O amor verdadeiro
por Michelson Borges
O
verdadeiro amor brota de uma
relação viva com Cristo
Enquanto apresentava um estudo
bíblico para um grupo de pessoas, um jovem fez uma declaração que me deixou
pensativo: “Os adventistas são doutores em teologia, mas acho que ainda lhes
falta entender o real sentido do amor.”
Ao dirigir-me
para casa, lembrei-me das palavras de outros irmãos (alguns hoje, infelizmente,
são ex) que igualmente
alegavam haver falta de amor na Igreja. Imediatamente fui à Bíblia e li o
“salmo do amor” — 1 Coríntios 13
— em busca de uma resposta à pergunta: O que é esse amor que, dizem, nos
falta?
Pela enésima vez li aqueles
13 versículos tão profundos. Com muito cuidado, pois, às vezes, corremos o
risco de passar por alto conceitos importantíssimos pelo fato de já conhecer
bem um texto. Algumas verdades se destacaram de imediato: (1) no verso 2 é dito
que, ainda que possuamos qualquer dom espiritual, muito conhecimento científico
e uma fé capaz de transportar montanhas, sem amor, de nada valem essas
virtudes; (2) no verso 3, Paulo diz que, mesmo que distribuamos todos os nossos
bens aos pobres e sejamos martirizados, sem amor, isso tudo de nada aproveita;
(3) no final do capítulo, o apóstolo termina dizendo que o amor é maior que a
fé e a esperança.
No entanto, o
que realmente me chamou a atenção foram os versos 4 a 7. Há muitas semelhanças
entre eles e o fruto do Espírito de Gálatas 5:22. Vejamos:
Tamanha
coincidência não pode ser mera semelhança. O próprio amor
é a virtude que encabeça a lista de Gálatas 5:22. E se o amor é um dos “gomos”
do fruto do Espírito Santo, mesmo que nos esforcemos, jamais poderemos
fabricá-lo. Não existem estratégias ou métodos que nos façam sentir amor pelos
irmãos.
O amor provém
do Espírito de Deus. Sem comunhão com Deus, portanto, não pode haver amor. O
correto não seria dizer: “A igreja precisa de mais amor.” Isso, na verdade, é
óbvio. Nossa maior necessidade no entanto, é da presença do Espírito Santo em
nossa vida. De nada adianta uma adoração “animada” por palavras de ordem, ou
barulho; assim como de nada adianta uma simpatia forçada de uns pelos outros,
ao convite de “vamos apertar a mão de quem está ao nosso lado”. A alegria do
louvor e a simpatia entre os irmãos só existirão na medida em que cada um
buscar o Espírito de Deus.
Muitos
abandonam a igreja alegando falta de amor por parte dos irmãos. Outros dizem
que a igreja é muito “parada”, ‘‘desanimada’’, ‘‘morna’’. Não se daria o caso
de haver falta do fruto do Espírito em suas vidas?
Após minha
conversão, há quase dez anos, percebi que nem tudo era perfeito (com exceção das doutrinas) na igreja que
eu amava e amo. Mas percebi, também, que o amor por Cristo e a convicção da
verdade suplantam todo problema. Se amamos a Jesus e estamos convictos da
verdade, nada, nem a alegada falta de amor, pode nos afastar de Sua igreja
(afinal, se assim o fizermos, para onde iremos?).
O amor e a
alegria fazem parte do fruto do Espírito. Precisamos do Espírito Santo
habitando o templo do nosso coração. Mas, como fazer isso? O discípulo do amor
nos dá
a resposta. Em sua terceira
carta, João refere-se a Gaio, exemplo de fidelidade e amor aos membros da
igreja, um homem que andava “na verdade” (verso 3). João menciona, também,
Demétrio, de cuja vida a própria verdade dava testemunho (verso 12). Numa carta
que trata da aplicação prática do cristianismo na vida individual, João associa
o amor à verdade.
Isso é
evidência inquestionável de que não pode haver amor na desobediência deliberada
aos princípios bíblicos. Cristo mesmo disse: “Se Me amardes, guardareis os Meus
mandamentos.” João 14:15. Veja: amor e obediência à verdade, uma vez mais, de mãos dadas. A verdade sem o amor é
fria e formal, correta mas não cativante. O amor sem a verdade é mal orientado
e desonesto. Por isso, ‘o mais forte argumento em favor do evangelho é um
cristão que sabe amar e é amável”. —A
Ciência do Bom Viver, pág. 470.
Obediência
mediante a comunhão com Cristo: eis o segredo. Mantendo uma relação viva com
Jesus, tornamo-nos participantes da natureza divina (1 Ped. 1:4), o que nos dá
a capacidade de sentir um amor puro e desinteressado pelos outros. “Caso exista
no coração a divina harmonia da verdade e do amor, resplandecerá
em palavras e ações.” — O Lar Adventista, pág. 426 (grifo acrescentado).
“O que era
desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que
contemplamos e as nossas mãos tocaram, isto proclamamos com respeito ao Verbo
da vida.” I João 1:1. Neste texto, o verbo “contemplar” (Theomai) é diferente do verbo “ver” (Horao). Contemplar aqui significa uma experiência compenetrada
para descobrir algo ou alguém. Portanto, precisamos contemplar a Cristo mais do
que fazemos, para que o Espírito de Deus tome posse de nosso coração e nos
transforme a vida. Assim, “os pensamentos pecaminosos são afastados.
renunciadas as más ações; o amor,
a humildade, a paz tomam o lugar
da ira, da inveja e da contenda. A alegria substitui a tristeza, e o semblante
reflete a luz do Céu”. — O Desejado de Todas as Nações, pág. 173.
Esse é o
segredo do verdadeiro amor.
I Coríntios – O amor : Gálatas
5:22 – O fruto do Espírito é :
é benigno benignidade
não se porta inconvenientemente domínio próprio
não busca os seus próprios interesses bondade
não se irrita longanimidade / mansidão
regozija-se na verdade fidelidade
tudo suporta, tudo crê, tudo sofre, tudo espera paz / domínio próprio
não se porta inconvenientemente domínio próprio
não busca os seus próprios interesses bondade
não se irrita longanimidade / mansidão
regozija-se na verdade fidelidade
tudo suporta, tudo crê, tudo sofre, tudo espera paz / domínio próprio
Michelson Borges, editor associado
de livros didáticos da CASA.
Revista Adventista - dezembro-98
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