Obras da carne:
como vencê-las?
O Espírito
Santo está pronto a nos libertar da lei do pecado e da morte
por José Carlos Ramos
Ellen G. White aconselha a não considerarmos
levianamente o pecado, como se fosse algo de pouca importância, pois ele é excessivamente
ofensivo aos olhos de Deus. (Testemunhos Seletos, vol. 1, pág. 334). O
pecado deve ser reconhecido em toda a sua hediondez. Ele não é apenas o
causador de toda a miséria no mundo e um fator de ruína eterna; ele custou nada
menos que a vida do Filho de Deus para que pecadores fossem salvos!
“Unicamente o Calvário pode revelar a terrível enormidade do pecado.” — O Maior Discurso
de Cristo, pág. 116.
A cruz comunica a visão correta da
“terrível enormidade do pecado”, visão que se expande numa reflexão ponderada
nos escritos inspirados. Afinal, cada página sagrada denuncia o pecado. O
salmista afirma que Deus ordenou Seus “mandamentos, para que os cumpramos à
risca” (Sal. 119:4), porque Ele revelou o alcance de Sua lei, cujos imperativos
excedem o sentido literal das palavras. Segundo Jesus, o “não matarás” e o “não
adulterarás” não requerem o ato do homicídio e do adultério como forma exclusiva
de transgressão; esta ocorre a partir do simples sentimento pecaminoso (Mat.
5:22 e 28).
Uma vez convertido,
Paulo obteve o conhecimento da lei através de uma demorada apreciação de Cristo
(precisamente o que transparece em Romanos 7:7-24). Legou-nos ele preciosas
informações quanto ao caráter “sobremaneira maligno” (v. 13) do pecado. Aos
crentes da Galácia, que estavam se deixando levar pelo legalismo, o apóstolo
deixou entrever que só o genuíno evangelho atinge os recônditos mais ocultos
da alma (onde o pecado costuma se esconder), pois é por ele que o Espírito de
Deus, que a tudo penetra e que convence do pecado (ver João 16:8), é outorgado
ao pecador (Gál. 3:2 e 5).
O ponto alto da
epístola aos Gálatas é galgado a partir de 5:16, com as palavras “andai no
Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Em seguida, Paulo
contrasta as obras da carne, que caracterizam uma vida sem Deus, com o “fruto
do Espírito”, genuína evidência de uma vida a Ele consagrada. O ápice é
atingido no verso 24, com a solene declaração:
“Os que são de Cristo Jesus crucificaram
a carne, com as suas paixões e concupiscências”. O problema é que
constantemente “a carne” intenta descer da cruz e readquirir o domínio
perdido, o que justifica as palavras do verso 17, referentes à peleja dela contra
o Espírito, e do Espírito contra ela. É necessário constante vigilância.
Consideremos o
significado de cada “obra da carne”, através de uma breve análise da palavra
originalmente usada pelo apóstolo para caracterizá-la.
Obras da carne
* Leia Gálatas 5:19-21. Ali, as obras da carne são relacionadas nesta
seqüência:
Prostituição. Sabemos o que esta palavra significa. Ela é a versão do grego porneia, que aparece 26
vezes no Novo Testamento, e deve ser vista em comparação com moicheia, sempre vertido
“adultério” em nossas Bíblias. O primeiro termo tem um sentido mais abarcante.
Embora em alguns textos sejam ambos citados distintamente, como em Mateus
15:19 e Marcos 7:21 e 22, devemos entender que porneia envolve diferentes atos imorais, sendo , moicheia um deles. Porneia, em seu amplo
sentido, significa qualquer desvio da conduta sexual orientada por Deus,
“irregularidade sexual em geral” (F. F. Bruce, Commentary on Galatias, pág.
247). Portanto, além do adultério, estariam incluídos aqui masturbação,
narcisismo, homossexualismo, lesbianismo, fornicação, etc.
Impureza. Akatharsia faz referência
à impureza física ou material (como
em Mat. 23:2 7), e especialmente à de natureza moral, como em Gálatas, e em
mais oito textos do Novo Testamento, a maioria dos quais, senão todos,
relaciona o termo com conduta sexual. Logo, o termo também envolve o mau uso do
sexo; e qualquer coisa que produz pensamentos impuros e suscita sentimentos
corrompidos está aqui envolvida. Isso incluiria literatura e espetáculos
pornográficos, piadas indecentes e coisas do gênero. “A impudicícia [porneia] e toda sorte
de impurezas [akatharsia], nem sequer se
nomeiem entre vós... Porque o que eles [os ímpios] fazem em oculto, o só
referir é vergonha” (Efés. 5:3 e 12). É nos dito que “Deus não nos chamou para a impureza [akatharsia], e sim para a santificação” (1 Tess.
4:7).
Lascívia significa luxúria, sensualismo,
lubricidade, incontinência, concupiscência, etc. O original grego registra aselgeia, termo que
indica falta de restrição (o sentido de incontinêcia acima) e conduta
desavergonhada (“brincadeiras de mau gosto” poderão estar aqui incluídas;
lascivo, em Português, significa também brincalhão, travesso). Em II Pedro
2:7, aselgeia denota
o comportamento de sodomitas.
Idolatria, a adoração de
ídolos. O grego eidololatria
significa etimologicamente “a serviço do ídolo”; de fato, o idólatra vive
em decorrência do ídolo que adora e é escravo de seus caprichos. Mais que a um
falso deus representado por um pedaço de pedra, pau, etc., o termo aponta para
qualquer coisa a que devotamos aquela profunda afeição e interesse que são
justos apenas se direcionados a Deus. É-nos dito, por exemplo, que a avareza é idolatria (Col. 3:5). Assim,
qualquer coisa que tome o lugar de Deus é um ídolo.
Feitiçaria, pharmakeia,
de onde procede “farmácia”. O feiticeiro
preparava “poções” de determinadas plantas, muitas das quais inebriantes, e
sobre as quais, com o uso de amuletos, fazia “encantamentos” invocando os
“poderes ocultos”. Muito dessas poções era para envenenar. Não estariam
envolvidos aqui os produtos tóxicos, entre eles, o cigarro e o tradicional café?
Além, é claro, de tudo aquilo que se relaciona diretamente com o reino das
trevas, coisas como bruxaria, espiritisnio, culto afro, vodu, e itens afins, e
todo o material ligado ao terror, ao vampirismo, etc., fartamente colocado à
disposição pela mídia.
Inimizades, echthrai, da mesma raiz de
echtos, ódio. Envolve
qualquer sentimento de antagonismo no relacionamento humano, inclusive o preconceito
racial. É exatamente o oposto de agape,
o amor em seu modo mais sublime e altruísta. A única inimizade que o
cristão nutrirá é para com o pecado (Tia. 4:4); nunca para com o pecador.
Porfias, eris, qualquer tipo de
contenda, incluindo discussões e debates acalorados em torno de qualquer
assunto, mesmo religioso, caracterizados por atitudes que fogem à moderação e
ao equilíbrio. Enquanto échthrai tem
mais a ver com sentimentos guardados no íntimo, eris é a forma como eles se expressam. É exatamente
o oposto de paz.
Ciúmes, zelos, de onde provém a
palavra zeloso. “Ciúme” tem conotação negativa e positiva; no grego, o termo
envolve a idéia de ardor, inconfomação ou não acomodação com alguém ou algo
(que pode ser um estado, uma circunstância), que se relaciona com a pessoa
com zelos. Como obra da carne, o termo denota um sentido negativo, o ciúme
doentio, um sentimento irracional manifestado no receio mórbido de se
perder alguma coisa, e que pode conduzir a conseqüências imprevisíveis.
Iras, thymoi, forte emoção
mental proveniente de indignação íntima, aqui no plural por ênfase na forma como
normalmente é expressa: através de palavras impetuosas e gestos ou atos
violentos. Mencionada logo após “ciúmes”, pode incluir a maneira como estes
geralmente se manifestam.
Discórdias, eritheiai, encerra o sentido
de ambição, rivalidade e concorrência, como evidência de disposição
contenciosa e dissidente, o que resulta automaticamente em divisões e formação
partidária. Neste ponto, épertinente a pergunta: a dissidência doutrin ária,
hoje verificada em nosso meio, não teria nesse espírito a sua origem?
Dissensões, dichostasia,
com o sentido de algo ou alguém que se posiciona à parte, desunido, em
separado, portanto que diverge da opinião geralmente aceita. Pode ser perfeitamente
traduzido como “sedições” ou “contendas”, e se manifestam como fruto da obra da
carne “discórdias”, mencionada anteriormente. Uma das advertências mais sérias
da Bíblia nos lembra que a alma de Deus simplesmente abomina “o que semeia
contenda entre irmãos.” (Prov. 6:16, 19). Não é por acaso que somos exortados
a nos afastar daqueles que provocam “divisões” (dichostasia) “em desacordo com a doutrina” revelada
(Rom. 16:17).
Facções, haireseis, da raiz do verbo
hairéos, tomar para
si, escolher. De hairesis procede
o português “heresia”, a qual é uma questão de opinião própria, de preferência
pessoal, em lugar da submissão à verdade, o que acaba dividindo ou formando uma
facção, um partido. Esta obra da carne está sendo hoje muito usada por Satanás
para enfraquecer o corpo de Cristo, a Igreja. Ele sabe que uma casa dividida
não permanecerá (Mar. 3:25).
Invejas, phthonoi, o sentimento de
desprazer pelo bem alheio, manifestado por um duplo e ardente desejo: tomar
esse bem para si e ver aquele que o possui desprovido dele. Ë caminho aberto
para a transgressão do décimo mandamento e posteriormente, do oitavo. A inveja
se liga a um bem alheio, e nisto se distingue do ciúme, que se liga a um bem
próprio.
Bebedices, methai, da raiz de methu, vinho temperado.
Aplica-se exclusivamente a bebidas intoxicantes. O termo é vertido
“embriaguez” em Lucas 21:34.
Glutonarias, komoi, termo alusivo a
qualquer tipo de celebração, nesse caso, profana e lasciva, onde se come
desmedidamente. Talvez o apóstolo tivesse em mente a repulsiva prática romana
do uso do “vomitório”:
os convivas enchiam o estômago e iam a
um setor com esse nome para esvaziá-lo; então voltavam à mesa para
reabastecer. A menção da anterior e desta “obra da carne” se traduz num
eloqüente apelo à necessidade de temperança no beber e no comer.
Conclusão — Paulo não esgota as obras da carne. As palavras “e coisas
semelhantes a estas” (Gál. 5:21) indicam que elas são tão vastas quanto o
próprio pecado. Não devemos esquecer a advertência que ele faz aqui: “não
herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam”.
Como não
praticá-las, se somos carnais, vendidos “à escravidão do pecado” (Rom. 7:14)?
O segredo é simples: O Espírito Santo está pronto a nos libertar da lei do
pecado e da morte (8:2), se Lhe rendemos o coracão.
Segredo fácil de
ser entendido, mas, pela obstinação humana e apego a idéias insensatas, difícil
de ser cumprido. Os infelizes que negam a personalidade e divindade do
Espírito Santo, por exemplo, negam o único recurso para vencer o pecado.
Infelizes, porque continuarão carnais e, precisamente por isso, perdidos.
“Não sejais
cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as.” (Efés.
5:11).
José Carlos Ramos
é diretor do programa de pós-gradução do SALT Unasp — Campos 2, em
Engenheiro Coelho, SP
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