Tempo sagrado
A observância do sábado é uma prática antiga
que está de volta como um antídoto para o estresse moderno
Gary Krause
Jornalista
Depois de muitos anos de negligência, a observância do sábado está de
volta. Isso certamente atingiu o principal nível social da América do Norte
quando o então vice- presidente Al Gore escolheu um judeu ortodoxo guardador
do sábado como seu companheiro na candidatura para as eleições presidenciais
do ano passado. Mas o atual entusiasmo pela observância do sábado não é visto
apenas entre os judeus. Encontramos a mania do sábado-para-todos em toda parte
— desde as páginas das principais
revistas cristãs até as prateleiras das livrarias seculares.
Por séculos, como sabemos, os judeus reverenciaram o sábado, e muitos
anos após a morte de Jesus os cristãos também seguiam Seu exemplo na guarda
desse dia especial. Mas a maioria dos cristãos, com o passar do tempo, mudou
para o domingo. Aquela prática tem continuado através dos séculos, com
diferentes graus de entusiasmo.
Alguns guardam o domingo como os judeus ortodoxos guardam o sábado,
proibindo trabalhos e negócios de qualquer espécie. Mas outros o guardam
simplesmente como um símbolo. Para a maioria, atualmente, ele encerra poucos
compromissos religiosos além de levar as crianças à escola dominical e ir à
igreja. É também um dia para ir às compras, ver o jogo de futebol ou levar a família
ao teatro, O significado original do sábado — a guarda de um dia especial de descanso ordenado por Deus — está praticamente perdido.
Nova onda — Inúmeros livros e artigos recentes
mostram que a observância do sábado está de volta como um antigo antídoto para
o estresse moderno. Alguns dos títulos lançados nos últimos dois anos, nos
Estados Unidos, são: Sóbado: Restaurando
o Ritmo Sagrado do Descanso; Celebrando o Sábado; Encontrando Descanso em um
Mundo Agitado; Tome Fôlego; O Convite de Deus Para o Descanso do Sábado; A
Observáncia do Sábado; e Um Dia de
Repouso: Criando um Espaço Espiritual no Seu Trabalho.
No mês de março de 2000, a revista Christianity
Today publicou um artigo intitulado: “Recebendo o dia que o Senhor fez; um
dia de descanso é um presente de Deus para nós”. Essa matéria, extraida de um
novo Livro escrito por Dorothy Bass, detalha a redescoberta da observância do
sábado. Bass conta a respeito de uma noite de sábado quando ela e algumas professoras
amigas estavam sentadas ao redor da mesa se lamentando por causa da pilha de
papéis que precisavam conferir no dia seguinte: “Foi ai que me ocorreu: “Lembra-te
do dia de sábado, para o santificar.” Este era um mandamento, um dos dez no
código moral básico dos cristãos, judeus e da civilização ocidental, e aqui
estávamos nós planejando viola-lo. Eu não podia imaginar esse grupo sentado
dizendo; “Estou planejando tomar o nome de Deus em vão”; “estou planejando
cometer adultério”; “acho que vou roubar alguma coisa”.”
Conquanto Bass não defenda especiflcamente o sábado do sétimo dia, ela
admite que os cristãos devem observar o quarto mandamento. Isso significa ir
além do que muitos cristãos estão preparados a ir. Martha Hickman, por
exemplo, escreve em seu livro Um Dia de
Repouso: “Os batistas do sétimo dia e os adventistas do sétimo dia
consideram o mandamento sobre a observància do sábado como vigente. A maioria
das igrejas considera esse mandamento não como parte da lei moral, mas como
parte dos ritos cerimoniais dos judeus.” No entanto, Hickman acrescenta: “Uns
poucos momentos de reflexão, e a maioria de nós estaria pronta a concordar que
estamos sedentos e famintos pela pausa, uma calma profunda, o senso de estar
em contato com nossa realidade mais profunda, que o sábado oferece.”
Essa nova onda de literatura sobre o sábado reivindica que o mundo moderno
tem se defraudado de uma rica e importante herança. “Não temos obedecido ao
mandamento de Deus, não temos planejado nossos horários de acordo com o quarto
mandamento, o mais básico, ritmo do tempo, e as conseqüências têm sidos
sérias”, escreveu Bonnie Thurston, cm To
Eveiything a Season: A Spirituality of Time (Um Tempo Para Cada Coisa: Uma
Espiritualidade do Tempo), lançado em 1999.
Lauren Winner, ex-judia ortodoxa, lamenta ter perdido o sábado ao se tornar
cristã. Ela comenta: “Normalmente eu não sinto falta das leis judaicas do regime
alimentar, por exemplo, ou das prescrições acerca do uso de certos tecidos. Mas
tenho saudade, em minha fase cristã, do rigor do sábado judaico, um dia
verdadeiramente separado dos outros seis dias da semana. Para muitos observadores
não-ortodoxos, o sábado judaico parece não ser convidativo; é meramente uma
longa lista de ‘nãos’. Mas o sábado para os judeus é muito mais do que um
punhado de restrições.”
Qualquer dia? — Todas essas obras promovem a guarda de um sábado, mas admitem que o sábado
especifico do sétimo dia não é importante. “A segunda-feira pode ser o dia de Deus tão bem quanto o
domingo”, escreve Donna Schaper, em Sabbath
Keeping (Observância do Sábado), titulo lançado em 1999. “É uma questão de
perspectiva. Os cristãos não precisam retornar à observância do sétimo dia da
semana como o sábado”, acrescenta Thurston. “Mas o conceito de sábado, sua
origem e seu propósito devem ser reivindicados por todas as pessoas, para nosso
próprio bem.” Wayne Muller vai além, dizendo que o “sábado” pode ser tanto o
sábado como o domingo, ou simplesmente uma tarde, ou mesmo uma hora — qualquer coisa que preserve uma
experiência profunda de nutrição vitalizadora e descanso.
Winner, entretanto, adverte contra a idéia de tratar a observância do
sábado de forma muito casual: “Está cada vez mais na moda entre os cristãos
falar sobre recomeçar sua observância do sábado, e essa tendência é sem
dúvida para o bem. Contudo, muitos cristãos — e alguns não-cristãos — brincam
com o ‘sábado’ como se fosse sinônimo de ‘folga’. Assim sendo, o sábado pode
ser uma viagem ao Taiti, um banho espumante de banheira, ou um fim-de-semana
quando os filhos estão na casa dos avós. Mas, embora o sábado tenha sido
planejado para revigorar, o revigoramento sozinho não constitui observância do
sábado.”
É realmente tolice pensar que Deus
queria que guardássemos como santo um período especifico de tempo (o sábado do
sétimo dia)? Seria simplesmente o hábito o que levou os judeus ortodoxos a se
apegarem tão firmemente ao verdadeiro sétimo dia da semana?
Ou
compreenderam eles algo importante e especifico acerca do mandamento de Deus
para guardar o sétimo dia?
Há sólido apoio bíblico para o conceito da guarda do sábado do sétimo dia.
Segundo a Bíblia, Deus escolheu o sétimo dia, e não simplesmente um dia dos
sete, para que o guardássemos. E possível que, quando a Bíblia diz que Deus fez
o sétimo dia especial e o abençoou, Ele realmente tenha feito o sétimo dia
especial e o tenha abençoado?
Faz diferença — Em nosso mundo pós-moderno torna-se cada vez mais aceitável a idéia de
“construir sua própria verdade” em grande número de assuntos. Se algo funciona
para você, tudo bem (só não prescreva isso para todo mundo). O teor da maioria
dessas novas publicações pende para a guarda do sábado por conveniência —planeje um modo de guardar o sábado de acordo com o
seu programa, algo que funcione para você.
Mas o sábado histórico e bíblico do sétimo dia tem sido sempre uma prática
especifica, em um dia especifico e com um propósito específico. A Bíblia
sustenta que o sétimo dia é algo que o próprio Deus ordenou, e que quando e
como o guardamos faz diferença.
O livro de Chris Blake, Searching for
a God to Love (Procurando um Deus Para Amar), publicado em 2000 por urna
das principais editoras cristãs americanas (Word), e espalhado pelas livrarias
cristãs e seculares por toda a América do Norte, recomenda a guarda do sábado
do sétimo dia. “Para comemorar Sua criação, Deus santifica — separa para um propósito especifico — o sétimo dia”, escreve Blake. “Os
seguidores do judaísmo ainda honram o sábado como José, Jesus e Paulo de Tarso
o guardaram. Por que a maioria dos cristãos não guarda esse sábado?” Blake, um
adventista do sétimo dia, salienta que a mudança da adoração para o domingo
ocorreu gradualmente no 2o. século, através da igreja romana. “Em
anos recentes, milhões de pessoas descobriram a beleza do sábado”, ele acrescenta.
“Em lugar da ininterrupta correria, o sábado provê um momento de calma, um
momento íntimo, um momento de sabedoria. Um momento para todo o tempo,
exatamente em tempo.”
Escrevendo recentemente no jornal Town
Crier, de Los Altos, Califórnia, Joan Passarelli compartilha uma variação
do Convite de Blake para guardar o sábado do sétimo dia. Embora ela e sua família
continuem a freqüentar a igreja aos domingos, descobriram o beneficio de
guardar o sétimo dia como seu sábado. “O domingo não é o sábado”, diz ela.
“Como lembram os judeus e os adventistas do sétimo dia, o sábado é o sétimo
dia da semana, o dia em que Deus descansou e que nós devemos descansar também.
Eu proponho que reivindiquemos o sábado como o sétimo dia, e concedamos a nós
mesmos o dom da liberdade nesse dia.”
No Ocidente estamos vivendo num tempo em que as pessoas estão famintas por
“espiritualidade” — religião de
forma geral, não estruturada. Livros da Nova Era são vendidos aos milhões,
gurus da vida interior lotam centros de convenções e o povo busca algo mais do
que apenas uma casa melhor ou uma conta bancária maior.
A recente chamada para reconsiderar a observância do sábado é um empolgante
primeiro passo na redescoberta do sábado do sétimo dia, que é parte essencial
e prática do plano de Deus para nossa saúde espiritual. O primeiro passo,
porém, não é o suficiente. Seria praticamente como celebrar o Natal em
janeiro, sozinho. A comida pode ser ótima, mas não seria a mesma coisa.
Até pessoas que nunca foram à igreja
ou sinagoga estão descobrindo o benefício de um repouso sabático a cada
semana, porque a observância do sábado tem muita lógica, mesmo que seja
apenas nos níveis físico e emocional. Mas ele pode e deve significar muito
mais.
Sinais dos Tempos
Setembro – Outubro / 2001
Sem comentários:
Enviar um comentário