SERIA O SÁBADO
CERIMONIAL?
Arnaldo B. Christianini – Subtilezas do Erro – 3a.
Edição - Capitulo 22 - CASA
Vamos pulverizar a segunda tese anti-sabática.
Quem disse que o quarto mandamento do decálogo tem uma parte moral e outra
cerimonial? Sem dúvida, foi Canright no
Seventh-Day Adventism Renounced. pág. 166. Portanto,
invenção humana e de origem suspeitíssima. Conclusão leviana, improvável e
absurda. A Bíblia sequer poderia sugerir coisa tão absurda: um mandamento de
natureza dúplice. Além disso, seria ignorar elementarmente a razão de ser de um
mandamento cerimonial. É primário
que todos os preceitos cerimoniais foram introduzidos após a Queda do homem,
como sombras que apontavam para a Redenção. ou a restauração do homem em sua
glória original. Ora, se o sábado tivesse algum traço cerimonial,
certíssimamente teria ele sido estabelecido após a entrada do pecado no mundo e
forçosamente seria um tipo de Cristo em algum sentido. Teria que ver com a
expiação. Isto já liqüida a pretensão de atribuir-se ao sábado
qualquer caráter cerimonial. Por que, então é moral? Simplesmente porque,
quando foi feito (S. Mar. 2:27) o foi no ambiente da original perfectibilidade
edênica, em que o homem, sem a jaça do pecado. privava com o seu Pai celestial.
Somente após a queda, precisou ser instituído o cerimonialísmo, para tipificar
o Redentor do homem caído, o Remédio para o pecado, mas quando se instituiu o
sábado, não havia necessidade de Redentor nem de coisa alguma que O
tipificasse. À vista desta
verdade, o sábado do Decálogo não tem nenhum sentido cerimonial. É integralmente moral.
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O estudioso
Adam Clarke, numa profunda análise dos preceitos do decálogo, assim remata:
É digno de nota que nenhum destes mandamentos, ou parte deles, pode... ser
considerado cerimonial. Todos são morais e, conseqüentemente, de eterna
obrigação.’ (Grifos nossos).
O erudito comentador batista Broadus também
defende a moralidade do sábado nestas palavras:
“O sábado parece ter sido ordenado aos nossos pais logo que foram criados;
e juntamente com a instituição do casamento constituem as únicas relíquias que
nos restam da vida sem pecado no Paraíso... O mandamento de santificá-lo foi
incluído entre os Dez Mandamentos, a lei moral, que é de obrigação perpétua.” 2
(Grifos nossos).
E também Strong — o
príncipe dos teólogos batistas — é incisivo: O
sábado é de obrigação perpétua.... A sua instituição antedata o Decálogo e
forma uma parte da lei moral.” 3 (grifos nossos).
Tenhamos presentes mais os seguintes fatos:
a) Sábados cerimoniais, como ficou demonstrado em capítulo anterior, eram
os dias anuais de festa judaica e que de modo algum podiam ser confundidos com
o sábado do sétimo dia. Este não tem o menor resquício cerimonial; é moral em
sua integridade. Não há nele o híbridismo pretendido pelos oponentes: não é
feriado judaico.
b) O sábado, como foi dito e reiteramos. antedata o pecado e fora dado
antes da Queda: portanto. antes que o homem necessitasse de Redenção. Por
conseguinte, nada tem de típico e não aponta para a expiação. Se não tivesse
havido a tragédia da Queda. o que aconteceria com o sábado? Continuaria a ser
observado pelo homem no Éden, com o privilégio da companhia de Deus. Mas não
há dúvida que continuaria a ser observado. E tanto isto é verdade que. na Restauração
de todas as coisas, quando enfim a maldição for removida desta Terra e tudo
voltará prístina pureza edênica e o homem à glória original, o sábado
continuará a ser observado e para sempre. segundo lemos em Isa. 66:22.
Portanto, o sábado é a única instituição que associa os três fundamentos
basilares da fé cristã: Criação. Queda e Redenção. E adiante voltaremos a
considerar este texto para demonstrar as arengas cavilosas dos opositores em
relação às luas novas.
c) O sábado — como todos os preceitos morais — aplica-se igualmente a todas as nações,
terras e tempos, pois todas as leis morais são de aplicação universal, não se
restringem a um povo e não sofrem mudança por nenhumas circunstáncias. Por
isso, é moral.
d) Deveres morais são os que emanam dos atributos de Deus. D poder criador
é um atributo divino, um atributo distinto e exclusivo do Deus vivo, e o sábado
emana diretamente deste atributo na Criação do mundo. Ë, pois, um preceito nitidamente moral.
Pode-se acrescentar que o dever de o homem amar e obedecer a Deus repousa
principalmente no fato de que o Senhor criou todas as coisas, e o sábado
memoraliza este fato, trazendo sempre a consciência deste fato. Outro dia não
poderia fazê-lo, pois não teria este característico, este sentido e esta
finalidade, O sábado é total e ínequivocamente moral.
e) A natureza do homem — física e
mental — requer
precisamente tal dia de repouso como o preceito do sábado exige, em consonância
com o bem-estar moral e espiritual da criatura. Esta necessidade humana foi
prevista e provida por Deus mesmo, associada ao culto, á reverência e à
adoração. Por isso, o sábado é um dever do homem para com Deus, como os demais
preceitos que constam da primeira tábua do decálogo. Porém a moralidade do
sábado reside precipuamente na relação do mandamento com o ato criativo de
Deus e isto não pode ser preenchido por qualquer outro dia. A bênção colocada
no dia do sábado jamais foi dele removida. Ë um mandamento moral.
f) O casamento é uma instituição
moral, defendida pelo sétimo mandamento. A instituição do sábado, tendo sido
feita ao mesmo tempo, pela mesma Autoridade, para as mesmas pessoas e da mesma
maneira, é logícamente moral, pelas mesmas razões.
g) O próprio fato de Deus ter posto o
mandamento do sábado no coração do decálogo — conhecido como o sumário de toda a lei moral — mostra irretorquivelmente o caráter moral do preceito. Fosse ele
cerimonial, no todo ou em parte. não seria insculpido nas tábuas de pedra, mas
sim escrito no livro de Moisés que continha todo o preceituário cerimonial
judaico.
h) Cristo mesmo diferenciou o sábado,
de qualquer preceito cerimonial quando declarou: “Se o homem recebe a
circuncisão (rito cerimonial) no sábado (mandamento moral) para que a lei de
Moisés (cerimonial) não seja quebrantada, indignais-vos contra Mim porque no
sábado (mandamento moral) curei de todo um homem?” S. João 7:23. (Parêntesis e
grifos nossos, para esclarecimento). Não tivesse o sábado o seu caráter
exclusivamente moral, inconfundível, Cristo não teria o cuidado de dissociá-lo
de práticas cerimoniais como a circuncisão, no caso em foco. Paulo também
distingue preceito cerimonial, da lei moral quando diz: “A circuncisão é nada e
a incircuncisão nada é, mas sim a observância dos mandamentos de Deus.” I Cor.
7:19. Embora aludindo aos judeus e aos não judeus, ou aos que queriam impor o
rito aos neoconversos na igreja nascente. Paulo distingue os mandamentos de
Deus, de qualquer prática judaica.
í) O sábado não pertence ao sistema
expiatório, portanto não é cerimonial.
É uma temeridade afirmar
que o sábado tenha uma parte cerimonial e que esta era o “sétimo dia”. E
temeridade maior é supor que a parte moral consistia simplesmente na guarda de
um dia em sete. Arengam os opositores: “Para se conseguir isto qualquer dia
daria o mesmo resultado.”... “Pode-se mudar este dia por um outro....”
Parece incrível que ensinadores religiosos sustentem a tese da anarquia
divina que coloca sob o critério do homem
a escolha de
seu dia em sete. Ë ser mais
realista do que o Rei. E inverter a ordem das coisas, para justificar o pecado.
A Escritura não confere tais poderes ao homem.
Desmantelemos agora o sofisma antíbíblico, demonstrando claramente que “o
sétimo dia” significa um dia específico e não simplesmente “um dia em sete”, o
que seria genérico.
a) Afirmar que o sábado significa “um
dia em sete” é estabelecer a anarquia divina, como se Deus subordinasse ao
critério de Suas criaturas frágeis e pecadoras, indignas e mortais, guardarem o
seu dia, o dia que melhor atendesse ás suas conveniências. Ora, isto é
monstruoso, sem sentido, sem objetivo. Qual seria o sentido de um filho de Deus
guardar uma terça-feira por exemplo? A teoria beócia da guarda de um dia em
sete só tem um objetivo: justificar a guarda do “dia do Sol” dos pagãos, que a
cristandade recebeu do paganismo que se infiltrava na igreja, nos primeiros
séculos da nossa era.
b) Se o
que vale é “um dia em sete”, porque os oponentes se agarram à observância do
primeiro dia da semana e irritam-se com os adventistas do sétimo dia?
c) A semana originou-se na criação.
Pois bem, naquela primeira semana do mundo, o sábado era apenas um dia em sete
ou era o específico sétimo dia? Era o sétimo dia, a partir do primeiro, na
ordem natural dos eventos da criação. Por que razão ele se tornaria menos
específico e deixaria de ser o sétimo, na exata ordem, na sucessão das semanas,
dos anos e dos séculos? Por que não o seria hoje?
d) O quarto mandamento remete o
leitor à semana da Criação (Exo. 20:11), na qual o descanso foi no sétimo dia.
Deus não repousou simplesmente num dia em sete, mas no sétimo dia.
e) O tríplice milagre da queda do
maná, no deserto ilustra bem o caráter ordinal e não cardinal do sábado.
Quando os israelitas foram colhê-lo no sétimo dia da semana, foram
repreendidos, porque não se tratava de um dia em sete. Quando um homem
transgrediu o mandamento, e foi colher lenha no sétimo dia, foi apedrejado e
morto. Núm. 15:32-36. Sê-lo-ia se o fizesse em qualquer dia em sete? Não, porque
o mandamento é específico, e não genérico. Quando alguns ex-cativos de
Babilônia profanavam o sábado, trazendo cargas para dentro de Jerusalém, foram
denunciados e amaldiçoados e repreendidos energicamente por Neemias (Neem. 13.)
Sê-lo-iam, se tivessem transgredido um dia em sete? Por certo que não. Haveria
toda a tolerância, pois o espírito” do preceito teria sido aceito com a guarda
de um dia em sete. Era o glorioso “sétimo dia” que estava em vigor e movia o
zelo dos profetas. Estes somente podiam apontar o quarto mandamento para
basear as suas ardentes e ríspidas advertências para ser santificado o sétimo
dia da semana. Sim, estes homens inspirados por Deus entenderam o “sétimo dia”
do mandamento como sendo específico, ordinal, certo, inconfundível. Os
pretensos teólogos dos nossos dias desejam discrepar dos profetas em
interpretar com exatidão a significação dos mandamentos de Deus. Ora, não é
parte do santo trabalho dos profetas esclarecer as nossas mentes sobre o
sentido dos preceitos divinos? Acatemo-los, então.
f) Todos crêem — inclusive
os nossos amigos batistas
— que nosso
Senhor passou no sepulcro o sétimo dia da semana. E como o evangelista Lucas
descreve esse dia mais de
afirmação
inspirada é suficiente por si para liqüidar a questão sobre o que quer dizer o
mandamento, aliás o quarto, quando estabelece: ‘o sétimo dia é o sábado’. Quer
dizer que é o sétimo mesmo, especifico. ordinal. sem dubiedades. Nada de “um
dia em sete”.
g) Reconhecem os adversários que, os
que viveram antes de Cristo, por força do quarto mandamento, guardavam o sétimo
dia da semana. Damos um doce a quem nos provar que. até àquele tempo, alguém
supunha que o mandamento permitisse a guarda de um dia em sete. O sábado era
claro, exato, inquestionável quanto ao dia. Então seria racional admitir que,
quando Cristo veio, aquele claro e inquestionável sentido do mandamento, se
tornou de repente, vago, impreciso, não específico, duvidoso, genérico,
passando a significar meramente “um dia em sete’?
h) A própria frase “o sétimo” é clara
e ordinal. O artigo definido “o” não deixa margem a dúvidas. Se dissermos a um
amigo que moramos na sétima casa do quarteirão, que diríamos se ele nos
procurasse na primeira casa? Se uma pessoa der sete passos, porventura
começará do segundo? Se o que vale é um dia em sete, então os muçulmanos estão
certos observando a sexta-feira. E se se procura justificar a guarda do
primeiro dia, julgando ser a ressurreição de Cristo um grande evento, outros,
com bem fundadas razões poderiam julgar a crucificação o maior evento do
cristianismo, pois pelo Seu sangue ali derramado fomos salvos, e assim
passariam a guardar a sexta-feira. Que diríamos do Natal, como evento de
importância? Sem ele, não haveria o Cristo nem a Redenção! Posta nestes termos
a questão do dia de guarda, ficaria na dependência de se comemorar eventos
importantes segundo o arbítrio dos homens. Felizmente, o dia de guarda é coisa
determinada por Deus. E, para finalizar, uma importante revelação. Esta
esdrúxula interpretação de “um dia em sete”, a par com a não menos esdrúxula
denominação de “sábado cristão” aplicada ao domingo, surgiu em 1595 AD. quando
a questão do dia de guarda agitava a Inglaterra, provocando acesos debates
entre os teólogos protestantes. E, segundo lemos em The Creeds of Christendom.
de Philip Schaff, cap. 21. vol. 1, pág. 762. foi NichoIas Bownd que, naquele
ano, pela primeira vez, estabeleceu a tese de “um dia em sete”, Ora, isto é
importante. Quer dizer que ninguém ao tempo de Cristo ou por quase 1.500 anos
depois pensou em fazer tão esquisita interpretação do mandamento divino!!!
No tocante à tese de ser o
sábado da Criação posto em pé de igualdade com as festas judaicas capituladas
em Lev. 23, nada mais precisamos acrescentar ao que ficou dito em capitulo
anterior, quando esclarecemos os sábados cerimoniais. Ali ficou pulverizada a
tese em apreço.
1 Clark s Commentary. vol.
1. (on Exo. 20).
2. John A.
Broadus. Comentário ao
Evangelho de S. Mateus. vol 1. pág. 344.
3. A. H. Strong, Systhematic Theology. pág. 408.
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