Youtube

domingo, 13 de outubro de 2013

O CHIFRE PEQUENO DE DANIEL 7



"(...) e falava grandiosamente": -Daniel 7:8

O profeta Daniel dá-nos a conhecer a existência de um ser que é contrário a Deus, cujo nome é -chifre pequeno. Este poder apresenta algumas características. Uma delas, é que tem “uma boca que falava grandiosamente” –v. 8,20. Qual a extensão das palavras proferidas? O que significará este "grandiosamente"?

Sabemos que o livro do Apocalipse complementa o do profeta Daniel ao dar-nos a conhecer o alcance das palavras relatadas por Daniel e ditas por este poder. O texto do Apocalipse refere que a este poder “foi-lhe dada uma boca para proferir grandes coisas e blasfémias (…)” –Apoc. 13:5. Assim, à luz deste texto, que “grandes coisas“ são estas que o chifre pequeno fala? Tal como o texto refere, são -blasfémias. O que e uma blasfémia? O dicionário refere que é “toda a palavra injuriosa contra Deus; atribuição de defeitos a Deus ou a negação de qualquer dos seus atributos; dito insultuoso a pessoa muito respeitável; impropério”(1). No contexto bíblico, blasfémia é mais do que negar a existência de Deus ou qualquer uma das definições do dicionário. Blasfémia, biblicamente falando, tem outro peso, outro significado muito mais profundo e solene. Não estamos a visar este ou aquele crente, pois todos merecem o nosso respeito, mas unicamente clarificar não só o que a palavra profética refere acerca deste poder como a maneira como ele se expressa. Não se trata aqui de visar pessoas, repetimos, mas unicamente sistemas religiosos, nada mais.

1. "(...) e falava grandiosamente"

O chifre pequeno "falava grandiosamente". O que quererá dizer isto? Nós encontramos o seu complemento na continuação da descrição deste mesmo poder, só que, desta vez, no livro do Apocalipse. Aqui, o profeta de Patmos dá-nos a conhecer que este "falará grandiosamente" tem que ver com o "blasfemar contra Deus" -cf. Apoc. 13:5. Vejamos algumas delas:
1-   Marcos 2:1-7-“(…). E vieram ter com ele conduzindo um paralítico, trazido por quatro. (…). E Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho, perdoados estão os teus pecados. E estavam ali assentados alguns dos escribas que arrazoavam em seus corações, dizendo: Por que diz este assim blasfémias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?
Estes homens trouxeram este enfermo aos pés de Jesus e, ao ver todo aquele esforço para que o doente pudesse chegar mais perto d’Ele, Jesus somente diz: -“(…) Filho, perdoados estão os teus pecados”. Na verdade, teria Jesus poder e autoridade para proferir tais palavras? A resposta é, evidentemente, afirmativa. E porquê? Pela única e simples razão que Jesus Cristo era e é Deus com Deus. Mas, aqueles que O rodeavam e que escutaram aquelas palavras nunca acreditaram, nunca conseguiram ver o mínimo sinal da divindade expressa em Cristo Jesus; e quando viam algo de transcendente, limitavam-se a acusar e condenar dizendo: -"(...) este não expulsa os demónios senão por Belzebu, príncipe dos demónios" -Mat. 12:24. Por esta razão e por outras razões se expressaram daquela maneira.
2-   João 8:56-58-“Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o e alegrou-se. Disseram-lhe pois os judeus: Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão? Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse eu sou. Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se e
saiu do templo (…)”.

Aqui Jesus mostra a estes Seus contemporâneos a Sua pré-existência, ao recordar a cena vivida pelo patriarca Abraão relatada em Gén. 22:1-18. Eles compreenderam perfeitamente bem o alcance desta pretensão e prepararam-se, de seguida, para O apedrejarem. Mas, qual o crime cometido? Simplesmente porque, segundo eles, Jesus estava, pelas Suas palavras, a cometer o crime de blasfémia!
3-   João 10:30-33-“Eu e o Pai somos um. Os judeus pegaram então outra vez em pedras para o apedrejar. Respondeu-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por qual destas obras me apedrejais? Os judeus responderam, dizendo-lhe Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfémia, porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo”.

À luz deste contexto bíblico, este poder representado, profeticamente falando, pelo chifre pequeno, tal como vimos, também chamará a si mesmo o poder de perdoar pecados, ao chamar-lhe – sacramento -dizendo que "(…) os bispos e os presbíteros é que têm, em virtude do sacramento da Ordem, o poder de perdoar todos os pecados, <em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo>” (2). Depois, na continuação, ao abordar os efeitos deste sacramento, o catecismo, parece-nos, que se contradiz, ao dizer:
a-   No seio do próprio articulado- “Neste sacramento, o pecador, remetendo-se ao juízo misericordioso de Deus, de certo modo antecipa o julgamento a que será submetido no fim desta vida terrena. (…). Convertendo-se a Cristo pela penitência e pela fé, o pecador passa da morte à vida <e não está sujeito ao julgamento> (João 5:24)” (3). (sublinhado nosso);
b-   Com as Sagradas Escrituras – a)- a citação da Palavra de Deus –João 5:24 –está totalmente desvirtuada, pois a ação que Bíblia refere não tem o sentido que o Catecismo deixa transparecer, ou seja, não que o penitente não esteja “sujeito ao julgamento”, mas que, quando for submetido a este, “não será condenado” por ter aceite a Palavra de Cristo; b) Se assim não fosse, isto é, que toda a criatura terá que passar em juízo, a Palavra de Deus não era digna de fé, pois ela atesta o contrário: -cf. II Cor. 4:10: Heb. 9:27.

Como vimos, este poder ao professar ser Deus na Terra chama a si o poder para perdoar pecados. O penitente, como resultado desta pretensão e ensino, quando procura o perdão dos seus pecados, em lugar de ir diretamente a Deus, tal como as Sagradas Escrituras o ordenam – I João 1:8,9 –dirige-se, em conformidade com o que aprendeu de doutrinas humanas, a um sacerdote, mero mortal (4). Assim, tudo isto, em face do claro ensino da Palavra de Deus, não passa de doutrinas blasfemas –ou seja, o humano ao ensiná-las e a praticá-las, não faz mais, repetimos, do que usurpar um poder exclusivo do divino!
Vejamos ainda, de uma forma simples, além das demais vistas anteriormente, a maneira como este poder proferiria “palavras contra o Altíssimo” ao tomar o lugar da divindade -o Pai, o Filho e o Espírito Santo:
a) O Pai- “A ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus” -Jesus também advertiu para uma outra face da mesma moeda. Pois este poder apelidar-se-á de “Santo Padre ou Pai”. Ora, acerca desta forma de tratamento, por ser blasfema, Jesus admoesta-nos a que não a usemos; Jesus admoesta-nos que: -“a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus” –Mat. 23:9.
b) O Filho– Este Poder chama a si mesmo o título de Sumo Pontífice que, no passado era exclusividade dos Imperadores pagãos romanos –Pontifex Maximus (5) -cujo significado é: -soberano construtor de pontes. Qual o porquê deste título? A sua razão de ser era porque se acreditava que o sacerdote era a ponte entre Deus e os homens. Ao mesmo tempo, ao ser chamado assim está a substituir a função do SenhorJesus Cristo como Sumo-sacerdote no santuário celeste, como nosso intercessor –cf. Heb. 4:14,15; 8:1,2.
c) O Espírito Santo- Ao chamar a si o título de Vigário de Cristo (Vicarius Christi), cujo significado é: representante, substituto de Cristo; sim, substitui, desta forma, o papel e o ministério, desta terceira entidade divina. Mas, onde está a tragédia? Ela reside no facto de que Cristo ao deixar esta Terra prometeu um único Seu substituto -o Espírito Santo –não uma qualquer entidade humana! -cf. João 14:16,26; 15:26

Esta entidade por ser religiosa, significa que tem uma Igreja, uma doutrina e, consequentemente, crentes. Assim, acreditamos que uma grande parte do povo de Deus, ainda na ignorância, continua a militar no seu seio. Na verdade, para confirmar a nossa convicção, na Palavra de Deus encontramos um convite de Deus a todo este povo ainda ali, ao apelar desta maneira pungente: -“(…). Sai dela (Babilónia), povo meu, para que
não sejas participante dos seus pecados e para que não incorras nas suas pragas” –Apoc. 18:4. E quando este convite for endereçado, no tempo próprio, ou seja, quando a Igreja estiver preparada para o fazer, este será ouvido pelos sinceros que ali militam e abandonarão aquela entidade religiosa para engrossarem o verdadeiro povo de Deus, tal como o fizeram alguns que as sagradas Escrituras referem, como por exemplo: Nicodemos (João 3:1; 7:50; 19:39) (6); José de Arimateia (Mat. 27:57; Lucas 23:51; João 19:38); Saulo de Tarso –que caiu do cavalo que constituía as suas certezas (Act. 7:57,58; 9:4-6).

2. "Fará guerra contra os santos"

Em Dan. 7:21 é-nos dado a conhecer o modo de atuação deste poder nas suas diversas vertentes. Vejamos alguns testemunhos históricos desta linguagem intolerante:
a)  O Papa Inocêncio III  (1198-1216):–recordaremos aqui, a titulo de ilustração, a conduta e modo de atuação arrogante do sistema papal, isto é, a maneira como lidou com a chamada: -heresia Cátara ou Albigense.
Abramos aqui um parêntesis para nos situarmos quando aplicamos certos termos, tais como -heresia. Será que já pensámos na razão de ser desta palavra, qual a sua verdadeira significação? Na verdade, o conjunto destas, leva ao que vulgarmente se conhece pelo nome pejorativo de: seitas! Por vezes, este cuidado nos escapa, isto é, de utilizarmos as palavras sem a devida atenção acerca das suas raízes, levando-nos, por vezes, a tirar conclusões precipitadas.
Então, o que é uma heresia? Esta deriva de uma palavra grega –hairesis–que significa: opinião, escolha (7). Quando o mundo se tingiu de cristianismo e o poder pontifício se tornou absoluto, esta palavra foi utilizada pelas autoridades religiosas a fim de estigmatizar as correntes de pensamento que, de certa forma, constituíam uma ameaçam à doutrina oficial da Igreja de então.
Assim, o pensar diferente do tradicional -a heresia -foi perseguido como um crime, sendo os pensadores -os heréticos -condenados à fogueira. (8)
E uma seita? Esta define-se como: “caminho, seguir, ir atrás de; doutrina ou sistema que se afasta da crença geral; reunião de pessoas que professam uma religião diversa da geralmente seguida” (9). Ou ainda como sendo “uma perversão, uma distorção do cristianismo bíblico e/ou a rejeição dos ensinos históricos da Igreja cristã” (10). Curiosamente, Jesus, no seu tempo, foi apelidado de ser mentor da seita dos Nazarenos, a qual Saulo de Tarso (mais tarde Paulo), perseguiu com fervor –cf. Act. 9:2;19:9,23;22:4 -tendo-se, posteriormente, convertido; de perseguidor passa a perseguido: -Act. 24:5; 28:22.
Inacreditável! O Filho de Deus, Aquele que disse ser “o Caminho, a Verdade e a Vida” –João 14:6, fora tido como o mentor de uma seita! Mas, quem apelidou tal doutrina –o ensinamento do próprio Deus –de: seita? O Sinédrio –o centro da verdade religiosa da época! Mas, sob qual base? A verdade das Escrituras? Não! Unicamente pela força da verdade da instituição que era -o grande Sinédrio -o centro da religião oficial judaica (11)! Já desde esta altura, para esta instituição, tal como nos nossos dias, o critério, a norma, de certas confissões religiosas, não é que tenham ou siga a VERDADE(cf. João 17:17) mas, unicamente, porque a MAIORIA a ou as segue! Não foi assim, com estes mesmos argumentos que o pretenso povo, igreja de Deus, considerou Jesus como um impostor? A Palavra de Deus mostra-nos isto muito claramente -“(…) também vós fostes enganados? Creu nele, (Jesus), porventura, algum dos principais ou dos fariseus?" –João 7:46-48. Fechando o parêntesis.

Na verdade, em termos de critérios, nos nossos dias, o que é que mudou? Absolutamente nada! A doutrina oficial da Igreja tradicional e maioritária, constitui a tal VERDADE, não porque se alicerce no claro e límpido ensino das Sagradas Escrituras, mas unicamente em doutrinas e preceitos humanos -cf. Mat. 15:6,9!
Retomando a heresia Cátara ou Albigense. Na verdade, quem era o papa Inocêncio III? A História conhece-o e caracteriza-o como “o papa mais importante da Idade Média. (…) um indivíduo sedento de glória, astuto, autoritário, inflexível” (12). Esta dita heresia estava radicada no sul de França. O Sumo Pontífice para silenciar estas vozes discordantes fará apelo à Cruzada, a qual teve início em 1209. Esta não visava a libertação da Terra Santa, mas os inimigos da cadeira de S. Pedro. As forças arregimentaram-se e seguiram para erradicar, silenciar estas vozes incómodas. Quais os motivos de todos aqueles que responderam, afirmativamente, ao apelo papal? O História mostra-nos o verdadeiro motivo que os animava, ao referir que “os nobres do norte
de França reuniram-se em grande número; eram atraídos, sobretudo, por um rico espólio de guerra” (13). O que se passou foi um verdadeiro massacre! Os documentos mostram-nos que um tal Simão, de Montfort l’Amaury tomou a direção da expedição contra os Albigenses e, o resultado não foi outro a não ser o roubo, a fogueira e o massacre.

No frenesim do combate, uma voz de comando foi ouvida: -“Matai-os a todos” gritava o legado do papa, pois “Deus saberá reconhecer os seus” (14)!1 Enfim, o resultado desta Cruzada foi uma verdadeira e “(…) autêntica carnificina” (15).2 A História dá-nos a conhecer que “só em Béziers, calcula-se que os cruzados exterminaram cerca de 30.000 pessoas” (16).Em termos económicos -todas as possessões do visconde de Béziers e de Carcassone voltaram às mãos do ambicioso Simão de Montfort. A questão Albigense resolveu-se politicamente pelo Tratado de Paris, em 1229. Na realidade, no Concílio de Latrão, em 1215, foram lançadas as bases da triste e vergonhosamente célebre –Inquisição – a qual será organizada, em 1231, pelo papa Gregório IX. No conjunto seu conjunto -Cruzadas e Inquisição -foram ceifadas deste mundo muito cima de 50 milhões de cristãos, e tudo em nome de Deus!

1 Jean-Louis Schonberg, op. cit., p. 129; cf. II Timóteo 2.19
2 Heitor Morais da Silva, S.J., op. cit., p. 185

3.E proferirá palavras contra o Altíssimo

Iremos ver uma outra vertente de atuação deste poder político-religioso, só que, desta vez, contra o próprio Deus!
a)-Gregório VII (1073-1085)- Na primeira metade do século XI a Igreja estava corroída no seu interior. Esta precisava de um homem forte, de alguém que impusesse o que anteriormente se tinha perdido –a ordem. Onde estava esse homem? Dentro em breve iria sair do anonimato alguém “de pequena estatura, desajeitado de aparência, voz débil, mas zeloso defensor do absolutismo papal” (17). Em 1073 a sua eleição impõe-se com tal evidência que um movimento popular o eleva à dignidade pontifícia. Este homem, o monge Hildebrando tomará para si o nome de Gregório VII (1073-1085). As suas primeiras ações revelam “o seu invencível desejo de unir os dois poderes –Espiritual e Temporal –para reformar a Igreja” (18). O pontífice Gregório VII, para combater a imoralidade reinante no seio do clero, propõe, para o efeito, algumas soluções: 1-imposição do celibato a todo o clero (19); 2-acabar com o escândalo da Simonia (20); 3-insurge-se contra o direito do Imperador de nomear dignitários para a Igreja.

Tudo isto para que não existissem quaisquer dúvidas acerca de quem mandava na Igreja. Não poderia existir, portanto, para o corpo que é a cristandade, duas cabeças: o Papa e o Imperador! Para que as águas ficassem, de uma vez por todas, separadas com toda a clareza, o pontífice Gregório VII irá elaborar um documento no qual se poderá ver a expressão do seu pensamento a este respeito. Este é composto em 1075 e contem 27 decretos, o: Dictatus Papae (instruções ditadas pelo Papa) (21). Eis alguns destes decretos:

Artº 02-“Só o Pontífice romano merece ser chamado universal
Artº 03-“Só ele pode destituir ou absolver os bispos
Artº 09-“O papa é o único homem ao qual todos os príncipes beijam os pés
Artº 12-“É-lhe permitido destituir os Imperadores
Artº 16-“Nenhum sínodo pode ser chamado geral sem a sua autoridade
Artº 20-“Ninguém pode condenar uma decisão da Sede Apostólica
Artº 22-“A Igreja romana nunca errou e, como atesta a Escritura, nunca poderá errar”. (22)
Para exemplificar a arrogância do sistema pontifical, recordaremos ainda um outro episódio. O Papa Gregório VII teve um diferendo com o Imperador da Alemanha Henrique IV (1056-1106), do qual sai vencedor o Papa. Na tentativa da reparação do mal-estar causado, o Imperador desloca-se ao encontro do Sumo Pontífice. No dia 27 de janeiro de 1077, apresenta-se, ele próprio, diante da ponte levadiça do castelo de Canossa, na Toscânia. Ali teve de esperar três dias, descalço e com vestes de penitente, até que o pontífice Gregório VII consentisse levantar o castigo.(23)
b) A exemplo do documento “Dictatus Papae”, recordaremos também outra documentação mais recente que reforça e estabelece, de novo, a suprema autoridade papal, a -Decisão II de 08 de Novembro de 1557. Eis algum do seu conteúdo:

Artº 1-“O papa é quase Deus na Terra (…)
Artº 4, 16-“Ninguém ouse desprezar o poder do papa, porque ele liga, não como homem, mas como Deus
Artº 4, 24-“Só ao Romano Pontíficeé permitido modificar, declarar ou interpretar as leis divinas
Artº 5, 3-“O papa é chamado Senhor de todo o mundo, e não é de admirar, porquanto ele desempenha na Terra as vezes de Deus
Artº 5, 6-“O papa é Sumo-sacerdote e Rei
Artº 5, 10-“O papa pode tudo o que Deus pode; e ele está acima de todos”
Artº 5, 20-“O papa é Vigário de Cristo, não só na medida em que Cristo está à frente da Igreja, mas também na medida em que Ele é o Senhor de toda a Terra
Artº 5, 23-“O poder do Sumo Pontífice nãosó se exerce sobre as coisas celestes, terrestres e infernais, mas também sobre os anjos, em relação aos quais ele é superior. Se fosse possível os anjos errarem na fé, o papa poderia puni-los e excomungá-los
Artº 5, 31-“Tudo o que o papa faz é considerado como procedendo da boca de Deus
Artº 18, 20-“O papa ocupa o lugar e desempenha as vezes de Deus(…)” (24)
Artº 30, 1-“O papa tem jurisdição sobre os hereges, dado que como Vigário de Cristo tem jurisdição sobre todos
Artº 43, 9-“Os reis têm como superior Deus e, consequentemente, a Igreja e o Romano Pontífice que está no lugar de Deus na Terra, para alívio dos oprimidos
Artº 49-“Todos os reis cristãos devem estar sujeitos ao papa como ao próprio Jesus Cristo nosso Senhor
Artº 61-“Vemos o Pontífice Romano triunfalmente coroado com uma tríplice coroa, como rei do Céu, da Terra e do mundo inferior
Artº 61, 1-“O Romano Pontífice está acima de todo o Principado e Potestade e, diante dele se curvam todos os joelhos no Céu e na Terra e debaixo da Terra”. (25)

Na verdade, o que este Artº 61.1 está a fazer é algo de extraordinário a acrescentar ao tom blasfematório dos restantes articulados. De onde se inspira este fraseado “diante dele se curvam todos os joelhos no Céu e na Terra e debaixo da Terra”? A Palavra de Deus nos informa. Em primeiro lugar, o encontramos totalmente associado a Deus, no Antigo Testamento –“Por mim tenho jurado (…): que diante de mim se dobrará todo o joelho (…)” –Isaías 45.23. Em segundo lugar, no Novo Testamento, o apóstolo Paulo o aplica totalmente a Jesus –“Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, na terra, e debaixo da terra” –Filp. 2.10. A adoração é absolutamente universal. A palavra grega que aqui encontramos traduzida por “debaixo da terra” é: –katachthonios. Esta é uma clara alusão aos mortos (26) que, um dia, ressuscitarão para reconhecerem o poder senhorial de Jesus, assim como os “do céu”, os anjos que seguiram Satanás na sua revolta, e “da terra”. A vitória de Jesus é total. Assim, “é importante notar que a elevação de Cristo, neste texto, é revelada por um dos textos mais monoteístas do Antigo Testamento. Jesus Cristo é elevado à dignidade do Deus do Antigo Testamento” (27). Reforçando esta noção de unidade na divindade é dito que “Jesus nada tem de um usurpador. Foi o próprio Deus que o entronizou, para a Sua glória” (28). Aplicado a Cristo é normal, pois é Deus com Deus; o mesmo aplicado a uma criatura pecadora e mortal é, simplesmente, uma blasfémia.
Mais recentemente, o papa João Paulo II publicou a Carta Apostólica Ad Tuendam Fidem(Para Defender a Fé), com o objetivo de acrescentar algumas normas ao Código de Direito Canónico e ao Código dos Cânones
das Igrejas Orientais. Deste último vejamos a formulação final de dois parágrafos do Cânone 1436:
Parágrafo 1–“Aquele que nega uma verdade que por fé divina ou católica deve acreditar ou põe em dúvida, ou então repudia totalmente a fé cristã e, legitimamente avisado, não se retratar, seja punido como herege(29)ou como apóstata com excomunhão maior (…).” (Sublinhado nosso).
Parágrafo 2–“Fora destes casos, quem advoga uma doutrina definitivamente proposta ou condenada por errónea pelo Romano Pontífice ou pelo Colégio dos Bispos no exercício do magistério autêntico e, legitimamente admoestado, não se retractar, seja punido com uma pena adequada”. (30)
Conclusão
Assim, ao longo do quanto pudemos ver temos muito em que refletir. Podemos aperceber-nos da trajetória ao longo dos séculos deste poder politico-religioso tal como odenunciou o profeta Daniel assim como o profeta de Patmos, João. Nestes três documentos aqui ventilados -Dictatus Papaeque data de 1075; a Decisão II datada de 08 de Novembro de 1557; a Carta Apostólica Ad Tuendam Fidem, datadade 1998 -podemos constatar que desde o primeiro documento do pontificado de Gregório VII ao de João Paulo II, decorreram vários séculos. Ao longo desta longa trajetória qual foi a mudança que se operou no sistema papal? A resposta só pode ser uma -Nenhuma!
Na verdade esta confissão religiosa continua como sempre foi… igual a si mesma, tal como a palavra profética a descreve!(31)
_____________
1-J. Almeida e A. Sampaio e Melo, Dicionário da Língua Portuguesa, 5ª ed., Porto, ed. Porto Editora, s.d., p. 213
2-Catecismo da Igreja Católica, Coimbra, ed. Gráfica de Coimbra, 1993,p. 328, nº 1461
3-Idem, p. 330, nº 1470
4-Eis como, engenhosamente, este poder explica a sua autoridade nesta matéria sem fundamento das Sagradas Escrituras: -“<Eu te absolvo dos teus pecados>. Naquelemomento, como, aliás, na celebração de qualquer outro sacramento, o padre não recebe certamente a sua autoridade do consenso dos homens, mas diretamente do Cristo. O <eu> que pronuncia o <eu te absolvo> não é ode uma criatura, mas diretamente o <Eu> do Senhor”-Joseph Ratzinger, Diálogos sobre a Fé, Lisboa, ed. Editorial VERBO, 2005, p. 46
5-“A Igreja Romana veio a apoderar-se insidiosamente do lugar antes ocupado pelo Império Romano. Na realidade, este perpetuou-se nela. O papa –pontifex maximus –veioa suceder ao César. O papa passa a ser imperador” -Ferdinand Lot, O fim do Mundo Antigo e o Princípio da Idade Média, Lisboa, ed. 70, 1968, p. 58
6-“A súplica de Jesus pelos Seus assassinos e a resposta que dera ao pedido do ladrão moribundo, tocaram aalma do douto membro do conselho. (…). O mesmo acontecimento que destruiu as esperanças dos discípulos convenceu José e Nicodemos da divindade de Jesus.
Os seus temores foram vencidos pela coragem de uma fé firme e inabalável” -Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, Sacavém, ed. Publicadora Atlântico, s.d., cap. LXXX, p. 745
7-Isidro Pereira, S.J., Dicionário Grego-Português e Português-Grego, 5ª ed., Porto, ed. Livraria Apostolado da Imprensa, 1976, p. 18
8-Cf. Fernand Comte, Dicionário Temático Larousse –Civilização Cristã, Mem Martins, ed. Círculo de Leitores, 2000, p. 317
9-J. Almeida Costa e A. Sampaio e Melo, op. cit., p. 1293; “secta” e “sequor” in António Gomes Ferreira, Dicionário de Latim Português, Porto, ed. Porto Editora, 1995, pp. 1049,1061
10-Josh McDowell e Don Stwart, Entendendo as Seitas, S. Paulo, ed. CANDEIA, 1992, p. 9
11-“Sinédrio” –Tribunal ou Conselho supremo dos Judeus. Nele se reunião as mais altas autoridades (sacerdotes, anciãos e escribas) que tinham poderes deliberativos em questões religiosa ou criminais –cf. Nova Enciclopédia Larousse, Mem Martins, ed. Círculo de Leitores, 1997, vol. 20, p. 6401
12-Jean-Baptiste Duroselle, História da Europa, Lisboa, ed. Publicações Dom Quixote, 1990, vol. I, p. 138
13-Philippe Tourault, História Concisa da Igreja, Mem Martins, ed. Publicações Europa-América, 1998, p. 155
14-Jean-Louis Schonberg, Verdadeira História dos Concílios, Lisboa, ed. Publicações Europa-América, p. 129; cf. II Timóteo 2.19
15-Heitor Morais da Silva,S.J., História dos Papas –Luzes e Sombras, Braga, ed. A.O., 1991, p. 185
16-Júlio Valdeon Baruque, Historia General de la Edad Media (siglos XI al XV), Madrid, ed. Manuales Universitários de Historia, s.d., p. 140; Para o detalhe: -Cf. “Albigenses”, Dicionário Temático Larousse –Civilização Cristã, pp. 46,47
17-Henry H. Halley, Manual Bíblico, Brasil, ed. Vida Nova, 1970, vol. II, pp. 686,687
18-Geoffrey Barraclough, Os Papas na Idade Média, Lisboa, ed. Verbo, 1972, p. 94
19-Ordem contrária à vontade de Deus: Génesis 2.18; I Timóteo 4.3
20-Simonia: -compra de um cargo eclesiástico por dinheiro. O nome vem do episódio passado entre S. Pedro e Simão,o qual queria comprar o dom do Espírito Santo –cf. Actos 8.18-22
21-Cf. Geoffrey Barraclough, op. cit. p. 100
22-Jean-Baptiste Duroselle e Jean-Marie Mayeur, História do Catolicismo, Lisboa, ed. Livros do Brasil, 1988, p. 80
23-Cf. Philippe Tourault, op. cit., p. 134; cf. Jean-Louis Schonberg, op. cit., p. 109
24-“(…) posição atribuída ao Papa Júlio II pelo 5º Concílio de Latrão em 1512, quando Cristóvão Marcellus disse ao papa –e este não repreendeu o primeiro –<Vós sois o Pastor, vós sois o Médico, vós sois o Governador, vós sois o Chefe da família, enfim, vós sois um outro Deus na Terra”> -C. Mervyn Maxwell, Uma Nova Era Segundo as Profecias de Daniel, S. Paulo, ed. Casa Publicadora Brasileira, 1996, p. 131. Só Jesusé o Pastor (João 10.11); só Deusé o Chefe da família (Efésios 3.14,15), não o homem!
25-Citado por Ernesto Ferreira, Profecias Cronológicas na História da Salvação, Lisboa, ed. Publicadora Atlântico, s.d., pp. 89-101
26-Cf. Fritz Rienecker, Cleon Rogers, Chave Linguística do Novo Testamento Grego, S. Paulo, ed. Vida Nova, 1985, p. 408
27-Georges Stéveny, A la Découverte du Christ,France, ed. Vie et Santé, 1991, p. 258
28-Daniel von Allmen, L’Évangile de Jésus-Christ, Yaoundé, ed. CLE, 1972, p.117
29-No passado, só havia uma sentença a aplicar a todo e qualquer que fosse considerado herege, esta era –a morte. Assim, se não virmos a data do documento, pela sua fraseologia parece ser um documento papal medieval!
30-“Vaticano saiu em defesa da fé católica”, in Jornal de Notícias, Lisboa, 08 de Julho de 1998, p. 22
31-“E convém lembrar, Roma jacta-se de que nunca muda. Os princípios de Gregório VII e Inocêncio III ainda são os princípios da Igreja Católica Romana. E se tivesse ela agora o mesmo poder, pô-los-ia em prática com tanto vigor agora como nos séculos passados” –Ellen G. White, O Grande Conflito, Sacavém, 9ª ed., ed. Publicadora Atlântico, 1984, cap. 35, p. 466; Cf. Marvin Moore, Challenges to the Remnant, Canada, ed. Pacific Press Publishing Association,  pp. 31,32

FONTE: PR ILIDIO CARVALHO

Sem comentários:

Enviar um comentário

VEJA TAMBÉM ESTES:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...