No século XVI surge a Reforma
Protestante. Os Reformadores conservaram muitos pontos da tradição Mariana;
pontos que as gerações seguintes foram pondo de lado.
Lutero, por exemplo, não negou a
virgindade perpétua de Maria, mas julgava que ninguém está obrigado a aceitá-la
como artigo de fé. Não hesitava em dizer que a expressão “irmãos de Jesus” deve
ser entendida no sentido semita; este atribuía a irmãos
o significado de “parente, familiar”; para o confirmar, Lutero
apelava para a significação ampla da palavra grega
adelphoi na tradução dos LXX.
Lutero também admitia a imaculada
conceição de Maria, devida à prévia aplicação dos méritos de Cristo. Quanto a
Assunção corporal, o reformador não ousava professá-la explicitamente, mas não
excluía que o corpo de Maria tenha sido levado pelos anjos dos céus. No
calendário Luterano ficaram três festas Marianas,
que têm base no Novo Testamento e estão muito ligadas a Cristo: a Anunciação ou
festa da Encarnação, a Visitação de Maria a
Isabel ou festa da vinda de Cristo, e a
Purificação de Maria aos quarenta dias após o parto, também tida como festa da Apresentação de Jesus no Templo.
Calvino foi mais radical. Suprimiu
as festas Marianas, aceita o título “Mãe de Deus” definido pelo Concílio de
Éfeso em 431 mas prefere a expressão “Mãe de Cristo”. Sustenta a
perpétua virgindade de Maria, afirmando que “os irmãos de Jesus” citados
em (Mateus 13,55) não são filhos de Maria, e sim
parentes. Professar o contrário, segundo Calvino, significa “ignorância”,
louca sutileza e “abuso da Sagrada Escritura”.
Zuínglio, o reformador em Zurich,
conservou três festas Marianas e a recitação da Ave
Maria durante o culto sagrado.
É interessante notar que Lutero,
Calvino e Zuínglio, autores da Reforma protestante no século XVI, deixaram
belas expressões de estima e louvor a Maria Santíssima.
Martinho Lutero em seu comentário sobre o
Magnificat (Lucas 1,46-55) escreve: “Ó bem-aventurada Mãe, Virgem
digníssima, recorda-te de nós e obtém que também em nós o Senhor faça essas
grandes coisas.
Ao referir-se a (Mateus 1,25) observa: “Destas palavras não se pode
concluir que, após o parto, Maria tenha tido consórcio conjugal. Não se deve
crer nem dizer isto” (Obras de Lutero, edição Weimar, tomo 11 pg 323).
Disse ainda: “Os irmãos de Jesus, mencionados
no Evangelho, são parentes do Senhor” (Edição Weimar, tomo 46 pg 723, Tischreden 5, nº 5839). O Reformador prometia cem
moedas de ouro a quem lhe provasse que a palavra almah em
(Isaías 7,14) não significa virgem (Edição Weimar, tomo 53, pg 640)
No fim de sua vida, aos 17/01/1546,
Lutero exclamou num sermão muito agitado: “Não se deve adorar somente a Cristo? Mas não se deve
honrar também a Santa Mãe de Deus? Esta é a mulher que esmagou a cabeça da
serpente. Ouve-nos, pois o Filho te honra; Ele nada te nega”. Vê-se que até os últimos dias
Lutero guardou devoção à Maria.
No tocante às imagens, Lutero não as
proibia; afirmava que as proibições feitas no Antigo Testamento não afetavam os
Cristãos ( Edição Weimar, tomo 7 pg 440-445).
Considerava as imagens como a Bíblia dos pobres e iletrados.
Sobre a virgindade de
Maria
Os Artigos da “doutrina Cristã” elaborados por Lutero em 1537
professam:
“O Filho de Deus faz-se homem, de
modo a ser concebido do Espírito Santo sem o concurso de varão e a nascer de
Maria pura, Santa e sempre virgem”.
Calvino publicou em 1542 o “Catecismo da Igreja de Genebra”, onde se lê:
“O Filho de Deus foi formado no seio
da Virgem Maria...Isto aconteceu por ação milagrosa do Espírito Santo sem
consórcio de varão”.
Zwingli por sua vez, escreveu:“Firmemente creio, segundo as
palavras do Evangelho, que Maria, como virgem pura, nos gerou o Filho de Deus e
que no parto e após o parto permaneceu para sempre virgem pura e íntegra” (Corpus
Reformatorum: Zwingli Opera 1 424).
Declarou ainda: “Estimo grandemente a Mãe de Deus, a
virgem Maria perpetuamente casta e imaculada” (ZO 2,189).
Os “irmãos do Senhor” eram, para Zwínglio, “os
amigos do Senhor” (ZO 1,401).
Podemos observar que até mesmo o
Corão de Maomé, que reproduz certas proposições do Cristianismo, professa a
virgindade de Maria (cf. Sura 19).
Outras palavras dos
Reformadores
Amman, discípulo e contemporâneo de
Zwínglio, declarou: “Maria foi preservada de toda mancha e culpa do pecado original, do pecado
mortal e do pecado atual”.
Heinrich Bullinger, sucessor de
Zwínglio, testemunhou: “Cremos que o corpo puríssimo da Virgem Maria, Mãe de Deus e templo do
Espírito Santo...foi levado pelos anjos ao céu”.
Lutero escreveu: “Não há honra, nem beatitude, que
sequer se aproxime por sua elevação da incomparável prerrogativa superior a
todas as outras, de ser a única pessoa humana que teve um filho em comum com o
Pai Celeste”. (Deustsche
Schriften, 14,250).
Calvino escreveu: “Não podemos reconhecer as bençãos
que nos trouxe Jesus, sem reconhecer ao mesmo tempo quão imensamente Deus
honrou e enriqueceu Maria, ao escolhê-la para ser mãe de Deus".(Comm.Sur I`harm.Evang.20)
Zwínglio: “Quanto mais crescem a honra e o
amor de Cristo entre os homens, tanto mais crescem também a estima e a honra de
Maria, que gerou para nós um tão grande e propício Senhor e Redentor” (ZO 1,427s).
Conclusão
Como
se vê, os mestres da Reforma foram muito mais fiéis a Maria do que seus
discípulos. Estes testemunhos, aos quais outros se poderiam acrescentar, dão
suficientemente a ver como a crença em Maria ocupa lugar eminente no conjunto
das verdades que a fé cristã sempre professou.
Texto
elaborado por : Jaime Francisco de Moura
Fonte: Escola
Mater Ecclesiae
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