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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

AMOR OPRESSOR



Amor opressor
O comportamento superprotetor dos pais inibe o desenvolvimento dos filhos

Você já deve ter observado aquela mãe supercuidadosa que sufoca a independência dos filhos. Ela é incapaz de reconhecer a indivi­dualidade dos filhos e de admitir as frontei­ras entre eles.
Esse tipo de comportamento é urna recusa em permitir que os filhos desenvolvam seus próprios relacionamentos, movimentos, pen­samentos e percepções. Reflete o sentimento de superioridade pessoal em relação às crian­ças. Os pais acham que as crianças são peque­nas demais para resolverem os problemas ou se defrontarem com frustrações.
Tal comportamento surge como hostilidade aberta, mas também aparece sob o disfarce do cuidado extremado, da superproteção, da su­perpreocupação. Assume a forma de alimenta­ção forçada, ansiedade e interesse pelo funcio­namento intestinal e um cuidado supervigilan­te para que a criança não se machuque. Amor e aceitação se combinam com repressão severa.
O resultado desse comportamento é que a ambivalência fica acentuada e o conflito se es­tabelece. Ele cria um estado de terrível confu­são na cabeça da criança. Gera passividade e uma sensação de inadequação.
Podemos dizer que os pais que se excedem em proporcionar proteção e afeto são tiranos. Normalmente, eles cobram de urna maneira avarenta o amor e a proteção que dão.
Algumas características desse tipo de relacionamento são:
•  Contato e mimo exces­sivos, na tentativa de infan­tilizar o filho, mantendo-o numa eterna infãncia.
• Críticas constantes, acentuando a insegurança e a dependência.
•  Exigência de obediência cega, total e irrestrita,o que e urna forma de anular a iniciativa da criança.
•  Favoritismo pelo filho mais obediente, passivo ou submisso.
•  Invasão do espaço do fi­lho pela dominação constan­te e sufocante.
• Anulação do processo de tentativa e erro, pois não existe confiança na capacidade do filho.
Tudo isso é feito em nome do amor, mas seu efeito é suprimir a personalidade infantil em desenvolvimento, impedindo a auto-afirmação e a auto-regulação, Sob o pressuposto de que “os pais sabem o que convém”, a personalida­de da criança e literalmente esmagada.
Os efeitos disso vão aparecer mais tarde. O indivíduo terá urna penetrante sensação de culpa. Se algo sai errado, imediatamente pen­sará que a culpa é dele. Vive pedindo descul­pa, pois parte do princípio de que está sempre em erro. Aparentemente, sua capacidade de autopunição e desprendimento é infinita,
Ele não se atreve a contestar e, com excessi­va rapidez, aceita as coisas segundo a aparência externa. Ao mesmo tempo em que aceita a rea­lidade, admite a racionalidade de suas exigên­cias. Caracteriza-se por um querer e não querer simultâneos. Sente-se num terrível conflito.
Por ter crescido num ambiente Contrário à expressão de sentimentos ternos, o individuo reage com desconfiança à ternura dos outros. Não devemos esquecer que sua própria mãe usou seu “amor” e sua “simpatia” para humi­lhá-lo e que seus apelos foram ignorados. É uma situação delicada. Não há amor ou apro­ximação que consiga penetrar a barreira e não há sentimento positivo que possa ser expresso através dele. De­sejando se expor, não ousa fazê-lo; quer que você o liberte, mas não confia em você.
O que torna tão difícil o crescimento pessoal, nesses casos, é a profunda desconfiança com que tais pessoas abordam o mundo. Por isso, devemos primeiro conquistar sua confiança e boa vontade. É como escalar uma montanha por seu lado mais íngreme e espinhoso. Mas é importante sinalizar que existe um caminho para o crescimen­to e a liberdade.


Sinais dos Tempos   Julho-Agosto/2002

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