Uma antiga tradição interpreta o
bode Azazel como representando a Crísto ou um aspecto de Sua obra
Levítico 16:22 diz que o bode por
Azazel “levará sobre si todas as iniqüidades deles”; e Isaías
53:12 descreve
o prometido Salvador por meio das palavras: ‘Ele levou o pecado de muitos”.
Esta última afirmação não torna o bode Azazel um símbolo de Cristo?
Às vezes, é necessário examinar a origem histórica de certas idéias
teológicas. O caso que estamos analisando é um bom exemplo.
Uma antiga tradição cristã vê o bode Azazel como representando a Cristo ou
um aspecto de Sua obra. Justino Mártir (100-165 d. C.), por exemplo, viu-o como
um símbolo do segundo advento de Cristo; Tertuliano (160-220) viu nele uma
referência à natureza humana de Cristo e Sua humilhação; e, para Cirílo de
Alexandria (d. 444), o bode emissário era Cristo ascendendo ao Céu, carregando
nossos pecados. Já Orígenes (185-254) comparou o bode emissário a Azazel, que ele admitiu ser o anjo caído.
Obviamente não havia harmonia na primitiva interpretação cristã do bode
emissário, e as opiniões apresentadas tinham uma natureza mais especulativa,
sem base exegética.
Durante a
Reforma, o ritual do bode emissário foi usado na formulação da doutrina da
expiação, e esta idéia ainda prevalece entre os protestantes. Hoje, entretanto,
os eruditos são inclinados a crer que Azazel foi uma figura demoníaca do Antigo
Testamento, o que toma difícil interpretar o ritual em apreço como um tipo da
obra expiatória de Cristo.
A aplicação do
símbolo do bode emissário a Cristo baseia-se geralmente em dois argumentos. O
primeiro tem que ver com o uso da frase “levou o pecado”, que também se aplica
a Jesus. O segundo argumento é extraído de Hebreus 13:12, onde se afirma que
Jesus, “para santificar o povo, pelo Seu próprio sangue, sofreu fora da porta”.
Neste caso, leva-se em conta que o bode emissário foi tomado fora do
acampamento israelita. Este último argumento não é persuasivo pelo fato de não
existir correspondência simbólica entre Cristo oferecendo Seu sangue fora da
cidade como um sacrifício, e o bode emissário, que foi levado vivo para o deserto. Além disso, o contexto de Hebreus trata da oferta regular
pelo pecado, e não do bode por Azazel.
No estudo das
Escrituras, não devemos levar em consideração apenas o uso especifico das
palavras para comunicar uma idéia
que uma dessas palavras não pode expressar por si mesma. A frase “levar o
pecado/iniqüidade” parece ser uma expressão legal usada para indicar que a
pessoa que leva o pecado é legalmente culpada, responsável pelo pecado
cometido, e sujeita a castigo (ver ~xo. 28:43; Lev. 19:8; 20:17). Algumas vezes
Deus é o sujeito da frase (Deus leva o pecado de Seu povo), significando que
Ele assume a responsabilidade por ele e perdoa o pecador arrependido (Núm.
14:18; Sal. 25:18).
No contexto do
santuário, os pecadores são descritos como levando o pecado (Lev. 5:1,2,5 e 6),
e isto ocorreu no período em que eles ofereciam seus sacrifícios ao Senhor.
Eram responsáveis por seus próprios pecados e, portanto, sujeitos à punição
divina. Só podiam livrar-se daquela situação por meio de um sacrifício. O
sacerdote usava o sacrifício para fazer expiação, e assim a pessoa era perdoada
(versos 6 e 10). O pecado era então transferido para a vítima sacrifical, e esta
morria em lugar do pecador arrependido. Foi exatamente isto o que Jesus fez por
nós (Isa. 53:4 e 12). Devemos observar uma peculiaridade nessa frase. Ela
praticamente nunca é usada para expressar a idéia de levar o pecado de um lugar
para outro. “Levar o pecado” significa ser ou tomar-se responsável por ele e
sujeito a punição. Isto é o que chamamos de uso absoluto da frase. A única
exceção desse uso encontra-se em Levítico 16:22, onde ela é seguida de uma
cláusula de destinação. Neste caso, ela quer dizer “carregar ou transportar o
pecado”, e não “levar o pecado vicariamente”. “Assim, aquele bode levará sobre
si todas as iniqüidades deles para uma regido solitária.” O bode não
leva vicariamente o pecado do povo, mas simplesmente o conduz ao deserto, retomando-o
a Azazel, o originador do pecado e da impureza. Este uso da frase não é o mesmo
que encontramos nos serviços diários do santuário, e não se refere a Cristo,
que, como sabemos, levou nossos pecados como nosso substituto.
Angel Manuel Rodríguez é diretor
associado do instituto de Pesquisas
Bíblicas da Associação Geral
O exame
cuidadoso de Levítico 16 revela que Azazel representa Satanás,
e não Cristo conforme alguns têm imaginado. Os argumentos que apóiam esta interpretação, são: (1) bode emissário não era morto como sacrifício, e assim não
poderia ser usado como um meio de trazer o perdão, uma
vez que’sem derramamento de sangue não há remissão’ - Heb
9:22, (2) ó santuário era . Inteiramente purificado pelo sangue do bode do Senhor antes que o bode emissário fosse
introduzido no ritual. - Lev.
16:20; (3) a passagem trata o bode emissário como um ser pessoal que é o oposto, e se opõe a Déus.~— Nisto Cremos, pág. 415.
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