Uma casa para os judeus
Líder de comunidade judaica fala
sobre características e costumes do povo judeu
Apesar de o Holocausto nazista ter ceifado uma imensa população judaica, o
povo judeu sorna mais de 13 milhões de pessoas no mundo. Só no Brasil há 130
mil.
Que costumes eles ainda preservam dos tempos bíblicos e como vive essa
nação peregrina? Para responder a perguntas como essa, Sinais dos Tempos buscou o professor Reinaldo W Siqueira.
Especialista na teologia do Antigo Testamento e com a experiência de alguns
anos em Israel, Siqueira dirige uma comunidade judaica em São Paulo, chamada
“Casa dos Filhos de Sião”, urna sinagoga que reúne judeus e evangélicos. Ele começou
seus estudos em teologia no Brasil e concluiu graduação e mestrado na França.
Fez doutorado na área de exegese e teologia do Antigo Testamento, nos Estados
Unidos. Há três anos ensina Línguas e Exegese Bíblica, no Seminário
Latino-Americano de Teologia, localizado em Engenheiro Coelho, interior de São
Paulo.
Siqueira define a “Casa dos Filhos de Sião” como um local para diálogo
aberto e respeitoso entre comunidade judaica e cristãos,
cujo objetivo é promover o conhecimento e respeito pelas
raízes da fé cristã”.
Veja os principais trechos da entrevista:
Sinais dos Tempos: Quantos judeus há no mundo hoje e onde estão concentrados?
Dr. Reinaldo Siqueira: Estima-se que a população
judaica no mundo seja de 13 a 14 milhões. Muitos judeus perderam totalmente o
contato com a comunidade e as instituições judaicas do pais onde eles residem e
não estão portanto incluídos nessa estatística.
Cerca de 6 milhões e 200 mil judeus vivem na América do Norte, sendo que 5
milhões e 800 mil destes nos Estados Unidos. Israel vem em segundo lugar com
cerca de 4 milhões e 600 mil judeus. Depois a Europa, com um pouco mais de 2
milhões e 300 mil. Na América do Sul calcula-se cerca de 500 mil judeus. Na
África, a grande concentração de judeus se encontra na África do Sul, com cerca
de 106 mil. O último grande foco de população judaica se encontra na
Austrália, com cerca de 100 mil judeus. Uma listagem e estatística mundial
detalhada, por país, pode ser encontrada no website http://www.vjworld. com.
Sinais: E
no Brasil?
Siqueira: Em nosso país há cerca de 130 mil judeus, sendo que 60 mil se encontram na
cidade de São Paulo, e outros 40 mil no Rio de Janeiro. Comunidades judaicas
menores existem em praticamente cada capital dos Estados brasileiros
Sinais: Como é constituída esta população judaica mundial?
Siqueira: Quanto à origem e cultura, há dois
grandes grupos de judeus no mundo: os asquenazis e os sefaraditas. Os
asquenazis são provenientes da Europa Central, do Norte e Oriental, e são o
grupo mais numeroso da população judaica. Muitos deles ainda falam o yiddish (um dialeto do alemão que
incorpora vários termos hebraicos e que faz uso do alfabeto hebraico para a
escrita). Já os sefaraditas são provenientes de regiões do ocidente e sul da
Europa, norte da África e Oriente Médio. Espanha e Portugal éo lugar de origem desse
grupo. Alguns deles ainda falam o Ladino, que corresponde basicamente ao Castelhano
do final da Idade Média.
Há grupos minoritários de judeus como os Benei Israel da Índia e os Falachas
da Etiópia. Em sua língua materna e aspectos físicos eles são semelhantes aos
seus conterrâneos indianos e etíopes, respectivamente. A maioria dos Benei
Israel, no entanto, e praticamente a totalidade dos Falachas hoje vivem em
Israel, se integrando à cultura e vida desse pais.
Sinais: Quais são as características religiosas do povo
judeu?
Siqueira: Há judeus
religiosos e não-religiosos. Entre os religiosos, se destacam os ortodoxos,
os conservadores, os reformados e os reconstrucionistas. Os ortodoxos
consideram a lei de Moisés (a Torá) autoritativa e têm as Escrituras como a
revelação de Deus. Observam de forma criteriosa as leis alimentares do
judaísmo. A liturgia é feita em hebraico. Crêem na vinda de um Messias pessoal para estabelecer o
reino de Deus na Terra.
Os conservadores mantêm os princípios da fé judaica, mas buscam uma
adaptação da Torá e da tradição judaica às realidades da vida moderna.
Sinais dos Tempos
Maio-Junho/2000
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