O “bode emissário” de Levítico 16 é um
símbolo de Cristo ou de Satanás?
Uma análise detida de Levítico 16,
à luz da tradição judaica, revela que o “bode
emissário” (hebraico Azazel) é um símbolo de Satanás (e não de Cristo).
Essa identificação é sugerida por Levítico 16:8, onde
o bode “para Azazel” é mencionado em oposição ao bode
“para o Senhor” (Bíblia de Jerusalém), e confirmada
pela literatura pseudoepígrafa, onde Azazel é consistentemente descrito como um
ser demoníaco e líder das forças do mal (I Enoque 8:1; 9:6;
10:4-8; 13:1; 54:5 e 6; 55:4; 69:2; Apocalipse de Abraão 13:6-14; 14:4-6;
20:5-7; 22:5; 23:11;
29:6 e 7; 31:5).
29:6 e 7; 31:5).
Mesmo não aceitando essa literatura como inspirada, é
interessante notarmos que I Enoque 54:4-6 fala sobre
o futuro aprisionamento dos “exércitos de Azazel”,
para serem lançados na fornalha de fogo do “grande dia do juízo”, em termos
muito semelhantes ao relato do aprisionamento e castigo final de “Satanás”
mencionado em Apocalipse 20. Não é sem motivo que, de
acordo com A. E. Cundall, “a maioria dos eruditos aceita que Azazel é o líder
dos espíritos maus do deserto” (The Zondevon Pictorial Encyclopedia of the
Bible, vol. 1, p. 426).
Embora, em sentido amplo, o próprio dia em que era realizada
a purificação anual do santuário fosse chamado de “Dia da
Expiação” (Lv 23:27 e 28) e o “bode emissário” ser considerado como parte do abarcante
processo expiatório (Lv 16:10), não podemos atribuir
a esse bode prerrogativas salvíficas e nem considerá-lo uma espécie de
co-redentor com o outro bode. Levítico 16 é claro em
afirmar (1) que uma expiação prévia por Arão “e pela sua
casa” era efetuada pelo sacrifício de um “novilho” e pela aspersão do seu
sangue (versos 11-14); (2) que a “expiação pelo santuário” era realizada pelo sacrifício do
“bode da oferta pelo pecado” e pela aspersão do seu
sangue (versos 15-19); (3) que o cerimonial
envolvendo o bode emissário só iniciava após o término da “expiação pelo santuário, pela tenda da congregação e pelo altar”
(versos 20-22); e (4) que outra “expiação” específica pelo sumo sacerdote “e pelo povo”
ocorria através do oferecimento de holocaustos, após o bode emissário ser
libertado vivo no deserto (versos 23-25). Uma vez que
a expiação pelo pecado só ocorria através do “derramamento
de sangue” (Hb 9:22; Lv 17:11), e que o bode
emissário não era sacrificado (Lv 16:21 e 22), cremos
que a função desse bode era simbolicamente punitiva e não
redentiva.
Por outro lado, pretender que o “bode
emissário” é um símbolo de Cristo significa desconhecer as funções
distintas dos dois bodes mencionados em Levítico 16,
bem como atribuir características nitidamente demoníacas a Cristo. Não podemos
jamais esquecer de que Cristo é descrito nas Escrituras como havendo sido feito
“pecado” apenas pelos seres humanos (I Co 5:21), mas nunca por Satanás ou por qualquer dos
demais anjos caídos (Jo 14:30; Jd
6).
FIM
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Fonte: Sinais dos Tempos, outubro de 1998, p. 29 (usado com permissão
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