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quinta-feira, 9 de junho de 2016

O SÁBADO NA BÍBLIA - A MUDANÇA DO SÁBADO PARA O DOMINGO



A MUDANÇA DO SÁBADO PARA O DOMINGO

 

Pastor Humberto Carletti  Banhara

Compilado da Apostila – O Sábado –
Curso Estudos em Religião

A quase universal aceitação do Domingo como dia de repouso cristão nos leva a indagar também a respeito da sua origem e absorção por parte do cristianismo. E evidente, à luz das considerações anteriores, que a Bíblia não fornece maiores esclarecimentos sobre essa instituição que permeia o cristianismo contemporâneo.
Diante disso, somos levados a recorrer à história para encontrar a resposta para as nossas indagações sobre este tema que não pode ser solvido por uma mera analise superficial.

Para tanto, consideraremos inicialmente as raízes mais antigas relacionadas com a celebração do Domingo no paganismo primitivo, para então analisarmos as evidências históricas de sua gradual infiltração no seio do cristianismo dos primeiros séculos.


O Culto ao Paganismo Primitivo


Ao analisar as evidências existentes, percebemos que de acordo com George L. Butler:

A celebração do Domingo é muito antiga, estendendo-se à encanecida antigüidade.
Ninguém é capaz de dizer onde ou quando ela se originou. Ela é de origem idolátrica, e era consagrada à adoração do sol.

Entre os deuses das antigas nações pagãs figuravam divindades representativas do culto ao sol. Na qualidade de devotos adoradores do sol, os egípcios possuíam em seu panteão várias divindades

relacionadas com o culto ao sol, dentre as quais se destacava o deus sol Ra (ou Re), que era urna concepção do sol em forma humana, sendo adorado em Om na proximidades de Mêmphis. Também grande número de templos egípcios eram voltados na direção do nascer do sol. Por outro lado, o conhecido historiador H. G. Wells. afirma que os persas mantinham “um culto monoteísta ao sol”.

O.  L. Butler esclarece que:

As declarações de respeitáveis autores colocam o Domingo na mais remota antigüidade, como um “memorial” da primitiva forma de idolatria entre os egípcios, dos quais os romanos e os gregos em grande parte assimilaram as suas forma do culto pagão. E bem conhecido o fato de que os seus mais célebres filósofos foram ao Egito para se familiarizar com os mistérios sagrados.

Deve-se notar que segundo H. O. Wells, “se Alexandria foi tardia em desenvolver urna filosofia própria, desde cedo se tomou proeminente como uma grande fábrica e centro de intercâmbio de idéias religiosas”.

Por outro lado, entre os assírios e os persas, duas outras nações bem antigas, é bem conhecido que o Sabianismo — a adoração ao sol, a lua e as estrelas — era a mais antiga forma de religião. Dessa maneira a adoração ao sol, acompanhada de “memorial”, esforçava-se por conseguir reconhecimento já na antiguidade, e por isso, em direto antagonismo com o “memorial” do descanso de Jeová, o Sábado do Senhor

No tempo do Patriarca Jó, bem como de Moisés, encontramos referências bíblicas a povos pagãos que adoravam o sol (Jó 31:26. Deut. 4:19, 17: 2-5). Já no tempo do rei Josias e do profeta Ezequiel existiam infiltrações desse culto pagão entre os judeus (II Reis 23:5 e 11, Ezeq. 8:14 -17). Porém a reprovação divina a essa forma de culto é severa, como pode ser visto em Jeremias 8: 1 e 2. A própria etimologia das palavras Sunday, (em inglês) e Sootag (em alemão), que significam literalmente “Dia do sol”, comprova a relação existente entre o culto ao Sol e a celebração do Domingo como o “Dia do Sol”.

O Culto ao Sol no Império Romano

Com relação à introdução do culto ao sol no Império Romano, os soldados romanos desempenharam um papel preponderante. Diz o célebre inglês Arnold Toynbee:

Os romanos, quando decidiam levar a todos os extremos a guerra a uma comunidade inimiga, costumavam, preliminarmente, tomar a precaução de convidar os deuses inimigos a se retirar da cidade condenada ou tentar mudá-lo de partido. oferecendo-lhes em troca lugares honoríficos no Panteão de Roma

Assim sendo, tomam-se sumamente elucidativas as palavras de Frunk H. Yost ao asseverar que:

Uma forma peculiar ao culto ao Sol foi introduzida a partir da Pérsia pela soldadesca romana que haviam empreendido, século antes de Cristo, campanha militar no oriente. Esta forma de culto é denominada Mitraísmo e sua divindade era o Sol Invictus, ou Sol Invencível.

E o historiador Césare Cantu acrescenta:

O   principal templo de Mitra ficava nos subúrbios do Capitólio e o arquigalo habitava no Vaticano, onde dava oráculos. Os mistérios de Mitra celebravam-se na cidade, no equinócio da primavera; porém o nascimento do sol invencível dava ocasião a maior solenidade ainda no dia 25 de Dezembro. É por isso que os padres da igreja do Ocidente escolheram este dia para festejar o nascimento de Cristo, o verdadeiro Sol...

Havendo ingressado no império Romano através (1) dos filósofos romanos que estiveram na Alexandria e (2) dos soldados romanos que pelejaram na Pérsia, a adoração do Sol assumiu um grau cada vez maior de importância Por sua vez, o famoso historiador Edward Gibbon afirma que o próprio imperador Constantino, que foi “o primeiro dos imperadores cristãos”, era indigno de tal nome até o momento de sua morte. “A mente de Constantino podia flutuar entre as religiões pagã e cristã, porém a sua devoção era dirigida mais peculiarmente para o gênio do Sol. E mais que isto, o sol era universalmente celebrado como o seu invencível guia e protetor”.


O Cristianismo Sob a Influência do Império Romano.

Foi sob a influência do contexto que acabamos de mencionar que ocorreu no seio do cristianismo o histórico abandono gradual do Sábado bíblico, paralelo à gradativa aceitação da observância do Domingo em seu lugar.

Grandemente elucidativa a esse respeito é a tese do Dr. Samuele Bacchiocchi, intitulada From Sabbath to Sunday (Do Sábado para o Domingo), defendida na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, que recebeu tanto o imprimatur do reitor da referida universidade, como também a aprovação do Vigário de Roma. A tese prova claramente que a adoração do Domingo em lugar do Sábado não ocorreu na igreja primitiva de Jerusalém, por virtude de autoridade apostólica, porém aproximadamente um século depois na igreja de Roma. Uma interação de fatores judáicos pagãos e cristãos, contribuíram para o abandono do Sábado e a adoção da observância do Domingo em seu lugar. O fato de que o Domingo tornou-se um dia de descanso e adoração não por autoridade bíblico­-apostólica, porém como resultado de fatores políticos, sociais, pagãos e cristãos toma virtualmente impossível achar-se um argumento válido para a observância do Domingo.

Em realidade, de acordo Dom W. E. Straw:

Antes do ano de 130 AD não encontramos qualquer declaração para a observância do Domingo em qualquer parte fora do paganismo. Mas logo depois, provavelmente entre os anos 140 e 150 AD, temos a primeira referência ao Domingo como dia de culto na igreja, e isto de homens contaminados como as noções gnósticas da Alexandria. ... É de Barnabé e Justino, o Mártir que temos a primeira referência segura ao Domingo como um dia de culto, cerca de 140 ou 150 AD ... Que significa tudo isso?  - Significa que a observância do Domingo entrou na igreja, vinda do paganismo através do gnosticismo.

A Instituição da Observância do Domingo.

Vários fatores contribuíram para a aceitação da observância do Domingo em lugar do Sábado, dentre os quais podemos destacar os seguinte:

(1) A predominância de conversos gentios na igreja de Roma

Evidências internas encontradas na epístola de Paulo aos Romanos atestam a existência de discussões entre os cristãos vindos do judaísmo e os cristãos vindos do paganismo, a respeito de diferentes assuntos (Rom. 14:1; cf Rom. 2:17, 25, 27; caps 3, 4, 5, 14-15. A predominância de cristãos vindos do paganismo, pode ter contribuído decisivamente para um distanciamento da igreja de Roma das práticas compartilhadas pelo judaísmo.

Além disso, é possível que entre os conversos gentios da igreja de Roma existissem pessoas provenientes do paganismo que haviam sido mitraístas e que, provavelmente, não tenham se desvencilhado completamente de seus costumes e hábitos anteriores, entre os quais estava a veneração ao Sol no primeiro dia da semana.


(2) Um espírito Anti-Judaico na Igreja

Nos seus primórdios, o cristianismo era considerado pelos romanos como sendo uma seita do judaísmo. Isso favorecia o cristianismo, uma vez que o judaísmo era uma religião lícita no império Romano. Mas as coisas não continuaram por muito tempo assim.

De acordo com W. E. Straw:

Enquanto Jerusalém permaneceu e era o centro de influência na igreja, era praticamente impossível afastar-se das práticas judaicas. Com a queda de Jerusalém, contudo, os cristãos foram dispersos e começaram a afastar-se dessas tradições. Após a guerra judaica de 69 e 70 AD, os judeus regressaram e restabeleceram parcialmente o serviço de adoração. Embora houvesse paz nominal, massacres e revoltas ocorriam ocasionalmente. Finalmente durante os últimos anos do reinado de Trajano, provavelmente em tomo de 117 AD, uma revolta dos judeus irrompeu no Egito, que foi logo sufocada com grande massacre de judeus. Esta revolta estendeu-se até Cirene e Chipre, onde foi tratada de maneira semelhante. Com a morte de Trajano, em 117 AD, Adriano, que era encarregado da milícia em Chipre, sucedeu-o como imperador. Inicialmente ele procurou tratar os judeus com brandura num esforço de conseguir a paz. Mas seus esforços pareciam inapreciados, inúteis, e logo mudou as suas táticas e proibiu seriamente a liberdade judaica, tornando ilegal para eles continuar seus serviços religiosos, circuncidar seus descendentes, ou guardar o Sábado. Por algum tempo os judeus suportaram resolutamente essas restrições: mas finalmente apareceu Bar Cocheba, alegando ser estrela da promessa, o Messias, e afirmou que havia vindo para libertá-los da opressão e do domínio romano. Como resultado, a guerra irrompeu outra vez e assolou violentamente por cerca de três anos. Finalmente esta revolta falhou e foi sufocada com grande austeridade, e os judeus foram expulsos de sua pátria e proibidos a ela retomar.

A Palestina foi devastada; Jerusalém sob o nome de Aélia Capitolina, uma cidade gentílica, equipada com toda pompa do culto pagão. A circuncisão, a guarda do Sábado e a instrução da lei foram proibidos em toda parte; e nenhum judeu podia entrar em Jerusalém.

Isso levou os cristãos a fazerem o possível para não se identificar com as instituições comuns ao judaísmo. A data da Páscoa foi alterada do dia 14 de Nisã para o “primeiro Domingo depois da primeira lua cheia que sucede o equinócio vernal (da primavera do hemisfério norte) e sempre depois do dia l4 de Nisã..”
Outro passo significativo foi instituição da prática do Jejum no Sábado. Aos judeus era proibido jejuar no Sábado, por ser um dia de jejum (Judite 8:6 Jubileu 50:12 e 13). Os cristãos primitivos jejuavam nas quartas e Sextas-feiras (Didaquê 8:1).
A  transformação do Sábado de um dia de alegria e regozijo em dia de jejum e lamentação, ...representa uma medida tomada pela igreja de Roma para desagradar o Sábado de modo a engrandecer a observância do Domingo, esta forma, portanto, esse sentimento Anti-judaico intensificou-se, com o passar do tempo, a tal ponto que finalmente ouvimos  Constantino dizer: “Nada tenhamos em comum com a detestável turba judaica.”

(3) A Apostasia da Igreja

O apóstolo Paulo havia profetizado que uma grande apostasia ocorreria na igreja (ver Atos 20:29 e 30;
II Tess. 2:3; II Tim 4:24). Que foi confirmada pelo apóstolo João (ver I João 2:18).
A mudança do Sábado para o Domingo cumpriu não apenas as predições anteriores, mas também a
profecia de Daniel 7:25, que diz: “Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do
Altíssimo, e cuidará de mudar os tempos e a lei...”.


(4) A Interpretação Simbólica do Sábado

A influência do Gnosticismo foi decisiva para diluir o caráter normativo  do mandamento do Sábado atribuindo-lhe uma natureza simbólica.  Alguns passos significativos nesse sentido foram dados já a partir do século ILAXX
-      Barnabé (130 AD) cria que a semana da criação era um símbolo da história deste mundo e por isso uma profecia do oitavo dia.
-      Justino Mártir escreveu que a “nova lei requer de nós a guarda perpétua do Sábado”.
-      Irineu (170 AD) cria que a observância do Sábado significou somente o descanso espiritual do pecador.
-      Tertuliano (200 AD) cria que o homem era livre da lei por causa da liberdade cristã. Era incoerente o respeito do Sábado.
-      Orígenes (200/240 AD) desenvolveu o método de interpretação alegórico das Escrituras, espiritualizando também o Sábado e sua observância.

Origenes chegou ao ponto de diluir completamente a observância do Sábado ao alegar que, para o cristão perfeito, que sempre está em seus pensamentos palavras e ações servindo ao seu Senhor natural, Deus o Verbo, todos os seus dias são do Senhor e ele está sempre guardando o dia do Senhor
Uma vez que a observância do Domingo ingressou no cristianismo vinda “do paganismo através da influência do gnosticismo”, ela trazia consigo as influências de um verdadeiro sincretismo religioso Segundo o historiador Franz Cumont, muitos cristãos, ainda no século V AD. adoravam o Sol um símbolo de Jesus, elevando a sua face em direção ao sol e murmurando-lhes a prece : “Tenha misericórdia de nós”.

Mas o que a princípio parecia ser apenas um sincretismo religioso, começou a assumir um caráter institucional. Á 7 de Março de 321 AD. o imperador Constantino, um devoto adorador de Mitra, que só foi batizado na igreja cristã em no final de sua vida, promulgou a primeira lei dominical de que se têm notícia, legalizando o Domingo cristão como um dia santo.

A referida lei ordenava:

Que todos os juizes, e todos os habitantes da cidade e todos os mercadores e artífices descansem no venerável dia do Sol. Não obstante, atendam os lavradores com plena liberdade ao cultivo dos campos; visto acontecer a miúdo que nenhum outro dia é tão adequado à semeadura do grão ou ao plantio da vinha; dai o não ser dever deixar o tempo favorável concedido pelo Céu.

O processo de institucionalização do Domingo como dia de guarda para os cristãos foi acelerado por uma série de medidas eclesiásticas para legalizá-lo:

O concílio de Elvira (305 AD) decidiu:

“Se alguém na cídade negligenciar vir à igreja por três domingos, deve ser excomungado por um curto período afim de que possa ser corrigido.” (Cânon 21).


O Sínodo de Laodicéia (c. 365 AD) decidiu:

Os cristãos não judaizarão e nem estarão ociosos no Sábado, mas deverão trabalhar neste dia; porém o dia do Senhor eles deverão honrar especialmente, e, como cristãos não devem, se possível realizar nenhum trabalho nesse dia. Se, contudo eles forem encontrados judaizando, deverão ser interceptados de Cristo. (Concílio de Laodicéia, Canon 29).

O 3o. Sínodo de Orleans (538 AD) decidiu:

É contra a lei cavalgar ou guiar no Domingo, ou fazer qualquer coisa para o
adorno da casa ou da pessoa. Mesmo os trabalhadores do campo são proibidos, a
fim de que o povo possa estar preparado para vir a igreja e adorar. Se alguém agir
de modo diferente, deve ser punido. (3o.  Sínodo de Orleans , Canon 28).

Diante disso, somos levados a crer que a igreja Católica Romana é coerente ao assumir a responsabilidade pela mudança do Sábado para o Domingo. Euzébio de Cesaréia é claro em afirmar:

“Todas as coisas, tudo quanto era dever fazer no Sábado, transferimos para o “Dia do Senhor”. E o Catecismo Romano também é explícito em assegurar: “A igreja de Deus, porém, achou conveniente transferir para o Domingo a solene celebração do Sábado.”

Conclusão


As considerações anteriores são suficientes para fornecer uma idéia clara e segura do que a História tem a dizer a respeito da origem da observância do Domingo, e sua gradativa absorção por parte do cristianismo dos primeiros séculos da era cristã.
Muito embora o profeta Daniel tenha antevisto a atuação desse poder que cuidaria em “mudar os tempos e a lei” (Daniel 7:25), tal mudança não teria a sanção divina, pois o Sábado foi estabelecido por Deus como um sinal perpétuo do relacionamento existente entre Ele e Seu povo (Êxo. 31:13 e 16; Ezeq. 20:20), que não foi invalidado pelo Novo Testamento (Heb.4:4-11; cf Heb. 8:10; 10:16).




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