Tempo de
curar
Muitas vezes nos sentimos
ansiosos, obcecados pelas posses e pelo poder.
Esta é uma
enfermidade do espírito. E precisamos de cura.
O que o sábado significa para você? |
Para refletirmos sobre o
valor e o sentido do sábado, o melhor é começar no tempo do ministério de
Jesus. Analisaremos seis incidentes relacionados com o sábado, no ministério
terrestre de Cristo, e então, tentaremos mostrar como o sábado pode contribuir
para a cura de algumas de nossas mais obstinadas mazelas espirituais.
Seis incidentes todos no sábado
1. 0
homem
da mão ressequida. Em
uma sinagoga surgiu a questão: “E lícito curar no sábado?” Jesus respondeu:
“Qual dentre vós será o homem que, tendo uma ovelha, e, num sábado esta cair
numa cova, não fará todo esforço, tirando-a dali? Ora, quanto mais vale um
homem que uma ovelha?”(1)
2. A mulher
encurvada por 18 anos. Enquanto ensinava na sinagoga em outra ocasião,
Jesus curou uma mulher que por 18 anos não conseguia andar ereta. O líder da
sinagoga, indignado, disse ao povo: “Seis dias há em que se deve trabalhar;
vinde pois nesses dias para serdes curados, e não no sábado.” (2)
3. Um homem com inchaço. Jesus foi convidado a comer em casa de um
importante fariseu em dia de sábado, e notou a presença de um homem hidrópico.
Perguntou, então aos mestres das Escrituras e aos demais, se era lícito, ou
não, curar no sábado. Então, mais uma vez perguntou: “Qual de vós, se o filho ou
boi cair num poço, não o tirará logo, mesmo em dia de sábado?” (3)
4. Um homem paralítico por 38 anos.No tanque de
Betesda, em Jerusalém, Jesus disse a um homem doente: “Levanta-te, toma o teu
leito e anda.” Ao obedecer, o homem foi interpelado por pessoas que diziam
estar ele desobedecendo exigências do Torah ao carregar seu leito em dia de
sábado. (4)
5. Um homem cego de nascença.
Quando um homem
que havia sido cego desde seu nascimento, foi inquirido acerca de sua repentina
cura, respondeu que Jesus havia feito barro e havia colocado esse barro sobre
seus olhos, ordenando que fosse lava-los no tanque de Siloé. Então, alguns
fariseus disseram: “Esse Homem não é de Deus, porque não guarda o sábado.” 5
Fica claro que Jesus considera o sábado como um dia de cura.6 Cuidar
dos enfermos. tanto no físico quanto no espírito, é, em princípio, uma boa
maneira de observar o sábado, uma boa maneira de usar o sagrado tempo do
sábado.
6. “Certo sábado, Jesus estava atravessando um
campo de trigo, e Seus discípulos começaram a catar grãos para comer. Alguns
fariseus disseram a Jesus: “Vê! por que fazem o que não é lícito aos sábados?
“Mas Ele lhes respondeu:
Nunca leste o que fez Davi, quando se viu em necessidade, e teve fome, ele e os
seus companheiros?”
E acrescentou: O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem
por causa do sábado; de sorte que o Filho do homem é Senhor também do sábado.” 7
Dentre os
ensinamentos de Jesus, quanto se saiba, esta foi a coisa mais importante que Ele falou
acerca do sábado: “O Filho do homem é Senhor também do sábado.” O sábado não é só
um período de tempo para curar a outros, mas, também, para experimentarmos
nossa própria cura. Na verdade o sábado pode curar algumas de nossas mais
obstinadas mazelas espirituais
Coisas que nos esmagam — Entre as enfermidades do espírito que mais nos
assediam, estão a ansiedade e a obsessão.
Menciono estas
duas. porque na maior parte do tempo, elas são como os dois lados de uma mesma
moeda: nossas obsessões são a desventurada expressão de nossas ansiedades.
Eis aqui quatro enfermidades comuns:
• Ficamos ansiosos por obter posses e obcecados por adquiri-las. Parece que nunca temos o suficiente, então
continuamos comprando e acumulando coisas. Temos que admitir que queremos viver
tão bem quanto possível, e nos preocupamos com as cotações do mercado de
valores.
Às vezes chamamos isto de materialismo”. sendo que na verdade isto não
passa de “consumismo”. Quando nos sentimos mal. animamo-nos comprando alguma
coisa; quando nos sentimos bem, comemoramoS comprando alguma coisa. E nesse
negócio podemos estar certos de que nossa cultura nos oferece o máximo de
encorajamento. Um norte americano típico preferiria comprar a partilhar.
• Ficamos ansiosos
acerca de o desempenho, e obcecados por realizações. Preocupamo-nos com nossa produtividade e
consecuções. Avaliamos o desempenho uns dos outros e nos preocupamos com nosso
próprio desempenho
profissional, espiritual e até mesmo sexual. A ansiedade gerada pelo
desempenho está em todos os
lugares: Como estamos nos saindo? Será que estamos nos saindo suficientemente
bem? Estamos nos esforçando o suficiente? Trabalhamos com o necessário
dinamismo? O que poderíamos estar fazendo que ainda não estamos fazendo?
• Ficamos ansiosos acerca de nossa posição e
obcecados por nossa imagem. Preocupamo-nos
com o que os outros pensam de nós, e o que pensam ou possam pensar motiva, em
grande parte, o que fazemos. Uma vez ou outra, todos nós já perguntamos: ‘O que
é que o vizinho vai pensar?” ou, “o que é que os membros da igreja vão pensar?”
ou, ‘o que é que meus colegas vão pensar?’
Até certo ponto, é claro, isto é saudável, pois a preocupação com nos.sa imagem
estimula o bom comportamento que poderia não ocorrer em outras circunstâncias.
Lembro me de que. quando eu era criança, minha mãe costumava mandar que deixássemos
a casa arrumada antes de ir para a cama. Ela dizia: “Se de repente a casa pegar
fogo e os bombeiros tiverem que entrar, não quero que pensem que sou uma dona
de casa desordeira.”
Mas muitas pessoas têm unia consciência exagerada acerca de sua imagem, e
isto é nocivo. Em grande parte nossa desonestidade diária é motivada pelo
desejo de proteger tinia imagem. Alguém está atrasado para um compromisso e
culpa o trânsito quando, na verdade, dormiu demais.Um jovem advogado de uma
grande empresa em Los Angeles contou me que seus colegas de trabalho com
freqüência trabalham muitas horas além das determinadas pelo empregador. não
porque precisem (ou queiram) ganhar mais dinheiro. mas porque precisam (e
querem) parecer importantes. Em casos extremos, pessoas que não conseguem
aceitar a perda do status, ou uma
imagem deslustrada, tentam escapar da situação cometendo suicídio.
• Ficamos ansiosos acerca de nossa
autoridade e obcecados pelo controle. Não queremos apenas controlar nossa
própria vida: queremos, também, numa ilusão extravagante, controlar a vida dos
outros. Às vezes, é claro, os pais precisam exercer autoridade. Todo pai,
alguma vez já disse, zangado: “Porque eu mandei! Por isso!” Pode ser que não
seja possível fazer uma criança de cinco anos entender por que chegou a hora de
ir para a cama.
Mas, com uma freqüência exagerada na família, em instituições, no governo
—“Porque eu mandei” parece ser a única razão. Quando manter a autoridade e o
controle passa a ser a razão principal para se fazer ou dizer alguma coisa, é
hora de repensar nossos valores.
Quantas guerras — nacionais, eclesiásticas, e institucionais — são travadas
devido a controvérsias sobre autoridade e controle! A vida em comunidade nunca
é simples, e tenho observado que a maior parte das batalhas teológicas se
complicam devido a questões de autoridade.
A cura — O
sábado oferece a possibilidade de cura para todas essas enfermidades do
espírito.
• Para nossa ansiedade acerca das
posses e nossa obsessão por adquiri-Ias. o sábado é um período em que coisas passam
a ter menos importância. O tempo do sábado nos liberta do objetivo de ganhar
dinheiro para pagar coisas coisas feitas de tijolos e estuque, coisas de seda e
lã, coisas movidas a cavalos de força. O sábado é um tempo em que não temos que
nos preocupar com o pagamento de contas, com a lavagem do carro, com as compras
de supermercado, com a limpeza dos arredores da casa, ou com a limpeza do
interior da casa.
O sábado é um tempo para os relacionamentos essenciais que fazem de nós
aquilo que somos — relacionamento com Deus, com a família e amigos, com toda a
família humana, e com toda a obra da criação. Esses relacionamentos promovem
nossa identidade e dão verdadeiro significado à nossa vida.
• Para a ansiedade acerca do nosso
desempenho, e para a obsessão pelas realizações, o tempo do sábado é tempo para desfrutarmos da
espiritualidade. Não é. primariamente, um tempo para/crer, mas para ser. A
palavra “sábado” é a forma aportuguesada da palavra hebraica shabbat, que está relacionada com um
verbo que significa parar, cessar, desistir — deixar de fazer.
Na história da criação, o sábado de Deus surgiu quando Ele completou Seu
trabalho, E isto não dá a idéia de que Ele estivesse precisando Se recuperar,
mas de que Deus ficou satisfeito e queria comemorar. O sábado de Deus foi um
período usado para vivenciar e desfrutar, apreciar e confirmar o resultado da
divina criação.
Para nós, o sábado é um tempo durante o qual recordamos, confirmamos e
desfrutamos do significado de sermos seres humanos, criados à imagem de Deus. É
um tempo que me leva a recordar e desfrutar do fato de que o significado da
minha vida não depende do quanto consigo realizar ou adquirir, ou produzir; nem
da maneira como desempenho meu papel de professor e erudito, ou de esposo e pai.
O sábado é uni tempo não para fazer. mas
para ser; um tempo para relembrar que
não sou um fazedor humano. mas um ser humano, O sábado é um tempo para se
apreciar a realidade que Deus criou, para se descobrir, por experiência, sua
beleza e variedade, sua delicadeza e seu poder. É um tempo para se desfrutar a
virtude da existência, e do fato de sermos seres humanos — parte de uma família
de parentes, amigos e companheiros pertencentes a uma comunidade de fé.
Esse tipo de vivência é
verdadeiramente curativo. E como disse Abraham Heschel mais de um século atrás:
“ Uma oportunidade para emendar nossa vida esfarrapada.”
Para a ansiedade acerca de nossa
posição e obsessão com nossa imagem, o sábado é um período durante o
qual temos a oportunidade de relembrar
que o significado da vida vem do
relacionamento de Deus conosco. Deus nos ama e nos considera parte da família,
e, no sábado nos lembramos de que somos um fim e não um meio, que nossa
existência é um presente de Deus para nós e para outros. O sábado nos faz
lembrar e reafirmar os valores fundamentais que determinam a qualidade de nossa
vida.
Isto também promove cura . Tomando emprestada outra
metáfora de Heschel, o sábado nos tira da lama de nossa existência. 9
Para a ansiedade acerca de nossa autoridade e obsessão pelo controle, o
sábado é um período separado para a gratidão. Como diz um dos meus amigos, o
sábado nos faz lembrar que nós mesmos somos o próprio presente de Deus, e não
pessoas que se fazem a si mesmas. Nós não criamos a nós mesmos. Não somos
deuses; somos criaturas. Alguém teve que trocar nossas fraldas, e limpar nossa
baba. Tivemos que ser carregados de um lado para outro. Éramos criaturas
totalmente indefesas.
A
consciência deste fato tira muitos fardos de nossos ombros — o fardo da perfeição,
do controle, de brincar de deus (para nós mesmos e para outros). Isto também
nos ajuda a ser um pouco mais humildes. E você conhece o ditado — não existe
humilhação para o humilde, Portanto, ficamos livres de algumas das dores que a
vida traz, e isto promove paz e cura interior.
O
sábado é um período em que podemos valorizar as ricas bênçãos que recebemos na
vida. Quando paramos para pensar nas inúmeras graças que temos recebido, é mais
difícil nos preocuparmos com o fato de termos, ou não, autoridade.
Portanto, o
sábado é um tempo para nos ocuparmos com os relacionamentos que fazem de nós
o que somos; tempo para apreciar a alegria de sermos seres humanos no mundo de
Deus; tempo para reafirmar os valores que determinam a qualidade moral de nossa
vida; tempo para agradecer a Deus todos presentes que Ele nos dá.
Não resta
dúvida de que o sábado é um tempo para cura — cura de outros e nossa própria.
Referências:
1.Ver Mat. 12:9-14; Mar.3:1-6; Luc. 6:6-11
2. Ver Luc. 13:10-17.
3.Ver Luc. 14:1-6.
4. Ver João 5:2-18.
5.Ver João 9:1-17.
6.John C.
Brunt, A Day for Healing: The Meaning of Jesus’Sabbath, Miracles (Washington , D.C. :
Review and Herald
Pub. Assn,. 1981).
7.Ver Mar,
2:23-28.
8.Abraham
Joshua Heschel, The Sabbath:
Its Meaning for Modern Man (New York:
Farrar Straus, 1952), pág, 18.
9.Idem, pa g. 29.
Fritz Guy,
professor de Teologia e
Filosofia na Universidade de La
Sierra,
Riverside, California, EUA.
Um dia diferente
•Grandes bênçãos estão compreendidas na observância
do sábado, e a vontade divina é que esse dia seja para nós de deleites.
•Não devemos observá-lo simplesmente como objeto de
lei. Devemos compreender suas relações espirituais com todos os negócios da
vida.
Em tudo quanto se relaciona com a obra de Deus, as
primeiras vitórias devem ser alcançadas na vida doméstica. Ai é que deve começar a preparação para o sábado.
Quando o sábado é desta forma lembrado, as coisas
temporais não influirão sobre o exercício espiritual de modo a prejudicá-lo.
Nenhum serviço atinente aos seis dias de trabalho será deixado para o sábado.
Durante a semana, teremos o cuidado de não
exaurir as energias com trabalho físico
a ponto de, no dia em que o Senhor repousou e Se restaurou, estarmos fatigados
demais para tomar parte no Seu culto.
Nesse dia todas
as divergências existentes entre irmãos, tanto na família como na igreja, devem
ser removidas. Afaste-se da alma toda amargura, ira ou ressentimento.
Antes de começar o sábado, tanto a mente como o físico devem desembaraçar-se de todos os negócios seculares.
Quando obrigados a viajar no sábado, cumpre evitarmos a companhia dos que procuram atrair-nos a atenção para
as coIsas seculares. Devemos ter a mente concentrada em Deus e com Ele entreter comunhão.
O sábado não deve ser passado em ociosidade,
mas tanto em casa como na Igreja, cumpre-nos manifestar
espírito de adoração. (Trechos extraidos de Testeniunhos Seletos, voi. 3, págs. ±6 a 34.)
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