Youtube

terça-feira, 5 de novembro de 2013

MARCAS DE INFÂNCIA





UMA REFLEXÃO SOBRE O

PROBLEMA DO ABUSO INFANTIL


Resumo: Este artigo tem o objetivo de descrever, panoramicamente, o
problema do abuso sexual. Discute o assunto a partir de uma perspectiva
bíblica e o identifica como uma herança negativa das influências liberalizadoras
da revolução sexual. Trata ainda, sucintamente, da prevenção e tratamento do
abuso.

A revolução sexual do século passado (1960-1980) produziu resultados
positivos e negativos. Como positivo, pode-se mencionar a superação da
perspectiva pecaminosa sobre o sexo, uma herança da teologia agostiniana.1
Na verdade, os efeitos da revolução sexual foram mais negativos do que
positivos. Entre os efeitos negativos, destaca-se, lastimavelmente, o aumento
do índice de abusos sexuais.

A palavra abuso provém do latim abusus.2 O prefixo ab significa
“afastamento, separação”.3 Assim, quando alguém se afasta do “uso” normal,
comete “abuso”. Por sua vez, Maria H. Diniz define abuso como: uso
excessivo, impróprio ou injusto de alguma coisa; excesso no exercício de uma
função ou exercício irregular de um direito; ato contrário à lei, à moral e aos
bons costumes; ato ilícito, imoral, anti-social; violência sexual; estupro;
defloramento.4

Por definição, abuso é uma situação abrangente que envolve mais do
que a questão sexual. O histórico do imperador romano Nero é um exemplo
notório. Era filho de Gneu Domício Enobarbo com Agripina. Casou-se com
Otávia, mas teve uma amante por nome Popéia Sabina, que era casada com
Marcos Otho. No ano de 62, Nero se divorciou de Otávia e a acusou de
adultério, por isto, ela foi condenada à morte. Depois, casou-se com Popéia
Sabina. O historiador Suetônio informa que Nero matou Popéia Sabina à
pontapés porque ela reclamou de sua tardança. Ele ficara assistindo corridas
de cavalos com carruagens. Na ocasião ela estava grávida. Ainda segundo
Suetônio, Nero tentou envenenar a mãe três vezes, mas não conseguiu matála.

Em outra oportunidade fez com que o teto do quarto caísse sobre a mãe,
porém, ela conseguiu escapar. Mais tarde, armou um plano para que o barco
no qual ela navegava afundasse. A embarcação naufragou na Baía de Nápoli,
mas sua mãe escapou nadando até a praia. Por fim, conseguiu seu intento.
Nero contratou um assassino que esfaqueou a mãe até a morte.5
Depois que matou Popéia Sabina a pontapés, Nero castrou Sporus e se
casou com ele. Realizou uma cerimônia de casamento com todas as pompas a
que tinha direito. Vivia com ele como se fosse sua esposa.6 No ano de 64 d.C,
Roma foi destruída por um incêndio que durou seis dias. Suetônio conta que
Nero subiu numa torre para cantar e contemplar as chamas a consumirem
Roma. O imperador procurou um “bode expiatório” para culpar pelo incêndio da
capital do império. Encontrou-o numa nova seita religiosa, os cristãos. Muitos
deles foram presos e lançados às feras no circo. Outros tantos foram
crucificados. Muitos foram queimados até a morte para iluminar os jardins de
Nero. Enquanto as “tochas” humanas queimavam, o imperador se unia aos
espectadores para contemplar a cena.7

Assim, os atos malévolos perpetrados por Nero como o adultério com
Popéia Sabina, o assassinato de sua mãe e de sua segunda esposa, o
convívio com um eunuco como se fosse mulher, a culpa injustamente colocada
nos cristãos pelo incêndio de Roma e a condenação deles à morte se
constituem em verdadeiras atitudes abusivas.

1. PERSPECTIVA BÍBLICA DO ABUSO

Conforme a Bíblia, “pecado é a transgressão da lei” (1Jo 3:4). O primeiro
ser criado por Deus a pecar contra Ele foi Satanás, deste modo, ele se tornou o
primeiro “abusador” do universo. Ele investiu contra: Deus, seu caráter, sua lei
e seu governo. Não satisfeito, Satanás continuou sua obra abusiva na Terra, na
qual levou Adão e Eva a pecarem contra Deus (Gn 3:2-4).

Inicialmente, Deus dissera a Adão e a Eva “de toda árvore do jardim
comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não
comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2:16,
17). A vida e a felicidade da raça humana dependiam da decisão de atender ao
“não” de Deus. Este mandamento era uma delimitação do poder e da liberdade
do casal. Assim, o bem-estar deles dependia da aceitação dos limites
colocados por Deus.

Quando o tentador se aproximou de Eva, ele investiu diretamente contra
a restrição imposta por Deus, “a serpente disse à mulher: É certo que não
morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão
os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gn 3:4, 5).

Estava implícito nas palavras de Satanás que a lei de Deus era
desnecessária. É como se ele estivesse dizendo “eu garanto que você é uma
pessoa livre. Não existem limites para você. Coma!”. Este é o grande engano
do inimigo. Não há necessidade de leis. Todos são livres para fazerem o que
desejarem.

A desobediência de Eva, comendo do fruto proibido, configurou-se no
primeiro ato abusivo na face da Terra. Logo depois, Adão cometeu o mesmo
engano e se uniu a esposa na transgressão. Por esta perspectiva, a
desobediência de Adão e Eva se constituiu num uso indevido da liberdade
concedida por Deus, um verdadeiro ultrapassar dos limites divinos.

Neste momento da discussão é oportuno que se apresente o ponto de
vista do direito sobre abuso. Conforme Castelo Branco, “qualquer transgressão
é abuso”.8 Fica evidente, portanto, que todo abuso é um tipo de pecado. Isto
confirma a etimologia da palavra, pois o latim abusus significa um afastamento
do uso normal.

Por sua vez, a Bíblia narra diversas situações abusivas: os homens de
Sodoma quiseram abusar dos anjos (Gn 19); Jacó roubou a bênção de Esaú
com mentiras (Gn 27); Diná foi abusada por Siquém (Gn 34); a concubina do
levita sofreu abuso sexual e morreu em função do mesmo (Jz 19-21); Davi
adulterou com Bate-Seba (2Sm 11-12); Amnom cometeu incesto com sua irmã
Tamar (2Sm 13); Amnom foi assassinado por Absalão (2Sm 13); o infanticídio
ordenado por Herodes, cujo principal propósito era o de tirar a vida de Jesus, o
presumido rei de Israel (Mt 2:16-18). Por fim, o ato mais abusivo do universo foi
cometido contra Jesus Cristo, ao ser condenado injustamente a morrer na cruz
do Calvário.

Como se notificou acima, abuso é uma ação anormal que abrange
qualquer tipo de transgressão, seja da lei de Deus ou dos homens. Antes que
se aborde o tema do abuso infantil, é necessário que se faça uma análise
sucinta do histórico que antecedeu a revolução sexual, uma das principais
causas sociais dos abusos sexuais do presente.

2. REVOLUÇÃO SEXUAL E AUMENTO DOS ÍNDICES DE ABUSO SEXUAL

As estatísticas indicam que os índices de abuso sexual estão crescendo,
quais seriam os motivos? Uma breve retrospectiva na história do século
passado permite que se encontrem as raízes dos “abusos”, hoje tão comuns.
Na verdade, a revolução sexual das décadas de 1960-1980 foi quem
contribuiu consideravelmente para o crescimento alarmante de abusos sexuais
contra as crianças, jovens e mulheres.

Dentre as principais influências da revolução sexual, destacam-se três
pensadores, Friedrich Nietzsche, Wilhelm Reich e Herbert Marcuse. Em sua
obra Assim Falava Zaratustra, Nietzsche (1844-1900) concita o homem a
assumir a morte dos deuses e a se dedicar intensamente aos valores terrenos:
Meus irmãos, permaneceis fiéis à terra com todo o poder da vossa retidão.
Sirvam à terra o vosso amor dadivoso e o vosso conhecimento. Eu vo-lo rogo,
e a isso vos suplico.
Não deixeis a vossa virtude fugir das coisas terrenas e esvoaçar contra
paredes eternas. Ai! Tem havido sempre tanta virtude extraviada!

Restituí, como eu, a virtude extraviada à terra. Sim; restituí-a ao corpo e à vida,
para que dê à terra o seu sentido, um sentido humano [...]
Solitários de hoje, vós, os afastados, formareis um povo algum dia. Vós que
vos haveis escolhido a vós mesmos, formareis um dia um povo eleito do qual
nascerá o super-homem [...]

Todos os deuses morreram; agora viva o super-homem! Seja esta, chegando o
grande meio-dia, a vossa última vontade.9
Nietzsche deu o golpe mortal na crença em Deus. Outro ataque
significativo contra a fé e a moral cristã veio por parte de Wilhelm Reich (1897-
1957). Ele afirmou:

A existência de princípios morais rigorosos tem sido sempre uma prova de que
as necessidades biológicas, especialmente as necessidades sexuais do
homem, não estão sendo satisfeitas. Toda regulamentação moral é
sexualmente negativa, isto é, nega as necessidades sexuais naturais. Toda
moral nega a própria vida, e a revolução social parece não ter tarefa mais
importante do que possibilitar finalmente ao homem, ao ser humano vivo, a
satisfação e realização da sua vida.10

Com a “morte” de Deus proclamada por Nietzsche, o combate a
regulamentação moral perpetrado por Reich, faltava apenas um
“empurrãozinho” para que a revolução sexual explodisse. Isto foi realizado por
Herbert Marcuse (1898-1979). Este se mobilizou contra os valores morais da
religião judaico-cristã, segundo a qual o homem tinha que “comportar-se como
um ser superior, vinculado a valores superiores; [onde] a sexualidade tinha de
ser dignificada pelo amor”.11 Marcuse anteviu as conseqüências de sua
proposta, quando diz que, ocorreria “uma desintegração das instituições em
que foram organizadas as relações privadas inter-pessoais, particularmente a
família monogâmica e patriarcal”.12

Estes foram os principais antecedentes da revolução sexual, cujas
primeiras manifestações públicas ocorreram na França. Como exemplo,
menciona-se o grafite “É proibido proibir”, que apareceu nos muros de Paris em
1968. Frases como esta “incendiaram desejos e alimentaram sonhos em todo o
mundo”.13

A seguir, destaco alguns dos diversos prejuízos influenciados pela
revolução sexual. O primeiro deles é a gravidez na adolescência. Uma, em
cada sete crianças nascidas nas Américas, é filha de mãe adolescente, num
total de 2,5 milhões de bebês por ano.14 O crescimento explosivo da gravidez
precoce também pode ser observado na demografia do Estado de São Paulo.

Enquanto a população cresceu 40% na década de 1970-1980, o número de
partos entre adolescentes de 15 anos, aumentou 300%; e entre as de 16 anos,
cresceu 127%, neste mesmo período.15 Em nível de Brasil, entre 1976 e 1994,
o número de adolescentes que engravidaram com menos de 15 anos de idade
saltou de 2.223 para 11.457. Trata-se de um aumento da ordem de 391%, num
período em que o crescimento populacional brasileiro foi de 42,5%.16

O aborto, por sua vez, é uma conseqüência natural do aumento da
gravidez indesejada. Em 1997, apenas nos hospitais do SUS (Sistema Único
de Saúde) foram recebidas 241 mil adolescentes, que sofreram a ação de
abortos malfeitos e se submeteram a curetagem.17 O mais alarmante de tudo,
como demonstra pesquisa do IBGE, é que 20% das mortes de adolescentes
brasileiras ocorrem em função do aborto.18 Geralmente, as vítimas destas
mortes, que poderiam ser evitadas, pertencem às classes pobres da sociedade
brasileira. Elas não têm acesso às clínicas clandestinas, como as meninas de
classe média, que pagam em torno de dois mil a três mil reais por aborto
feito.19

Outro grave prejuízo da revolução sexual foi o aumento vertiginoso das
doenças sexualmente transmissíveis (DST). Há cerca de 35 anos, a medicina
estudava apenas cinco DST: sífilis, blenorragia, linfogranulomatose inguinal,
cancro mole e granuloma venéreo.20 Hoje, quase quatro décadas depois do
início da revolução sexual, a medicina catalogou mais de 50 DSTs.21

Gravidez na adolescência, aborto e doenças sexualmente transmissíveis
são alguns dos vários prejuízos causados pela liberação sexual. Também
poderia se mencionar a prostituição na adolescência e o abuso infantil. Todos
são conseqüências de uma onda liberalizante desencadeada pela revolução
sexual, cuja frase “é proibido proibir” sintetiza o principal motivo das ações.

Em recente artigo para a seção “Folha Ilustrada” do jornal Folha de
S.Paulo, Ferreira Gullar comentou as conseqüências da ideologia representada
pelo grafite “É proibido proibir”. De acordo com o escritor “tudo isso era muito
divertido, mas a verdade é que contribuiu para minar o princípio de que a
sociedade necessita de normas, já que, sem elas, mergulharíamos no arbítrio,
na violência e no caos.22

O índice alarmante de abuso infantil demonstra o desrespeito contra as
normas morais cristãs que restringem a atividade sexual ao casamento
monogâmico. Todavia este quadro caótico que caracteriza a sociedade atual
nada mais é do que um cumprimento da profecia bíblica, “nos últimos dias,
sobrevirão tempos difíceis, os homens serão egoístas [...] sem domínio de si,
cruéis, inimigos do bem [...] mais amigos dos prazeres que amigos de Deus”
(2Tm 3:1-5).

3. O ABUSO INFANTIL

Em 1999, a Organização Mundial da Saúde (OMS) promoveu um
encontro de especialistas no combate ao abuso infantil. Ao final do mesmo,
chegou-se a seguinte definição o abuso ou maltrato infantil constitui toda forma de maltrato físico e/ou psicológico, abuso sexual ou tratamento negligente ou comercial ou outra forma de exploração que cause ou possa causar dano à saúde da criança, à
sua sobrevivência ou dignidade no contexto de uma relação de
responsabilidade, confiança ou poder.23

Por violência contra a criança se entende que é “toda forma de violência
física ou mental, dano ou abuso, negligência ou tratamento negligente, maltrato
ou exploração, incluindo abuso sexual”.24

3.1. Estatísticas norte-americanas sobre abuso infantil

Tendo-se em vista os registros policiais do ano de 2005 nos Estados
Unidos, 899 mil crianças foram vítimas de abuso e negligência.25 A seguir, os
tipos comuns de maus tratos: 62.8% - 564.572 vítimas de negligência; 16.6% -
149.234 vítimas de abuso físico; 9,3% - 83.607 vítimas de abuso sexual; 7,1% -
63.829 vítimas de maus tratos emocionais.26

É um triste quadro de sofrimento físico e emocional impetrado contra um
elevado número de crianças norte-americanas. Lastimavelmente, esta é uma
das conseqüências da revolução que “liberalizou” exageradamente os limites
da expressão sexual.

3.2. Pesquisa sobre abuso sexual na Bélgica

A organização de defesa dos consumidores Euroconsumer, em uma
pesquisa sobre os hábitos sexuais em quatro países europeus, constatou que
na Bélgica, cerca de 15% da população sofreu algum tipo de abuso sexual, a
maioria quando era menor de 16 anos. Em 80% dos casos reportados, a vítima
foi uma mulher e o agressor foi um homem com alguma relação de
proximidade, em geral um ex-parceiro, tio ou primo.

Esta pesquisa na Bélgica entrevistou 1,5 mil pessoas, um número que,
de acordo com o Ministério de Assuntos Sociais e Saúde Pública é suficiente
para elaborar uma estatística realista em um país com 10,3 milhões de
habitantes. O estudo indicou que 55% das mulheres e 60% dos homens
violados foram forçados a manter relações sexuais sem consentimento, mas
não houve violência física. Em outros 6,3% dos casos com mulheres e 4% com
homens, o abuso incluiu violência física.

A Bélgica foi o país com mais casos de violência sexual, mas outros
países não ficaram muito atrás. Em Portugal, 10% da população admitem ter
sido vítima de abusos, dos quais 6% antes de completar 16 anos. Entre os
espanhóis, 11% sofreram algum tipo de violência sexual, sendo que 6%
quando era menor de 13 anos.27

Conforme foi destacado nas seções anteriores, esta constatação, em
países da Europa, do alarmante índice de crescimento do abuso contra
crianças é uma conseqüência funesta da revolução sexual que liberou a
expressão dos instintos humanos.

3.3. Estimativas brasileiras de abuso infantil

No Brasil, não se tem dados estatísticos tão próximos da realidade como
nos Estados Unidos e Europa. Segundo denúncias que chegam à polícia,
calcula-se que em todo o país, a cada minuto, 12 crianças sofram algum tipo
de violência.28

A entidade Sentinela de Londrina (PR) notificou 124 casos atendidos em
2002, 34 meninos e 90 meninas ao todo. No ano de 2003 foram 167 casos,
sendo 51 meninos e 116 meninas. Em 2004 não foi diferente. Até o dia 9 de
dezembro, o programa recebeu 135 vítimas, sendo 93 meninas para 42
meninos. ''Noventa por cento dos agressores são pessoas que estão perto das
crianças. O crime é praticado principalmente contra vítimas de quatro a dez
anos de idade''.29

Tomando por base uma cidade de porte médio como Londrina, uma
projeção para as demais cidades brasileiras elevaria em muito o quadro de
crianças abusadas sexualmente no Brasil, revelando uma triste realidade.

3.4. O triste aspecto do “silêncio”

As estatísticas disponíveis no Brasil, feitas a partir de denúncias
registradas em delegacias e demais entidades de defesa dos direitos da
criança, indicam que, para quatro denúncias, outras cinco vítimas ainda estão
silenciosas nas mãos dos agressores.30
Algumas vítimas não conseguem falar sobre o problema e pedir socorro.
Outras são “amordaçadas” pelas ameaças dos abusadores.

O agressor ameaça matar a mãe da criança ou diz para a vítima que se
contar para alguém, o tio, o pai ou irmão será preso e que acabará
perdendo o parente. Também verificamos outras situações em que a
palavra do adulto tem mais peso que a de uma criança. 31

Às vezes, as mães se calam para proteger os agressores. Outras vezes,
interferem para piorar a situação. Crianças que na primeira entrevista com os
atendentes do Sentinela contam detalhes da agressão, passam a negar a
história, depois que as mães intercedem pelo agressor. Casos como esses
revelam que a mulher não quer perder o companheiro ou tem medo de não
conseguir sustentar a família sozinha.32 O silêncio das vítimas e das pessoas
que deveriam zelar pelo seu bem estar acaba por perpetuar situações
abusivas.

3.5. COMPORTAMENTO DO ABUSADO

Estas são as principais evidências de que está ocorrendo abuso:
demonstração de conhecimento sexual não adequado à idade; masturbação
excessiva; queixa de dor ou ardência nos órgãos genitais; queda no
rendimento escolar; resistência para se relacionar com adultos; isolamento ou
depressão; distúrbios do sono e do apetite; mudanças bruscas de
comportamento; falta de cuidado com a aparência e higiene ou necessidade
exagerada de asseio.33

Qualquer cidadão, principalmente professores, vizinhos, familiares,
deveriam estar conscientes destes sinais externos e, logo que identificassem
crianças com estas características, deveriam informar aos conselhos tutelares
e delegacias de polícia para que se tomassem as devidas iniciativas
investigativas e punitivas.

3.6. A PREVENÇÃO DO ABUSO
A seguir, algumas iniciativas que os pais podem tomar à medida que as
crianças se desenvolvem:

A partir dos três anos de idade - Ensinar a criança a reconhecer, resistir
e informar sobre toques impróprios nos seus órgãos genitais; entre 4 e 5 anos -
o modo pela qual as crianças nascem; entre 6 e 11 anos - Utilização correta
dos termos que identificam os órgãos genitais; elas podem entender como as
crianças são geradas e como nascem; podem impedir ser tocados em suas
partes íntimas por outras pessoas.34

Por si só a educação sexual preventiva não impede o abuso sexual, mas
contribui para reduzir os índices, pois diante de uma atitude suspeita de
qualquer adulto, ela pode agir para impedir ou denunciar o abuso.

O abuso infantil deve ser comunicado às autoridades competentes. Se
porventura os abusadores admitissem suas compulsões e procurassem o
devido tratamento terapêutico, isto seria suficiente para recuperá-los. Como
raramente acontece, deve-se denunciar qualquer tipo de abuso sofrido por
crianças. A investigação policial apropriadamente conduzida, o indiciamento, o
julgamento e a prisão de um abusador é a melhor iniciativa a ser tomada para
se evitar que outras crianças sejam prejudicadas.

4. MENSAGEM PARA QUEM SOFREU QUALQUER TIPO DE ABUSO FÍSICO, EMOCIONAL OU
SEXUAL

Toda criança que sofreu algum tipo de abuso deveria ser encaminhada
para um profissional competente neste tipo de terapia. Todavia, nem sempre
isto é feito, na verdade, bem pouco é realizado. Isto se deve, principalmente,
ao “silêncio” a que uma criança é forçada a manter em função das ameaças de
revide violento por parte do abusador. Em outras situações, a mãe por receio
de perder o arrimo do abusador (marido, parceiro, etc.), deixa de tomar as
devidas iniciativas para providenciar apoio terapêutico para a vítima infantil.

O ideal é que a criança que sofreu abuso seja acompanhada por um
terapeuta especializado. Sempre que possível, é indicado que após um período
de tratamento, o abusado deve “confrontar” o abusador, obviamente um
processo conduzido pelo terapeuta. Isto é relevante para a sua recuperação
emocional.

Se você que lê este artigo, porventura, sofreu algum tipo de abuso, há
uma iniciativa a ser tomada. Esta é de caráter eminentemente espiritual.
Lembre-se das palavras de Jesus Cristo aos Seus algozes, “Pai, perdoa-lhes,
porque não sabem o que fazem” (Lc 23:34). Entende-se que na situação de
alguém que foi abusado isto é consideravelmente difícil, mas para a sua “cura”
isto é indispensável.

Não tenha receio de buscar auxílio terapêutico. Hoje em dia, há várias
pessoas qualificadas a prestarem atendimento. Mesmo que seu caso tenha
ocorrido há muito tempo, mesmo assim é bom que procure orientação para o
seu pleno restabelecimento emocional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Qualquer transgressão da lei humana ou divina se constitui num tipo de
abuso, o que está em harmonia com a etimologia da palavra, indicando um
afastamento do uso normal. Pela perspectiva bíblica, o primeiro e principal
abusador é Satanás.

O abuso infantil não é um crime recente, mas tal como a gravidez na
adolescência, o aborto, as doenças sexualmente transmissíveis são, em
grande parte, resultados funestos de uma ideologia liberalizadora dos instintos
que foi promovida pela revolução sexual. Mesmo nos países desenvolvidos não
se tem uma estatística precisa de todos os casos de abuso infantil, visto que
nem todos os casos chegam ao conhecimento das autoridades. Mas sabe-se
que o índice é crescente e alarmante.

Pais, professores, líderes religiosos, entre outros, deveriam estar bem
alertas aos sinais exteriores que prenunciam algum tipo de abuso infantil.

Melhor mesmo é prevenir. Para tanto, ministrem as informações adequadas a
cada faixa etária. Caso venham a perceber algum tipo de evidência de abuso,
precisam comunicar com urgência o fato às autoridades competentes.

NOTAS DE REFERÊNCIAS

1 Para uma melhor noção sobre a influência da teologia de Agostinho para a
conceituação negativa do sexo como ação pecaminosa, ver Natanael B. P. Moraes,
Teologia e ética do sexo para solteiros: análise bíblico-histórica e proposta adventista
de educação sexual, tese doutoral, Engenheiro Coelho, SP, maio de 2000, 103-104.
2 Antônio Geraldo da Cunha, “Abuso”, Dicionário etimológico da língua portuguesa (Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1986), 6.
3 Domingos Paschoal Cegalla, Novíssima gramática da língua portuguesa (São Paulo:
Nacional, 1997), 112.
4 Maria Helena Diniz, Dicionário jurídico (São Paulo: Saraiva, 2005), 1:34.
5 Nero Claudius Drusus Germanicus (AD 15 - AD 68), pesquisa realizada na internet,
no site http://www.roman-empire.net/emperors/nero-index.html, no dia 2 ago 2007.
6 Chapter 3, Epaphroditus, pesquisa realizada na internet, no site
http://whatistruthsaidpilate.homestead.com/chapter3.html, no dia 2 ago 2007.
7 Nero Claudius Drusus Germanicus (AD 15 - AD 68), http://www.romanempire.
net/emperors/nero-index.html, 2/8/2007.
8 Castello Branco, “Abuso”, Enciclopédia Saraiva do direito, ed. R. Limongi França
(São Paulo: Saraiva, 1977), 2:22.
9 Friedrich Nietzsche, Assim falava Zaratustra (São Paulo: Hemus, s.d.), 59-60.
10 Wilhelm Reich, A revolução sexual (Rio de Janeiro: Zahar, 1977), 57.
11 Herbert Marcuse, Eros e civilização (Rio de Janeiro: Zahar, 1972), 171.
12 Ibid., 172.
13 Blog de Ricardo Calazans, 29 jun 2007, pesquisa realizada na internet no site,
http://odia.terra.com.br/blog/ricardocalazans/200706archive001.asp, no dia 1 out 2007.
14 “Cresce Número de Mães Adolescentes”, O Estado de São Paulo, 30 out 1990.
Citado em Revista Paulista de Hospitais 38 (setembro-outubro de 1990): 46.
15 Antônio Houaiss e Francisco de A. Barbosa, eds., Enciclopédia Barsa (Rio de
Janeiro: Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1986), 14:160.
16 Rogério Verzignasse, “Números Atestam a Maternidade Precoce”, Correio Popular,
2 nov 1996, 2-Almanaque.
17 Gilberto Dimenstein, e Priscila Lambert, “1 Milhão de Jovens Engravidaram em 97”,
Folha de S.Paulo, 3 de maio de 1998, 3-4.
18 Ciça Valério, “Aborto”, O Estado de São Paulo, 15 ago 1996, G-4.
19 “Médico é preso por aborto em clínica de SP”, Folha de S.Paulo, Cotidiano,
pesquisa feita na internet no site,
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2205200407.htm, no dia 3 out 2007.
20 Adelírio J. Rios-Gonçalves, “Mudanças dos Padrões Epidemiológicos e Clínicos das
Doenças Infecciosas nos Últimos 35 Anos”, Arquivos Brasileiros de Medicina 69
(janeiro de 1995): 5.
21 James Ameen, Dissertação de Mestrado, An Ideographic Analysis of Adolescents
Responses to Abstinence Education Messages (Fullerton, CA: California State
University, 1995), 36.
22 Ferreira Gullar, “Qual o nosso limite?”, Folha Ilustrada, Folha de São Paulo, 8 jul
2007, pesquisa realizada na internet no site,
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0807200724.htm, no dia 1º out 2007.
Kerygma - Revista Eletrônica de Teologia Curso de Teologia do Unasp
2º. Semestre de 2007
23 Defesa dos direitos da criança – Documentos, pesquisa realizada na internet no site
http://www.champagnat.org/pt/250301006.htm, no dia 3 ago 2007.
24 Ibid.
25 Summary - Child Maltreatment 2005, pesquisa realizada na internet no site
http://www.acf.dhhs.gov/programs/cb/pubs/cm05/summary.htm, no dia 27 de setembro
de 2007.
26 Ibid.
27 Márcia Bizzotto, Pesquisa indica que 15% dos belgas sofreram abuso sexual,
pesquisa realizada na internet no site
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2006/04/060406_abusosexualbelgic
acg.shtml, no dia 2 de agosto de 2007.
28 Aprovada semana de prevenção e combate ao abuso sexual infantil, pesquisa
realizada na internet no site
http://www.cmc.pr.gov.br/ass_det.php?not=5074, no dia 3 ago 2007.
29 Francisco Lemes, MP na Imprensa, pesquisa realizada na internet no site
http://celepar7cta.pr.gov.br/mppr/noticiamp.nsf/9401e882a180c9bc03256d790046d022
/7b8c5e1e12902c1883256fb8004e5e0c?OpenDocument, no dia 3 ago 2007.
30 Ibid.
31 Ibid.
32 Ibid.
33 Fundação da criança e da família cidadã, Prefeitura de Fortaleza, pesquisa realizada
na internet no site
http://www.funci.fortaleza.ce.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=63,
no dia 3 ago 2007.
34 Para maiores informações sobre educação sexual preventiva, ver Thomas Lickona,
Educating for Character (Nova Iorque: Bantam Books, 1992), 372; Bruce M. King,
Linda S. Parisi, e Katherine R. O’Dwyer, “College Sexuality Education Promotes Future
Discussions About Sexualiy Between Former Students and Their Children”, Journal of
Sex Education and Therapy, 19 (1993): 289-290.www.unasp.edu.br/kerygma/artigo6.06.asp 76
FONTE: Natanael B. P. Moraes

Sem comentários:

Enviar um comentário

VEJA TAMBÉM ESTES:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...