8ª PARTE
CARACTERÍSTICAS GEAIS DAS
CARTAS.
É importante olharmos para
as cartas de Paulo e perceber que existe nelas características que são como a
impressão digital do próprio apóstolo. Pela forma de escrever, de se dirigir
aos destinatários, pela maneira de os cumprimentar e se despedir, pelo
sentimentos partilhados, acreditamos que todas as 13 cartas, formam um corpo
consistente de doutrina e fé, que fortalece a nossa caminhada com Cristo.
Nenhum livro do Antigo
Testamento foi redigido sob forma de carta, a diferença era que no AT os
profetas transmitiam os oráculos ao povo “Assim fala o Senhor”, enquanto que no
Novo Testamento os livros apresentam-se em forma de cartas, cartas estas que os
autores escrevem aos destinatários dentro de um espírito de intimidade e
afeição
A verdade é que as cartas
não aparecem por acaso, o estilo e o suporte de escrita já era bem diferentes
daquele que era utilizado para o texto do Antigo Testamento, antes deste estilo
literário ter sido aplicado para o texto sagrado, já era anteriormente usado
secularmente como meio transmissão de mensagens, sobretudo num império que
precisava receber informações para se manter cueso, neste sentido surgiu
escribas versados na redacção deste tipo de cartas. Também o império romano
tinha necessidade de propaganda e por isso muitas destas cartas eram abertas
escritas para serem lidas em público e outras pessoais para serem lidas por
determinadas pessoas ou grupos.
É interessante perceber
que embora utilizemos de forma banal a expressão “Carta de Paulo” ou “Epístola
de Paulo” na verdade ambas não são a mesma coisa. Podemos dizer que uma
epístola é sempre uma carta, mas nem sempre uma carta é uma Epistola.
A grande diferença é que
uma carta destina-se a ser circunstancial, endereçada para responder a uma
necessidade precisa, limitada no espaço e no tempo. O seu interesse é restrito
dirigido somente àquele que é o seu destinatário. A epístola por sua vez é
escrita em forma de carta mas é estruturada de forma a expor a uma pessoa ou a
um público os pensamentos filosóficos ou religiosos de seu remetente.
Por exemplo as epistolas
do Apostolo Paulo são escritos de circunstancia que nascem de um contexto
histórico e que são enviadas a destinatários específicos, para responder a
questões colocadas, a corrigir os erros, a exortar, advertir, a louvar e a
recomendar pessoas que ele conhecia. No entanto Paulo tem a consciência de
poder passar nos seus escritos um ensinamento que passaria as circunstancias e
destinatários imediatos. Ele tem consciência que as suas cartas seriam lidas
por outras comunidades dentro da cidade.
“Saudai igualmente a igreja que
se reúne na casa deles. Saudai meu querido Epêneto, primícias da Ásia para
Cristo.” Romanos 16:5
“E, uma vez lida esta epístola perante vós, providenciai por que seja também
lida na igreja dos laodicenses; e a dos de Laodicéia, lede-a igualmente perante
vós.” Colossenses 4:16
Na sua
grande maioria as cartas eram curtas, no que diz respeito às cartas privadas
raramente ultrapassava as 100 palavras, quanto às cartas literárias podiam ir
das 150 às 250 palavras escritas numa só folha de papiro. No entanto as cartas
de Paulo eram bastante mais longas. (ex: Carta aos Romanos 7101 palavras)
Poderemos
dizer que Paulo inventa um novo estilo literário, no sentido em que redige
teologicamente as suas epístolas, dirigindo-se a um destinatário particular,
mas contando de antemão que tais ensinamentos poderiam ser difundidos a um
público mais vasto.
Quanto
à estrutura das epístolas, poderemos dizer que são praticamente as mesmas. Ou
seja:
-
Destinatário
-
Saudação (combinação entre a saudação grega e Judia)
-
Acções de graça.
- O
corpo da carta, varia dependendo do assunto tratado, sendo normal na primeira
parte ser uma exposição mais em defesa da verdade bíblica e a segunda parte da
carta ser mais a nível prático.
- Na
conclusão podemos perceber as saudações e votos que são feitos, assim como a
bênção final.
Em algumas
cartas podemo-nos aperceber que é o próprio apóstolo Paulo que as escreve por
completo: (ex Filemon 1:19 ou Gálatas 6:11) Noutras ele só escreve a parte
final. (ex: 2Tss 3:17; 1Co 16:21; Cl 4:18) E finalmente em outras ele faz uso
de um secretário. (ex: Rm 16:22)
Uma
pergunta interessante de se saber é qual a razão que levou Paulo a não escrever
ele próprio todas as suas cartas? Embora não haja uma resposta concreta, foram
avançadas várias propostas, uma diz que era por causa da vista, (Gl 6:11) outra
que tinha a ver com a confecção de tendas e por isso tinha os dedos bastantes
deformados, para poder escrever em papiro, o qual exigia escrita minuciosa.
Apesar de não se saber a verdadeira razão, podemos também aceitar a ideia que
Paulo conhecendo e percebendo a multiplicidade de dons na igreja tenha usado
outras pessoas com o dom da escrita para o ajudarem e assim se dedicar à
pregação, o que é um forte argumento visto que os escritos de Paulo são
baseadas mais no discurso do que propriamente em cartas.
As
cartas de Paulo são geralmente classificadas como os escritos mais difíceis de
entender dos livros da bíblia. (2Pd 3:16) Isso deve-se ao facto delas terem
algumas características únicas, entre elas a linguagem, o estilo, hábitos
literários da época, estado de espírito do apóstolo, e as circunstâncias nas
quais nascem os seus escritos.
Uma das
principais fontes utilizadas por Paulo nos seus escritos, são as sagradas
escrituras, ali podemos contar pelo menos 90 citações textuais do Antigo
Testamento, e pelo menos 63 delas, são introduzidas pela expressão, “segundo
o que está escrito, como diz as escrituras” estas utilizações são
sobretudo do texto da tradução grega a setenta, muito embora tenha relativa
facilidade em utilizar o texto hebraico. Paulo também tem a facilidade de citar
de memória.
Outra fonte
que o apóstolo utiliza, mas com um peso praticamente insignificante quando
comparado com o Antigo Testamento são as de certos autores seculares. Podemos ver algumas
dessas citações em (ex: Ac 17:28; 1Co 15:33; Tt 1:12 ) Em certa medida podemos
mesmo concluir que Paulo mesmo sendo um conhecedor da cultura grega, e podendo
citar mais autores seculares, ele não o faz, pondo em relevo aquilo que a
palavra de Deus já dizia como mensagem.
Outra característica
interessante é que na sua época Paulo terá também usado certas palavras de
Jesus que não estão nos evangelhos, mas que faziam parte da tradição oral evangélica
da altura. (ex: 1Co 7:10 e 9:14; Ac 20:35; 1Tss 4:15)
Em conclusão deste
capitulo poderemos ainda perceber que bem cedo na era cristã, por volta dos
anos 65 a 68 d.C. as epistolas de Paulo já tinham sido reunidas e faziam parte
da leitura das comunidades por onde Paulo passara. Vemos essa evidência naquilo
que Pedro nos deixou em (2Pd 3:15-16) mostrando bem que ele as conhecia, e
também aqueles a quem Pedro se estava a dirigir.
Uma nota para dizer que
Clemente de Roma no final do primeiro século cita lado a lado a epistola aos Romanos
e aos Hebreus como fazendo parte do conjunto de cartas de Paulo (vemos isso em
1 Clemente 33:5 e 36:2) embora não haja informação suficiente para confirmar
que Hebreus pertence a Paulo, eu pessoalmente considero que esta carta tenha
sido um sermão de Paulo aos sacerdotes que aceitaram Jesus e que foi redigido
em forma de carta, por isso Hebreus se torna diferente quer no estilo quer na
forma das outras cartas dele.
FIM
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NO PRÓXIMO CAPÍTULO COMEÇAREMOS A ESTUDAR
AS CARTAS PROPRIAMENTE DITAS, ABORDAREMOS A CARTA AOS ROMANOS.
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