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sexta-feira, 12 de outubro de 2018

SACUDIDURA



Um novo remanescente?

Como Deus vai administrar a crise final da Igreja


Por Amin A. Rodor

É necessário um novo remanescente? Algumas pessoas acham que sim, argumentando que a História revela ter sido precisamente o fracasso dos  que foram originalmente chamados que provocou a necessidade do remanescente.

A Israel foram feitas, sob condi­ções, promessas de que ele permane­ceria como povo escolhido. Ao fracas­sar, Deus suscitou a Igreja Cristã. Quando esta se tornou corrompida em doutrinas e práticas, Ele levantou os reformadores para se separarem e formarem o corpo protestante. Então, estes também falharam em avançar na luz que lhes foi concedida, e o Senhor suscitou o movimento adventista com uma missão especial para o fim da História. O modelo é consistente: até aqui os fiéis saíram do remanes­cente apostatado para constituírem um novo remanescente.
Quer isso dizer que o ciclo de chamado, apostasia e novo chamado continua aberto indefinidamente?
E precisamente aqui que o cená­rio do fim impõe uma nova dinâmi­ca. Obviamente, esse ciclo deve ser quebrado em algum ponto; do con­trário, por causa da natureza huma­na, ele ocorreria constantemente sem qualquer resolução final. Notemos que o fracasso de Israel ou da própria Igreja não tomou Deus de surpresa. A antecipação divina já fizera provisão para a tragédia da apostasia, tanto de Israel, da Igreja cristã, como da pró­pria reforma protestante. Contudo, não existe qualquer provisão proféti­ca para um novo remanescente em substituição ao movimento adventis­ta. Isso é evidente no Apocalipse (ca­pítulos 3 e 12). Sete igrejas, e não mais, simbolizam a trajetória da Igre­ja através da Era Cristã. Laodicéia, a Igreja morna, o povo do juízo, com todos os seus defeitos e fraquezas, fe­cha o circulo. Qualquer outra conclu­são significa estar em descompasso com o tambor da revelação.
Então, como tratará Deus com os problemas da Igreja, se não há provi­são profética para um remanescente do remanescente? Para embaraço dos oponentes, Deus introduz aqui uma nova estratégia. O Senhor claramen­te delineou como Ele há de adminis­trar a crise final da Igreja, mas Sua agenda, devemos entender, não in­clui a probabilidade de um novo mo­vimento separando-se dela. No pas­sado, como foi visto, o chamado foi para que os fiéis se separassem do corpo apostatado. Mas esse processo
repetimos não poderia continuar indefinidamente. Nas cenas finais da História, ao contrário das reformas tradicionais, são os infiéis, não os fiéis, que deixarão a Igreja. A sacudi­dura tomará o lugar do clássico cha­mado para sair. Esses dois métodos de separação devem ser claramente diferenciados e entendidos.

Método divino “Haverá uma sacu­didura da peneira. No devido tempo, a palha precisa ser separada do trigo. Por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos está esfriando. Este é precisamente o tempo em que o ge­nuíno será o mais forte.”’ Haverá uma separação de nós por parte daqueles que não apreciaram a luz nem cami­nharam nela.
Qual o resultado final desse pe­neiramento? A palha, representando os infiéis e insinceros que presente­mente são encontrados na Igreja, será separada do trigo, símbolo dos cris­tãos genuínos. O grupo classificado como “morno” (Apoc. 3:15 e 16), para constrangimento da Igreja, presente hoje em Laodicéia, há então de desa­parecer para sempre, quer identifican­do-se com o “quente”, ou assumindo o grupo dos “frios”. A polarização é ine­vitável, e não poderia ser diferente!
Como um ato de sabotagem, o inimigo traz o joio para dentro da Igreja (Mat. 13:24-30, 36-43). “En­quanto o Senhor traz para a Igreja aqueles que são verdadeiramente con­versos, Satanás, ao mesmo tempo, traz pessoas que não são verdadeira­mente convertidas para a sua [da Igre­ja] comunhão.”Contudo, como El­len White indica, esse estado de coisas há de sofrer uma alteração radical: “A sacudidura deve em breve acontecer para purificar a igreja.”3
Quem são os que deixarão a Igreja, sob a ação da sacudidura, identificados dc forma geral sob as figuras do “joio’; “palha” e “mornos”? Ellen White, em seus vários escritos sugere uma ampla identificação: “os auto-enganados’; “os descuidados e indiferentes’; “os ambi­ciosos e egoístas’; “os que se recusam a sacrificar’; “os orientados pelo munda­nismo”; “os que transigem e compro­metem a verdade”; “os desobedientes”; “os invejosos e críticos’ “os fuxiqueiros, os que acusam e condenam”; “a classe conservadora superficial’; “os que não controlam o apetite’; “aqueles que pro­movem a desunião’; “os estudantes su­perficiais da Bíblia’; “aqueles que perde­ram a fé no dom profético”.
Aqui, dois fatos são evidentes: primeiro, a ampla variedade do catá­logo; e, segundo, todas as categorias estão hoje representadas na Igreja.
Ellen White estabelece ainda uma clara convergência entre esses dois as­pectos, observando que, “ao aproxi­mar-se a tempestade, uma classe nu­merosa que tem professado fé na mensagem do terceiro anjo, mas não tem sido santificada pela obediência à verdade, abandona sua posição, pas­sando para as fileiras do adversário” 5
Novamente, a ênfase é colocada no fato de que são os infiéis que aban­donarão a Igreja: “Logo o povo de Deus será testado por severas prova­ções e uma grande proporção daque­les que agora parecem ser genuínos e verdadeiros, provar-se-á metal inútil. Em lugar de serem fortalecidos e con­firmados pela oposição, ameaças e abusos, eles, covardemente, tornarão o Lado dos oponentes. ... Permanecer em defesa da verdade e da justiça quando a maioria nos há de abando­nar para lutar as batalhas do Senhor, quando os campeões serão poucos, esse será o nosso teste. Neste tempo devemos tirar calor da frieza de ou­tros, coragem da covardia deles, e leal­dade de sua traição.” 6
A purificação da Igreja virá no tempo indicado, ruas não através das reformas e reformulações inventadas e promulgadas pelos dissidentes. A Igreja será purificada afinal, mas o movimento será precisamente o in­verso daquilo que aconteceu ao Longo dos desdobramentos da História. Sai­rão os insinceros, enquanto os fiéis permanecerão na comunhão da Igre­ja. E exatamente por isso, não há pro­visão divina para um novo remanes­cente. Aqueles que hoje buscam pure­za eclesiástica através da critica e da acusação, e finalmente se afastam do corpo remanescente de Cristo, come­tem um colossal erro de cálculo.
Enquanto aguardamos a resolu­ção final da História e a purificação da Igreja, devemos lembrar-nos de que
“Deus não deu a nenhum dos Seus servos a obra de punir aqueles que não dão ouvidos às Suas advertências e re­provações. Quando o Espírito Santo habita no coração, Ele guiará o agente humano a ver os seus próprios defei­tos de caráter, a ter piedade das fraque­zas dos outros, a perdoar como ele de­seja ser perdoado. Será misericordio­so, cortês e semelhante a Cristo”7

Vitória assegurada O caráter não é construído nas crises, mas é revelado por elas. Os frutos continuam sendo o grande teste da natureza da árvore e, certamente, se o Senhor não pode mudar nosso caráter, dificilmente Ele poderá mudar nosso destino final. Cada dia, nossa submissão ou rebe­lião à voz do Espírito está definindo as formas de nossa construção eterna. Ninguém precisa ser enganado pelas aparências. “Quando homens se le­vantam, pretendendo ter uma mensa­gem de Deus, mas em vez de comba­terem contra os principados e potes­tades, e os príncipes das trevas deste mundo, eles formam um falso esqua­drão, virando as armas de guerra con­tra a igreja militante, tende medo de­les. Não possuem as credenciais divi­nas. Deus não lhes deu tal responsabi­lidade no trabalho.”8
Falhará a Igreja? Independente de como os críticos e analistas do negati­vismo percebam a condição do rema­nescente de Deus, o Senhor está no controle. Fracasso de nossa parte em crer neste fato nos levará ao desenco­rajamento ou ao sentimento de que necessitamos “fazer justiça” com as nossas mãos. Essas, porém, são tenta­ções que devem ser resistidas. “A Igre­ja pode parecer quase a cair, mas ela não cairá. Ela permanece, ao passo que os pecadores de Sião serão lança­dos fora no joeiramento a palha se­parada do trigo precioso. Este é um transe terrível, não obstante importa que tenha lugar.”9
O remanescente de Deus não fra­cassará, mesmo quando as aparências sugerem outra conclusão. Podemos afirmar tal convicção porque ela está ancorada em quatro fatos fundamen­tais: primeiro, Cristo é o cabeça da Igreja. Isso, evidentemente, não nos coloca além da possibilidade de fra­casso individual. Segundo, não há qualquer provisão profética para um remanescente do remanescente. Tal certeza, entretanto, não deveria levar-nos a qualquer orgulho denominacio­nal, acomodação ou falsa segurança na prática do pecado. Ao contrário, deve conduzir-nos à crescente sub­missão ao Senhor da Igreja. Terceiro, as vitórias da igreja, através das crises de sua história, crises e pressões que em sua violência e poder de ataque pareceram insuperáveis, dão-nos se­gurança de que as crises futuras serão administradas pela eficiência dAquele que não pode falhar.
Finalmente, o quadro profético do Apocalipse quanto à Igreja dos úl­timos dias, é esboçado em termos de vitória (Apoc. 14:1-5; 7:9, 10, 13-17). Não há nada incerto ou duvidoso quanto ao triunfo final da Igreja, ao enfrentar o mar tormentoso dos últi­mos eventos.
Segundo a tradição ligada ao Ti­tanic, o navio considerado insubmer­gível pelo seu capitão, E. J. Smith, mas que fatalmente desceu para o seu mergulho sem retorno nas águas géli­das do Atlântico Norte, na madruga­da de 15 de abril de 1912, no domin­go seguinte à tragédia, na cidade de Southampton, de onde o navio havia saído alguns dias antes, e onde viviam muitas das vítimas daquele naufrágio, um pregador americano convidado para uma campanha evangelística, pregou um poderoso sermão sob o tí­tulo “O navio que não pode afundar”
O   sermão, evidentemente, não era unia referência ao Titanic, mas a uma Outra embarcação, de 1900 anos antes, também seriamente ameaçada pelas águas, cruzando o mar da Gali­léia (Mat. 8:23-27). O único navio que não pode afundar, concluiu o prega­dor com extraordinário senso de pro­priedade, é aquele em que Cristo está presente. Essa é a única segurança da Igreja ao enfrentar a procela do mar aberto, nos instantes finais de sua jor­nada. Nossa garantia não se encontra na habilidade ou na perfeição dos ho­mens, na suficiência ou na fortaleza da “embarcação’; mas na presença e autoridade dAquele a quem “os ven­tos e o mar obedecem” (v. 27).

Referencias:
1.            Ellen G. White. Eventos Finais, pág. 149.
2.            Ellen G. White. Spiritual Gifts. vol, 2, pág. 284.
3.           Carta 46, 1887, pág. 6.
4.            Ver Testjmonies, vol. 4 págs. 31, 89, 90 e 232; vol. 5, págs. 81. 211, 212 e 463; vol. 1, págs. 182, 187, 251 e 288; Primeiros Escritos, pág. 50 e 269; The Upemrd Look, pág. 122: Review and Herald, 08/06/1901; Testemunhos para Ministros, pág. 112; Mensagens Escolhidas. vol. 3, pág.84.
5.            EIIen G. Wliite, O Grande Conflito, pág. 608.
6.            Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 2, pág. 1.038.
7.            Ellen G. White. Testmonies for the Church, vol. 5, pág. 136.
6.           Testemunhos Para Ministros,  págs 22 e 23.

9.            ... Mensagens Escolhidas, vol.2, pág. 380.


Amjn A. Rodor. Ph.D., é professor e coorde­nador da Faculdade de Teologia do Unasp,

Campus 2, Engenheiro Coelho, SP.

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