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quinta-feira, 9 de junho de 2016

SEMENTES DE AMOR



Sementes de amor
A influencia paterna é decisiva no futuro dos filhos, mas não fecha a porta para mudanças

“O perdão possibilita a vida onde reina a morte e dá significado á relação que perdeu o sentido”

Augusto César Maia é psicólogo clínico em Campinas, SP.


O rei Salomão escreveu: “Eduque a criança no caminho em que deve andar, e até o fim da vida não se desviará dele” (Prov. 22:6, BLH). Este provérbio inspirado confirma a teoria de que o caráter é modelado pelos pais e de que a sua qualidade depende muito do tipo de educação recebido na infância.
O provérbio também nos adverte que, se educarmos uma criança no caminho errado, sem amor, ela terá grande dificuldade para se desviar desse caminho e dessa carência. Cria-se uma resistência em mudar de caminho e um vazio acompanha cada passo da existên­cia. Na vida adulta, ela perceberá o mundo de Outra maneira: o sabor não é tão temperado, a visão não é tão colorida, a emoção não cativa tanto, a idéia não motiva o suficiente e o so­nho não é sonhado.
À medida que progredimos em nossa com­preensão desse provérbio, torna-se evidente que os filhos só conseguirão ter paz de espíri­to quando removerem o medo, a desconfian­ça e as mágoas do passado. Assim como as plantas precisam de um solo adubado para crescer, as sementes do amor, da confiança e do perdão só crescem se receberem os ele­mentos necessários para a vida.
Aqui estamos diante de um dilema: como alguém que não foi amado pode amar? Como superar a interferência nociva dos pais e recu­perar o terreno estragado pelas experiências passadas? A verdade é que nossos pais fizeram o melhor que podiam. Não pode­mos negar a dura realidade de que, se tivéssemos que passar pelas mesmas experiências deles, provavelmente tería­mos um comportamento semelhante. Nossos pais cresceram exatamente como seus pais (os avós), e nós aprende­mos a amar, ter medo, ser sentimentais, frios, desconfiados, controlado­res, manipuladores, autori­tários ou sedutores com eles.
A experiência clínica demonstra que, quan­do o paciente toma consciência de que foi es­tragado nas primeiras experiências com os pais, este insight normalmente desencadeia sentimentos de raiva. Mas, para a maioria das pessoas, é difícil reconhecer como legitima a raiva evidenciada pelos seus ressentimentos. Resultado: o “engolidor de sapos”, cedo ou tarde, poderá ter o seu estômago corroido pela raiva não expressa, ou quem sabe uma sensa­ção de coceira inexplicável, ou Outra reação psicossomática.
O apóstolo Paulo nos adverte, em Efésios 4:26, para tomarmos cuidado com o que faze­mos com a raiva. Para ele, devemos ser verda­deiros com as nossas emoções, mas observar um limite. Podemos irar, mas não devemos pe­car. Ou seja, cuide de você, expressando aquilo que sente, e também do outro, precavendo-se com suas palavras e ações. Paulo completa a frase, dizendo: “Não se ponha o sol sobre a vos­sa ira.” Em outros termos: Não vá dormir com raiva, pois isso vai lhe fazer muito mal à saúde.”
Não devemos fingir ter perdoado quando na verdade não o fizemos. Contudo, não precisamos exteriorizar nossas mágoas e rancores diretamente para os nossos pais. À medida que descobrimos esses Sentimentos dentro de nós e os expressamos na seguran­ça de um esquema psicoterapêutico ou espi­ritual (oração), conseguimos reconhecer que as mágoas que nos fazem sofrer são de nossa responsabilidade.
Para remover as teias que per­metam nossas mentes, deve­mos enxergar nossas má­goas, perdoar nossos pais, perdoar a nós mesmos e aceitar o perdão de Deus, Precisamos encarar a nossa culpa, sem fuga ou vitimiza­ção, para nos libertarmos dela, O perdão regenera, possibilita a vida onde rei­na a morte, traz luz onde existe treva, dá significado à relação que perdeu o senti­do, enfim, faz crescer.

Sinais dos Tempos      Novembro-Dezembro/2003


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