Alma e ressurreição
“Se os mortos permanecem em estado de
inconsciência, como explicar que a ‘alma’ de Raquel saiu dela por ocasião de
sua morte (Gênesis35:18)?” — D.VC., Copacabana, RJ
“Segundo a Bíblia, os mortos
permanecem em estado de completa inconsciência”
Alberto Ronald Timm, PhD., diretor do Centro Ellen G. White é professor de teologia no Seminário
Latino-Americano de Teologia, Engenheiro Coelho. SP.
A palavra “alma”, empregada em Gênesis 35:18 por algumas versões da Bíblia,
é a tradução do termo hebraico nêfesh. Este termo aparece 755 vezes no Antigo
Testamento e foi traduzido em outros textos, pela Versão Almeida Revista e
Atualizada (2a. edição), por exemplo, como “pessoa” (Gên. 14:21;
Núm. 5:6; etc.), “ser” (Gên. 1:20; 2:19; 9:10; etc.), “alma” (Gên. 2:7; Deut.
10:22; etc.) e “vida” (Gên. 9:4 e 5; 1 5am. 19:5; Sal. 31:13; etc.).
Existem várias razões que nos levam a crer que o termo nêfesh seria melhor traduzido em Gênesis 35:18 como “vida” do que como “alma”. Em
primeiro lugar, o próprio relato bíblico da Criação esclarece que o ser humano
não possui uma alma mas é uma “alma [nêfesh] vivente” (Gên. 2:7). O mesmo termo (nêfesh) usado em Gênesis 2:7 para referir-se á totalidade do ser humano é empregado
também para designar tanto os “seres [nêfesh] viventes” que povoam as águas (Gên.
1:20) como os animais da terra e as aves do céu (Gên. 2:19; 9:10). A despeito
de assumir, por vezes, significados mais específicos (Deut. 23:24; Prov. 23:2;
Ecles. 6:7; etc.), nêfesh jamais é usado para designar qualquer
entidade que continue consciente depois de separada do corpo. Pelo contrário,
as Escrituras declaram explicitamente que a nêfesh pode morrer
(Núm. 31:19;Juí. 16:30), e que “a alma [nêfesh] que pecar,
essa morrerá” (Eze. 18:4).
Comentando o texto de Gênesis 35:18, Derek Kidner declara que “no Antigo
Testamento a alma não é concebida como entidade separada do corpo, com
existência própria (como no pensamento grego) mas, antes, como a vida, que
aqui se esvai”. Oscar Cullmann assegura que também no Novo Testamento a
esperança de vida eterna não se fundamenta na teoria grega da imortalidade da
alma mas na doutrina bíblica da ressurreição dos mortos (Immortality of the Souz or Resurrection
of the Dead? Londres: Epworth, 1958).
Procurando preservar o sentido original do texto bíblico, algumas
traduções da Bíblia têm vertido o termo nêfesh, em Gênesis 35:18, por exemplo, como “suspiro”
(Bíblia na Linguagem de Hoje, Tradução Ecumênica), e “vida” (Moffatt, Lutero
[revisada de 1984]). A
Tradução Ecumênica (Loyola) verte a parte inicial de Gênesis 35:18 como:
“no seu último suspiro, no momento de morrer, ela...”. E a
Biblia na Linguagem de Hoje diz:
“Porém, ela
estava morrendo. E, antes de dar o último suspiro...”. Desta forma, o
texto pode ser perfeitamente harmonizado com outras passagens bíblicas que
falam que os mortos permanecem em estado de completa inconsciência (ver Sal.
115:17; 146:4; Ecles. 3:9, 20; 9:5, 6 e 10; etc.).
Sinais dos
Tempos Maio-Junho/2000
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