Precisão
Histórica de Daniel - Parte Final
Como conciliar dados históricos da Bíblia com a História
secular.
por
José Carlos Ramos
Teólogo
Uma informação histórica do
livro de Daniel, alegada pela critica como incorreta e que, portanto,
conspiraria contra a posição tradicional (que atribui a autoria da obra ao
próprio profeta Daniel) tem a ver com a figura do rei Dario referida em Daniel
5:31; 9:11; 11:1 e principalmente no capitulo 6. Veremos que esse ponto não tem
a menor importância para aqueles que aceitam a genuinidade histórica e
profética do livro bíblico de Daniel.
A IDENTIDADE
DE DARIO DA
MÉDIA
Como a História jamais menciona
um rei da Média com o nome de Dario, principalmente em Babilônia, para a
alta-críti ca, essa figura é uma criação
do autor de Daniel, inspirada nos reis persas que tiveram esse nome.
Vejamos primeiro as informações
bíblicas quanto a Dario:
Ele era Medo por descendência – Daniel 5:31; 9:11; 11:1.
Era filho de Assuero - Daniel
9:1.
Era rei dos caldeus - Daniel
9:1.
Reinou em seguida à morte de
Belsazar, rei de Babilônia - Daniel
5:30 e 31.
Reinou dois anos no máximo – Daniel
10:1; 11:1.
Organizou o reino apontando 120
príncipes e 3 presidentes. Daniel
6:1 e 2.
Ciro sucedeu a Dano ou reinou
simultaneamente com ele - Daniel
6:28.
Tinha 62 anos ao começar a
reinar em Babilônia - Daniel 5:31.
Reinou no desempenho de um
governo subordinativo (sem dúvida a Ciro) como se denota da expressão “foi
constituído rei sobre o reino dos caldeus” - 9:1.
Salvo no que respeita ao nome,
não há qualquer semelhança deste Dario com qualquer rei persa homônimo
posterior. Sem dúvida, trata-se de uma figura histórica do tempo de Ciro, com
outro nome. O fato de a História não registrá-lo com o nome de Dario não
significa que ele não existiu. Segundo o historiador judeu Flávio Josefo, ele
tinha um nome diferente para os gregos (Antiguidades
Judaicas, X, 11,4).
O resumo das hipóteses
quanto a sua identidade histórica, conforme comentaristas do livro do profeta
Daniel, é a seguinte:
Dario foi Astíages, avô de
Ciro e filho de Ciáxares I que seria o Assuero de Daniel 9:1.
Essa hipótese fundamenta-se no fato de que Astíages foi o último rei da Média
antes de Ciro. Começou a reinar em 588 a.C., e era um homem idoso quando Babilônia
foi conquistada por Ciro em 539 a.C.
Segundo os historiadores
gregos, Astíages era inimigo de Ciro, e teria tentado mais de uma vez matá-lo.
Ciro se rebelou conta ele e o destronou em 549 a.C., nomeando-o governador da
Hircânia, ao sul do Mar Cáspío. Tais fatos tornam essa hipótese muito
improvável.
Dario foi o próprio Ciro. Dois
fatos favorecem essa hipótese: (1) ao derrotar Astíages, Ciro foi reconhecido
porNabonido como rei dos medos; e (2) inscrições da época indicam que Ciro
nomeou novos responsáveis pelo governo das provincias. Todavia, Ciro não é
reconhecido como da linhagem dos medos. É verdade que Mandana, sua mãe, era uma princesa da Média, filha de Astíages;
mas o pai, o rei Cambíses I, era persa. É também difícil compreender como Ciro poderia ser chamado “filho de
Assuero”, pois esse nome não pode ser considerado uma corruptela do nome de
seu pai, e muito menos do seu avô.
Dario foi o filho de Ciro,
Cambises II. A hipótese se vale do
fato de que Cambises II é citado em vários textos cuneiformes como o rei de
Babilônia, em associação com o pai. Mas ela se choca com o pormenor da idade e
nacionalidade de Dano. Cambises II era persa e não medo, e é altamente
improvável que ele tivesse 62 anos em 539 a.C.
Dario foi Gobrias, governador de Babilônia sob o domínio de
Ciro. Gobrias é mencionado pelo
historiador Xenofonte como estando com Ciro na conquista de Babilônia.
Essa é a hipótese mais aceita por aqueles que defendem a autenticiade da
narrativa de Daniel. É sustentada
partícularmente pelos dispensacionalistas. O nome de Dario seria uma corruptela
de Gobrias. Gubaru na Crônica de
Nabonido, ou então um título de realeza. Esse documento informa que Gubaru
se tornou o governador de Babilônia, e ainda que ele nomeou sub-governadores.
Mas a hipótese encontra três
dificuldades: (1) Gubaru viveu muitos anos depois da conquista de Babilônia,
o que é dito de Gobrias por Xenofonte; (2) é praticamente impossível que
Gubaru fosse da linhagem dos medos. Ele deveria ser assírio ou mais provavelmente
persa, segundo informação de Heródoto; e (3) não há evidência alguma de que
Gubaru fosse filho de Assuero, e que tivesse 62 anos ao começar a governar em
Babilônia.
Dario foi Ciáxares II, filho de Astíages.
Ciáxares II, portanto, era tio de Ciro. Essa hipótese se vale do
testemunho do historiador Xenofonte. Parece que ao destronar Astíages e para
agradar os medos, Ciro permitiu que Ciáxares II ocupasse o trono da Média.
Xenofonte informa que ele foi o último governador da Média; informa também que
Ciro, tendo conquistado Babilônia, casou-se com a filha de Ciáxares II. Assim,
aquele que era tio tornou-se também sogro Ciro, então, ofereceu-lhe
a Média como dote de casamento, e pode tê-lo convidado a ocupar um palácio em
Babilônia, e atuar na condição honorária de rei. Quanto à sua filiação com
Assuero (Daniel 9:1 e 11:1) seria como neto, e não como filho, a exemplo de Belsazar
com Nabucodonosor. Este Assuero que não deve ser confundido com o rei homônimo
do livro de Ester, seria uma variante do nome Ciáxares, e faria referência a
Ciáxares I, pai de Astíages.
No que
concerne à Crônica de Nabonido, Ciáxares II pode ter sido Ugbaru, que morreu
pouco tempo depois da conquista de Babilônia. Ou o nome desse rei poderia
estar registrado na parte fragmentada do documento, como sendo a pessoa
ilustre por quem se celebrou o luto oficial. Preferimos ficar com essa
hipótese.
CONCLUSÔES
Uma
análise não tedenciosa dos alegados “erros” históricos de Daniel demonstra que
a falta de credibilidade do livro é apenas uma questão de opinião. Na verdade,
é muito mais natural reconhecer a fidelidade histórica de sua narrativa do que
negála. O autor se mostra familiarizado com algumas particularidades tanto do
império babilônico como do medo-persa (como, por exemplo, o sistema babilônico
de computação do tempo de reinado, as formas de suplício relatadas nos
capítulos 3 e 6, a construção por Nabucodonosor da parte nova de Babilônia,
atribuída pelos historiadores clássicos à rainha Semíramis, e a co-regência de
Belsazar) que não poderiam ser conhecidas por alguém que viveu 300 a 400 anos
mais tarde e que teria, segundo a critica, escrito o livro.
Os
críticos, em geral, preferem sair pela tangente, explicando que alguma forma
de relatos históricos do tempo dos reis babilônicos e persas, desconhecidos dos
historiadores clássicos, teriam sido usados pelo suposto escritor para conferir
à obra maior sabor de originalidade. Alguns, porém, são mais sinceros e
reconhecem a dificuldade de verem conciliadas essa familiaridade e a posição
liberal. “Presumivelmente nunca saberemos”, reconhece R. H. Pfeiffer, da
Universidade de Harvard, como o nosso autor soube que a nova Babilônia foi
criação de Nabucodonosor, e que Belsazar, mencionado apenas nos documentos babilônicos,
em Daniel e em Baruque (este último dependente de Daniel), exercia funções
reais quando (Ciro atacou Babilônia.” (Introduction to the Old Testament, págs. 758 e 759).
Todo o empenho da alta-crítica
em negar a existência de Daniel como profeta e escritor do 6º século a.C.,
acaba revelando um dos fatos que se escondem por trás do preconceito que
estimula as posições liberais: a tendência de se dar mais credibilidade aos
historiadores seculares que aos sacros. Mas, pelo menos em relação às informações
legadas por Daniel em seu livro, é a
história secular; e não a sagrada, que se tem equivocado. A prova disso é
a afirmação clássica de que foi Semíramis a construtora da nova Babilônia e
não Nabucodonosor, em frontal contradição com Daniel 4:30. Hoje, se sabe, através
de documentação arqueológica, que Semíramis foi uma rainha assíria, mãe do rei
Adab-Nirari III, e que nada teve a ver com as construções em Babilônia, as
quais devem ser atribuidas a Nabucodonosor em harmonia com o relato bíblico.
Nota-se outro equívoco da
História quando se compara as conclusões arqueológicas quanto às dimensões de
Babilônia com o que Heródoto afirma a respeito. Segundo este historiador, que
diz ter visitado Babilônia no 5º século a.C., a cidade era quadrangular,
possuindo um perímetro aproximado de 90 km, o que significaria 22,5 km de cada
lado, e ocupando uma área de 490 km2 aproximadamente. Os muros
mediam 25 metros de largura, e entre 103 e 104 metros de altura. Segundo as
escavações, entretanto, a cidade antiga media 1.609 metros de cada lado. Com o
prolongamento feito por Nabucodonosor, identificado como cidade externa, o perímetro total ia um pouco além de 16 km. Quanto
aos muros, havia um sistema duplo tanto para a cidade antiga como para a nova.
A largura máxima não chegava a 8 metros.
É impossível determinar a altura por estarem os muros em ruínas. A maior altura
das ruínas é 12,20 metros. Não poderia ser de 103 a 104 metros, pois haveria
uma proporção inviável de 13 metros de altura por um metro de largura.
Certamente Heródoto exagerou as medidas da cidade e dos muros.
Na próxima edição veremos que a
alta-critica igualmente se equivoca ao pretender que a mensagem do livro de
Daniel também evidencia que a obra é uma produção posterior de caráter pseudoprofética,
e de autoria anônima.
Buenas tardes, como puedo formular mi duda.
ResponderEliminarSaludos. Soy Maximo y vivo en Chile