Nesta
noite queremos abordar o encontro de Jesus com Judas, o traidor. Judas é sem
dúvidas um personagem bíblico que gera muitas controvérsias, porém não é nossa
intenção resolve-las, mas sim deixar subir do nosso coração algumas
inquietações sobre alguém que esteve com Cristo por três anos e meio e mesmo
assim não conseguiu compreender em nenhum momento a obra de Cristo e
compreender as implicações que isso poder para nós.
O ministério de Jesus geralmente é
dividido pelos estudiosos em três períodos: o primeiro ano é o da obscuridade,
quando o ministério está no inicio; o segundo ano é o ano da popularidade,
quando povo quis ungir Jesus como rei; o terceiro ano é o ano da rejeição e
questionamentos. Neste último período as controvérsias com fariseus e saduceus
aumentaram.
Quando a popularidade de Jesus se
voltou contra ele, Judas começa a olhar para trás cuidando de se proteger,
começa a guardar uma moeda aqui outra ali, a final algo de muito ruim estava
para acontecer e ele precisava se guardar.
Jesus desde o inicio sabia que entre
os doze haveria um traidor. Eu não acredito, particularmente, que o traidor
teria que ser Judas, eu não acredito que ele não teve opção, alguém teria que
fazer o papel do traidor, mas não precisava ser Judas, poderia ser qualquer
outro. Mas foi Judas e porque? Isso vamos tentar ver no decorrer desta
mensagem.
Jesus se reúne com seus discípulos
para celebrar a última páscoa entre eles. Um cenáculo foi o lugar preparado.
Ali reunidos, Jesus e os discípulos, um clima de tensão fica no ar. Os últimos
ensinamentos de Jesus naquela noite (João 14-17) parecer ter um tom de
despedida. Jesus fala em Lucas 22 que desejava ansiosamente comer aquela páscoa
com os discípulos antes do seu sofrimento, mas lança um notícia que cai como
uma bomba: “Um de vós há de me trair”. Lucas também afirma que Judas já havia
entrado em acordo com os principais fariseus para entregar Jesus. Porém mesmo
sabendo que entre eles havia um traidor, os discípulos começam uma disputa
sobre quem seria o maior no reino de Deus. Esta disputa já é velha, Jesus já
havia ensinado: “Quem dentre vós desejar ser o maior seja o servo de todos”.
Mas eles não compreenderam e a discussão acontece novamente. Foi quando para a
surpresa de todos Jesus se despe e se cinge com uma toalha a lava os pés dos
discípulos um a um. O lava pés é uma parábola encenada. Mas a primeira coisa
que nos chama a atenção é que Judas estava ali. Jesus lavou os seus pés. Lavar
os pés era tarefa do empregado mais inferior de uma casa, do filho caçula
quando não havia empregado, ou do dono da casa quando o convidado era de honra
e considerado superior ao próprio dono.
Depois todos se sentaram à mesa. Jesus
se assenta ao centro. João o discípulo amado à sua direita. Judas, o seu
traidor à esquerda em um dos lugares de honra. Mais uma vez Jesus retoma o
assunto da traição e diz: “Um de vós me trairá”. João pergunta: “Quem é
Senhor?”. Sempre em uma refeição judaica a primeira porção é dada ao convidado
mais importante e a resposta de Jesus é rápida: “É aquele a quem eu der o
pedaço de pão molhado”. Jesus coloca o pedaço de carneiro no meio do pão asmo e
o mergulha no molho de ervas amargas e dá a Judas. Ali os olhares de Jesus e Judas
se encontram, o olhar do traído e do traidor, aquela era a última oportunidade
de arrependimento para Judas. Mas ele se manteve firme na decisão de entregar a
Jesus. Diante de tal convicção a Bíblia diz que satanás entrou em Judas. É
quando Jesus diz, não sei se a Judas ou a Satanás, mas ele falou: “o que tem
que fazer, faze-o logo”. Judas se retira e vai ao encontro dos seus comparsas.
A partir desse momento o futuro de Judas e de Jesus está selado. Os dois vão
para uma arvore, porém com diferentes destinos.
Depois disso Jesus institui a Ceia do
Senhor. Cantam um hino e vão para o Getsênami onde Jesus, com um beijo, é
traído por Judas.
Nesse encontro de Jesus com Judas para
mim fica claro que:
1-Pessoas que andam tão próximas de Jesus
podem ter um coração distante dele.
Judas foi escolhido entre os vários
seguidores de Jesus para fazer parte do seleto grupo de doze discípulos. E como
poucos ele teve o privilégio de ouvir, “in loco”, os ensinamentos do Mestre, de
acompanhar Jesus em suas incursões por toda a Galiléia e Judéia, Judas viu
aquilo que os profetas gostariam de ter visto. Quantos milagres Judas
presenciou? Quantas manifestações do poder de Deus?
Judas também viu o amor de Jesus pelos
desvalidos.
Judas viu a dignidade com a qual Jesus
tratava os pecadores.
Judas viu a misericórdia de Jesus para
com os desorientados.
Judas viu a relação de Jesus com o
Pai.
Mas tudo isto não foi suficiente para
que o coração de Judas se convertesse a Cristo. Ele não entendeu nada !
Absolutamente nada !
Seu interesse era pessoal pois
seguindo a Jesus conseguiu ser o tesoureiro do grupo e da bolsa das ofertas
tirava a quantia que desejava.
Judas parecia ser um homem muito
prático, com um bom tino comercial, uma inclinação natural para negócios, por
isso talvez Judas farejava oportunidades de longe. Foi assim quando uma
pecadora ungiu Jesus, Judas foi o único a reclamar do desperdício. Quanto
dinheiro não podia ser ganho com a venda daquele perfume? Quanto dinheiro para
dar aos pobres? Quanto dinheiro estaria debaixo de sua guarda podendo surrupiar
o que queria?
O pragmatismo de Judas não olhava para
os pobres, olhava para si mesmo.
Sinceramente olhando para Judas eu me
assusto. Nunca vi pés que andaram por tanto tempo tão perto de Jesus mas com um
coração tão distante.
Quantas pessoas seguem Jesus por causa
de seus próprios interesses?
Quantas pessoas seguem Jesus porque
leva vantagens nisto?
A Igreja de modo geral tem culpa
disso. O que a maioria das Igrejas tem pregado e ensinado são verdadeiras
aberrações se comparado com os ensinos de Jesus. A mensagem de juízo,
arrependimento santificação, compromisso, sofrimento fugiram de nossos
púlpitos. Deus já não é mais aquele a quem servimos mas é aquele que nos serve.
Deus já não é aquele a quem obedecemos mas é aquele que nos obedece. Com isso
muitos Judas estão sendo criados. Esses Judas são pessoas que seguem Jesus por
causa da cura, da prosperidade, das vantagens que esperam tirar de sua fé, ou
quem sabe são pessoas que vivem da máquina que o Evangelho movimenta pois
agora, mais do que nunca, os evangélicos são uma fatia do mercado. Porém
podemos afirmar que essas pessoas não trazem em si as marcas de Cristo, não
trazem sobre os seus ombros a cruz de Cristo.
Como está seu coração? Perto de Jesus?
Você está desfrutando da mais profunda intimidade com o bendito Salvador? Jesus
disse: “Onde estiver o teu coração ai estará o teu tesouro”.
Meu amado, que o teu coração esteja
voltado para o Reino de Deus, o qual devemos buscar em primeiro lugar e
aguardar que as demais coisas nos sejam acrescentadas. Que o teu maior
interesse seja Cristo nosso Senhor, que a tua satisfação seja Cristo que é a
grande pérola de grande valor a qual para possui-la nos despojamos de todos os
nossos valores.
Que nada mais queiramos saber a não
ser a Cristo e este crucificado.
2-Se não abrirmos mãos de interesses,
projetos e preconceitos, estes podem ser usados por Satanás para nos afastar de
Jesus.
Judas
era um homem prático, portanto lógico. Uma mente aguçada que previa problemas
de longe. Paira sobre ele a dúvida de que fosse um zelote, um ativista político
do partido dos nacionalistas, defensores da guerra armada para expulsar os
romanos. Talvez Judas percebesse que Jesus seria o homem que reuniria em torno
de si os judeus para um ataque final contra Roma. Talvez Judas viu em Jesus o
Messias político tão esperado pelos judeus. Se Judas fosse realmente um zelote,
além da ambição pessoal ele tinha outro grande projeto, o projeto de libertação
de Israel de seus opressores.
Mas
o tempo passou, três anos e meio na verdade e Jesus não assume a guerra de
libertação, pelo contrário até incentiva o pagamento de impostos e taxas. O tempo da popularidade de Jesus já havia
passado e chega o tempo da rejeição e questionamentos, as discussões com os
fariseus ficam cada vez mais freqüentes e acirradas. Sem dúvidas Judas foi um
dos primeiros discípulos a perceber que algo não ia bem e que Jesus terminaria
morrendo. Na lógica de sua mente ele percebe que se Jesus morresse os discípulos
seriam os próximos. Além do que em sua praticidade e tino comercial a troca de
lealdade não era tão ruim se a causa era nobre.
É
nesse contexto que Satanás encontra um grande espaço para agir na vida de Judas
e não seria muito difícil influencia-lo a entregar Jesus.
Diria
que seria quase impossível que Judas fosse um possesso ou endemoniado. O que
acontecia era que um caráter tão poluído por falta de escrúpulos se não
transformado por Jesus se torna uma grande porta para Satanás agir através de
sugestionamentos.
Ao
seguirmos Jesus, se não abrirmos mãos de nossos interesses, projetos e
preconceitos, estes podem ser usados por Satanás para nos afastar de Jesus.
3-Judas não foi o único a trair Jesus,
apenas foi o traidor mais famoso.
Judas
como qualquer outro judeu de sua época esperava um Messias libertador, capaz de
reunir em torno de si o povo para o levante final contra os romanos. Jesus não
estava dentro do estereótipo deste Messias. Judas resolve agir por sua própria
conta e risco e coloca Jesus numa posição onde ou Jesus assume o papel
messiânico desejado pelos judeus ou então encontraria a morte que parecia
procurar desde que começou enfrentar os principais do povo.
Fica
claro pelo arrependimento de Judas que ele acreditava ser Jesus o Messias e que
quando Jesus se visse numa posição de pressão ele tomaria uma posição contra os
invasores.
Judas
acreditava que como Messias, Jesus não se permitiria julgar pelos invasores. Quando Judas percebe
que Jesus não empunhará a espada e que o seu destino parece ser a morte, o
arrependimento toma conta de sua alma de tal modo que procura aqueles que lhe
subornaram para devolver o dinheiro. Diante dos fariseus e dos maiorais do povo
Judas percebe que aquele dinheiro era o preço de sangue, que a intenção
daqueles homens era levar Jesus a julgamento e a morte. Diante desta
constatação o desespero toma conta de Judas e este se suicida selando assim seu
destino.
No que se
constituiu a traição de Judas? Será que sua traição foi apenas acertar o preço
para apontar o lugar onde Jesus se
encontraria sozinho com seus discípulos? Ou será que a sua traição foi andar
tanto tempo com Jesus mas em nenhum momento aceitar a maneira como Deus
escolheu para estabelecer seu reino entre os homens? Sim pois parece que os objetivos de Jesus e
Judas eram iguais. Os dois desejavam estabelecer o reino porém de formas
diferentes. A traição de Judas teve a ver com ficar ao lado de Jesus e
trabalhar para que seus interesses fossem satisfeitos, para que seus objetivos
fossem alcançados.
Não sei se
você percebe o quanto é serio o que eu acabo de falar. Eu e você podemos ser
iguais a Judas todas as vezes que queremos que as coisas sejam do nosso jeito.
Podemos ser iguais a Judas quando desejamos as coisas que deseja mas fazemos essas
coisas do nosso jeito.
Parece que
essas pequenas traições não nos causam arrependimento, até nos faz sentir o
salvador da pátria. As vezes nos sentimos como assessores de Deus de maneira
que quando Deus não é suficiente nós entramos em ação e assim acabamos por
responsáveis pelos escândalos que causamos.
Nós que
aceitamos seguir Jesus temos o desafio de abrir mão de nossos interesses,
projetos e preconceitos para que os objetivos de Deus sejam alcançados em
nossas vidas da maneira de Deus.
Conclusão: Que estejamos seguindo Jesus com
nosso coração totalmente convertido a ele.
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