A COMUNICAÇÃO NA FAMÍLIA
(A FALAR É QUE A GENTE SE ENTENDE…)
INTRODUÇÃO
Nota: Pedir a um participante para vir à frente e ficar 30 segundos tentando não comunicar. Mostrar que é impossível não comunicar, pois mesmo quando não queremos comunicar estamos comunicando que não queremos comunicar. Só os mortos não comunicam. Os vivos estão sempre comunicando.
Vimos na 1ª sessão que a má comunicação é apresentada pelos técnicos como sendo a causa principal de ruptura nos casais. Também nas crianças apresentando problemas, quer sejam de aprendizagem ou de relacionamento, uma comunicação inadequada entre elas e os pais, ou outros adultos próximos, está sempre presente. Também vimos, ontem, a importância da comunicação na formação da auto-imagem, o que prova que uma boa comunicação é indispensável para um desenvolvimento equilibrado e saudável das crianças e para a harmonia das famílias.
O QUE É A COMUNICAÇÃO?
A comunicação é um processo que pressupõe o envio de uma ou várias mensagens a partir de um emissor até um receptor. Este recebe a mensagem, descodifica-a e responde. A este movimento de reenvio de mensagem chama-se o feedback, termo inglês que significa retroacção, reafirmação ou retorno, que permite a continuação da comunicação.
INSTRUMENTOS DE COMUNICAÇÃO
Os instrumentos da comunicação são a linguagem verbal e a não verbal, dita paralela, que consiste na linguagem corporal e emocional. É do franzir das sobrancelhas, como sinal de desaprovação até aos gestos de repulsa ou o contacto visual, o sorriso, abanar a cabeça como sinal de encorajamento, ter o corpo dirigido para aquele que fala exprimindo aceitação, etc., ou ainda a manifestação de sentimentos e emoções. Estudos demonstraram que quando uma mãe está com stress o nível de adrenalina sobe também no seu bebé. Trata-se, muitas vezes, de gestos e estados dos quais não estamos conscientes mas que são entendidos pelos outros, dando significados à mensagem.
Para uma comunicação saudável, é muito importante que a mensagem não verbal seja congruente com a verbal. Segundo alguns especialistas, o conteúdo da mensagem estaria repartido da seguinte maneira: 7% na linguagem verbal, 38% no tom da voz e 55% na restante linguagem não verbal. Quanto pode ser dito com, apenas, um olhar ou com um silêncio… (slide).
“ Pode afirmar-se sarcasticamente que o Homem já superou a distância que o separa da lua, mas continua a não conseguir alcançar o seu próximo…Só quem renunciar ao espírito de poder e de violação é que está pronto para ouvir e responder. Razoáveis só são aqueles indivíduos que aprenderam a acolher em si os pensamentos dos outros sem cair na angústia ou numa posição de defesa.” Josef Rattner
AS 3 DIMENSÕES DA COMUNICAÇÃO
No seu manual “Conversaciones Pré-matrimoniales”, Emílio e Ada Garcia-Marenko atribuem à comunicação humana três dimensões: Profundidade, Habilidade e Qualidade.
DIMENSÃO DA PROFUNDIDADE
Esta dimensão tem a ver com o grau de intimidade conseguido na comunicação. Não comunicamos sempre, nem com todas as pessoas, no mesmo nível de intimidade.
No seu livro: “Why Am I Afraid to Tell You Who I Am?” (Porquê Tenho Medo de Te Dizer Quem Sou?”), John Powell distingue cinco níveis diferentes da comunicação:
Nível 5 – Conversação Formal
Consiste em mensagens compostas por frases feitas, quase mecânicas, como: “Está a chover, voltámos ao mau tempo”. É o tipo de comunicação que mantemos com o carteiro, ou o vizinho mais afastado. É o nível mais superficial da comunicação, aquele em que menos nos investimos e menos nos revelamos.
Nível 4 – Transmissão de Informações
É a comunicação cujo conteúdo se resume a uma troca de informações: “A partir de Janeiro trabalharei mais duas horas por dia.” Trata-se ainda de uma comunicação superficial lançando, no entanto, as bases para poder-se ir mais longe, a níveis mais profundos. Com a falta de tempo e o “ocupacionismo” que caracteriza a nossa época, muitos casais e famílias quase limitam a sua comunicação a este nível.
Nível 3 – Envolvimento Intelectual
A este nível há já uma revelação de quem comunica: “Este filme ficou a aquém do que eu esperava.” Revela o que pensa, emite juízos e opiniões, expõe-se. É um nível da comunicação que exige auto-confiança e ousadia. Aqui começa a comunicação pessoal, baixam-se as defesas e correm-se alguns riscos.
Nível 2 – Envolvimento Emocional
Como o nome indica este nível da comunicação implica a revelação de emoções, positivas, como a alegria e o entusiasmo, ou negativas, como a raiva, a tristeza ou o medo. A exposição ao julgamento do outro é máxima, a fragilidade também. Trata-se duma revelação interior dos sentimentos: “Sinto-me triste e solitária quando chegas tarde.”
Nível 1 – Comunicação Pessoal Total
Nível da comunicação que inclui todos os outros e permite, quando positiva, uma verdadeira intimidade e comunhão no casal e na família.
DIMENSÃO DA HABILIDADE
Esta dimensão caracteriza-se pelos seguintes elementos:
Boa Transmissão: - Capacidade de transmitir mensagens claras que digam o que se quer dizer, mensagens precisas, oportunas e congruentes. Uma boa transmissão é sempre importante mas é particularmente indispensável em caso de conflito. Um homem contava a um colega: “Ontem à noite eu e a minha mulher zangámo-nos e a um certo momento ela tornou-se histórica.” “Queres dizer histérica”, retorquiu o colega. “Não, histórica, porque me falou de todos os problemas desde há 30 anos até agora”. Na comunicação do casal é importante evitar de recorrer ao “Museu Conjugal”.
Escuta Atenta: - É a capacidade de manter um bom contacto visual, não olhar em todas as direcções menos na da pessoa que fala. Implica manter uma postura que revele interesse; escutar os sentimentos e emoções; suspender juízos de valor que podem bloquear ou inibir o outro. Tentar ver como ele vê, fazer perguntas que facilitem a continuação da conversação: “Estou a ver…”, “Não me digas…”, “Ah sim?...”
Ouvir o Não Dito: - Nem sempre dizemos o que queremos dizer, umas vezes por falta de habilidade, outras por falta de coragem. Ouvir o que não é dito é estar atento às linguagens paralelas ou não verbais, para compreender o outro. Não esqueçamos que o conteúdo verbal da mensagem é apenas 7% da mesma.
Certificar-se do Significado: - Esta habilidade consiste no verificar se compreendemos bem a mensagem recebida. Podemos fazê-lo devolvendo ao outro o que disse com palavras nossas: “Queres então dizer que …”
Responder Adequadamente: - Responder adequadamente é fazê-lo de maneira clara e precisa, declarando a nossa percepção sobre o assunto em causa e a nossa opinião sobre o mesmo. Em caso de conflito, procurar identificá-lo, delimitá-lo e analisar possíveis soluções.
Uma maneira de usar de habilidade na comunicação, particularmente com as crianças, é usar expressões na forma positiva que ao mesmo tempo indiquem, quando necessário, o que a criança deve fazer (slide do miúdo na árvore).
DIMENSÃO DA QUALIDADE
Das três dimensões da comunicação esta é, certamente, a mais importante. Tem menos a ver com técnicas e maneiras de comunicar do que com as características pessoais dos comunicantes. Dessas características depende a qualidade e, por isso, o grau de satisfação da comunicação. Essas características são quatro:
Honestidade: - É a tendência para fazer coincidir as nossas palavras com o nosso pensamento real. É a capacidade de ser transparente, de se revelar tal qual se é, tirando máscaras e ousando ser autêntico. É necessário muita coragem para se ser autêntico. É bastante mais cómodo, porque menos arriscado, mostrarmo-nos como pensamos que o outro nos quer ver; mas a autenticidade é o preço que se paga para se conseguir ter relacionamentos profundos e satisfatórios.
Tacto: - O tacto é uma característica de respeito e de amor. A autenticidade sem amor é crueldade. Há pessoas que usam a sua sinceridade para magoar os outros. Esta deve ser um factor de construção na relação e não o contrário.
O tacto leva-nos a fazer três perguntas: - O que vou dizer é verdadeiro?
- É útil dizê-lo?
- Como devo dizê-lo?
Ter tacto é utilizar a palavra certa no momento certo e da maneira certa. É ter sensibilidade para com os sentimentos do outro, seja cônjuge, filho ou outro, abstendo-nos de fazer comparações, acusações ou colocando-o em situações em que se sinta humilhado.
Presença de Espírito: - esta qualidade consiste na sabedoria, ou bom senso, de evitar que a comunicação descambe para caminhos destrutivos. É ser capaz de a reorientar positivamente cuidando os seguintes aspectos:
1) O Volume da Voz – Não permitir que este suba e provoque no outro uma reacção em espelho.
2) O Tema da Conversa – Vigiar para que não haja fuga do tema em causa para outros, ou para acontecimentos antigos.
3) Evitar Expressões Absolutas – “Tu nunca …” “Tu sempre …” “Tu jamais …”
São palavras ditas sem pensar mas têm sempre o efeito de magoar ou de enervar
o outro pelo simples facto de não serem verdadeiras.
4) Não Atacar – Atacar o problema não o cônjuge ou qualquer outro membro da
família. Quanto menos o outro se sentir atacado melhores condições
psicológicas terá para comunicar.
5) Solicitar Uma Pausa – Ser capaz de parar uma conversação infrutífera
sugerindo a reiniciação para outro momento mais propício.
Aceitação: - Já falámos desta importante qualidade nas sessões anteriores; também na comunicação ela é indispensável. Aceitar o outro com as suas qualidades e defeitos é a condição básica para toda a verdadeira comunicação; é a aceitação que permite e incentiva a transparência, anima o tacto e adequa a presença de espírito. Acima de tudo, aceitar é amar.
“ O sentido mais importante da aceitação é o outro sentir que é amado. Aceitar outra pessoa tal como é, é verdadeiramente um acto de amor, sentir-se aceito é sentir-se amado.” Thomas Gordon
OBSTÁCULOS À COMUNICAÇÃO
Nota: Ver e comentar slide do power point. Depois fazer pausa e convidar os participantes a fazerem os testes sobre comunicação, um ou todos, segundo o tempo disponível.
MENSAGENS “TU” E MENSAGENS “EU”
Um dos obstáculos maiores da comunicação é o enviar mensagens formuladas na segunda pessoa, as chamadas mensagens “tu”. O “tu” é agressivo e, por isso, provoca uma reacção negativa porque a mensagem é recebida como uma acusação, particularmente em caso de desacordo. O outro sente-se lesado na sua auto-estima, quer seja adulto ou criança. Uma comunicação positiva usa mensagens na primeira pessoa, ou seja, mensagens “eu”. (Ver exemplos no power point)
AJUDAR OUVINDO
1) ESCUTA PASSIVA (Ver e comentar slides do power point)
2) ESCUTA ACTIVA (Ver power point)
A escuta activa é uma técnica de comunicação muito eficaz que deve ser usada, particularmente, quando há problemas, pois ajuda a encontrar soluções. É uma escuta em que todos os sentidos se encontram mobilizados – ouvidos, olhos e coração – tentando ir ao encontro das emoções e sentimentos escondidos por detrás das palavras. Consiste em:
- Parafrasear a mensagem do outro, reformulando-a de maneira a que o outro a reconheça “Queres dizer…”, “Compreendo que…”
- Reflectir os sentimentos e emoções contidos nas palavras sem emitir juízos de valor.
- Resumir o que o outro disse, mostrando-lhe, assim, que se captou o essencial.
O objectivo da escuta activa é de permitir ao outro de descobrir os seus sentimentos pessoais e de melhor compreender a sua problemática.
As vantagens são de dar ao outro o direito de existir como é, com as suas dúvidas, questões, bloqueios, etc. Mostra ao outro que é ouvido e compreendido. Cria uma relação de confiança. Investe no outro consagrando tempo para escutá-lo realmente.
(Exemplos práticos, com banda desenhada, no power point. 3 maneiras de bloquear a comunicação, a protectora, a moralista e a desdramatizante e depois o exemplo, eficaz, de escuta activa.)
A desvantagem da escuta activa é a de exigir mais tempo e maior reflexão na comunicação; mas perda de tempo no presente levará a um ganho de tempo no futuro, isto é particularmente verdade na comunicação com os filhos que poderemos ver crescer e atingir a maturidade mais facilmente.
CONCLUSÃO
A comunicação é uma arte que se aprende. Desenvolver competências nesta área exige esforço e vontade, sobretudo porque não é fácil vencer os maus hábitos de comunicação que herdámos da infância; mas o menor esforço para melhorar a comunicação conjugal ou familiar trará resultados tão positivos que sentirão que vale a pena investir neste aspecto tão vital para a saúde das nossas famílias. Comecemos hoje! Jacques Salomé, um psicólogo francês especialista em comunicação, diz-nos com humor que não devemos deixar essa aprendizagem para depois (terminar, se achar oportuno, com a banda desenhada do final).
Nota: Vai no final um slide sobre a Bíblia e a comunicação que poderá ser usado ou não segundo a orientação que achar conveniente dar ao seminário.
FONTE: HORTELINDA GAL
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