Limites
A disciplina deve respeitar o ritmo e o tipo de personalidade da criança
“Disciplinar é comunicar o que é
importante e estabelecer limites saudáveis para o comportamento”
Augusto César Maia é psicólogo
clinico em Campinas, SP.
OS psicólogos
costumam ouvir depoimentos de mães que se queixam da ingratidão dos filhos.
Elas afirmam que criaram todos da mesma maneira e no mesmo ambiente social, mas
o filho problemático é o único
que dá trabalho. E fazem a fatídica pergunta: por que os outros filhos não
tiveram problema?
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A falta de conhecimento sobre a formação do caráter dos filhos gera
situações assim. Algumas mães não sabem e não conseguem perceber que cada
filho é único e deve ser tratado de
maneira única, Os pais querem amar todos os filhos igualmente e chegam a falar
com orgulho que tratam a todos da mesma forma. Os filhos, todavia, não
acreditam nisso e sentem a diferença, pelo simples fato de que, se cada filho
é diferente, alguém não está sendo tratado como deve e merece.
Há enormes diferenças individuais entre uma personalidade e outra. Isso faz
com que cada um sinta de maneira pessoal e única a influência do meio
familiar. A disciplina necessária para um filho pode esmagar o outro.
Portanto, os pais precisam ajustar suas exigências ao ritmo natural de
crescimento e desenvolvimento dos filhos.
As crianças não nascem com a consciência do que podem ou não fazer. Cabe
aos pais ensinar-lhes as regras do jogo. Toda família ou grupo social tem
padrões morais para o comportamento de seus membros, e esses padrões são
transmitidos às crianças. A maneira pela qual os pais passam esses padrões (ou
seja, disciplinam seus filhos) determinará a formação do seu caráter. Vejamos
quatro tipos de disciplina normalmente aplicados pelos pais:
1. Autoritária. As explicações para a disciplina
são: “Vai ter que fazer como eu quero, quem manda aqui sou eu!”, “Vai ter que
fazer e pronto!” Nesse tipo de disciplina, não existe respeito pela criança.
O medo é a base da
relação. Isso
costuma ocorrer onde há desrespeito para com o próximo e a individualidade de
cada um. A criança, ao ficar submetida a um ambiente em que não existe apreço
pela sua personalidade, desenvolve rim caráter cujo traço marcante é o medo de
se entregar à vida, ao amor,
ao semelhante.
2. Chantagista. Neste caso, os pais não se valem de punição física e nem
são autoritários, mas expressam sua desaprovação através de chantagens do
tipo: “Você vai fazer isso, filho? Ah, a mãe não vai mais gostar de você!” A
mãe não só ameaça retirar o amor, como na verdade demonstra rejeição à criança, ao dar-lhe as costas ou
ameaçá-la de abandono, O uso dessa disciplina está associado a um forte
sentimento de culpa.
3. Permissiva. O problema deste tipo de disciplina é exatamente a falta de disciplina. Não
existe norma ou regra a ser seguida. Tudo é permitido, desde que a criança queira. Ela se torna o rei ou a rainha da
casa. Isso transforma os filhos em verdadeiros tiranos, e os pais viram
simples súditos ou mesmo escravos, Os pais arcam com todas as conseqüências
desastrosas da liberdade excessiva, acobertando os erros dos filhos,
suportando seus insultos, satisfazendo suas inúmeras solicitações e, por fim,
perdendo toda a influência.
4. Democrática. Os pais que adotam este tipo de disciplina têm o cuidado de
conversar com os filhos. Num clima de liberdade, falam e dão explicações sobre
as conseqüências positivas e negativas das ações. A liberdade faz parte da
democracia. Os pais democráticos não podem perder de vista que a Liberdade
exige respeito pela liberdade do outro. Para que todos possam ter liberdade, é preciso que haja
uma certa ordem, e toda ordem traz restrições e obrigações. A liberdade
implica responsabilidade.
Disciplinar é comunicar o que é importante e estabelecer limites saudáveis
para o comportamento, visando ao bem-estar, à segurança e ao crescimento do disciplinado.
Sinais dos Tempos
Julho-Agosto/2003
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