6ª PARTE
RELAÇÕES PESSOAS E MORALIDADE
Falar deste tema é entrar directamente no paganismo da antiguidade, por sua vez podemos ver um contraste muito grande da forma de viver dos Romanos para o Cristianismo em expansão.
Luta de gladiadores, com toda a violência, sangue e morte, assim como orgias, e abandono de crianças deficientes no lixo, eram práticas comuns, embora nem todos concordassem.
E como a imoralidade era tão grande e nefasta, o apostolo Paulo vai ao ponto de dizer: que a única forma do Cristão não ser influenciado por ela era sair deste mundo. Contudo ele sabia que isso não era impossível, por isso aconselhava os irmãos a não se associar a essas práticas.
“Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem;
10 Isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo.” I Coríntios 5:9-10
Plínio um governador Romano da província da Bítinia, falando da moralidade escreveu numa das suas cartas.
“Muita gente leva em conta a opinião do povo, e raramente alguém, segue a sua consciência” Cartas 3:20
Os antropólogos dizem que as leis que governam o comportamento de qualquer sociedade assentam sobre um de dois pilares, ou autoridade Divina ou decisão comunitária. Um exemplo claro da influência da autoridade Divina, podemos ver na tradição Judaica-Cristã. Deus deu a Moisés a lei. Exemplo: “Uma pessoa não adulterava porque Deus tinha dito para o não fazer”. Relativamente aos Gregos e aos Romanos as coisas não eram bem assim, eles formulavam as suas leis morais baseadas no padrão de vida das pessoas mais influentes da sociedade.
Platão por exemplo buscava um sistema político ideal, baseado em leis formuladas pela razão. Por sua vez os Romanos baseavam a sua moral nas 12 tábuas da lei, escritas pela primeira vez na metade do 5º Sec. a.C, legislação supostamente dada por Rómulo fundador de Roma.
Enquanto que para os Judeo-Cristãos o não Adulterar era uma ordem Divina, para os romanos era simplesmente uma violação dos direitos de posse, ou seja nenhum Romano se sentiria bem se fosse apanhado a ter relações com a mulher de outro. Para os Romanos a relutância em adulterar não era com medo do castigo dos deuses, mas ser apanhado em flagrante, caso ele soubesse que não seria apanhado, não haveria razão para não continuar a faze-lo.
Os romanos preocupavam-se com o seu bem-estar pessoal, o pecado não existia no seu vocabulário, os seus deuses não se importavam pela conduta moral dos seus adoradores. Se um romano assassinasse alguém isso o tornaria impuro para participar nos rituais, mas se um homem seduzisse a mulher do seu amigo ou roubasse num negocio, mesmo assim era aceite pela deidade. Uma pessoa “PIADOSA” era aquela que observava os rituais próprios, sem levar em conta o que sentia por eles. Os próprios deuses eram um péssimo exemplo de comportamento, Hermes, Mercúrio, Zeus, Apolo, Poiseidon e outros deuses, haviam estuprado, seduzido, um número incontável de mulheres, alguns casos existe também algumas deidades tendo relações com seres humanos, tudo isto não ajudava a que o povo agisse de outro modo.
Aquilo que se vivia no circulo familiar, espelhava aquilo que a sociedade aceitava como padrão, No inicio era o pai que tinha todos os poderes familiares, tinha o poder absoluto sobre a família, era visto como o sacerdote da família, podia vender e matar mulher e filhos, embora isso raramente acontecesse. Ele era aquele que arranjava os casamentos dos filhos e planeava as suas ocupações. Era a autoridade vitalícia até morrer, sem levar em conta a idade dos filhos, ou mesmo se eles já estivessem casados. Tudo o que conseguissem também lhes pertencia, e o pai podia interferir nos negócios da filha até mesmo separa-la do marido. A mulher era dada a responsabilidade da casa, o gerir os servos, era lhe exigido sobriedade, caso fosse apanhada em adultério o marido podia mandar mata-la. Também podia divorciara-se dela bastanto sentir o sabor de vinho nos seus lábios. Este modelo de família criara uma sociedade estável, no qual o adultério, divórcio, e delinquência juvenil praticamente não existiam.
Mas o declínio da família aconteceu devido a alguns factores. Um dos principais foi devido ao poder e riqueza que sobreveio a Roma com as conquistas do império, a avareza destruí as virtudes. Outro factor teve a ver com a influência Grega, sua filosofia, e estilo de vida, o qual não via perigo nenhum na prostituição e homossexualidade. Ainda outro factor teve a ver com as guerras, enquanto milhares de romanos morriam na guerra, suas mulheres ficavam viúvas, sem apoio social, e seus filhos entregues a outras famílias para servirem de escravos. Devido a esta nova condição familiar, as mulheres da alta sociedade criaram um novo status, ou seja, viver sem filhos, e sem marido, isto levou a uma quebra acentuada na natalidade (Já por ela fraca devido a mortalidade infantil) e por sua vez ao declínio da família.
O casamento romano era diferente do que é para os cristãos , não era “sagrado” por isso era só o casal que mantinha ou sancionava o casamento, não se perguntavam aos noivos se eles se amavam, muitas vezes nunca se tinham visto, eram acordos entre famílias. O amor era um bónus e não a condição para o casamento. Havia vários tipos de casamento em Roma, não eram necessárias cerimónias para declarar o estado de casados, mas normalmente elas aconteciam e eram uma forma dos Romanos se divertirem sendo na sua grande maioria festas de concubinato.
Antes de Cristo, não era dado à mulher nenhuma opinião relativamente ao seu casamento, mas no 1 Sec. a mulher já não casava sem saberem a sua opinião, ao vir para casa do noivo, aprendia a adorar o deus da família que a recebia. Era exigido o dote, que podia ser utilizado para os negócios do marido, caso houvesse divórcio o dote devia ser parcialmente devolvido. Normalmente era comum, as meninas com 6 ou 7 anos irem viver para casa dos seus futuros maridos, pois era uma forma de guardarem-se para o noivo. Muitas vezes era precisamente nessa idade que os seus futuros maridos as recebiam como mulheres.
As mulheres casavam cedo, logo que atingiam a puberdade, 12, 13 anos, e seus maridos entre 20 e 30 anos. Isso levava a que muitas mulheres se tornassem viúvas muito cedo. Muitas vezes se fossem ainda capazes de conceber, eles eram honradas pela sociedade e podiam refazer a sua vida.
No que diz respeito à separação, qualquer um dos dois podia pedir o divórcio, pois o casamento era visto como um contracto, para o desfazer era só exigido que o fizessem publicamente. Eram vários os motivos para o divórcio, um deles era se a mulher bebesse, pensava-se que a bebida provocava abortos, e isso seria por em causa a sua capacidade primária, a procriação. Esta prática de beber já era comum no Novo Testamento. Outra razão era gostar de outra pessoa, ou a rentabilidade económica. O mais comum para o divórcio era o adultério, principalmente se fosse a mulher a cometer, esperava-se dela fidelidade, e assim não sendo, deixaria de ser boa esposa e por conseguinte uma boa mãe. Não estado qualificada para ser mãe. O homem devia procurar alguém que lhe desse filhos. Se a lei fosse levada ao extremo a mulher podia mesmo ser morta, já ao contrário ela não lhe podia tocar. Contudo se um homem tentasse arranjar um caso para se ver livre da mulher seria criticado por não saber cuidar da sua casa.
A maioria dos homens nos dois séculos antes e depois de Cristo divorciava-se pelo menos uma vez, geralmente com uma mulher que já fora casada. Havia relatos que mostravam que havia homens e mulheres que haviam casado 5 6 e 7 vezes.
A infidelidade promovia a prostituição, situação bem aceite em Roma e muito mais vivida entre os Gregos. Por exemplo a cidade de Corinto antes do Novo Testamento tornou-se conhecida por ter algumas das prostitutas mais famosas da Grécia. É neste contexto que Paulo escreve I Coríntios 11, nesta altura muitas mulheres da má vida aceitavam Jesus e muito daquilo que eram e sabiam traziam para a igreja por isso Paulo dá algumas advertências para o bom proceder na igreja. A prostituição era bem conhecida em todo o império romano. Sabe-se que Rómulo e Rémulo, foram criados por uma prostituta “loba”. A prostituição era algo que também era prática na palestina mas não era aceite socialmente pelos Judeus. O próprio Jesus menciona as meretrizes, como pessoas que entrariam no reino de Deus à frente dos próprios Judeus. Mateus 21:31, um dos casos conhecidos é o de Maria Madalena, aquela que foi chamada de pecadora, e que limpou os pés de Jesus com os seus cabelos.
Embora hoje se saiba que muitas doenças são transmitidas via sexual, na Grécia e Roma antiga as coisas não aconteciam assim, não havia as doenças que existem hoje, por isso é que a prostituição era tolerada e apoiada pelas sociedades.
Existia também tanto os homens como mulheres que acabavam por se envolver sexualmente com os escravos, muitas vezes surgia dai filhos ilegítimos, que na grande maioria eram escondidos a sua verdadeira origem.
Relativamente ainda aos filhos, a sociedade romana não dava muito relevo e valor aos filhos, havia na realidade também uma baixa natalidade e uma forte mortalidade infantil, muitas vezes as crianças eram abandonadas em algum canto nas cidades, crianças com deformações ou meninas não aceitas pelos seus pais, muitas delas eram de classes ricas, e depois eram criadas por camponeses e mercadores sem filhos que os recebiam de bom grado.
Tertuliano numa carta que escreveu ele disse “é uma crueldade submeter os bebés à morte pelo frio, fome e cães.” Apologética 9:7
Clemente de Alexandria criticava os ricos de deitar fora os seus filhos e manter em casa bem tratados animais de estimação. Muitas famílias aristocratas não tinham filhos por opção, e muitas vezes utilizava-se do aborto, pratica condenada pelos cristãos. Os Romanos não se importaram em legislar o aborto como crime, pois para eles havia a facilidade de abandonar as crianças depois. Para os Cristãos esta pratica sempre foi condenada, pois, violava o mandamento de Deus. Tertuliano afirmava que essa prática era um “crime”. Apologética 9:8
A homossexualidade era uma prática também comum no tempo de Paulo, enquanto que, os cristãos tinham bases bíblicas para não enveredar por estas praticas, os romanos influenciados pela cultura helenista, tornaram esta pratica muito corrente dois séculos antes de Cristo, os gregos já á muito tinham aceite esta pratica como a mais elevada forma de interacção pessoal. Isto porque as mulheres segundo eles não tinham o mesmo valor pessoal que os homens. O apóstolo Paulo conhecendo já a cultura e maneira de viver dos Cristãos, ao escrever-lhes toca-lhes nas feridas mais intimas.
“Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza.
27 E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.” Romanos 1:26-27
“ A brigada de elite do exército espartano, eram os ”Amantes” homens que andavam em dupla, cuja teoria afirmava que nenhum homem fugiria da batalha, desgraçando-se diante o seu amado.” Explorando o mundo do novo Testamento. P. 219
Os desafios que a nova igreja tinha de enfrentar eram enormes, ela devia crescer numa cultura em que os princípios morais andavam em contramão com os ensinamentos do seu mestre. Mesmo assim os cristãos não se deixaram influenciar pelo padrão vivido pela sua sociedade, foram firmes, mesmo que isso lhes custasse a exclusão social e o gozo da carne.
FIM
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