A PEDRA : PEDRO OU CRISTO
Pedro Apolinário – Sermões
Exaltando a Verdade – Casa Publicadora Brasileira – 1a. Edição
Professor de Grego e Exegese
Bíblica do Seminário Latino Americano de Teologia – Eng. Coelho, S.P
Mateus 16:18: “Também Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei a Minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”
Dentre as passagens do Novo Testamento nenhuma tem causado maior número de
debates do que esta.
Baseada na declaração de Pedro em Mateus 16:16: “Tu és o Cristo, o Filho
do Deus vivo”, a Igreja Católica defende que Cristo o recompensou edificando a
Igreja sobre ele. Os católicos denominam esse privilégio concedido ao apóstolo
de “primado de Pedro”. Essa expressão significa prioridade. Essa honra lhe deu
distinta autoridade sobre os demais discípulos e o privilégio de ser o
dirigente supremo da Igreja. Tal prerrogativa abrangia ainda o direito de
aceitar na comunhão da Igreja os que a ela se submetessem, e rejeitar aqueles
que dela divergissem. De acordo com líderes católicos, Pedro transmitiu esses
privilégios aos papas que o sucederam, e ainda hoje esses pontífices defendem
suas decisões baseados nas declarações de Cristo em Mateus 16:18.
Haverá base segura nas Escrituras comprovativas desta pretensão católica?
Atenta exegese bíblica mostrará se tais pretensões são válidas oo se devem ser
rejeitadas.
Várias
Interpretações
Os exegetas da Bíblia, ao estudarem Mateus 16:18, têm apresentado as
seguintes interpretações:
1- A pedra é Pedro;
2- A pedra é Cristo;
3- A pedra é a confissão de Pedro, a
fé que ele acabara de professar;
4- A Igreja foi edificada sobre todos
os apóstolos, tendo Pedro a primazia;
5- A Igreja é constituída sobre pedras
vivas — os fiéis que aceitam a Cristo.
Pedro é a Pedra
Esta posição é sustentada hoje pela maioria dos comentaristas católicos,
mas a História Eclesiástica comprova que nem sempre foi assim.
Discursando em 1870, no Concílio do Vaticano, o Monsenhor Kendril,
arcebispo de 5. Louis, Estados Unidos, refutou o dogma católico da edificação
da Igreja sobre Pedro, ao declarar: “A regra de interpretação bíblica que nos
foi imposta é esta: que as Sagradas Escrituras não devem ser interpretadas de
modo contrário ao consentimento unânime dos Pais da Igreja. Mas, por ser difícil
encontrar um exemplo desse consentimento unânime, a regra a seguir é esta:
aceitar a orientação da maioria dos líderes da Igreja.” Conclui suas
declarações esclarecendo-nos que das cinco interpretações para esta passagem, a
de maior peso seria que Cristo estava se referindo à fé que Pedro acabara de
professar, por ser aceita por 44 Pais e Doutores da Igreja. Informa-nos ainda
que apenas 17 Pais sustentam a idéia da edificação da Igreja sobre Pedro.
Os autores católicos dos primeiros quatro séculos jamais defenderam,
baseados em Mateus 16:18, que Pedro recebeu de Cristo qualquer primazia ou que
Ele entregou este poder aos bispos de Roma. Irineu e Eusébio estão de acordo
nesse ponto: o primeiro bispo (ou papa) da Igreja de Roma foi Lino (História Eclesiástica ele Eusébio, Livro
III. C.2).
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Bíblicas Refutando o Primado de Pedro
1- Se Cristo houvesse estabelecido a
Igreja sobre Pedro, Sua declaração cinco versos depois, chamando-o de Satanás,
seria contraproducente e conflitante. Ver Mateus 16:23.
2- A Bíblia diz que Pedro não estava
convertido às vésperas da crucifixão. Se não estava nessa ocasião, muito menos
estaria na fundação da Igreja. Ver Lucas 22:32. Cristo não escolheria uma
pessoa não convertida como cabeça da Igreja e seu líder espiritual.
3— A triste negação de Pedro
confirma, que Cristo não construiria a Igreja sobre fundamento tão frágil. Ver
Mateus 26:69-75.
4- A controvérsia entre os discípulos
para saber qual deles seria o maior não teria surgido, se Cristo o tivesse
colocado como superior aos outros apóstolos. Ver Mateus 18:1.
5- O fato de Pedro ser chamado a dar conta
de seu procedimento pelos apóstolos e irmãos, d prova convincente de que não
tinha autoridade sobre eles. Ver Atos 11:2-4.
6- Pedro é apresentado como uma das colunas da
Igreja, mas vindo em primeiro lugar Tiago. Ver Gálatas 2:9.
7- O relato do primeiro concílio geral da Igreja nos evidencia que Pedro não
era o líder principal dos cristãos. Após a exposição de Pedro, Paulo e Barnabé.
Tiago fez um discurso para apresentar as conclusões a que chegaram. O discurso
nos leva à conclusão iniludível de que o dirigente da reunião era Tiago e não
Pedro. Ver Atos 15:6-29.
8- A atitude de Paulo, reprovando publicamente o procedimento pusilânime
de Pedro, confirma que ele não reconhecia no colega de apostolado qualquer
autoridade infalível. Pensar no Papa sendo repreendido por um subalterno é
inaceitável. Ver Gálatas 2:11.
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Bíblicas de que a Pedra é Cristo
A única
autoridade para dar resposta digna de confiança é o Livro de Deus. Em nenhuma
passagem das Escrituras se encontra prova convincente de ser Pedro o líder
soberano de todos os cristãos. Todos os escritores inspirados são unânimes em
afirmar que a pedra é Cristo. Pedro é apenas uma das muitas pedras colocadas
sobre a Pedra Angular do grande edifício.
Destacam-se na
Bíblia as seguintes provas:
1- “A pedra que os construtores rejeitaram, essa
veio a ser a principal pedra, angular” (Salmo 118:22). Esta passagem nos
mostra que séculos antes da vinda do Messias já o salmista predissera que a
pedra seria Cristo.
2- “Eis que eu assentei em Sião uma pedra, pedra
já provada, pedra preciosa, angular, solidamente assentada” (Isaías 28:16). O
próprio Cristo fez a aplicação desta passagem a Sua pessoa em Mateus 21:42.
3- “Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os
construtores, a qual se tornou a pedra angular” (Atos 4:11).
4- “Porque ninguém pode lançar outro fundamento,
além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (I Coríntios 3:11).
5- “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e
profetas, sendo Ele mesmo, Cristo Jesus, a Pedra Angular” (Efésios 2:20). Se
Cristo é a Pedra Angular todos os discípulos foram pedras que edificaram sobre
Ele.
A Pedra
— Pedro ou Cristo?
Paulo, o grande teólogo do Novo Testamento, com as duas passagens citadas,
confirma de maneira irrefutável, que a pedra é Cristo e não Pedro.
6- Estas citações de Pedro em sua primeira carta (2:4-6) seriam suficientes
para provar que a única rocha verdadeira da Igreja é Jesus Cristo:
“Chegando-vos para Ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas
para com Deus eleita e preciosa. Também vós mesmos, como pedras que vivem,
sois edificados casa espiritual.... Pois isso está na Escritura: Eis que ponho
em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de
modo algum, envergonhado.”
Outras
Provas
As palavras seguintes do Padre Antônio Pereira de Figueiredo merecem
atenção: “Santo Agostinho no Tratado
CXXIV sobre £ João entende por esta pedra não a Pedro, mas a Cristo, quando
confessado Deus por Pedro, como se Cristo dissera: Tu és Pedro, denominado
assim da pedra, que confessaste, que sou Eu, sobre a qual edificarei a Minha
Igreja.” — Tradução da
Bíblia do Padre Figueiredo, edição de 1857, pág. 95.
Adão Clarke, famoso comentarista da Bíblia, afirma sobre Mateus 16:18:
“Nesta passagem o Senhor não Se referia à pessoa de Pedro. Pedro foi somente um
dos construtores deste sagrado edifício, do qual ele mesmo nos diz que está
construído sobre a pedra viva e angular (I Pedro 2:4 e 5). Jesus não diz ‘Sobre
ti Pedro, edificarei a Minha
Igreja’, mas mudando imediatamente a expressão afirma: ‘Sobre esta rocha’
mostrando que não Se referia a Pedro nem a nenhum dos outros apóstolos. De modo
que a supremacia de Pedro e a infalibilidade da Igreja de Roma devem ser
buscadas em alguma outra passagem da Escritura, porque aqui certamente elas não
se encontram.” — Comentário de La Santa Bíblia, vol. III, pág. 43.
A história da igreja primitiva comprova que Pedro nunca exerceu nenhuma
autoridade diferente dos demais discípulos.
Seria ainda útil relembrar uma questão gramatical que nos ajudará a
equacionar o problema. O notável gramático Eduardo Carlos Pereira chama-nos a
atenção para a forma do demonstrativo empregado — esta e não “essa”. A forma do pronome esta refere-se à primeira pessoa, a
que fala, por isso aplica-se a Cristo. Se houvesse referência a Pedro, a forma
pronominal seria “essa”, a pessoa com quem se fala (segunda pessoa).
O
Texto no Original
Em grego existem três palavras que podem ser traduzidas por “pedra”, embora não sejam exatamente sinônimas
a) Petra — O dicionário
de Liddel e Scott diz que esta palavra significa rocha firme, maciça, recife,
rochedo inabalável.
b) Petros — significa uma pedra movediça, pedra pequena, um fragmento de rocha, seixo.
c) Lithos — significa
também pedra movediça (de uma construção), pedra de um altar, pedra preciosa,
pedra de mármore. Esta é a palavra usada na Septuaginta para a pedra que Davi
usou para abater o gigante Golias, e também usada no apedrejamento, como no
caso da mulher adúltera.
O Novo
Testamento confirma esta distinção em outras passagens:
Mateus 7:21-25
nos informa que o homem prudente edificou sua casa sobre a rocha (para)... e não caiu, porque estava
edificada sobre a rocha. Em Romanos 9:33 lê-se: “Eis que ponho em Sião uma
pedra (Iithos) de tropeço e rocha (petra) de escândalo, e aquele que nela
(Cristo), crê não será confundido.” I Coríntios 10:4: “E beberam todos da mesma
fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra (para) espiritual que os seguia. E a pedra (petra) era Cristo.”
Como Deus onipotente, Jesus é a Rocha firme e inabalável sobre a qual Ele
mesmo edifica a Igreja. Como Homem Santo e perfeito é a principal pedra de
esquina, assentada sobre a rocha de Sua divindade, que determina o alinhamento
dos alicerces e das paredes, constituídas pelas pedras espirituais que são os
crentes.
No original hebraico, quando a palavra rocha se refere à natureza divina
de Jesus, é empregada a palavra Tsur.
Mas ainda no hebraico, especificamente nas profecias messiânicas, quando a
palavra Pedra (de esquina) se aplica à natureza humana de Jesus é usada a
palavra Eben e em grego é usada a
palavra Lithos. Ver Isaías 28:16 e
Mateus 21:41-44.
De acordo com o original, uma melhor tradução de Mateus 16:18 seria: “Tu és
Pedro, e sobre esta pedra (Cristo) edificarei a minha Igreja, como aparece em traduções espanholas e inglesas. A
tradução deste texto também poderia ser feita da seguinte maneira: “Também te
digo que tu és pedra (espiritual) e sobre esta rocha (espiritual) edificarei a
Minha Igreja.”
Diante do exposto, não faríamos nenhuma violência ao texto se o
parafraseássemos assim: “Tu és Pedro, uma pequena pedra instável e movediça.
Minha Igreja não poderá ser construída sobre base tão mutável, porém, sobre a
Rocha que Sou Eu (Cristo).”
O próprio Santo Agostinho, que viveu entre os anos 355 e 430 d.C., fez a
distinção dizendo: “A Igreja foi edificada sobre a Pedra (rocha) da qual Pedro
tomou o nome. A pedra não tomou o nome de Pedro, mas Pedro de pedra. Assim como
Cristo não recebe o nome de cristão, mas cristão de Cristo. A Pedra, pois, era
Cristo e sobre esse fundamento foi edificado o próprio Pedro.” — Sermão LAXVJ.
“Uma coisa é clara, que em todo o Novo Testamento não há vestígio de
nenhuma autoridade reclamada ou exigida por Pedro sobre os demais apóstolos,
argumento concludente contra as pretensões romanas com respeito àquele
apóstolo.” — Comentei rio Exegético e Explicativo ele La Bíblia,
de Jamieson, Fausset e Brown sobre Mateus 16:18.
“Talvez a melhor evidência de que Cristo não apontou a Pedro como a Pedra
sobre a qual edificaria a Sua Igreja seja o fato de que nenhum dos que ouviu
esta afirmação de Cristo, nem o próprio Pedro assim entendeu Suas palavras,
nem durante o tempo que Cristo esteve na Terra nem posteriormente.” — SDABC, vol. 5, pág. 431.
A edificação da Igreja sobre Pedro contraria explícitas declarações
bíblicas. Tal ensinamento não se harmoniza com outras passagens bíblicas, logo
deve ser rejeitado, porque nenhuma interpretação deve ser dada a um texto, se
ela estiver em conflito com o ensino geral das Escrituras.
Uma análise objetiva e imparcial da Bíblia sobre a importância que Cristo
deu à Igreja e o papel que Pedro nela desempenhou confirmar-nos-á o seguinte:
Cristo jamais teria edificado Sua Igreja sobre algo tão fraco como um ser
humano.
Para Pedro e Paulo, os que aceitam a Cristo como seu Salvador pessoal são
pedras vivas edificadas sobre Cristo, que é a base ou Pedra fundamental.
Apêndice:
Conclusão
Diante das idéias expostas anteriormente
é fácil chegar à seguinte conclusão:
1- Pedro, significando um
fragmento de pedra, não é um símbolo adequado para um fundamedamento, um
edifício.
2-
A palavra que foi traduzida por pedra no mesmo verso significa uma rocha firme,
inamovível, símbolo muito mais próprio para um fundamento estável, inalterável,
permanente da Igreja. Aquela “pedra” se refere a Cristo, o Filho de Deus, e
não a Pedro. Este argumento é inquestionável. Pedro, como qualquer crente,
podia tornar-se “uma pedra viva” na edificação espiritual (1 Pedro 2:3-5), mas
ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus
Cristo.
Que Significam as “Chaves” e o “Ligar”
e “Desligar” de Mateus 19:19?
Quando uma pessoa completava satisfatoriamente um curso de estudos com um
rabi judeu, era costume receber ele uma chave, significando que se havia
tornado bem versado na doutrina e que estava agora habilitado para abrir os
segredos das coisas de Deus. As palavras de Cristo referem-se a esse costume.
Pedro, por sua confissão de ser Jesus o Filho de Deus havia demonstrado que Deus lhe estava a revelar a
verdade (verso 17) e Jesus contemplava o futuro, quando, cheio do Espírito Santo. Pedro se faria ainda versado na
verdade (João 16:12-14), sendo assim competente para revelar os mistérios do
Reino de Deus.
Todo homem cheio do
Espírito possui as “chaves do reino” e está habilitado para abrir a porta do reino dos Céus aos homens, tanto hoje
como nos dias de Pedro. Toda vez que um homem prega no poder do Espírito. ele se serve
dessas “chaves”. Pedro no dia
do Pentecostes usou-as para abrir aos judeus a porta do reino de Deus e, nesse
dia, 3 mil entraram por ela. Atos 10 diz como Pedro se serviu das chaves para abrir o reino de Deus aos gentios, e toda uma família nele entrou pela
porta aberta.
“Ligar” e “desligar” eram expressões comuns nos dias de Jesus para proibir e permitir. Dizia-se que
um rabi “ligava” aquilo que proibia e “desligava” aquilo que permitia Esse poder não foi dado só a Pedro, mas
também aos outros discípulos “Se de alguns perdoardes os pecados. são-lhes perdoados: se lhos retiverdes,
são retidos” (João 20:23). Este ponto é esclarecido em Marcos 16:15 e 16: “Ide
por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura. Quem crer e for batizado será salvo, quem, porem, não crer será condenado.” O
verdadeiro poder, pois, para ligar ou desligar, absolver ou condenar, reside
na própria mensagem e não no homem. Todo real
mensageiro de Deus declara com autoridade divinamente outorgada que a aceitação
do evangelho traz justificação, perdão e salvação, ao passo que sua rejeição
trará condenação e perda da vida eterna.
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