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quarta-feira, 8 de junho de 2016

COMPORTAMENTO ARTIFICIAL



Comportamento artificial

A pessoa que tenta ser o que não é precisa da terapia divina

“Esquadrinhar a alma par ver o que ela tem de melhor e pior é tarefa difícil e dolorosa”


Augusto César Maia é psicólogo clinico em Campinas, SP.

A

palavra “natural” quer dizer “original”, que não tem a intervenção humana, que segue a ordem regular das coisas, que está como foi criado, O ser humano na­tural, como foi criado, é aquele que não sofreu   in­tervenção, que segue a ordem regular das coisas, unido ao Criador. Porém, não somos mais seres hu­manos naturais; o pecado desfigurou a criação.
O homem desejou ser igual ao Criador, não no caráter, mas em poder infinito. Desejou ser uma coisa que não é. Por isso, ficou em desar­monia consigo mesmo e com o seu Criador. Tornou-se artificial.
“Artificial” quer dizer não natural, dissimula­do, disfarçado, O ser humano artificial não aceita mais a condição de criatura mortal, falível, limita­da. Suas pretensões vão às raias do imponderável:
ser como o Criador. No momento em que ele sai do prumo posto por Deus, para atingir um plano impossível, cria interna e externamente divergên­cia, desarranjo e desequilíbrio, cujo seguro resul­tado é o que chamamos de doença.
O conceito de doença aqui apresentado não se reduz ao aspecto biológico. Incorporamos também os aspectos psicológico, social e prin­cipalmente espiritual.
A pessoa artificial é aquela que esconde a sua verdadeira condição. Vive em estado doentio, neurótico e rastejante.
O ser humano pós-moderno, infelizmente, assimilou todo esse complexo artificialista. Ama a superfluidade, as exterioridades, as coisas des­te mundo. Por isso, tem uma brutal dificuldade de enxergar a si mesmo e admitir defeitos. Es­quadrinhar a alma para ver o que ela tem de me­lhor e pior é tarefa muito difícil e dolorosa.
Desse modo, passa­mos a vida dentro dos estreitos limites de nossos potenciais e capacidades, to­mando todos os cuidados que jul­gamos necessá­rios para reprimir e manter os conflitos, mágoas e rancores sob controle.
Pagamos, por conseguinte, um preço muito alto para poder, em nome do medo da dor, viver uma vida artificial, O recurso de negar a realidade não nos parece um ato patológico, pois o poder dessa ação está na sua capacida­de de aliviar a dor. Por isso, este caminho pas­sa a ser uma atitude “sensata”, ‘necessária” e desejada. Produz uma sensação artificial de felicidade e segurança.
Admitamos que o processo de recuperação não é fácil. Porém, quando alguém começa a compreender sua própria miséria e nulidade, quando conhece seus próprios defeitos de ca­ráter, quando abandona os delírios de grande­za, cria-se então a condição propícia à ação te­rapêutica de Deus.
Nesse momento, somos impulsionados na direção de Jesus, e Ele nos instruirá e execu­tará o processo de restauração da vida, fazen­do perecer aquilo que por nossas próprias es­colhas e esforços não conseguimos remover. Ele produzirá em nós o Seu caráter, através de um processo psicoterapêutico divino.
As primeiras sessões são doloridas, porque esses materiais inúteis estavam dentro de nós havia muito tempo. Aderiram à pele da perso­nalidade. Jesus sabe disso e os remove cuidado­samente, no ritmo de cada pessoa, usando as ferramentas adequadas a cada caso. Em uma pessoa, Ele usa uma pequena pá; em outra, po­de ser que a camada seja tão grande e compac­tada que é necessário o uso de escavadeira.
Precisamos saber que a terapêutica de Deus é um processo lento, de uma vida toda, mas seguro e eficaz. Cristo vai retirando de nós o pos­tiço, o disfarce, a fachada e nos tomando mais ver­dadeiros nas emoções, pensamentos e relaciona­rnentos (com Deus, com nós mesmos e com os outros). Conseqüente­mente, a vida vai mu­dando, os gostos vão se modificando, tudo marcha em direção ao crescimento, à vida, ao que é natural.

Sinais dos Tempos           Março-Abril/2001


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