Compreendendo
o sofrimento
Por que acontecem coisas ruins com pessoas boas?
Clifford Goldstein
Colaborador
“Diante do sofrimento dos seres
humanos, a idéia de que Deus é ao
mesmo tempo amoroso e
todo-poderoso parece impossível de aceitar”
As inundações
em várias partes do mundo afogam mi1hares de pessoas. Centenas morrem como
resultado dos terremotos. Milhões são assassinados pelos nazistas durante a
Segunda Guerra Mundial. Famílias inteiras morrem de fome durante a revolução
comunista na China. Milhões morrem de Aids na África. Uma geração inteira
perece nos campos de concentração de Stalin. Desastres aéreos matam centenas. A
epidemia da cólera provoca mortes. Milhares de pessoas são assassinadas com
armas de fogo, e os acidentes automobilísticos matam dezenas de milhares...
Sem dúvida, entre os muitos retratados nesses fatos calamitosos havia
pessoas boas — e más também.
Entretanto, seja como for, esses números desoladores inevitavelmente trazem de
volta antigas questões: Por que acontecem coisas ruins com pessoas boas? Por
que acontecem coisas boas com pessoas más? Na verdade, por que acontecem coisas
ruins?
Os ateístas não acham difíceis essas perguntas. Se estamos aqui, é simplesmente
porque, nas palavras do paleontólogo Stephen ,Jay Gould, um grupo grotesco de
peixes tinha uma anatomia peculiar de barbatanas que se transformavam em pernas
desenvolvendo assim criaturas terrestres”. Então temos ai a pronta solução.
Coisas ruins acontecem por que todos nós somos nada mais do que infelizes
vencedores de uma loteria cósmica que nos deixou confinados a um glóbulo de
lava endurecida no meio de um universo frio, morto e indiferente. Sendo que o
acaso nos concebeu, ele rege nossa vida diária também. Algumas vezes o dado
nos favorece e outras vezes não. E quando não... Bem, é então que as coisas
ruins acontecem — tanto para os
bons quanto para os maus. É muito simples.
Entretanto, para os cristãos, que crêem em um Deus todo-poderoso, mas
também amoroso, essas perguntas parecem extremamente difíceis, Se Deus fosse
amoroso mas não todo-poderoso, ou se fosse todo-poderoso mas não amoroso, as
perguntas não seríam tão difíceis. Deus seria incapaz ou não estaria disposto a acabar com a
tragédia.
Considerando, no entanto, o incrível sofrimento que os seres humanos
enfrentam, a idéia de que Deus é tanto amoroso
quanto todo-poderoso parece, para
muitos, impossível de conciliar com os fatos. Como colocou o filósofo John
Hick: “Se Deus é perfeitamente amoroso, Ele deve desejar abolir o mal; e se
Ele é todo-poderoso, Ele deve ser
capaz de abolir o mal. Mas o mal existe; portanto, Deus não pode ser onipotente
nem perfeitamente amoroso.”
Pode Deus ser todo-amoroso e todo-poderoso e ainda assim existir o mal?
Para os cristãos sinceros, a resposta é “Sim”. O difícil é compreender por
que.
Amor, moral e liberdade — Quando perguntaram a Jesus Cristo qual era o mais importante de todos os
mandamentos, Ele respondeu:
“Amarás, pois, ao Senhor teu Deus
de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento e
de todas as tuas forças” (Mar. 12:30).
É fascinante o fato de que para Jesus, o mais importante dos mandamentos é um que ordena algo que não pode ser ordenado. Você pode mandar
alguém obedecer a você, seguir as suas ordens, fazer o que você determina. Mas
não pode mandar alguém amar você.
O amor é um princípio do coração. Por sua própria natureza, então, ele não
pode ser forçado. Assim como o triângulo precisa ter três lados para ser um
triângulo, o amor, para ser amor, precisa ser livre. No momento em que ele for
forçado, deixa de ser amor, assim como o triângulo deixa de ser triângulo
quando não mais tiver os três lados. No entanto, Jesus disse que o maior
mandamento é amar a Deus.
Na verdade, o próprio fato de Deus “ordenar” que O amemos mostra que não
nos força. Se Deus pudesse forçar-nos a amá-Lo por que iria Ele ordenar?
Todavia, Ele não nos força a amá-Lo porque, na realidade, Ele não pode. Mesmo um Deus todo-poderoso
não nos pode forçar a amar, pois no momento em que Ele forçar, não será mais
amor. Para ser genuíno, o amor precisa ser voluntariamente oferecido.
Pode parecer ironia, mas a explicação final da razão por que o mal existe
centraliza-se no amor. A Bíblia diz:
“Deus é amor” (lª. João 4:16). Isso faz do amor o princípio
fundamental deste Universo. Sendo que precisamos ter liberdade para poder
amar, então a liberdade é também um princípio fundamental do Universo que Deus
criou.
Acrescente-se a isso o fato de que vivemos num Universo onde a moralidade
tem valor — e a moralidade
também requer liberdade. Sem liberdade podemos agir muito bem — mas isso não é ser moral. Um computador
Macintosh que exibe figuras de flores
não é mais moral do que aquele que exibe pornografia, O computador é uma
entidade amoral; ele não tem o senso da moral, pois não tem a capacidade de
fazer escolhas. Faz simplesmente o que é mandado, e só isso. Em outras
palavras, ele não tem liberdade.
Deus poderia ter criado seres humanos dessa mesma forma, mas assim eles
não seriam criaturas morais. Seriam, em vez disso, nada mais do que Macintoshes com duas pernas — o que não é exatamente aquilo que Deus
tinha em mente quando nos criou.
O preço da
liberdade — O mal, portanto, existe só porque existem escolhas morais. Infelizmente,
desde o princípio da história humana, nossos pais fizeram escolhas morais
erradas, e toda a humanidade tem sofrido desde então. As conseqüências foram
tão profundas que até mesmo a natureza física básica de nosso mundo sofreu um
impacto negativo, com resultados devastadores, como tantos desastres naturais o
provam. Nossa liberdade, naturalmente, custou caro.
A cruz de Cristo
revela, na verdade, quão elevado foi o preço. No Calvário, Jesus, o Criador
(Col. 1:16), sofreu e morreu por causa de escolhas erradas que fizemos com a
liberdade que Ele nos deu. Se Deus não nos tivesse criado como seres livres,
não teríamos a opção de escolher o mal. E se não tivéssemos a opção de praticar
o mal, não o teríamos feito. E se não o tivéssemos feito, Cristo teria sido
poupado da cruz.
Como, porém, a liberdade era tão
sagrada, tão fundamental para Sua criação, em vez de negar-nos a liberdade
Jesus escolheu assumir a natureza humana e tomar sobre Si a punição legal que o mal
ocasionou. Resumindo: embora todos nós
cada dia, de uma forma ou outra, soframos os resultados do mal (nosso ou de
outros), o próprio Deus, na pessoa de Jesus, também sofre. O próprio Deus foi
esmagado sob o peso das conseqüências negativas da liberdade que escolheu
nos dar.
Preço elevado — Embora cada caso seja diferente,
carregado com seu próprio mistério e incerteza, coisas ruins acontecem por uma
simples razão: um Deus todo-amoroso e todo-poderoso criou seres humanos livres
e a liberdade, que embora maravilhosa, vem com a possibilidade de abuso.
Por mais difícil que seja de entender agora o problema do mal, na cruz,
Jesus mostrou que Deus, em vez de ser indiferente ao nosso sofrimento, tem
sofrido conosco. Na verdade, na cruz Deus começou uma obra que terminará
somente quando terminar o mal, juntamente com todo o sofrimento que ele
provoca. Deus “lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá,
já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram”
(Apoc. 21:4).
A antiga ordem de coisas passará, tanto para as pessoas boas quanto para as
más.
CIiftord Goldstein escreve dos Estados Unidos.
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