SÁBADO - Análise de Alguns Textos Controversos.
Compilado da Apostila – O Sábado –
Curso Estudos em Religião
Por mais conclusivas e esclarecedoras que possam ter sido as considerações anteriores, elas seriam incompletas sem uma breve análise dos principais textos usados para contestar a validade do Sábado como o dia de repouso do Novo Testamento. Assim sendo, passaremos a considerar. de forma objetiva e clara aquilo que cremos ser o verdadeiro sentido dos textos comentados a seguir.
João 20:19
Como é dito que os discípulos estavam reunidos “ao cair da tarde” do dia em que Cristo ressuscitou.
algumas pessoas usam este texto como um argumento para apoiar a observância do domingo como dia de repouso.
E certo que os discípulos estavam reunidos no domingo da ressurreição, mas rejeitamos a pretensão de terem se reunido para culto, em honra da ressurreição, e que tal procedimento indique a mudança do Sábado. Consideremos alguns pontos:
1. A Bíblia declara explicitamente que até as horas finais daquele domingo da ressurreição, os discípulos descriam da nova de que Cristo havia ressuscitado, e que se achavam reunidos no cenáculo porque evidentemente ali era sua habitação (Atos 1:13)
2. Estavam com as portas cerradas com “medo dos judeus”. De um grupo de homens que passaram o dia temendo e descrendo, dificilmente se poderia dizer que estivessem empenhados em adoração espiritual, e muito menos em celebrar a ressurreição. Com certeza, nada haveria de pasmar mais estes discípulos do que o pensamento de que os cristãos do século vinte haveriam de empenhar-se em basear um argumento a favor da santidade do Domingo sobre o mero fato de se terem nesse dia reunido em sua própria habitação.
3. Portanto, uma vez que no próprio texto de João 20:19 o dia da ressurreição é mencionado simplesmente como sendo o “primeiro (dia) da semana”, e o motivo da reunião, como sendo o “medo dos judeus”, a conclusão inevitável é que o texto não fornece o mínimo apoio para a observância do Domingo.
I Coríntios 16:2
Se considerarmos atentamente o conteúdo deste texto, perceberemos:
1. Que, ao utilizar a expressão “primeiro dia da semana”. Paulo não atribuiu qualquer distinção especial ao Domingo.
2. Que a orientação de Paulo aos crentes da igreja de Corinto é que separassem sua oferta, no primeiro dia da semana. “em casa” e não em qualquer reunião pública.
3. Que a justificativa apresentada é simplesmente “para que se não façam coletas quando eu for”.
Dificilmente se pode afirmar que neste verso esteja implícita a observância do Domingo. A expressão grega implica em que o por de parte era feita “em casa”.
E Samuele Bacchiocchi esclarece ainda mais a questão ao afirmar que a menção de Paulo ao primeiro dia pode ter sido motivada mais por razões práticas do que teológicas. Nenhuma computação ou transação financeira era feita pelo judeus no Sábado.”
Diante disso, somos levados à inevitável conclusão de que não existe realmente nada no texto que sugere. mesmo remota,mente. que haja qualquer santidade atribuída ao primeiro dia da semana.
Atos 20:7
Este é um dos textos mais utilizados por aqueles que procuram encontrar provas bíblicas para a observância do Domingo. ainda no período da igreja apostólica Mas o próprio texto, analisado dentro do seu contexto, esclarece toda e qualquer dúvida a respeito.
Esta passagem é parte de uma narrativa que descreve vários incidentes da viagem de Paulo a Jerusalém, no fim de sua terceira viagem missionária. Para toda narrativa são necessários dois capítulos.
Examinemos a primeira afirmação quanto ao partir o pão. No segundo capitulo de Atos, no versículo quarenta e seis, lemos que os discípulos, “perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam todos com alegria e singeleza de coração” Aparentemente, pois, “partindo o pão”, significava simplesmente participar do alimento: a idéia de serviço de Santa Ceia não está. necessariamente, expressa na frase. Contudo, se alguém achar que há terreno para depreender da passagem. que os discípulos estivessem a celebrar esse serviço, deve essa pessoa reconhecer que mesmo tal fato nenhuma distinção conferiria a esse dia, pois os discípulos partiam o pão “todos os dias”.
Notai agora que nenhum titulo de santidade é usado para este dia Ele é simplesmente chamado o “primeiro dia da semana”. Logo, sobre que haveremos de basear um argumento para a santidade do Domingo? Sobre o simples fato de ter havido uma reunião religiosa naquele dia ? Em outras palavras, o silogismo seria o seguinte:
1. A celebração de uma reunião em certo dia é prova de ser esse dia santo
2. Paulo realizou uma reunião no primeiro dia da semana
3. Logo, o Domingo é dia santo.
Quando assim desprendido de todo o excesso de linguagem, tal argumento em favor da santidade do Domingo se revela em sua verdadeira debilidade. Vê-se desde logo a falsidade da premissa maior.
Lendo toda a história da viagem, vemos que Paulo pregou em vários lugares no caminho, enquanto viajava para Jerusalém. Foram, todos estes sermões, pregados em domingos? Incrível! Lede a última metade do capítulo vinte de Atos, a qual dá o sumário de um sermão que foi talvez o mais importante que Paulo pregou em toda a sua viagem - é pelo menos, o único que é descrito pormenorizadamente.
Um exame do contexto, especialmente o versículo quinze, haverá de mostrar que foi, provavelmente, pregado na Quarta-feira: concluiremos portanto que a Quarta-feira é dia santo? Esta é a conclusão que poderíamos tirar do argumento apresentado acima, em favor do domingo. Realmente, a lógica do oponente do Sábado, força-nos a concluir que Paulo, nesta viagem, santificou quase todos os dias da semana. tantas foram as reuniões que ele realizou em caminho. Não, é necessário mais do que pregar um sermão para santificar um dia, ou para anular o mandamento divino de que “o sétimo dia é o Sábado do Senhor teu Deus”
Deve-se notar, também, que não existe um consenso absoluto entre os comentaristas, se a referida reunião ocorreu no Domingo à tarde, ou na tarde anterior.
Sendo que a reunião se estendeu “até à meia noite” (Atos 20:7), se ela começou no Domingo à tarde. então o “partir o pão” ocorreu no inicio da madrugada de Segunda-feira Se a reunião começou no Sábado à tarde, então o “partir o pão” ocorreu no inicio da madrugada de Domingo. Seja como for, este é um horário incomum para “partir o pão” (ver Atos 20:7 e 11), o que mais sugere “uma ocasião extraordinária do que um costume habitual.”
Portanto, somente uma interpretação tendenciosa, que desconheça intencionalmente o contexto, pode ver nesta passagem um indício da observância do Domingo como dia de guarda.
Romanos 14:5
Alguns tem usado este texto para provar que o Sábado não mais necessita ser guardado. Se este fosse realmente o seu significado, então não haveria também razão para a observância do Domingo; pois nenhum dos dois é por ele mencionado. Conseqüentemente, se a regra é aplicável ao Sábado, por que não o seria também ao Domingo?
Não dispomos de meios para julgar, com base neste texto, com toda a certeza, se Paulo queria incluir ou não o Sábado na lista dos vários dias especiais que os irmãos “débeis na fé” insistiam em observar.
Se analisarmos mais detidamente a passagem, veremos que o contexto trata da atitude de tolerância para com os fracos na fé em relação coma questão da alimentação, e não do descanso semanal.
Estes “fracos na fé” se abstinham de carne e vinho, para que não fossem contaminados por coisas que eram “impuras”, por terem sido oferecidas aos ídolos.
Uma vez que não se trata de um grupo de cristãos judeus. procurando impor costumes judáicos à igreja, nem ao menos aparece qualquer alusão ao Sábado no contexto, pode-se plenamente afirmar:
Trata-se de alguns cristãos que faziam distinção entre os dias. Nada indica que seja questão de judaizantes, logo, não ha~’eria aqui alusão ao Sábado: trata-se de práticas de abstinência ou de jejum fixadas para datas regulares.
O Didaquê 8 1 era incisivo em admoestar os cristãos a “não jejuarem com os hipócritas no segundo e quinto dias da semana. mas no quarto e sexto dias.” Diante disso. Paulo insiste que, em questões de consciência, a alma deve ser deixada livre. Ninguém deve controlar o espirito de outro, julgar por outro, ou prescrever-lhe o dever.
Portanto, este texto jamais pode ser usado como um endosso à falsa teoria de que. no período do Novo Testamento, não existe um dia específico. para ser observado como “dia do Senhor”. O próprio Paulo. que evidentemente não pode ser alistado entre os “fracos”, observava o Sábado como era “seu costume” (Atos 17:2; cf S. Luc. 4:16), não havendo qualquer evidência em contrário disso.
Colossenses 2:16 e 17
A expressão “ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou Sábados (grego sabbaton)”, encontrada neste texto, tem sido usada para provar que a observância do Sábado foi invalidada por Cristo na cruz. Se, porém, analisarmos mais atentamente o seu conteúdo, veremos que também este não pode ser aplicado em relação com o descanso semanal.
O tipo de Sábado que está sendo considerado é indicado pela frase “que são uma sombra das coisas vindouras” (Col.. 2:17).
O Sábado semanal é um memorial de um evento do início da história da Terra (Gên. 2:2 e 3; Exo. 20:8-l1; PP 31 e 32). Portanto, os “Sábados”, que Paulo declara serem sombras que apontam para Cristo, não podem referir-se ao Sábado semanal designado pelo quarto mandamento, mas devem indicar os dias de descanso cerimonial, que encontram seu cumprimento em Cristo e no Seu reino (ver Lev. 23:5-8. 15, 16, 21. 24. 26. 27, 28. 37 e 38).
Adam Clarke. conhecido comentarista Metodista, é claro em afirmar:
“SÁBADOS: os sábado.s do dia da Expiação e da festa dos Tabernáculos chegaram ao fim com os serviços judáicos aos quais pertenciam (Levítico 23:32, 37.39). O Sábado semanal se apoia em uma base mais permanente, tendo sido instituído no Eden, para comemorar o término da criação em seis dias (Levítico 23:38) Expressamente distingue “o Sábado do Senhor” dos “outros Sábados” Um preceito positivo é bom porque é “ordenado” e deixa de ser obrigatório quando ab-rogado; um preceito moral é mandato eternamente, por ser eternamente justo”
O que foi dito anteriormente é suficiente para esclarecer que Paulo jamais pretendeu abolir, em Colossenses 2:16 e 17, a obrigatoriedade moral do quarto mandamento, que, por ter sido instituído na criação e fazer parte da lei moral, também é um mandamento “santo e justo e bom”. (Rom. 7:12)
Gálatas 4:10
Existe uma similaridade entre os “dias, e meses, e tempos, e anos” de GáIatas 4:10 e “dia de festa, ou lua nova. ou Sábados” de Colossenses 2:1 6.as mesmas idéias são aparentemente apresentadas. mas em ordem inversa
Neste, caso então Paulo está aqui se referindo “aos sete sábados cerimoniais e as luas novas do sistema cerimonial, e as mesmas considerações são feitas sobre Colossenses 2:16 se aplicam também a este texto.
O Comentário Bíblico Adventista acrescenta ainda:
“Não há base escriturística para assumir, como alguns o fazem, que os “dias” dos quais Paulo fala aqui se refiram ao Sábado do sétimo dia. Em nenhum lugar da Bíblia é feito referência ao sétimo dia na linguagem aqui usada Alem disso, o Sábado do sétimo dia foi instituído na criação, antes da entrada do pecado, e cerca de 2.500 anos antes da inauguração do sistema cerimonial, no monte Sinai. Se a observância do Sábado sétimo dia subjuga o homem à escravidão, então o próprio Criador deve ter entrado em escravidão, ao observar o primeiro Sábado do mundo! E essa conclusão é inconcebível”.
Apocalipse 1:10
Neste texto aparece a expressão grega “kuriake hemera cuja tradução literal é “Dia do Senhor”. Das várias teorias propostas para identificar seu verdadeiro significado, mencionaremos criticamente as quatro mais importantes:
1- Como Sendo o Domingo
Quando Jerônimo traduziu a Bíblia para o latim, que era a língua oficial do império romano, ele traduziu a expressão “Dia do Senhor” com o “Domines dei” ou seja o Domingo. Seria isto correto?
Vejamos alguns argumentos contra esta interpretação:
1. As Escrituras, em nenhum outro lugar chamam-no de “dia do Senhor”
2 Nenhum dos escritores cristãos surgidos nos primeiros anos depois da morte de Cristo, chamam o Domingo de “dia do Senhor” Em realidade, mesmo que a expressão kuriake hemera apareça freqüentemente entre os Pais da Igreja, para designar o Domingo, a primeira evidência conclusiva de tal uso não aparece antes da última parte do segundo século, no Evangelho Apócrifo de Pedro, onde o dia da ressurreicão de Cristo é denominado “dia do Senhor”. Uma vez que esse documento foi escrito pelo menos três quartos de século após João haver escrito o Apocalipse, não pode ser apresentado como uma prova de que a expressão “dia do Senhor”, no tempo de João, referia-se ao Domingo. Inúmeros exemplos poderiam ser citados para demonstrar a rapidez com que palavras tiveram o seu significado alterado com o correr do tempo. Por conseguinte, o significado de “Dia do Senhor” aqui é melhor determinado ao se recorrer as Escrituras do que a literatura subsequente.
3. Além disso, se João realmente tencionasse designar o Domingo como sendo o “Dia do Senhor” com certeza ele também o teria feito em seu evangelho, que foi escrito aproximadamente na mesma época do Apocalipse ( na década de 90 AD).
4. Em todas as oito alusões ao Domingo no Novo testamento, ele é simplesmente chamado de “primeiro dia da semana” (ver: Mat. 28:1; Mar. 16:2 e 9; Luc. 24:1; João 20:1 e 19; Atos 20:7; 1 Cor.. 16:2), sem qualquer distinção especial.
5. O fato de um profeta ter uma visão em determinado dia, não significa que tal dia deva ser guardado. A santidade de um dia repousa em base mais sólida, fundamenta-se num claro e insofismável “Assim diz o Senhor”.
2- Como Sendo o Dia do Senhor Escatológico
Os defensores desta teoria vêem um paralelo entre a expressão “dia do Senhor” usada pelos profetas
bíblicos em alusão ao dia do juízo escatológico de Deus para com as nações (cf. Joel 2:1 e 3: Amós
5:18, I Cor 11:4. I Tes. 5:2; II Pedro 3:10, e o “dia do Senhor” de Apocalipse 1:10.
1 Por mais interessante que possa parecer, existem, entretanto, razões para rejeitarmos esta interpretação. Em primeiro lugar, quando a expressão “dia do Senhor” designa claramente o grande dia de Deus, o grego é sempre “hemera tou kuriou” ou “hemera kuriou” (I Cor 5:5: II Cor 1:14:1 ies. 5:2; II Pedro 3:10).
2. 2. Em segundo lugar. o contexto (Apoc. 1:9 e 10) sugere que a expressão “dia do Senhor” se refere ao tempo em que João teve a visão. ‘e não ao conteúdo da visão Se lermos o contexto subseqüente. perceberemos nitidamente que o conteúdo da visão é de natureza histórica (ver Apoc. 1:10 a 3:22) e não escatológica
3- Como Sendo o Dia do Imperador
Esta teoria é sem dúvida a mais inconsistente das que estamos analisando. Sobre ela o pode-se dizer o seguinte:
1. Primeira, ainda que houvesse dias imperais, e ainda que o termo kuriaikos fosse usado para outras coisas pertencentes ao imperador, nenhum exemplo da palavra kuriake, como empregada para um dia imperial, foi ainda encontrado. Isto não é uma prova final, evidentemente, pois é um argumento do silêncio.
2. Todavia, o segundo ponto que se pode levantar contra a identificação do kuriake hemera de João, como dia imperial, parece virtualmente conclusivo. Este é o fato de que tanto os judeus do primeiro século, como os cristãos, pelo menos no segundo século são reconhecidos como tendo se recusado a chamar a César de Kurios, “senhor”. Torna-se extremamente difícil pensar-se, portanto, que João se referia a um dia imperial, como sendo o “Dia do Senhor”; especialmente ao tempo em que ele e seus confrades cristãos, estavam sendo severamente perseguidos por se recusarem a adorar o imperador.
4- Como sendo o Sábado
Parece mais provável que João tenha escolhido a expressão kuriake hemera, para designar o Sábado, o sétimo dia da semana. Vejamos alguns argumentos:
1. Como um meio sutil de proclamar o fato que, como o imperador tinha dias especiais devotados em sua honra, o Senhor de João, por quem ele agora sofria, também tinha o Seu dia.
2. Esta é a única das quatro posições que não desconhece o consenso das Escrituras, onde o Sábado é reiteradas vezes mencionado como sendo o verdadeiro “Dia do Senhor” (cf. Isa. 58:13; Êxo. 16:23; Mat. 12:8)
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