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quarta-feira, 14 de maio de 2014

O PERFIL DO ANTICRISTO

        


“A romanização do cristianismo abriu caminho para o estabelecimento do papado na antiga sede do império”
 
José Carlos Ramos, D. Min., é  professor  de  Daniel  e Apocalipse  no  Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, em Engenheiro Coelho, SP.     jcramos@iae2.com.br
 
Poder político-religioso ditatorial receberá apoio das nações
 
A profecia de Daniel 7, como vimos nas edições anteriores de Sinais, su­pre dez características do anticristo, o poder representado pelo “chifre pequeno” surgido entre outros dez no quarto dos quatro animais contemplados em visão pelo profeta: um poder que (1) se levantaria do Império Romano, (2) na parte ocidental, e (3) após sua queda; (4) seria diferente, (5) su­pressivo, (6) insolente, (7) usurpador, e (8) opressor; (9) dominaria por certo tempo, e (10) seria aparentemente favorável a Deus.
Uma comparação da primeira dessas carac­terísticas com o que Paulo afirma sobre o an­ticristo em 2a Tessalonicenses 2:4 levou-nos à conclusão de que a referência é ao sistema ro­mano de governo eclesiástico, conhecido como papado. Isso é confirmado pelas outras nove características proféticas e a forma como elas se ajustam a esse poder.
 
Características - Confirmam os fatos que essas ca­racterísticas se cumprem com o papado? A se­gunda e a última são óbvias; o Estado do Vati­cano se localiza na Europa Ocidental e o roma­nismo comporta um perfil professadamente cristão. Quanto à terceira, lembramos que, an­tes da queda do Império Ocidental em 476, ha­via cinco reconhecidos bispados, sendo o de Roma apenas um deles; os demais eram o de Je­rusalém, o de Antioquia, o de Alexandria e o de Constantinopla. A preeminência do bispo de Roma, em prejuízo dos demais, intensificou-se com a passa­gem dos anos, até que, em 533, Justiniano, imperador oriental em Constan­tinopla, nomeou-o “cabe­ça de todas as igrejas cris­tãs”. Assim, a romanização do cristianismo abriu o ca­minho para o estabelecimen­to do papado na antiga sede do império, Roma.
Como governo civil/ecle­siástico, o poder representa­do pelo chifre pequeno é “diferente” (Daniel 7:24) dos demais. A diferença é também sentida no fato de parecer o chifre pequeno “mais robusto” que os demais (verso 20). De tal forma o papado se im­pôs que os poderes civis da Europa medieval se tornaram subservientes a ele. Mesmo depois da Idade Média, os mandatários romanistas conti­nuaram a se considerar superiores aos gover­nantes. “Estamos os eclesiásticos tão acima dos governos, imperadores, reis e príncipes deste mundo”, pregava Kinzelmann, cura de Allgoeu, no século 19, “quanto o céu acima da terra.”
Para que o sistema romano religioso se es­tabelecesse plenamente, três dos reinos repre­sentados pelos dez chifres (versos 20 e 24) fo­ram suprimidos: os hérulos em 493, os vânda­los em 534 e os ostrogodos em 538. Eram reinos arianos que de alguma forma desestabili­zavam o predomínio papal. Dois deles, héru­los e ostrogodos, situaram-se na própria sede papal, Roma; os vândalos, ao norte da África, estabeleceram-se próximos a Alexandria, an­tes uma das sedes de bispado.
A insolência do chifre pequeno (versos 8, 11, 20 e 25) se cumpre no fato de que o romanismo se tem distinguido, especialmente com o dog­ma da infalibilidade papal, por declarações blas­femas. As palavras de Rui Barbosa sobre as im­plicações desse dogma, em sua famosa introdu­ção à obra de Janus, O Papa e o Concílio, vol. 1, págs. 112 e 114, são pertinentes: “Quando se diz que o infalibilismo é a divinização do papa, não há metáfora na expressão; há apenas o enunciado literal e estrito da doutrina ortodo­xa... Ele é [segundo o dogma]... o próprio Deus vivo entre os homens.”
 Provando que não exagerava, o grande ju­rista citou as palavras do monsenhor Ségur, regis­tradas em Le Souverain Pontife, pág. 198: “O papa é Jesus Cristo na terra.” E também os ter­mos do já referido Kinzel­rnann: “Muito abaixo do padre estão os anjos e ar­canjos... Nós somos supe­riores à mãe de Deus... Sim, os sacerdotes estão, até, de certo modo, acima de Deus... Deus criou, é certo, o mundo com a simples palavra ‘seja’; mas nós, padres, criamos o pró­prio Deus com três palavrinhas.”’ Com efeito, Leão XIII escreveu em 20 de ju­nho de 1894: “Nós ocupamos na Terra o lugar do Deus Onipotente.”
O “chifre pequeno” ostentaria prerro­gativas exclusivamente divinas por seu empenho em mudar a lei de Deus (verso 25). Uma comparação dos dez manda­mentos na Bíblia com os mesmos em qualquer catecismo indica que isso se deu com a exclusão do segundo manda­mento, que proíbe o culto às imagens (o que requereu que o décimo fosse dividi­do para que o número de mandamentos fosse preservado), e com a alteração do quarto, que requer a santificação do sába­do. A versão romana deste mandamento (o terceiro no catecismo, face à elimina­ção do segundo) torna o domingo o dia de guarda, e o próprio romanismo afirma ser ele o responsável pela mudança: “A Igreja Católica, mais de mil anos antes de um único protestante, em virtude de sua divina missão, mudou o dia de sábado para o domingo” (Catholic Mirror, 23 de setembro de 1893). “Em que parte das Sagradas Escrituras se diz que é preciso santificar o domingo?”, pergunta Fer­nando Carballo, reconhecida autoridade católica. “Em nenhuma”, responde. E continua: “Ademais, em nenhuma parte do Evangelho se encontra o mandato de Jesus: ‘Santifica o domingo em lugar do sábado...’ Por isto, o santificar o dia de domingo é outro costume que aceitaram e mantiveram os protestantes, baseados também só na Tradição [católica, por su­posto]” (Protestantismo e Bíblia, pág. 60; grifos do autor).
A predita opressão do chifre pequeno é evidenciada pelos milhares de márti­res da Idade Média. “Só na Espanha fo­ram vitimas da Inquisição 31.912 quei­mados vivos. Por sua vez, 291.450 su­postos hereges foram forçados a se peni­tenciar mediante submissão à maré, pe­sos, fogo, rodas e torniquetes... Um mi­lhão pereceu no massacre dos albigen­ses” (Key to the Apocalipse, pág. 91). Trinta mil huguenotes foram mortos na França apenas numa noite, a de São Bartolomeu, em 24 de agosto de 1572.
Alega-se que ao tribunal eclesiástico da Inquisição não competia a execução de sentenciados; que isso era função da autoridade civil, e que a igreja não de­veria ser responsabilizada. Mas o poder civil na época estava a serviço da igre­ja, e dela partiam a iniciativa e instân­cia das execuções. Os termos da bula papal Ad Extirpanda de 1252, emitida por Inocêncio IV, não deixam dúvida a respeito: “Quando os que forem decre­tados culpados de heresia tenham sido remetidos ao poder civil pelo bispo ou seu representante, ou pela Inquisição, o poder ou magistrado principal da ci­dade tomá-los-á imediatamente, e den­tro de cinco dias, no máximo, executa­rá as leis feitas contra eles.”
 
Duração — A profecia, finalmente, previu a duração do domínio do “chifre pe­queno: três tempos e meio (verso 25), ou, à luz de Daniel 11:13, três anos e meio. Considerando que, na profecia de gênero apocalíptico, um dia profético equivale a um ano literal (ver Sinais de abril de 1998, pág. 21), e que, à luz de Apocalipse 11:3, 12:6, 14, e 13:5, o ano profético contém 360 dias, três anos e meio proféticos cor­respondem a 1.260 anos literais. Esse período se iniciou em 538, quando os ostrogodos, o último dos “três chifres” arrancados, foram expulsos de Roma, e terminou em 1798, quando Pio VI foi aprisionado e exilado a mando de Napoleão Bonaparte. É verdade que três anos depois um novo papa ocu­pou o trono da Igreja, mas não mais com a mesma autoridade de antes.
Não há dúvida de que aquilo que foi predito em Daniel 7 sobre o anti­cristo se cumpriu com precisão na História. Mas não cessam aí as predi­ções. O Apocalipse prevê que esse mesmo poder receberá o apoio de to­das as nações da Terra (Apoc. 13:3, 7 e 8). Isso é decisivo para os que amam a Deus e desejam a salvação, pois está claramente afirmado que os que se sujeitarem ao anticristo não te­rão seus nomes escritos no livro da vida (verso 8). Ou seja, não serão ad­mitidos no reino de Jesus. Ele Se ma­nifestará em glória não apenas para punir os poderes iníquos, mas acima de tudo para coroar Seus seguidores com o dom da vida eterna.
 

 

Sinais dos Tempos

JULHO-AGOSTO/2003

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