Um novo remanescente?
Como Deus vai administrar a crise final da Igreja
Por Amin A.
Rodor
É necessário um novo remanescente? Algumas pessoas acham que
sim, argumentando que a História revela ter sido precisamente o fracasso
dos que foram originalmente chamados que
provocou a necessidade do remanescente.
A Israel foram feitas, sob condições, promessas de que ele permaneceria
como povo escolhido. Ao fracassar, Deus suscitou a Igreja Cristã. Quando esta
se tornou corrompida em doutrinas e práticas, Ele levantou os reformadores para
se separarem e formarem o corpo protestante. Então, estes também falharam em
avançar na luz que lhes foi concedida, e o Senhor suscitou o movimento
adventista com uma missão especial para o fim da História. O modelo é
consistente: até aqui os fiéis saíram do remanescente apostatado para
constituírem um novo remanescente.
Quer isso dizer que o ciclo de chamado, apostasia e novo chamado continua
aberto indefinidamente?
E precisamente aqui que o cenário do fim impõe uma nova dinâmica.
Obviamente, esse ciclo deve ser quebrado em algum ponto; do contrário, por
causa da natureza humana, ele ocorreria constantemente sem qualquer resolução
final. Notemos que o fracasso de Israel ou da própria Igreja não tomou Deus de
surpresa. A antecipação divina já fizera provisão para a tragédia da apostasia,
tanto de Israel, da Igreja cristã, como da própria reforma protestante.
Contudo, não existe qualquer provisão profética para um novo remanescente em
substituição ao movimento adventista. Isso é evidente no Apocalipse (capítulos
3 e 12). Sete igrejas, e não mais, simbolizam a trajetória da Igreja através
da Era Cristã. Laodicéia, a Igreja morna, o povo do juízo, com todos os seus
defeitos e fraquezas, fecha o circulo. Qualquer outra conclusão significa
estar em descompasso com o tambor da revelação.
Então, como tratará Deus com os problemas da Igreja, se não há provisão
profética para um remanescente do remanescente? Para embaraço dos oponentes,
Deus introduz aqui uma nova estratégia. O Senhor claramente delineou como Ele
há de administrar a crise final da Igreja, mas Sua agenda, devemos entender,
não inclui a probabilidade de um novo movimento separando-se dela. No passado,
como foi visto, o chamado foi para que os fiéis se separassem do corpo
apostatado. Mas esse processo
— repetimos — não poderia
continuar indefinidamente. Nas cenas finais da História, ao contrário das
reformas tradicionais, são os infiéis, não os fiéis, que deixarão a Igreja. A
sacudidura tomará o lugar do clássico chamado para sair. Esses dois métodos
de separação devem ser claramente diferenciados e entendidos.
Método divino — “Haverá uma sacudidura da
peneira. No devido tempo, a palha precisa ser separada do trigo. Por se
multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos está esfriando. Este é precisamente
o tempo em que o genuíno será o mais forte.”’ Haverá uma separação de nós por
parte daqueles que não apreciaram a luz nem caminharam nela.
Qual o resultado final desse peneiramento? A palha, representando os
infiéis e insinceros que presentemente são encontrados na Igreja, será
separada do trigo, símbolo dos cristãos genuínos. O grupo classificado como
“morno” (Apoc. 3:15 e 16), para constrangimento da Igreja, presente hoje em
Laodicéia, há então de desaparecer para sempre, quer identificando-se com o
“quente”, ou assumindo o grupo dos “frios”. A polarização é inevitável, e não
poderia ser diferente!
Como um ato de sabotagem, o inimigo traz o joio para dentro da Igreja (Mat.
13:24-30, 36-43). “Enquanto o Senhor traz para a Igreja aqueles que são
verdadeiramente conversos, Satanás, ao mesmo tempo, traz pessoas que não são
verdadeiramente convertidas para a sua [da Igreja] comunhão.”2 Contudo, como Ellen White indica, esse
estado de coisas há de sofrer uma alteração radical: “A sacudidura deve em
breve acontecer para purificar a igreja.”3
Quem são os que deixarão a Igreja, sob a ação da sacudidura, identificados
dc forma geral sob as figuras do “joio’; “palha” e “mornos”? Ellen White, em
seus vários escritos sugere uma ampla identificação: “os auto-enganados’; “os
descuidados e indiferentes’; “os ambiciosos e egoístas’; “os que se recusam a
sacrificar’; “os orientados pelo mundanismo”; “os que transigem e comprometem
a verdade”; “os desobedientes”; “os invejosos e críticos’ “os fuxiqueiros, os
que acusam e condenam”; “a classe conservadora superficial’; “os que não
controlam o apetite’; “aqueles que promovem a desunião’; “os estudantes superficiais
da Bíblia’; “aqueles que perderam a fé no dom profético”.
Aqui, dois fatos são evidentes: primeiro, a ampla variedade do catálogo;
e, segundo, todas as categorias estão hoje representadas na Igreja.
Ellen White estabelece ainda uma clara convergência entre esses dois aspectos,
observando que, “ao aproximar-se a tempestade, uma classe numerosa que tem
professado fé na mensagem do terceiro anjo, mas não tem sido santificada pela
obediência à verdade, abandona sua posição, passando para as fileiras do
adversário” 5
Novamente, a ênfase é colocada no fato de que são os infiéis que abandonarão
a Igreja: “Logo o povo de Deus será testado por severas provações e uma grande
proporção daqueles que agora parecem ser genuínos e verdadeiros, provar-se-á
metal inútil. Em lugar de serem fortalecidos e confirmados pela oposição,
ameaças e abusos, eles, covardemente, tornarão o Lado dos oponentes. ... Permanecer em defesa da verdade e da
justiça —quando a
maioria nos há de abandonar — para
lutar as batalhas do Senhor, quando os campeões serão poucos, esse será o nosso
teste. Neste tempo devemos tirar calor da frieza de outros, coragem da
covardia deles, e lealdade de sua traição.” 6
A purificação da Igreja virá no tempo indicado, ruas não através das
reformas e reformulações inventadas e promulgadas pelos dissidentes. A Igreja
será purificada afinal, mas o movimento será precisamente o inverso daquilo
que aconteceu ao Longo dos desdobramentos da História. Sairão os insinceros,
enquanto os fiéis permanecerão na comunhão da Igreja. E exatamente por isso, não
há provisão divina para um novo remanescente. Aqueles que hoje buscam pureza
eclesiástica através da critica e da acusação, e finalmente se afastam do corpo
remanescente de Cristo, cometem um colossal erro de cálculo.
Enquanto aguardamos a resolução final da História e a purificação da
Igreja, devemos lembrar-nos de que
“Deus não deu
a nenhum dos Seus servos a obra de punir aqueles que não dão ouvidos às Suas
advertências e reprovações. Quando o Espírito Santo habita no coração, Ele
guiará o agente humano a ver os seus próprios defeitos de caráter, a ter
piedade das fraquezas dos outros, a perdoar como ele deseja ser perdoado.
Será misericordioso, cortês e semelhante a Cristo”7
Vitória
assegurada — O caráter não é construído nas
crises, mas é revelado por elas. Os frutos continuam sendo o grande teste da
natureza da árvore e, certamente, se o Senhor não pode mudar nosso caráter,
dificilmente Ele poderá mudar nosso destino final. Cada dia, nossa submissão ou
rebelião à voz do Espírito está definindo as formas de nossa construção
eterna. Ninguém precisa ser enganado pelas aparências. “Quando homens se levantam,
pretendendo ter uma mensagem de Deus, mas em vez de combaterem contra os
principados e potestades, e os príncipes das trevas deste mundo, eles formam
um falso esquadrão, virando as armas de guerra contra a igreja militante,
tende medo deles. Não possuem as credenciais divinas. Deus não lhes deu tal
responsabilidade no trabalho.”8
Falhará a Igreja? Independente de como os críticos e analistas do negativismo
percebam a condição do remanescente de Deus, o Senhor está no controle.
Fracasso de nossa parte em crer neste fato nos levará ao desencorajamento ou
ao sentimento de que necessitamos “fazer justiça” com as nossas mãos. Essas, porém,
são tentações que devem ser resistidas. “A Igreja pode parecer quase a cair,
mas ela não cairá. Ela permanece, ao passo que os pecadores de Sião serão lançados
fora no joeiramento — a palha
separada do trigo precioso. Este é um transe terrível, não obstante importa
que tenha lugar.”9
O remanescente de Deus não
fracassará, mesmo quando as aparências sugerem outra conclusão. Podemos
afirmar tal convicção porque ela está ancorada em quatro fatos fundamentais:
primeiro, Cristo é o cabeça da Igreja. Isso, evidentemente, não nos coloca além
da possibilidade de fracasso individual. Segundo, não há qualquer provisão
profética para um remanescente do remanescente. Tal certeza, entretanto, não
deveria levar-nos a qualquer orgulho denominacional, acomodação ou falsa
segurança na prática do pecado. Ao contrário, deve conduzir-nos à crescente submissão
ao Senhor da Igreja. Terceiro, as vitórias da igreja, através das crises de sua
história, crises e pressões que em sua violência e poder de ataque pareceram insuperáveis,
dão-nos segurança de que as crises futuras serão administradas pela eficiência
dAquele que não pode falhar.
Finalmente, o quadro profético do Apocalipse quanto à Igreja dos últimos
dias, é esboçado em termos de vitória (Apoc. 14:1-5; 7:9, 10, 13-17). Não há
nada incerto ou duvidoso quanto ao triunfo final da Igreja, ao enfrentar o mar
tormentoso dos últimos eventos.
Segundo a tradição ligada ao Titanic, o navio considerado insubmergível
pelo seu capitão, E. J. Smith, mas que fatalmente desceu para o seu mergulho
sem retorno nas águas gélidas do Atlântico Norte, na madrugada de 15 de abril
de 1912, no domingo seguinte à tragédia, na cidade de Southampton, de onde o
navio havia saído alguns dias antes, e onde viviam muitas das vítimas daquele
naufrágio, um pregador americano convidado para uma campanha evangelística,
pregou um poderoso sermão sob o título “O navio que não pode afundar”
O sermão, evidentemente, não era
unia referência ao Titanic, mas a uma Outra embarcação, de 1900 anos antes,
também seriamente ameaçada pelas águas, cruzando o mar da Galiléia (Mat.
8:23-27). O único navio que não pode afundar, concluiu o pregador com
extraordinário senso de propriedade, é aquele em que Cristo está presente.
Essa é a única segurança da Igreja ao enfrentar a procela do mar aberto, nos
instantes finais de sua jornada. Nossa garantia não se encontra na habilidade
ou na perfeição dos homens, na suficiência ou na fortaleza da “embarcação’;
mas na presença e autoridade dAquele a quem “os ventos e o mar obedecem” (v.
27).
Referencias:
1. Ellen G. White. Eventos
Finais, pág. 149.
2. Ellen G. White. Spiritual Gifts. vol, 2, pág. 284.
3.
Carta 46,
1887, pág. 6.
4. Ver Testjmonies, vol. 4 págs. 31, 89, 90 e 232; vol. 5, págs. 81. 211,
212 e 463; vol. 1, págs. 182, 187,
251 e 288; Primeiros Escritos, pág.
50 e 269; The Upemrd Look, pág. 122: Review and Herald, 08/06/1901;
Testemunhos para Ministros, pág. 112;
Mensagens Escolhidas. vol. 3, pág.84.
5. EIIen G. Wliite, O Grande Conflito, pág. 608.
6. Seventh-day
Adventist Bible Commentary, vol. 2, pág. 1.038.
7. Ellen G. White. Testmonies for the Church, vol. 5, pág.
136.
6. Testemunhos Para Ministros, págs 22
e 23.
9. ... Mensagens Escolhidas, vol.2,
pág. 380.
Amjn A. Rodor. Ph.D., é professor
e coordenador da Faculdade de Teologia do Unasp,
Campus 2, Engenheiro Coelho, SP.
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