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sexta-feira, 10 de junho de 2016

O SÁBADO NA BÍBLIA - UM SANTUÁRIO NO TEMPO



Um santuário no tempo


por Alberto R. Timm


Bíblia fala de um santuário tão antigo quanto a própria humanidade. Esse santuário, embora faça parte do tempo, não se desgasta pelo tempo, e é suficiente­mente abarcante para acolher todos os filhos de Deus espalhados ao redor do mundo. Esse santuário de Deus no tempo é o sábado, qualificado por Abraham J. Heschel como “um palácio no tempo” Mesmo não sendo vis­to com os olhos físicos, esse santuário está em toda parte, podendo ser adentrado a cada sétimo dia da semana.

A instituição do sábado - Em Gênesis 2 aparece o relato de como foi instituí­do esse santuário no tempo: “Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. E, havendo Deus terminado no dia sétimo a Sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a Sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; por­que nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera” Gênesis 2:1-3.
Deus instituiu o sábado através do tríplice ato de descansar, abençoar e santificar. Houvesse Deus apenas descansado, e dúvidas ainda poderia haver quanto à validade desse descanso para as criaturas. Mas o fato de Ele também haver abençoado (transformando em um canal de bênçãos) e santificado (separando para uso sagrado) esse dia confirma a instituição edênica do sá­bado para a raça humana.
Sakae Kubo declara, em seu livro God Meets Man, que Deus “escolheu um segmento de tempo” para comun­gar com Suas criaturas por três motivos: (1) porque o tempo é universal, e está em toda parte; (2) porque o tem­po é imaterial, apontando além do espaço e da matéria para as coisas espi­rituais; e (3) porque o tempo é todo-abarcante, jamais oscilando em inten­sidade.2 São essas características do tempo que permitem que o sábado, como um segmento de tempo, chegue igualmente a todos nós (ricos e pobres, cultos e incultos), unindo-nos em uma só família. Não é isso algo maravilhoso?

Significado do sábado - Mas o que significa esse santuário de Deus no tempo para nós hoje, que vivemos no inicio do século XXI? Eu creio que ele nos revela pelo menos seis coisas fun­damentais para a nossa existência.
1. O sábado revela o poder criador de Deus. A origem do sábado está dire­tamente ligada à poderosa atividade criadora de Deus. O texto bíblico nos diz que no sétimo dia da semana da criação Deus instituiu o sábado, descansando, abençoando e santificando esse dia. O quarto mandamento do Decálogo ordena que o sábado deve ser observado “porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou:’ Êxodo 20:11.
A observância do sábado nos convida, negativamente, a deixar de lado nossos “próprios interesses” (Isaías 58:13) e, positivamente, a voltarmos nossa atenção a Deus e à Sua obra. Essa experiência restaura o verdadeiro relacionamento criatura-Criador,
2. O sábado revela a soberania de Deus. O sábado é uma instituição que reflete claramente a vontade soberana de Deus, pois o Criador não buscou o conselho de Suas criaturas para estabe­lecer o sábado,3 e cada sábado inicia, prossegue e termina com base em um ciclo astronômico estabelecido por Deus, independente da vontade humana. Em contraste, a substituição da observância do sábado pela veneração do domingo, por autoridade eclesiástica humana, foi (e continua sendo) um atentado direto à soberania divina.
Observando o sábado, estamos re­conhecendo a soberania de Deus em nossa vida e testificando ao mundo que os caminhos de Deus, apesar de nem sempre serem os mais fáceis, sem­pre são os melhores. A genuína obser­vância do sábado rompe com o fluxo egocêntrico da vida, levando-nos de volta a uma vida centralizada em Deus.
3. O sábado revela a imparcialidade de Deus. Vivemos hoje em uma sociedade tecnológica, caracterizada pela competitividade e pela discriminação. Na frenética corrida da vida, os mais lentos, os mais pobres e os mais ignorantes são simplesmente deixados para trás . Financeiramente, poucos  têm muito e muitos tem pouco ou mesmo nada. No mundo das modernas comunicações, a televisão e a Internet tem exercido o duplo efeito de aproximar os distantes e distanciar os próximos. E a busca incessante de astros humanos tem gerado a constante indagação a respeito de quem é “o maior” e de quem é “o melhor”.
Mas esta não é a maneira como Deus age. Quando Ele escolheu um meio para comungar com o homem, não escolheu algo palpável no espaço, que beneficiasse a alguns, em detrimento de outros. Em Sua imparciali­dade, Ele escolheu um segmento de tempo, que estivesse universalmente presente em todas as partes.4 O mesmo Deus que “faz nascer o Seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” (Mat. 5:45) também concede o Seu sábado a todos igualmente. As­sim, a cada semana irrompe o sábado, como um divino equalizador da hu­manidade, integrando ricos e pobres, cultos e incultos, em uma só família.
4. O sábado revela o respeito divino ao livre-arbítrio humano. É importante notarmos que, a despeito de o sábado ser universalmente disponível, ele não é imposto a ninguém. A realidade é que podemos existir no sábado, sem que o sábado exista para nós. O próprio mandamento “lembra-te do dia do sábado, para o santificar” (Êxodo 20:8) implica (1) que Deus não impõe a observância do sábado às suas criaturas; (2) que podemos viver durante o sábado sem santifica-lo; e (3) que a santifi­cação do sábado só ocorre quando existe uma resposta humana voluntária e positiva ao gracioso convite divino.
A verdadeira observância do sábado significa um encontro voluntário entre Deus e o homem, mutuamente comprometidos pelo concerto eterno da graça divina. É somente quando há uma resposta humana de fé à iniciati­va divina de comungar com o homem, que o sábado atinge seu verda­deiro propósito.
5. O sábado nos ajuda a restaurar o verdadeiro sentido da vida. Vive­mos num mundo povoado por pes­soas especialistas e desequilibradas. Na gangorra da existência, alguns enfatizam o aspecto intelectual, em detrimento dos demais. Outros investem todas as suas energias no desenvolvi­mento físico. Já outros vivem apenas pelo social. E existe ainda os que se excluem do mundo para viver somente em função de uma religião mística.
Mas a observância do sábado afeta integralmente o ser humano em to­dos os aspectos de sua existência (ver Lodo 20:8-11; Isaías 58:12-14; Ma­teus 12:12), ajudando-o a colocar suas prioridades onde elas realmente de­vem estar: em Deus e nos outros (cf. Mateus 22:36-40).
     6.O sábado é um conduto das bênçãos divinas. Há aqueles que alegam que a observância do sábado não passa de uma demonstração de legalismo. Isso pode ocorrer, se alguém pre­tende alcançar méritos para a salvação através da observância do sábado. Mas a verdadeira observância do sábado é, em realidade, o maior antídoto ao le­galismo, pois significa deixar de lado nossos “próprios interesses” (Isaías 58:13) para descansar nos méritos da graça divina e nos alegrar nas obras do nosso Maravilhoso Criador-Redentor.
E interessante notarmos quão profundamente ligado â experiência da salvação está o sábado em Hebreus 4. Nesse capítulo o sábado é visto como “o sinal exterior de uma experiência interior”5 de “estar descansando em Deus (cf. Hebreus 4:10), que vem como resultado de estar sendo salvo pela graça (4:16), mediante a fé (4:3).”6 A escritora Ellen White declara que, a fim de santificar o sábado, os homens precisam ser eles próprios santos. Devem, pela fé, tornar-se participantes da justiça de Cristo. Quando foi dado a Israel o mandamento:
‘Lembra-te do dia do sábado, para o santificar’ o Senhor lhes disse também: ‘E ser-Me-eis homens santos?’”7
Portanto, a verdadeira observância do sábado significa desobstruir a vida dos interesses seculares, possibili­tando que as bênçãos divinas fluam copiosamente para nós.
As bençãos do sábado – Existem pelo menos cinco grandes bênçãos que derivam da verdadeira observância do sábado.
1. Obtemos uma visão mais clara do caráter de Deus. Criado por Deus, o sábado revela o próprio caráter de Deus.
2. Desenvolvemos maior sensibi­lidade à revelação de Deus na nature­za. Instituido na Semana da Criação, o sábado nos lembra a multiforme criação de Deus (animais, aves, peixes, plantas, flores, etc.). Se a natureza foi criada por Deus, como podemos amá­Lo verdadeiramente sem apreciar as obras de Suas mãos?
3. Desenvolvemos a estabilidade existencial que deriva do relaciona­mento criatura-Criador. A gangorra da vida tende a desestabilizar nossas emoções. Quando somos bem-suce­didos, assumimos muitas vezes uma atitude auto-suficiente. Quando nos saimos mal, frustramo-nos com facili­dade. O sábado nos lembra que nossa segurança não está em nossas realizações humanas, mas na dependência do nosso Criador.
4. Aprimoramos o nosso relaciona­mento social Rompendo com o nosso egocentrismo natural, o sábado nos convida a viver uma vida alterocêntrica em relação com os demais seres humanos, incluindo familiares, amigos, ne­cessitados, etc. (ver Mateus 12:12).
5. Melhoramos nossa saúde física e mentaL Você já pensou alguma vez o que seria da nossa vida sem o sábado? Mesmo não desfrutando das bênçãos espirituais do sábado, o benefício para a saúde física e mental já compensa a sua observância.

Conclusão O sábado é, em realidade, o santuário de Deus no tempo; e, como filhos de Deus, somos convidados a adentrar semanalmente esse santuário, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no Seu templo” (Salmo 27:4). Somos instados pelo profeta Isaías a nos tornarmos reparadores “de bre­chas” e restauradores “de veredas” tes­temunhando aos outros das bênçãos que advêm de deixarmos de lado os nossos “próprios interesses” para nos deleitar “no Senhor” (Isaias 58:12-14).
Por que não elevamos aos Céus o nosso pensamento, cada sábado, em louvor ao nosso Grande Criador-Re­dentor? “O Senhor, Senhor nosso, quão magnífico em toda a Terra é o Teu nome!” (Salmo 8:1 e 9). “Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas coisas? Aquele que faz sair o Seu exérci­to de estrelas, todas bem contadas...” (Isaias 40:26). Porque “os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras de Suas mãos” (Salmo 19:1). Permitamos que cada sábado seja uma bênção em nossa experiência, restaurando em nós o genuíno espírito de louvor e gratidão a Deus.
Referências
1. Abraham J. Heschel, the Sabhaih: Its  Meaning for Modem Man(New York: Noon,day Press, 1951), pág. 12.
2.          Sakae Kubo, God Meets Man:A Theology of the Sebboth and Second Advent (Nashville, TN: Southern Publshing Association, 1978), pag. 24.
3.Ellen G White, Patriarcas e Profetas, 14 ed. (Tatuí, SP: Casa Pubiicadora Brasilríra. 1995), pags. 47 e 48.
4.          Kubo, págt. 23 e 24,
5.          M. L. Andreasen. The Book of Hebrews (Washington, D.C.: Review and Herald, 1948), pág. 173.
6.          Alberto R. Timm. ‘a ~ga&ada dei conctralo de descaom en Hekeos 3 y 4’, fl,eolag&a (Pesa) Ii, a’ 2 (1995), pág. 222. Ver
tsaad,ém: Mbette O. Vuem, ‘O Stado na E,qa.aiéncia da Sah’ÇW, hStA~t*M,at.i1de1U5.ør. 1143.

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