Espiritualidade saudável
Cientistas tentam comprovar no
laboratório, que a fé e a oração têm poder curador -
Marcos De
Benedicto
Editor
A fronteira entre a ciência e a religião,
especialmente entre a teologia e a medicina, está cada vez mais estreita. Movidos pela curiosidade humana e apoiados por doações generosas
de entidades ricas como a Fundação John Templeton (dos Estados Unidos), os
cientistas es t ão buscando os elos de ligação entre os mistérios da fé e a
bioquímica do cérebro. Há várias linhas de pesquisas em andamento, sendo uma
das mais promissoras a que estuda o impacto da espiritualidade na recuperação
de doenças e na saúde das pessoas.
|
Entre os cientistas e médicos que têm procurado comprovar o poder curador
da oração, alguns estão ligados a terapias alternativas, mas outros são
cristãos. Em 1993, o médico norte-americano Lany Dossey publicou um livro
intitulado Healing Words (Palavras
Curadoras) procurando provar, através de pesquisas e casos, que a oração
realmente funciona na medicina. Segundo ele, a oração não só atua como um bom
placebo, quando a pessoa sabe que está sendo objeto de oraçoões, mas tem um
poder intrínseco, exercendo um efeito positivo até mesmo em ratos, enzimas,
bactérias, fermento e células de todo tipo.
Sua perspectiva
sobre a oração é biblicamente questionável, mas Dossey acredita em suas
pesquisas. Em um livro mais recente e de caráter mais popular intitulado Prayer Is
Good Medicine (A Oração É Bom Remédio), ele afirma: “Como médico, eu
tenho empregado medicamentos e procedimentos cirúrgicos porque sei que eles
funcionam. Porém, a oração também funciona.” Por isso, diante do dilema quanto
a se o médico deve orar com e por seus pacientes, ele conclui: “Eu decidi que não fazê-lo seria o equivalente a negar
um medicamento ou um procedimento cirúrgico necessário, e comecei a orar por
meus pacientes diariamente.”
Em seu livro The Faith Factor (O
Fator Fé), escrito em co-autoria com Connie Clark e lançado em 1998, o Dr.
Dale A. Matthews, médico e pesquisador cristão, diz que, independentemente de
como a oração funcione, ele concorda plenamente com o Dr. Dossey que “os
efeitos da oração intercessória são importantes e merecem mais estudo”.
PROGRAMADOS PARA DEUS?
Recentemente, Andrew Newberg, Eugene D’Aquili e Vince Rause levantaram a hipótese, dentlflcamente plausível, de que nós buscamos a Deus porque nosso cérebro
está biologicamente programado para isso.
Usando equipamentos sofisticados de tomografia, o radiologista Newberg
acompanhou os efeitos que a meditação e a oração causam na atividade cerebral. O estudo, envolvendo monges budistas e freiras franciscanas, sugere que a experiência mística é real. A
meditação e a oração
desligam os circuitos cerebrais que controlam a noção de limites físicos do ser
humano, o que poderia explicar a sensação de transcendência.
As conclusões dos pesquisadores
estão no livro Why God Won’t Go Away: Brain Science and the Biology of Belief (Por Que Deus Não Irá Embora: A Ciência do Cérebro e a Biologia da Crença), lançado em abril nos Estados
Unidos.
Deve-se mencionar que os estudos
sobre o poder da oração têm sido questionados quanto a seus aspectos metodológicos
e filosóficos. Hector Avalos, diretor executivo do Committee for the Scientific
Examination of Religion (nos Estados Unidos), critica a qualidade de alguns
estudos citados por Dossey. Além disso, questiona a idéia de que se possa
realizar experimentos científicos
controlados sobre a eficácia da oração. Como controlar as variaveis? Essas
pesquisas seriam subjetivas demais para serem científicas. Mas esse tipo de
crítica, embora mostre a real necessidade
de critério e seletividade, não refuta definitivamente o valor das pesquisas
sobre a eficácia da oração.
Vantagens — Dezenas de estudos sobre a influência positiva da religião na saúde têm
sido reportados e catalogados. Se até alguns anos atrás nenhum cientista de
prestigio admitiria a relação entre espiritualidade e cura física, e muito
menos pensaria em desenvolver pesquisas nessa área, para não comprometer sua
credibilidade e carreira, hoje as coisas mudaram. Uma explicação para esse
novo interesse tem a ver com a química do cérebro. A fé é intangível, mas a
química cerebral pode ser testada e medida. Outra explicação, como foi dito, é
o apoio financeiro a esse tipo de pesquisa.
O “surpreendente” é que a maioria desses estudos oferece evidência de20 que a religião e boa para a saúde. Algumas vantagens do fator fé
enumeradas pelo Dr. Harold Koenig, no livro The
Healing Power of Faith (O Poder Curador da Fé), publicado em 1999, são:
• A
pressão sangüinea dos freqüentadores de igreja e mais baixa do que a dos
não-freqüentadores.
• As
pessoas religiosas sofrem menos de depressão e, quando sofrem, se recuperam
mais rápido.
• As
pessoas que vão regularmente à igreja correm menos risco de morrer de doenças
coronarianas.
• As
pessoas que freqüentam regularmente a igreja têm sistemas imunológicos mais
fortes.
• As
pessoas religiosas vivem mais do que as não-religiosas.
O impacto da espiritualidade sobre a saúde inclui vários aspectos — diretos ou indiretos (veja o quadro). Um
estudo conduzido pelo Dr. Melvin Pollner, da Universidade da Califórnia, campus de Los Angeles, revelou que as
pessoas que possuem muitas relações sociais, recebendo apoio da família e dos
amigos, tendem a experimentar maiores níveis de bem-estar mental e físico do
que aquelas que têm poucas relações. No estudo, mais de 3 mil norte-americanos
foram interrogados sobre suas crenças e seu comportamento social e religioso.
Um aspecto interessante é que, paralelamente à rede social real, as pessoas
costumam ter uma rede social imaginaria, incluindo personagens da mídia, da
História ou da Bíblia. Para boa parte das pessoas, Deus compõe essa rede imaginária,
ou é mesmo o centro dela. A conclusão do Dr. Pollner é que as “relações
divinas”, nessa rede imaginária, podem ser tão significativas para o bem-estar
psicológico quanto as relações sociais.
Remédios - O Dr. Dale
Matthews diz que ele já estava convencido do valor da fé (reigião) antes de
participar da edição de uma bibliografia de quatro volumes sobre o assunto, mas
a pesquisa o convenceu ainda mais. No mencionado livro The Faith Factor, ele enumera 12 “remédios” que a religião oferece: (1) serenidade (o
recurso da oração e da meditação para enfrentar o estresse da vida); (2)
temperança (a motivação para honrar o corpo como o templo do Espírito Santo);
(3) beleza (o prazer de apreciar a arte e a natureza); (4) adoração (o
movimento de ativar todo o ser na direção de Deus); (5) renovação (a chance de
confessar e começar de novo); (6) comunidade (a rede de apoio mútuo); (7) unidade (a segurança de partilhar a
fé com outros); (8) ritual (o conforto de tomar parte em atividades
familiares); (9) significado (a descoberta de uma razão para viver); (10)
confiança (a certeza de que Deus está no controle); (11) transcendência (a
expectativa do encontro com um Deus grandioso); e (12) amor (o
sentimento/compromisso de cuidar e ser cuidado).
Segundo o autor, “os doze remédios que formam o fator fé são exponencialmente
efetivos: eles se combinam para formar um todo que é maior do que a soma de
suas partes”. Ele diz que todos os fatores são importantes (embora não precisem
ocorrer simultâneamente), mas, se fosse para destacar uma variável, seria a
adoração, “pois é no contexto da adoração que todos os doze componentes mais
freqüentemente coexistem”.
Se há unia influência positiva da religião na saúde, também pode haver um
lado negativo. O mau relacionamento com Deus, caracterizado pelo senso de culpa,
provavelmente cause depressão, enfraqueça o sistema imunológico e gere
doenças. Por exemplo, o rei Davi, num período conturbado de sua vida, parece
ter ficado doente por causa da culpa vinda do adultério com Bate-Seba e do
assassinato de Urias, pecados denunciados pelo profeta Nata (ver o Salmo 32:3
e 4).
Para o público religioso, é bom que os cientistas comprovem o valor terapêutico
da espiritualidade. Mas não se deve atribuir excessivo poder curador à fé e aos
processos mentais em si. Na perspectiva bíblica, em última análise, a fonte da
cura, da saúde e da vida é Deus. No Antigo Testamento, numa época em que os
vizinhos de Israel pediam a cura e a saúde a muitos deuses, Yahweh (Deus). Se
apresenta como o único Médico de Israel. No Novo Testamento, num tempo em que
o deus Asclépio/Esculápio monopolizava o mercado da cura e da saúde no mundo
greco-romano, Jesus demonstra ser o verdadeiro Médico do mundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário