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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

A PEDRA : PEDRO OU CRISTO



A PEDRA : PEDRO OU CRISTO


Pedro Apolinário – Sermões Exaltando a Verdade – Casa Publicadora Brasileira – 1a. Edição
Professor de Grego e Exegese Bíblica do Seminário Latino Americano de Teologia – Eng. Coelho, S.P


Mateus 16:18: “Também Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pe­dra edificarei a Minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”
Dentre as passagens do Novo Testamento nenhuma tem causado maior número de debates do que esta.
Baseada na declaração de Pedro em Mateus 16:16: “Tu és o Cris­to, o Filho do Deus vivo”, a Igreja Católica defende que Cristo o re­compensou edificando a Igreja sobre ele. Os católicos denominam esse privilégio concedido ao apóstolo de “primado de Pedro”. Essa expressão significa prioridade. Essa honra lhe deu distinta autoridade sobre os demais discípulos e o privilégio de ser o dirigente supre­mo da Igreja. Tal prerrogativa abrangia ainda o direito de aceitar na comunhão da Igreja os que a ela se submetessem, e rejeitar aqueles que dela divergissem. De acordo com líderes católicos, Pedro transmitiu esses privilégios aos papas que o sucederam, e ainda hoje esses pontífices defendem suas decisões baseados nas declarações de Cris­to em Mateus 16:18.
Haverá base segura nas Escrituras comprovativas desta pretensão ca­tólica? Atenta exegese bíblica mostrará se tais pretensões são válidas oo se devem ser rejeitadas.

Várias Interpretações
Os exegetas da Bíblia, ao estudarem Mateus 16:18, têm apresentado as seguintes interpretações:
1- A pedra é Pedro;
2- A pedra é Cristo;
3- A pedra é a confissão de Pedro, a fé que ele acabara de professar;
4- A Igreja foi edificada sobre todos os apóstolos, tendo Pedro a primazia;
5- A Igreja é constituída sobre pedras vivas os fiéis que aceitam a Cristo.

Pedro é a Pedra
Esta posição é sustentada hoje pela maioria dos comentaristas católi­cos, mas a História Eclesiástica comprova que nem sempre foi assim.
Discursando em 1870, no Concílio do Vaticano, o Monsenhor Kendril, arcebispo de 5. Louis, Estados Unidos, refutou o dogma católico da edificação da Igreja sobre Pedro, ao declarar: “A regra de interpretação bíblica que nos foi imposta é esta: que as Sagradas Escrituras não devem ser interpretadas de modo contrário ao consentimento unânime dos Pais da Igreja. Mas, por ser difícil encontrar um exemplo desse consen­timento unânime, a regra a seguir é esta: aceitar a orientação da maioria dos líderes da Igreja.” Conclui suas declarações esclarecendo-nos que das cinco interpretações para esta passagem, a de maior peso seria que Cristo estava se referindo à fé que Pedro acabara de professar, por ser aceita por 44 Pais e Doutores da Igreja. Informa-nos ainda que apenas 17 Pais sustentam a idéia da edificação da Igreja sobre Pedro.
Os autores católicos dos primeiros quatro séculos jamais defende­ram, baseados em Mateus 16:18, que Pedro recebeu de Cristo qual­quer primazia ou que Ele entregou este poder aos bispos de Roma. Irineu e Eusébio estão de acordo nesse ponto: o primeiro bispo (ou papa) da Igreja de Roma foi Lino (História Eclesiástica ele Eusébio, Li­vro III. C.2).

Provas Bíblicas Refutando o Primado de Pedro
1- Se Cristo houvesse estabelecido a Igreja sobre Pedro, Sua declaração cinco versos depois, chamando-o de Satanás, seria contraproducente e conflitante. Ver Mateus 16:23.
2- A Bíblia diz que Pedro não estava convertido às vésperas da cruci­fixão. Se não estava nessa ocasião, muito menos estaria na fundação da Igreja. Ver Lucas 22:32. Cristo não escolheria uma pessoa não converti­da como cabeça da Igreja e seu líder espiritual.
3—  A triste negação de Pedro confirma, que Cristo não construiria a Igreja sobre fundamento tão frágil. Ver Mateus 26:69-75.
4- A controvérsia entre os discípulos para saber qual deles seria o maior não teria surgido, se Cristo o tivesse colocado como superior aos outros apóstolos. Ver Mateus 18:1.
5- O fato de Pedro ser chamado a dar conta de seu procedimento pelos apóstolos e irmãos, d prova convincente de que não tinha autoridade sobre eles. Ver Atos 11:2-4.
6- Pedro é apresentado como uma das colunas da Igreja, mas vindo em primeiro lugar Tiago. Ver Gálatas 2:9.
7- O relato do primeiro concílio geral da Igreja nos evidencia que Pedro não era o líder principal dos cristãos. Após a exposição de Pedro, Paulo e Barnabé. Tiago fez um discurso para apresentar as conclusões a que chegaram. O discurso nos leva à conclusão iniludível de que o dirigente da reunião era Tiago e não Pedro. Ver Atos 15:6-29.
8- A atitude de Paulo, reprovando publicamente o procedimento pu­silânime de Pedro, confirma que ele não reconhecia no colega de apostolado qualquer autoridade infalível. Pensar no Papa sendo repreendido por um subalterno é inaceitável. Ver Gálatas 2:11.

Provas Bíblicas de que a Pedra é Cristo
A única autoridade para dar resposta digna de confiança é o Livro de Deus. Em nenhuma passagem das Escrituras se encontra prova con­vincente de ser Pedro o líder soberano de todos os cristãos. Todos os escritores inspirados são unânimes em afirmar que a pedra é Cristo. Pedro é apenas uma das muitas pedras colocadas sobre a Pedra Angular do grande edifício.
Destacam-se na Bíblia as seguintes provas:
1- “A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pe­dra, angular” (Salmo 118:22). Esta passagem nos mostra que séculos antes da vinda do Messias já o salmista predissera que a pedra seria Cristo.
2- “Eis que eu assentei em Sião uma pedra, pedra já provada, pedra preciosa, angular, solidamente assentada” (Isaías 28:16). O próprio Cris­to fez a aplicação desta passagem a Sua pessoa em Mateus 21:42.
3- “Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tor­nou a pedra angular” (Atos 4:11).
4- “Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (I Coríntios 3:11).
5- “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Ele mesmo, Cristo Jesus, a Pedra Angular” (Efésios 2:20). Se Cristo é a Pedra Angular todos os discípulos foram pedras que edificaram sobre Ele.

A Pedra — Pedro ou Cristo?

Paulo, o grande teólogo do Novo Testamento, com as duas passagens citadas, confirma de maneira irrefutável, que a pedra é Cristo e não Pedro.
6- Estas citações de Pedro em sua primeira carta (2:4-6) seriam suficientes para provar que a única rocha verdadeira da Igreja é Jesus Cris­to: “Chegando-vos para Ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos ho­mens, mas para com Deus eleita e preciosa. Também vós mesmos, co­mo pedras que vivem, sois edificados casa espiritual.... Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado.”

Outras Provas
As palavras seguintes do Padre Antônio Pereira de Figueiredo merecem atenção: “Santo Agostinho no Tratado CXXIV sobre £ João entende por esta pedra não a Pedro, mas a Cristo, quando confessado Deus por Pedro, como se Cristo dissera: Tu és Pedro, denominado assim da pedra, que confessaste, que sou Eu, sobre a qual edificarei a Minha Igreja.” Tradução da Bíblia do Padre Figueiredo, edição de 1857, pág. 95.
Adão Clarke, famoso comentarista da Bíblia, afirma sobre Mateus 16:18: “Nesta passagem o Senhor não Se referia à pessoa de Pedro. Pedro foi somente um dos construtores deste sagrado edifício, do qual ele mesmo nos diz que está construído sobre a pedra viva e angular (I Pedro 2:4 e 5). Jesus não diz ‘Sobre ti Pedro, edificarei a Minha Igreja’, mas mudando imediatamente a expressão afirma: ‘Sobre esta rocha’ mostrando que não Se referia a Pedro nem a nenhum dos outros apóstolos. De modo que a supremacia de Pedro e a infalibilidade da Igreja de Ro­ma devem ser buscadas em alguma outra passagem da Escritura, porque aqui certamente elas não se encontram.” Comentário de La Santa Bí­blia, vol. III, pág. 43.
A história da igreja primitiva comprova que Pedro nunca exerceu ne­nhuma autoridade diferente dos demais discípulos.
Seria ainda útil relembrar uma questão gramatical que nos ajudará a equacionar o problema. O notável gramático Eduardo Carlos Pereira chama-nos a atenção para a forma do demonstrativo empregado esta e não “essa”. A forma do pronome esta refere-se à primeira pessoa, a que fala, por isso aplica-se a Cristo. Se houvesse referência a Pedro, a forma pronominal seria “essa”, a pessoa com quem se fala (segunda pessoa).

O Texto no Original
Em grego existem três palavras que podem ser traduzidas por “pe­dra”, embora não sejam exatamente sinônimas
a) Petra  —    O dicionário de Liddel e Scott diz que esta palavra signifi­ca rocha firme, maciça, recife, rochedo inabalável.
b) Petros significa uma pedra movediça, pedra pequena, um fragmento de rocha, seixo.
c) Lithos —  significa também pedra movediça (de uma construção), pedra de um altar, pedra preciosa, pedra de mármore. Esta é a pa­lavra usada na Septuaginta para a pedra que Davi usou para aba­ter o gigante Golias, e também usada no apedrejamento, como no caso da mulher adúltera.
O Novo Testamento confirma esta distinção em outras passagens:
Mateus 7:21-25 nos informa que o homem prudente edificou sua casa sobre a rocha (para)... e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. Em Romanos 9:33 lê-se: “Eis que ponho em Sião uma pedra (Iithos) de tropeço e rocha (petra) de escândalo, e aquele que nela (Cristo), crê não será confundido.” I Coríntios 10:4: “E beberam todos da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra (para) espiritual que os seguia. E a pedra (petra) era Cristo.”
Como Deus onipotente, Jesus é a Rocha firme e inabalável sobre a qual Ele mesmo edifica a Igreja. Como Homem Santo e perfeito é a principal pedra de esquina, assentada sobre a rocha de Sua divindade, que determina o alinhamento dos alicerces e das paredes, constituídas pelas pedras espirituais que são os crentes.
No original hebraico, quando a palavra rocha se refere à natureza di­vina de Jesus, é empregada a palavra Tsur.
Mas ainda no hebraico, especificamente nas profecias messiânicas, quando a palavra Pedra (de esquina) se aplica à natureza humana de Je­sus é usada a palavra Eben e em grego é usada a palavra Lithos. Ver Isaías 28:16 e Mateus 21:41-44.
De acordo com o original, uma melhor tradução de Mateus 16:18 seria: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra (Cristo) edificarei a minha Igre­ja, como aparece em traduções espanholas e inglesas. A tradução deste texto também poderia ser feita da seguinte maneira: “Também te digo que tu és pedra (espiritual) e sobre esta rocha (espiritual) edificarei a Minha Igreja.”
Diante do exposto, não faríamos nenhuma violência ao texto se o parafraseássemos assim: “Tu és Pedro, uma pequena pedra instável e movediça. Minha Igreja não poderá ser construída sobre base tão mutável, porém, sobre a Rocha que Sou Eu (Cristo).”
O próprio Santo Agostinho, que viveu entre os anos 355 e 430 d.C., fez a distinção dizendo: “A Igreja foi edificada sobre a Pedra (rocha) da qual Pedro tomou o nome. A pedra não tomou o nome de Pedro, mas Pedro de pedra. Assim como Cristo não recebe o nome de cristão, mas cristão de Cristo. A Pedra, pois, era Cristo e sobre esse fundamento foi edificado o próprio Pedro.” —      Sermão LAXVJ.
“Uma coisa é clara, que em todo o Novo Testamento não há vestígio de nenhuma autoridade reclamada ou exigida por Pedro sobre os demais apóstolos, argumento concludente contra as pretensões romanas com respeito àquele apóstolo.” Comentei rio Exegético e Explicativo ele La Bí­blia, de Jamieson, Fausset e Brown sobre Mateus 16:18.
“Talvez a melhor evidência de que Cristo não apontou a Pedro como a Pedra sobre a qual edificaria a Sua Igreja seja o fato de que nenhum dos que ouviu esta afirmação de Cristo, nem o próprio Pedro assim en­tendeu Suas palavras, nem durante o tempo que Cristo esteve na Terra nem posteriormente.” SDABC, vol. 5, pág. 431.
A edificação da Igreja sobre Pedro contraria explícitas declarações bíblicas. Tal ensinamento não se harmoniza com outras passagens bíblicas, logo deve ser rejeitado, porque nenhuma interpretação deve ser dada a um texto, se ela estiver em conflito com o ensino geral das Escrituras.
Uma análise objetiva e imparcial da Bíblia sobre a importância que Cristo deu à Igreja e o papel que Pedro nela desempenhou confirmar-nos-á o seguinte: Cristo jamais teria edificado Sua Igreja sobre algo tão fraco como um ser humano.
Para Pedro e Paulo, os que aceitam a Cristo como seu Salvador pessoal são pedras vivas edificadas sobre Cristo, que é a base ou Pe­dra fundamental.


Apêndice:
                                                    
 Conclusão
Diante das idéias expostas anteriormente é fácil chegar à seguinte conclusão:
1- Pedro, significando um fragmento de pedra, não é um símbolo adequado para um fundamedamento, um edifício.
   2- A palavra que foi traduzida por pedra no mesmo verso sig­nifica uma rocha firme, inamovível, símbolo muito mais próprio para um fundamento estável, inalterável, permanente da Igreja. Aque­la “pedra” se refere a Cristo, o Filho de Deus, e não a Pedro. Este argumento é inquestionável. Pedro, como qualquer crente, podia tor­nar-se “uma pedra viva” na edificação espiritual (1 Pedro 2:3-5), mas ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.

Que Significam as “Chaves” e o “Ligar”
e “Desligar” de Mateus 19:19?
Quando uma pessoa completava satisfatoriamente um curso de estudos com um rabi judeu, era costume receber ele uma chave, sig­nificando que se havia tornado bem versado na doutrina e que estava agora habilitado para abrir os segredos das coisas de Deus. As pa­lavras de Cristo referem-se a esse costume. Pedro, por sua confissão de ser Jesus o Filho de Deus havia demonstrado que Deus lhe esta­va a revelar a verdade (verso 17) e Jesus contemplava o futuro, quando, cheio do Espírito Santo. Pedro se faria ainda versado na verdade (João 16:12-14), sendo assim competente para revelar os mistérios do Reino de Deus.
Todo homem cheio do Espírito possui as “chaves do reino” e está habilitado para abrir a porta do reino dos Céus aos homens, tanto ho­je como nos dias de Pedro. Toda vez que um homem prega no poder do Espírito. ele se serve dessas “chaves”. Pedro no dia do Pentecostes usou-as para abrir aos judeus a porta do reino de Deus e, nesse dia, 3 mil entraram por ela. Atos 10 diz como Pedro se serviu das chaves pa­ra  abrir o reino de Deus aos gentios, e toda uma família nele entrou pela porta aberta.

“Ligar” e “desligar” eram expressões comuns nos dias de Jesus para proibir e permitir. Dizia-se que um rabi “ligava” aquilo que proibia e “desligava” aquilo que permitia  Esse poder não foi dado só a Pedro, mas também aos outros discípulos “Se de alguns perdoardes os pecados. são-lhes perdoados: se lhos retiverdes, são retidos” (João 20:23). Este ponto é esclarecido em Marcos 16:15 e 16: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura. Quem crer e for batizado será salvo, quem,  porem, não crer será condenado.” O verdadeiro poder, pois, para ligar ou desligar, absolver ou condenar, reside na própria mensagem e não no homem. Todo real mensageiro de Deus declara com autoridade divinamente outorgada que a aceitação do evangelho traz justificação, perdão e salvação, ao passo que sua rejeição trará con­denação e perda da vida eterna.

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