Como podemos reconhecer um filho de Deus
Cerca de cinqüenta anos após a ascensão de Jesus,
João, um dos que mais desfrutaram de Sua companhia, permanecia como o único
remanescente daquele grupo de doze apóstolos. Foi então que escreveu cinco
obras que fazem parte
da Bíblia Sagrada: três cartas, um evangelho e o Apocalipse.
Aquela
que é chamada de primeira carta de João, embora ocupe apenas duas folhas na
Bíblia, está repleta de ensinamentos úteis para os nossos dias, Lendo essa
carta, nossa atenção é atraída para duas expressões sinônimas que se repetem ao
longo do texto: “nascido de Deus” e “nascido dEle”. Através destas palavras, o
apóstolo nos mostra como podemos reconhecer um filho de Deus. São cinco marcas.
Fé em Jesus — Nos
tempos do Antigo Testamento, Deus prometera enviar alguém para ser o Salvador — alguém que pregasse o evangelho, que curasse os
quebrantados e libertasse os cativos, que trouxesse consolo e alegria (Isa.
61:1-3) — alguém que fora escolhido e ungido por Ele para essa missão.
João escreveu que “todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é
nascido de Deus” (1 João 5:1). Portanto, todo filho de Deus crê que Jesus de
Nazaré, e não qualquer outro homem, é o Cristo, o Ungido que Deus prometera.
Também reconhece que Jesus era muito mais do que um homem bom, um sábio, um
mestre e um poderoso profeta. A semelhança do apóstolo Pedro, ele afirma: “Tu
és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mat. 16:16).
Não viver pecando — “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado;
pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando,
porque é nascido de Deus” (1 João 3:9). O filho de Deus é simplesmente incapaz
de viver uma vida pecaminosa. Isto não significa que ele nunca mais cometerá um
ato de pecado, mas que ele não vive mais constantemente, habitualmente, uma
vida de pecado. Quando creu em Cristo, houve uma “transformação interior,
profunda, radical”; recebeu nova natureza, que exerce uma forte pressão interna
em direção à santidade”.
“Deus armou os Seus filhos para a guerra contra Satanás, implantando a Sua
própria natureza neles... Podemos dizes portanto, em terminologia moderna, que
os gens de Deus permanecem em Seus filhos, e que pecar é contrário à natureza
deles.”2 Ilustremos esta verdade comparando dois animais: o porco e
o gato. O porco tem prazer em chafurdar na lama, Faz parte de sua natureza. Mas
um gato jamais fará isso. É um dos
animais mais limpos que conhecemos: está sempre se lambendo, se limpando. Um
gato nunca terá prazer em se revolver na lama simplesmente porque não faz parte
de sua natureza. Assim, um filho de Deus não terá satisfação em viver uma vida
pecaminosa.
Prática
da justiça — “Se sabeis que Ele é justo, reconhecei também que
todo aquele que pratica a justiça é nascido dEle” (1 João 2:29). O texto afirma
que Deus é justo. A justiça é algo inerente a Seu caráter; por isso, tudo que
Ele faz é justo. Uma vez que o filho deve exibir o caráter do pai, porque
participa da natureza do pai,1 aquele que nasce de Deus também
pratica a justiça. Aquele que foi regenerado pelo poder de Deus não só abandona
o mal, também se esmera em efetuar o que é reto.
Amor para com os irmãos — “Amados,
amemo-nos uns aos outros, porque o amor
procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.
Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor (lª. João 4:7 e 8). O
amor nos leva a ser pacientes, corteses e esperançosos no trato com nossos
irmãos; bane de nossa vida o egoísmo, o ciúme, a inveja e o orgulho, e nos
capacita a suportar e perdoar as ofensas e injustiças.
Vitória
sobre o mundo — “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo”
(1 João 2:15),
O
mundo deve ser encarado por nós, não como amigo, mas como um inimigo que precisa
ser combatido e vencido. Contudo, isso sé é possível àquele que nasce de Deus,
“Porque este é o amor de Deus: que guardemos os Seus mandamentos; ora, os Seus
mandamentos não são penosos, porque todo que é nascido de Deus vence o mundo; e
esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”(I João 5:4).
Como vimos, um genuíno cristão crê em Jesus como o seu Salvador e, por
isso. teve sua vida completamente mudada, de modo que o pecado não é mais um
hábito ao qual está escravizado e o mundo não é mais seu amigo, nem mais o
fascina; ele, agora, ama de verdade e se empenha em praticar o bem. Estas são
marcas que o diferenciam dos demais e atestam ser ele, de fato, um filho de
Deus. Convém, agora, descobrir se essas marcas são nossas marcas.
Ernilson dos Reis é professor de Teologia do SALT IAE-Campus
2, Engenheiro Coelho, SP.
Referências
1.John R. W Stott,As Epístolas de João — introdução
e comentário (S. Paulo~ Edições Vida Nova e Editora Mundo Cristão,
1985), pag. 110.
2. Clifton J. .Allen (cd.), Comentário Bíblico Broadman (R.de
Janeiro: JUERP. 1987, vol. 12),
pág. 247.
3.Stott, pág. 101.
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