A criação do Sol
Gostaria de saber mais claramente se o Sol foi realmente criado no quarto
dia, ou já havia sido criado antes. Eu acredito numa semana de criação e não de
aparecimento. Devemos aplicar o princípio de hermenêutica a Gênesis 1? E. E
Devemos aplicar os princípios de hermenêutica na interpretação de Gênesis
1, como de qualquer outra passagem bíblica. Quanto ao Sol ter sido criado ou
ter aparecido, será que as duas coisas não podem acontecer? Afinal, Deus pode
criar fazendo coisas aparecerem, como o verso 9 nos assegura concernente à
porção seca.
A idéia de que Deus fez o Sol aparecer
no quarto dia da semana da criação é uma das maneiras de interpretar o
texto. Os que esposam esta interpretação acham que o “princípio” de Gênesis
1:1 ocorreu tempos antes do primeiro dia, com o que 11 Pedro 3:4 e 5 parece
concorrer, já que “principio” do verso 4 está em antítese com “de longo tempo
houve céus bem como terra” do verso 5. A outra maneira, naturalmente, é
afirmar que Deus criou o Sol no quarto dia, e ponto final.
Claro que o irmão, tem o direito de crer desta maneira, e
ter sua opinião respeitada. Quanto a mim, prefiro aceitar a primeira
interpretação por quatro razões: (1) o relato de Gênesis 1 tem a ver com a
criação da Terra, não com a de outros corpos do Universo. Quando o quarto
mandamento diz que em “seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o
que neles há,” são ai referidas as três divisões fundamentais desta criação, e
não todo o Universo. São estas três divisões respectivamente: a camada
atmosférica que nos envolve, a parte seca, e a parte liquida; (2) a”terra’ que
foi criada no “principio,” segundo 1:1, é a Terra em seu estado original,
primitivo, caótico por estar ainda “sem forma e vazia” (verso 2) imprópria, portanto,
para a presença da vida; o que Deus faz a partir do primeiro dia é aprimorar o
planeta, adequando-o à vida. Os “céus,” também criados “no principio’ não podem
ser o céu onde Deus habita, pois este, como domínio da divindade, é eterno; não
podem ser o céu atmosférico porque este foi criado no segundo dia (verso 8);
sobra-nos a terceira alternativa: os céus estelares. O Sol é um astro destes
“céus’ e, portanto, foi criado “no principio’ isto é, antes do quarto dia; (3)
essa posição explica “o haja luz” do primeiro dia, sem dúvida a luz solar,
pois a seqüência noite/dia, que ocorre em decorrência do Sol, começa aí (versos
4 e 5) e não a partir do quarto dia. De fato, com exceção do sétimo, esta
seqüência é referida como tomando lugar a cada dia, com o emprego da fórmula
“houve tarde e manhã” (versos 5,8,13,19,23 e 31). Ora, se a fórmula é empregada
em alusão inclusive ao primeiro, segundo e terceiro dias, e se o Sol é
responsável pela alternância “tarde e manhã’ segue-se que este astro já existia
antes do quarto dia; (4) esta posição
explica também o que são “águas abaixo” do céu atmosférico, e “águas sobre” o
céu atmosférico (verso 7).
Naturalmente,
os raios solares, aquecendo a superfície aquática (verso 2; compare com II Ped
3:5) da Terra original. produziram uma camada tão espessa de vapor que o bloco
liquido, no núcleo, se envolveu em trevas (Gên. 1:2). Ë a partir deste ponto, a
meu ver, que Moisés traça o relato da semana da criação.
De inicio, essa camada tocava as águas liquidas. Na verdade, a ordem divina
“haja luz’; do primeiro dia (verso 3), fez
com que a camada se dissolvesse parcialmente, tornado-se menos espessa e
permitindo que a luz solar penetrasse atingindo o bloco liquido em baixo, que
se iluminou mais ou menos como num dia de neblina; houve iluminação sem que o
Sol fosse visto. No segundo dia da semana Deus fez “separação” entre águas e
águas, colocando um “firmamento entre elas (versos 6 e 7). Em outros termos, Ele ordenou que o vapor se elevasse e se
condensasse acima. Este “firmamento” recebeu o nome de “céus” (verso 8), e é,
com efeito, a camada atmosférica que envolve o planeta. Isso feito, Deus fez
surgir, das águas liquidas, o solo, a chamada “porção seca” do verso 9; a
partir deste ponto, a superfície do planeta é dividida em “mares” e “terra”
(solo). Havendo vapor d’água e solo, o ambiente tornou-se propício para Deus
criar a primeira forma de vida, a vegetal. Esses milagres todos ocorreram no
“terceiro dia” (versos 9-13).
Uma vez criada, a vida vegetal deveria crescer e ser preservada; isto
seria possível através da assimilação da clorofila e do gás carbônico.
Deus~,então, no quarto dia, fez com que a camada gasosa restante acima se
desvanecesse, e o sol incidisse diretamente sobre as plantas. Isso efetivou o
processo conhecido como fotossintese, através do qual a clorofila é
assimilada, enquanto a criação da vida animal, a partir do quinto dia,
proporcionou o meio de manutenção do gás carbônico, a ser, também com o auxilio
da irradiação solar, absorvido pelos vegetais. Na verdade, os seres da vida
animal aspiram o oxigênio e expiram o gás carbônico útil para os vegetais,
enquanto estes assimilam o gás carbônico e exalam o oxigênio útil para a vida
animal. Assim, um plano de apoio recíproco entre vegetais e animais subsiste na
natureza e a vida na Terra é mantida. Isso encarece o valor dos princípios
ecológicos do planeta.
Conforme a semana da criação começou e prosseguiu, Deus foi aprimorando
este mundo, tornando-o cada vez mais adequado para a presença da vida em seus
diferentes níveis de manifestação. Os atos divinos em cada dia foram estágios
progressivos no cumprimento deste maravilhoso propósito, cujo clímax é logrado
com a criação da vida humana. Vemos aqui a operação não apenas de um Deus
todo-poderoso, trazendo cada coisa à existência pelo poder do Seu comando, mas
também um Deus amoroso e sábio, cumprindo um plano perfeito de criação e
sustentação da vida. —
José Carlos Ramos, diretor dos cursos de
Pós-Graduação do SAFE IAR — Campus 2.
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