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terça-feira, 16 de abril de 2013

INTRODUÇÃO ÀS CARTAS DE PAULO 8ª PARTE


8ª PARTE



CARACTERÍSTICAS GEAIS DAS CARTAS. 

É importante olharmos para as cartas de Paulo e perceber que existe nelas características que são como a impressão digital do próprio apóstolo. Pela forma de escrever, de se dirigir aos destinatários, pela maneira de os cumprimentar e se despedir, pelo sentimentos partilhados, acreditamos que todas as 13 cartas, formam um corpo consistente de doutrina e fé, que fortalece a nossa caminhada com Cristo.

Nenhum livro do Antigo Testamento foi redigido sob forma de carta, a diferença era que no AT os profetas transmitiam os oráculos ao povo “Assim fala o Senhor”, enquanto que no Novo Testamento os livros apresentam-se em forma de cartas, cartas estas que os autores escrevem aos destinatários dentro de um espírito de intimidade e afeição 

A verdade é que as cartas não aparecem por acaso, o estilo e o suporte de escrita já era bem diferentes daquele que era utilizado para o texto do Antigo Testamento, antes deste estilo literário ter sido aplicado para o texto sagrado, já era anteriormente usado secularmente como meio transmissão de mensagens, sobretudo num império que precisava receber informações para se manter cueso, neste sentido surgiu escribas versados na redacção deste tipo de cartas. Também o império romano tinha necessidade de propaganda e por isso muitas destas cartas eram abertas escritas para serem lidas em público e outras pessoais para serem lidas por determinadas pessoas ou grupos.  

É interessante perceber que embora utilizemos de forma banal a expressão “Carta de Paulo” ou “Epístola de Paulo” na verdade ambas não são a mesma coisa. Podemos dizer que uma epístola é sempre uma carta, mas nem sempre uma carta é uma Epistola.

A grande diferença é que uma carta destina-se a ser circunstancial, endereçada para responder a uma necessidade precisa, limitada no espaço e no tempo. O seu interesse é restrito dirigido somente àquele que é o seu destinatário. A epístola por sua vez é escrita em forma de carta mas é estruturada de forma a expor a uma pessoa ou a um público os pensamentos filosóficos ou religiosos de seu remetente.

Por exemplo as epistolas do Apostolo Paulo são escritos de circunstancia que nascem de um contexto histórico e que são enviadas a destinatários específicos, para responder a questões colocadas, a corrigir os erros, a exortar, advertir, a louvar e a recomendar pessoas que ele conhecia. No entanto Paulo tem a consciência de poder passar nos seus escritos um ensinamento que passaria as circunstancias e destinatários imediatos. Ele tem consciência que as suas cartas seriam lidas por outras comunidades dentro da cidade.  
Saudai igualmente a igreja que se reúne na casa deles. Saudai meu querido Epêneto, primícias da Ásia para Cristo.” Romanos 16:5
“E, uma vez lida esta epístola perante vós, providenciai por que seja também lida na igreja dos laodicenses; e a dos de Laodicéia, lede-a igualmente perante vós.” Colossenses 4:16  

Na sua grande maioria as cartas eram curtas, no que diz respeito às cartas privadas raramente ultrapassava as 100 palavras, quanto às cartas literárias podiam ir das 150 às 250 palavras escritas numa só folha de papiro. No entanto as cartas de Paulo eram bastante mais longas. (ex: Carta aos Romanos 7101 palavras)

Poderemos dizer que Paulo inventa um novo estilo literário, no sentido em que redige teologicamente as suas epístolas, dirigindo-se a um destinatário particular, mas contando de antemão que tais ensinamentos poderiam ser difundidos a um público mais vasto.

Quanto à estrutura das epístolas, poderemos dizer que são praticamente as mesmas. Ou seja:
- Destinatário
- Saudação (combinação entre a saudação grega e Judia)
- Acções de graça.
- O corpo da carta, varia dependendo do assunto tratado, sendo normal na primeira parte ser uma exposição mais em defesa da verdade bíblica e a segunda parte da carta ser mais a nível prático.
- Na conclusão podemos perceber as saudações e votos que são feitos, assim como a bênção final.

Em algumas cartas podemo-nos aperceber que é o próprio apóstolo Paulo que as escreve por completo: (ex Filemon 1:19 ou Gálatas 6:11) Noutras ele só escreve a parte final. (ex: 2Tss 3:17; 1Co 16:21; Cl 4:18) E finalmente em outras ele faz uso de um secretário. (ex: Rm 16:22)

Uma pergunta interessante de se saber é qual a razão que levou Paulo a não escrever ele próprio todas as suas cartas? Embora não haja uma resposta concreta, foram avançadas várias propostas, uma diz que era por causa da vista, (Gl 6:11) outra que tinha a ver com a confecção de tendas e por isso tinha os dedos bastantes deformados, para poder escrever em papiro, o qual exigia escrita minuciosa. Apesar de não se saber a verdadeira razão, podemos também aceitar a ideia que Paulo conhecendo e percebendo a multiplicidade de dons na igreja tenha usado outras pessoas com o dom da escrita para o ajudarem e assim se dedicar à pregação, o que é um forte argumento visto que os escritos de Paulo são baseadas mais no discurso do que propriamente em cartas.

As cartas de Paulo são geralmente classificadas como os escritos mais difíceis de entender dos livros da bíblia. (2Pd 3:16) Isso deve-se ao facto delas terem algumas características únicas, entre elas a linguagem, o estilo, hábitos literários da época, estado de espírito do apóstolo, e as circunstâncias nas quais nascem os seus escritos. 

Uma das principais fontes utilizadas por Paulo nos seus escritos, são as sagradas escrituras, ali podemos contar pelo menos 90 citações textuais do Antigo Testamento, e pelo menos 63 delas, são introduzidas pela expressão, “segundo o que está escrito, como diz as escrituras” estas utilizações são sobretudo do texto da tradução grega a setenta, muito embora tenha relativa facilidade em utilizar o texto hebraico. Paulo também tem a facilidade de citar de memória.

Outra fonte que o apóstolo utiliza, mas com um peso praticamente insignificante quando comparado com o Antigo Testamento são as de  certos autores seculares. Podemos ver algumas dessas citações em (ex: Ac 17:28; 1Co 15:33; Tt 1:12 ) Em certa medida podemos mesmo concluir que Paulo mesmo sendo um conhecedor da cultura grega, e podendo citar mais autores seculares, ele não o faz, pondo em relevo aquilo que a palavra de Deus já dizia como mensagem.

Outra característica interessante é que na sua época Paulo terá também usado certas palavras de Jesus que não estão nos evangelhos, mas que faziam parte da tradição oral evangélica da altura. (ex: 1Co 7:10 e 9:14; Ac 20:35; 1Tss 4:15)     

Em conclusão deste capitulo poderemos ainda perceber que bem cedo na era cristã, por volta dos anos 65 a 68 d.C. as epistolas de Paulo já tinham sido reunidas e faziam parte da leitura das comunidades por onde Paulo passara. Vemos essa evidência naquilo que Pedro nos deixou em (2Pd 3:15-16) mostrando bem que ele as conhecia, e também aqueles a quem Pedro se estava a dirigir.


Uma nota para dizer que Clemente de Roma no final do primeiro século cita lado a lado a epistola aos Romanos e aos Hebreus como fazendo parte do conjunto de cartas de Paulo (vemos isso em 1 Clemente 33:5 e 36:2) embora não haja informação suficiente para confirmar que Hebreus pertence a Paulo, eu pessoalmente considero que esta carta tenha sido um sermão de Paulo aos sacerdotes que aceitaram Jesus e que foi redigido em forma de carta, por isso Hebreus se torna diferente quer no estilo quer na forma das outras cartas dele.   


FIM  

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NO PRÓXIMO CAPÍTULO COMEÇAREMOS A ESTUDAR
  AS CARTAS PROPRIAMENTE DITAS, ABORDAREMOS A CARTA AOS ROMANOS.    
 

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