova doutri­na “foi a chave que desvendou o mistério do desapontamento de 1844” (O Grande Conflito, pág. 422). Constituiu o meio pe­lo qual esses crentes que acre­ditavam firmemente no iminen­te regresso de Jesus podiam con­ciliar-se com suas expectativas não cumpridas. Conferiu-lhes um novo senso de identidade religiosa; encheu sua vida de sig­níficação, pois “revelou um con­junto completo de verdades, li­gadas harmoniosamente entre si e mostrando que a mão de Deus dirigira o grande movimento do advento e apontara novos deve­res ao trazer a lume a posição e obra de Seu povo” (Ibidem). As­sim eles puderam ver que em­bora se houvessem equivocado, não estavam completamente en­ganados; ainda tinham uma mis­são e uma mensagem.
A crença de que Cristo é nosso Sumo Sacerdote no santuário ce­lestial não é uma relíquia de nos­so passado adventista; ela ilumi­na todas as outras doutrinas; aproxima-nos de Deus e Sua sal­vação de um modo que nos dá “plena certeza” (Heb. 10:22); re­vela-nos que Deus está ao nosso lado.
No Céu, lá no alto, há Alguém que vive sempre para interce­der” por nós (Heb. 7:25). É Je­sus, nosso Sumo Sacerdote, o qual, “nos dias da Sua carne” (Cap. 5:7), sofreu, suportou a prova e morreu por nós. Pode “compadecer-Se das nossas fraquezas”(Cap. 4:5) e envia socorro em ocasião oportuna” do trono da graça (Caps. 2:18 e 4:16). Podemos achegar-nos, por­tanto, confiadamente à presença de Deus, sabendo que somos aceitos em virtude dos méritos de nosso Mediador.
A doutrina do santuário nos dá uma nova visão de nós mesmos. A humanidade, a despeito de suas fraquezas e rebelião, é impor­tante para Deus, sendo amada supremamente por Ele. Deus demonstrou Sua consideração por nós tomando sobre Si a na­tureza humana e retendo-a para sempre na pessoa de Cristo, nos­so Sumo Sacerdote celestial. Somos o povo do Sacerdote, a comunidade de Deus que vive para adorá-Lo e para produzir fruto para Sua glória.
Esta doutrina também abre uma nova perspectiva para o mundo. Nós o encaramos como uma parte de uma luta cósmica, o “grande conflito” entre o bem e o mal. O santuário celestial é o divino centro de operações nes­sa peleja; garante que finalmen­te o mal deixará de existir e Deus será tudo em todos (I Cor. 15:28). Sua obra de julgamento pro­cedente do santuário resulta num povo redimido e num mundo restaurado.

     II.     As Fontes de Nossa Compreensão

Embora o assunto do santuário esteja presente em toda a Escri­tura, é visto com mais clareza em Levítico, Daniel, Hebreus e Apocalipse. Estes quatro livros, que atraíram a atenção dos pri­meiros adventistas, continuam sendo o centro de nosso estudo a respeito do santuário no Céu.

Sob o aspecto da ênfase, esses livros se dispõem em pares. Ao passo que Levítico e Hebreus versam principalmente sobre as funções sacerdotais relacionadas com o santuário, Daniel e Apo­calipse mencionam a atividade divina no santuário até o fim do mundo. Podemos dizer, portan­to, que o principal realce do pri­meiro par é a intercessão, ao passo que o maior realce do se­gundo par é o julgamento.
O  livro de Levítico descreve as diversas cerimônias do san­tuário do Velho Testamento. Le­mos a respeito dos sacrifícios contínuos, apresentados cada manhã e tarde, em favor do povo de Israel (Lev. 6:8-13). Lemos também acerca de diversos tipos de ofertas individuais para ex­pressar confissão, ações de gra­ça e consagração (Capítulos 1-7). E o ponto culminante de todo o sistema de sacrifícios, o Dia da Expiação, é descrito porme­norizadamente no Capítulo 16.

O  livro de Hebreus compara e contrasta essas cerimônias com o sacrifício de Jesus Cristo no Calvário (Cap. 9:1 a 10:22). Ele argumenta que por Sua morte, uma vez por todas, Jesus reali­zou o que os freqüentes sacrifícios de Israel jamais puderam efetuar. Ele é a realidade sim­bolizada pelos sacrifícios do Dia da Expiação, bem como por to­das as cerimônias antigas. Conquanto tenha sido sugerido que essas referências no livro de He­breus demonstram que o Dia da Expiação escatológico começou na cruz, este livro, na verdade, não trata da questão do tempo; ele se concentra na completa su­ficiência do Calvário. Para as respostas às nossas perguntas acerca da sucessão dos aconteci­mentos no santuário celestial, recorremos aos livros de Daniel e Apocalipse. Em especial as “profecias do tempo”, de Daniel 7 a 9, continuam sendo impor­tantes para a compreensão ad­ventista do santuário. Apontam além do primeiro advento de Cristo, para a obra final de jul­gamento da parte de Deus, do santuário celestial.

O  significado exato das profe­cias do Velho Testamento é um assunto que requer acurado es­tudo. A investigação deve pro­curar ser fiel à variada natureza das profecias individuais, levar em conta as diferentes perspec­tivas dos leitores (no Velho Tes­tamento, no Novo Testamento e nos tempos modernos), discar­nir a intenção divina nas profe­cias e manter a tensão entre a soberania divina e a liberdade numana. Além disso, seu estudo deve dar o devido valor ao forte e amplo senso do iminente Se­gundo Advento que encontra­mos no Novo Testamento (p. ex.: Rom. 13:11 e 12; I Cor. 7:29-31; Apoc. 22:20).

Os escritos de Ellen White também contêm muito material referente a Cristo no santuário celestial (p. ex.: O Grande Con­flito, págs. 408-431, 479-491 e 581-675). Eles acentuam o sig­nificado dos acontecimentos de 1844 no plano divino e dos acon­tecimentos finais que procedem do trono de Deus. Esses escri­tos não foram, porém, a fonte da doutrina de nossos pioneiros so­bre o santuário; antes, confirmaram e complementaram as idéias que os adventistas primitivos es­tavam encontrando na própria Bíblia. Distinguimos hoje a mes­ma relação: os escritos de Ellen White provêem a confirmação de nossa doutrina de Cristo no san­tuário celestial e completam nos­sa compreensão a seu respeito.

Na parte restante deste do­cumento, apresentamos uma breve explanação dessa doutri­na. Os elementos bíblicos em que ela está baseada se dividem em duas etapas correlatas. Vol­vemo-nos para a primeira delas: intercessão.

III.   O Ministério Intercessório de  Cristo

O  sistema sacrifical do Velho Testamento foi instituído por Deus. Constituía o caminho da salvação pela fé para aqueles tempos, instruindo o povo de Deus sobre o terrível caráter do pecado e apontando pan o meio escolhido por Deus para acabar com o pecado.

Não havia, porém, eficácia al­guma na multiplicidade desses sacrifícios em si. O pecado é uma ofensa moral que não é resolvida pela matança de animais. “É impossível que sangue de touros e de bodes remova pecados.” Heb. 10:4. O pecado só pode ser re­movido por Jesus Cristo. Ele não somente é nosso Sumo Sa­cerdote, mas também o nosso Sacrifício. É “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mun­do” (S. João 1:29), o Cordeiro pascal sacrificado por nós (1 Cor. 5:7), Aquele a quem Deus pro­pôs, no Seu sangue, como pro­piciação pelos pecados de toda a humanidade (Rom. 3:21-25).

A luz de Jesus Cristo, todas as cerimônias do santuário do Velho Testamento encontram seu verdadeiro significado. Sa­bemos agora que o santuário he­braico era apenas uma figura ou um símbolo do verdadeiro santuário “que o Senhor erigiu, não o homem” (Heb. 8:2; 9:24), uma realidade muito mais gloriosa do que nossa mente pode abranger (Patriarcas e Profetas, pág. 370). Sabemos agora que todos os sa­cerdotes levíticos e sumo sacer­dotes aarônicos eram apenas prefigurações dAquele que é o grande Sumo Sacerdote, por ser ao mesmo tempo Deus e homem (Cap. 5:1-10). Sabemos agora que o sangue de animais cuida­dosamente escolhidos, de modo que fossem sem defeito (p. ex. Lev. 1:3 e 10), era um símbolo do sangue do Filho de Deus, o qual, morrendo por nós, nos pu­rificaria do pecado (1 5. Ped. 1:
18 e 19).
A primeira fase do ministério celestial de Cristo não é de na­tureza passiva. Como nosso Me­diador, Jesus aplica continua­mente os benefícios de Seu sa­crifício por nós. Ele dirige as atividades da igreja (Apoe. 1:12-20). Envia o Espírito (S. João
16:7). É dirigente das forças do Bem no grande conflito com Sa­tanás (Apoc. 19:11-16). Recebe a adoração do Céu (Cap. 5:11-14). Sustenta o Universo (Heb.1:3; Apoc. 3:21).

Todas as bênçãos promanam da continua eficácia do sacrifício de Cristo. O livro de Hebreus salienta suas duas grandes reali­zações: ele provê livre acesso à presença de Deus e remove completamente o pecado.

A despeito da importância do santuário do Velho Testamento, ele representava limitado acesso a Deus. Só os que nasciam para o sacerdócio podiam entrar nele (Heb. 9:1-7). Mas no santuário celestial Cristo nos abriu a porta à própria presença de Deus; pela fé nos achegamos confiadamen­te ao trono da graça (Cap. 4:14-16; 7:19; 10:19-22; 12:18-24). As­sim, os privilégios de todo cris­tão são até mesmo maiores do que os dos sumos sacerdotes do Velho Testamento.

Não há um passo intermediá­rio em nossa aproximação de Deus. Hebreus salienta o fato de que nosso grande Sumo Sa­cerdote Se encontra à direita de Deus (Cap. 1:3), “no mesmo Céu,.., diante de Deus” (Cap. 9:24). A linguagem simbólica do Lugar Santíssimo, “além do véu”, é usada para certificar-nos de nosso cabal, direto e livre acesso a Deus (Caps. 6:19 e 20; 9:24-28; 10:1-4).

E agora não há necessidade de oblações e sacrifícios adicionais. Os sacrifícios do Velho Testamento eram “imperfeitos” isto é, incompletos e incapazes acabar definitivamente com o pecado (Cap. 9:9). A própria re­petição dos sacrifícios denotava sua ineficácia (Cap. 10:1-4). Em contraste com isso, o Sacrifício designado por Deus realizou o que os sacrifícios antigos não pu­deram fazer, ocasionando assim o seu fim (Cap. 9:13 e 14). “To­do sacerdote se apresenta dia após dia a exercer o serviço sa­grado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nun­ca jamais podem remover pecados; Jesus, porém, tendo ofere­cido, para sempre, um único sa­crifício, pelos pecados, assentou-Se à destra de Deus.” Cap. 10:11 e 12.

Destarte, o Calvário é de con­seqüência duradoura. Ao con­trário de qualquer outro aconte­cimento na História, seu poder é invariável. Acha-se eterna­mente presente, porque Jesus Crista, o qual morreu por nós, continua a fizer intercessão por nós no santuário celestial (Cap.7:25).

É por isso que o Novo Testa­mento vibra de confiança. Com semelhante Sumo Sacerdote, com semelhante Sacrifício, com semelhante intercessão, temos “plena certeza” (Cap. 10:22). Nossa confiança não está em nós mesmos  —   no que temos feito ou podemos fazer —     e, sim, em Cristo e no que Ele efetuou e continua efetuando.

Esta certeza jamais encarará levianamente o Sacrifício que lhe deu origem. Ao olharmos pela fé para Jesus no santuário celestial —   O nosso santuário —    e para as atividades que Ele desempenha ali, somos habilitados pelo Espírito a levar uma vida santa e a dar urgente testemunho ao mundo. Sabemos que é uma coi­sa horrível desprezar o sangue que nos remiu (Caps. 6:4-6; 10: 26-31; 12:15-17).
A fase final do ministério de Cristo no santuário celestial é a de julgamento, vindicação e pu­rificação. Devemos estar certos, porém, de que embora Cristo seja Juiz. Ele ainda é nosso In­tercessor. Consideremos pri­meiro o tempo do juízo e, de­pois, a sua natureza.

IV.   O Tempo do Juízo

O período profético dos 2.300 dias (Dan. 8:14) continua sendo uma pedra angular da interpre­tação adventista do julgamento final. Conquanto esta parte de nossa doutrina do santuário seja a que mais freqüentemente é contestada, cuidadoso estudo das críticas à luz das Escrituras con­firma sua importância e validez.

Três aspectos dessa profecia, em especial, têm sido postos em dúvida: a relação dia-ano; o sig­nificado da palavra traduzida por “purificado” (Dan. 8:14) e  sua conexão com o Dia da Expiação (Lev 16); e o contexto da prof­ecia.
A relação dia-ano tem apoio bíblico, embora não seja explici­tamente identificada como prin­cípio de interpretação profética. Parece ser óbvio, porém, que certos períodos de tempo profé­tico não devem ser interpreta­dos literalmente (p. ex.: os cur­tos períodos mencionados em Apoc. 11:9 e 11). Além disso, o Velho Testamento provê ilus­trações do intercâmbio dia-ano no simbolismo (Gên. 29:27; Núm. 14:34; Ezeq. 4:6; Dan. 9:24-27). A relação dia-ano tam­bém é reconhecível no encadeamento de Daniel 8 e 9. Apoio adicional encontra-se nas profe­cias paralelas dos 1.260 dias-anos em Daniel e Apocalipse (Dan. 7:25; Apoc. 12:14; 13:5). Visto que a profecia de Daniel 8 é pa­ralela às dos capítulos 2, 7 e ] 1 a 12, todas as quais cuhninam no reino de Deus por ocasião do fim da História, é apropriado esperar que o período represen­tado pelos 2.300 dias alcance o tempo do fim (Dan. 8:17). Isto se torna possível para nós pela aplicação exegética da relação dia-ano.

De acordo com muitas versões bíblicas mais antigas, no fim dos 2.300 dias o santuário será “pu­rificado”. A palavra hebraica, nesse caso, é nisdaq. a qual tem uma amplitude de possíveis sig­nificados. Sua idéia fundamen­tal é “endireitar”, “justificar”, “vindicar” ou “restaurar”; mas “purificar” e “limpar” podem ser incluídos em seu âmbito concep­tual. Em Daniel 8:14 é evidente que esse vocábulo denota o opos­to do mal causado pelo poder simbolizado pela ponta pequena , e, portanto, provavelmente deveria ser traduzido por “res­taurar”.  Embora não haja forte  vinculo verbal entre esse versí­culo e o ritual do Dia da Expia­ção de Levítico 16, essas passagens, no entanto, se acham relacionadas por suas idéias parale­las de retificação do santuário, dos efeitos do pecado.

Daniel 8 apresenta o proble­ma contextual de como relacio­nar exegeticamente a purificação do santuário, no fim dos 2.300
dias, com as atividades da “pon­ta pequena” durante os 2.300 dias. Esse poder iníquo deita abaixo o lugar do santuário (Dan.8:11), ocasionando assim a necessidade de sua restauração ou purificação. A “ponta pequena”, a no ­entretanto, está na Terra, ao pas­so que inferimos que o santuá­no se acha no Céu.  Mas o cui­dadoso estudo de Daniel 8:9-26 indica uma solução para essa dificuldade. Torna-se evidente  que o Céu  e a Terra são correlatos, de modo que os ataques da  “ponta pequena” têm tanto um sig­nificado cósmico como histórico. Destarte podemos ver como a restauração do santuário cales­tial correspondente – em sentido contrário – à atividade terrena da “ponta pequena”. Contudo, embora creiamos que nossa in­terpretação histórica de Daniel 8:14 é bem fundada, desejamos estimular o estudo mais acurado desta importante profecia.
Nossa convicção de que o fim do período profético dos 2.300 dias, em 1844, assinala o inicio de uma obra de julgamento no Céu, é corroborada pelo parale­lismo de Daniel 8 e Daniel 7, o qual descreve explicitamente se­melhante obra, e pelas alusões ao julgamento celestial no livro do Apocalipse (Caps. 6:10; 11:18; 14:7; 20:12 e 13).
Assim, nosso estudo reforça nossa crença de que chegamos realmente ao tempo do julga­mento que antecede o Segundo Advento, ao qual, historicamen­te, temos chamado “juízo inves­tigativo”. Ouvimos novamente o chamado de Deus para procla­mar o evangelho eterno ao redor do mundo porque “é chegada a hora do Seu juízo” (Cap. 14:6 e 7).

V.  A Natureza do Julgamento


O ensino do “juízo vindouro” tem sólida base na Escritura (Ecles. 12:14; 5. João 16:8-li; Atos 24:25; Heb. 9:27; etc.). Pa­ra o crente em Jesus Cristo, a doutrina do juízo é solene mas tranqüilizadora, pois o juízo é a própria intervenção de Deus no curso da história humana, a fim de endireitar todas as coisas. É o descrente que considera este ensino um assunto de terror.
A obra do julgamento divino procedente do santuário celes­tial tem dois aspectos: um deles se centraliza no povo de Deus sobre a Terra; o outro envolve todo o Universo, à medida que Deus conduz a grande luta entre o bem e o mal a uma conclusão bem sucedida.

A Escritura nos diz que “importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo” (II Cor. 5:10), e que teremos de prestar contas até mesmo “de toda palavra frívola” (S. Mat. 12:36). Este aspecto dos aconteci­mentos do tempo do fim revela quem é de Deus (ver O Grande Conflito. págs. 479-491). A ques­tão de transcendental importân­cia tem que ver com a decisão que tomamos a respeito de Jesus, o Salvador do mundo. Ter aceito Sua morte em nosso fàvor é já ter passado da morte para a vida, da condenação pra a salvação; rejeitá-Lo é condenar-se a si mesmo (S. João 3:17 e 18). Por­tanto, esse julgamento no tempo do fim, por ocasião do término do período dos 2.300 dias, revela nossa relação com Cristo, evi­denciada na totalidade de nossas decisões. Indica a atuação da graça em nossa vida, ao nos mos­trarmos sensíveis ao Seu dom da salvação; revela que pertence­mos a Ele.
A obra de julgar os santos faz’ parte da erradicação final do pe­cado do Universo (Jer. 31:34; Dan. 12:1; Apoc. 3:5; 21:27). No fim do tempo da graça, pouco antes dos acontecimentos finais na história terrestre, o povo de Deus será confirmado na justiça (Apoc. 22:11). A atividade divina procedente do santuário celes­tial (Cap. 15:1-8) resultará na su­cessão dos acontecimentos que finalmente purificarão o Univer­so de todo pecado e de Satanás, seu originador.
Para os filhos de Deus, o co­nhecimento da intercessão de Cristo no juízo traz certeza, não ansiedade. Sabem que há Al­guém ao lado deles e que a obra do julgamento está nas mãos de seu Intercessor (S. João 5:22-27). Na justiça de Cristo, o cristão está seguro no Juízo (Rom. 8:1). Ademais, o julgamento anuncia a hora de transição da fé para a vista, dos cuidados e frustrações terrestres para a eterna alegria e realização na presença de Deus.
O juízo de Deus, entretanto, diz respeito a algo mais do que nossa salvação pessoal; sua es­fera de ação é cósmica. Ele des­mascara o mal e todos os siste­mas perniciosos. Expõe a hipo­crisia e o engano. Restaura o do­mínio da justiça no Universo. Sua expressão final é um novo Céu e uma nova Terra, nos quais ha­bita justiça (II S. Ped. 3:13), um puro cântico de amor de criação a criação (ldem, págs. 659-675).
E, nesse ato do juízo divino, evidencia-se que o próprio Deus é absolutamente justo. A reação universal a Seus atos finais do santuário celestial é a seguinte: “Grandes e admiráveis são as Tuas obras, Senhor Deus. Todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei das nações!” Apoc. 15:3.

Conclusão


Esta doutrina de Cristo no san­tuário celestial, este ensino sin­gular dos adventistas do sétimo dia requer intenso estudo da par­te de todo crente. Nossos pio­neiros descobriram-na por meio de diligente investigação da Pa­lavra e foram incentivados por ela. Nós também precisamos descobri-la por nós mesmos e torná-la uma parte de nossa vida. Temos de compreender que “o santuário no Céu é o próprio cen­tro da obra de Crista em favor dos homens” e que Seu ministério ali “é tão essencial ao plano da redenção, como o foi Sua mor­te sobre a cruz” (O Grande Con­flito, págs. 488 e 489).
Ao procurarmos conhecer e compreender a Cristo no san­tuário celestial com tanto fervor como o fizeram os primeiros ad­ventistas, experimentaremos o avivamento e a reforma, a cer­teza e a esperança que advêm de uma visão mais clara de nosso grande Sumo Sacerdote.


O Ministério Adventista   Nº 2  Mar-Jun 1981

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