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sexta-feira, 12 de outubro de 2018

MATRIX E O CONFLITO CÓSMICO



Matrix e o conflito cósmico
Sucesso do cinema parodia guerra entre o bem e o mal
Midielson Borges
Editor associado


Se a realidade que o cerca seu quarto, a cadeira em que você se senta, o carro que você diri­ge, tudo não passasse de um sonho ou uma simulação da realida­de, como você saberia disso? E se sou­besse, como se libertar e ingressar no mundo real? Esse é mais ou menos o pano de fundo de uma trilogia que en­volve futurismo, teologia, inteligência artificial, filosofia e efeitos especiais inéditos, e que tem arrebanhado le­giões de fãs em todo o mundo.
O  primeiro filme da seqüência Ma­tri.x ganhou quatro Oscars, arrecadou 460 milhões de dólares e foi o primei­ro DVD a vender mais de 1 milhão de cópias. As cenas de ação em câmera lenta, as lutas coreografadas, as rou­pas e os temas cyberpunk serviram de inspiração para dezenas de filmes, vi­deogames e propagandas que surgi­ram depois. Mais do que isso, Matrix está revolucionando a forma de fazer cinema e tem sido considerado um fil­me de valor histórico, cuja importân­cia pode ser comparada a obras como 2001 Uma Odisséia no Espaço e Bla­de Runner O Caçador de Andróides.
Matríx conta a história do hacker Thomas, também chamado Neo (Keanu Reeves), que encontra um homem cheio de truques chamado Morpheus (Lau­rence Fishbume). Ele torna uma pílula vermelha e descobre que toda a “realida­de” é simulada por computadores, um enorme mundo virtual chamado Matnx. A “verdadeira realidade” é um futuro em que as máquinas tomaram conta de tudo e mantêm os humanos em cápsulas, onde sua energia é usada para abastecer um gigantesco sistema de inteligência artificial, enquanto a mente deles é man­tida em uma espécie de sonho, urna rea­lidade virtual Morpheus é o líder de um grupo de rebeldes que quer libertar os
humanos das máquinas e acre­dita que Neo é o salvador espera­do, algo como um “messias” De­pois de muito treinamento Neo consegue transcender a realidade de Matrix, desafiar as leis da física e ganhar poderes sobre-humanos.

Saindo da caverna -  Deixando a ficção de lado, o que chama a atenção, também, no filme são as várias referências ao cristianismo. Neo é tido como o liberta­dor e ressuscita no final da história. Ele é amigo de Apoc (Apocalipse) e Trinity (“trindade”, em inglês). A última cidade humana, Zion, é uma referência á bíbli­ca Sião, e a nave de Morpheus foi bati­zada com o nome de Nabucodonosor.
Além do apelo religioso, há também um pano de fundo filosófico na própria base do enredo. Chega a quase parecer um plágio do famoso mito da caverna, de Platão, escrito há quase 2.400 anos, e que descreve pessoas presas em uma caverna sem sequer se darem conta de que existe ‘outro mundo” lá fora.
Pode-se perceber, também, uma pitadinha das idéias do pensador francês do século 18 René Descartes. Basta ler estas palavras dele para perceber a semelhan­ça com Matrix: “Quando penso sobre os meus sonhos claramente, vejo que nun­ca existem sinais certos pelos quais estar acordado pode se distinguir de estar dor­mindo. O resultado é que fico tonto e esse sentimento só reforça a idéia de que eu posso estar sonhando.” Descartes imaginou a possibilidade de um terrível demônio estar constantemente dando a ilusão de que todas as certezas humanas são corretas, quando na realidade elas não fariam qualquer sentido, O filósofo conclui que, como não se pode provar se esse demônio existe ou não, nenhuma de suas opiniões era segura.

Realidade Fazendo uma busca através das paginas da Bíblia, pode-se perceber que Descartes chegou bem perto da verdade. De fato, há um demônio profundamente interes­sado em transmitir a idéia de que esta é a única realidade ao nosso alcance. Lúcifer, o anjo rebelde, depois de dar inicio ao que ficou conhecido como o grande conflito cósmico, introduziu o vírus da maldade neste mundo e pro­cura de todas as maneiras concebíveis manter as pessoas nesta imensa “ma­trix” de pecado, sem perspectivas de futuro além da sepultura e alheias ao que ocorre por detrás dos bastidores do grande drama espiritual. Com suas artimanhas ele consegue fazer mais ou menos o que os três filmes Matrix fa­zem com seus espectadores: paralisa­os, anestesia-os para a realidade verda­deira. Como escreveu Arnaldo Jabor, no jornal O Estado de 5. Paulo, do dia 17 de junho, comentando o segundo filme da trilogia (Matrix Reloaded), “a açao na tela e incessante, de modo a nos paralisar na vida; o conflito é per­manente, de modo a privar o especta­dor de ver seus conflitos reais”
O  conflito real da humanidade é contra o pecado em suas diversas for­mas. Mas, no contexto bíblico, a gran­de diferença em relação à história apre­sentada em Matríx é que os que vence­rem o mal habitarão novos céus e nova Terra; um lugar onde não haverá mais dor, tristeza ou morte. No filme, é compreensível que alguns humanos não queiram deixar seu mundo virtual, quando descobrem que o mundo real esta arrasado. Mas, no que diz respeito à “matrix do pecado”, sair dela é indis­cutivelmente um bom negócio.

Sinais dos Tempos   Setembro – Outubro/2003



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