A forma como as profecias
de Daniel foram registradas, somada ao fato de muitas delas alcançarem um exato
cumprimento em eventos que partem do domínio babilônico e avançam – como é suposto pela alta crítica - até os
dias de Antíoco Epifanio, têm levado
os eruditos liberais a estabelecerem o 2o. século
a.C. como época da produção do livro. Isso é feito numa tentativa de justificarem
o vaticinia ex eventu como critério de interpretação.
Fossem aceitas as evidências que indicam o 6o. século em lugar do
segundo, teriam de aceitar o elemento genuinamente preditivo da mensagem profética
e reconhecer o caráter sobrenatural e divino de tais predições.
O conceito interpretativo conhecido como vaticinia ex eventu determina que a exposição profética não passe
de um simples relatório de eventos históricos numa roupagem profética o
historiador se “desloca” para um tempo anterior aos eventos e então os narra
na perspectiva de um profeta. Esse é o tratamento dado a uma grande porção do
material profético de Daniel, que inclui os capítulos 2, 7, 8, 9 e
particularmente 11:2-35. Os versos restantes desse capitulo, são os únicos
que conteriam predições genuínas, pois tratam dos últimos lances da carreira
de Antioco, que estariam ainda por acontecer. Nesse caso, afirmam os liberais,
o escritor se equivocou prevendo fatos que jamais ocorreram.
Esse parecer da alta
crítica, é adequadamente expresso na seguinte afirmação liberal do Dr.
Brownlee: “O fim de Antíoco, predito em Daniel 11:40-45, difere da história de sua morte em
I e II Macabeus, e, portanto, representa presumivelmente predição real da parte
do autor de Daniel, a qual nunca se cumpriu.” ~William H. Brownlee, Tbe Merning of tbe Qumran Scrolls for the
Bible, págs. 35 e 36).
A IRRAZOABILIDADE DA ALTA CRÍTICA
Nesse
ponto, a alta critica é incoerente, pois oferece ao livro de Daniel um tratamento
diverso daquele oferecido a outras porções não explicitamente proféticas da
Bíblia, aceitando a data tradicionalmente adotada para a produção dessas
porções, em vista das evidências providas pelos documentos arqueológicos de
Qumran (os manuscritos do Mar Morto).
Por
exemplo, os críticos abandonaram a idéia de que determinados Salmos e os livros
de Eclesiastes e 1 e II Crônicas foram originalmente escritos no tempo dos Macabeus (2o. século
a.C.). Esta era a posição sustentada por eles até a descoberta dos manuscritos
do Mar Morto. Agora concordam com uma data bem anterior, em vista de cópias
destas porções bíblicas terem sido encontradas em Qumran. A razão disto é que
entendem que tais cópias não teriam sido fritas de originais tão recentes, os
quais, por outro lado e acima de tudo, não teriam tido tempo para chegar a ser
considerado material canônico como realmente o foram. A data das cópias é
calculada ser em tomo de 120 a.C. Por que não chegam às mesmas conclusões em
relação às cópias de Daniel, encontradas no mesmo sítio arqueológico, e datadas
mais ou menos da mesma época?
O que
aqui se observa é um clássico exemplo de como um critério preconcebido de
interpretação normatiza qualquer estudo introdutório de um livro. Daniel não
poderia ser o autor - sem
considerar as evidências que apontem para isso, porque segundo o livro ele
foi um profeta, e profetas, no sentido clássico, não existem. A época não pode
ser o 6o. século, também não importando as evidências desse fato,
porque ninguém pode com tal exatidão
prever o que irá acontecer. O local não pode ser Babiabilônia,
embora tudo indique que sim, porque esta não foi o palco dos principais
acontecimentos descritos, e sim a Palestina. E vamos por ai afora,
parafraseando Daniel 2:36: “esta é a
interpretação (a dos liberais) e a abordagem introdutória não pode ser outra se
não a que eles oferecem.
É A ALTA CRÍTICA CONFIÁVEL?
Resta
então indagar: Está correta a interpretação liberal? E o preterismo a expressão da verdade? Não pode esta forma de
interpretação ser um grande equívoco, e, em resultado, as próprias questões pertinentes
a autoria, data, local, e natureza do escrito, serem abordadas de maneira
igualmente equivocada?
Com todo
o respeito, cremos que sim. Negar um livro profético da Bíblia é negar a
própria Bíblia, pois toda ela é de natureza profética. Mesmo uma olhadela
superficial ao Velho Testamento é suficiente para nos convencer de que os
profetas que falaram em nome de Deus não apenas descreveram os eventos de seus
dias, mas adiantaram o que haveria de vir num futuro próximo e também
distante. Portanto, rejeitar as profecias de Daniel como genumas, é rejeitar o
dom profético e o fato de que o Deus verdadeiro Se revela, e segue cumprindo o
Seu propósito na História. É, finalmente,
negar o próprio cristianismo, cujo Fundador viu em Daniel um profeta, e em
suas profecias o elemento preditivo da História (Mateus 24:15).
Que
Daniel foi considerado um porta-voz de Deus a Seu povo e a seus opressores é
claramente discernido em sua mensagem, dada com profundidade tal que o próprio
profeta quase sempre ficava sem captar plenamente o alcance da revelação. A
parte histórica demonstra vividamente que o propósito divino vai sendo cumprido
mesmo quando aparentemente os opressores triunfam. A parte profética claramente
atesta que este propósito continuará a ser cumprido até que alcance seu ponto
culminante na restauração final. E isso a despeito de toda oposição que esses
opressores continuarão a oferecer Assim, as profecias de Daniel não se estendem
até Antíoco, como querem os intérpretes liberais. Elas alcançam os nossos
dias, e se estendem além, até a consumação final.
Tomando
o próprio 2o. século como referência, Harrison questiona a posição
liberal nestes termos: “Se a obra é realmente uma retroprojeção do tempo dos
Macabeus, como tem sido reivindicado por muitos críticos, não é fácil ver
como judeus beligerantes poderiam ter sido encorajados por uma narrativa de
história passada feita na aparência de uma profecia, como nos capítulos 8 e 11.
Ademais, desde que algumas das seções apocalípticas estiveram aparentemente
além da compreensão do próprio Daniel, não dá para imaginar que os judeus
macabeus teriam tido qualquer grau superior de entendimento ou iluminação, e
conseqüente encorajamento, considerando que muitas das alusões são tão
enigmáticas que desafiam uma explicação ou identificação precisa,
particularmente em Daniel 11:30-45” (R. K. Harrison, “Daniel, The International Standard Bible
Enclclopedia, vol. 1, pág. 862).
O fato é
que o 6o. século é
a época da produção, como atesta a forma de introdução dada pelo escritor às
visões. Schwantes observa que Daniel registra a data das visões, o que
igualmente ocorre em Ezequiel, Ageu e Zacarias, todos do 6o.século.
Produções posteriores, incluindo o livro de Malaquias, e particularmente as
obras pseudo-proféticas do 2o. século, como Jubileus e Enoque, fogem
a esse padrão. “O hábito de datar as visões, tal como se esboça no livro de
Isaías e que tem seu pleno florescimento nos livros de Jeremias e Ezequiel,
continua influenciando os profetas Daniel e Ageu, para logo declinar posteriormente.
É pois evidente que essa
constatação favorece a data tradicional do livro de Daniel, em que se pese a
preferência da data proposta pela critica liberal.” (S.
J. Schwantes, “La Fecha del Libro de Daniel”, theologica VIII, nº 2, pág. 93)
Quando
os judeus se viram assediados por terríveis inimigos, a impressão era de que
não haveria qualquer condição de escape e muito menos de vitória. Mas o rei
Josafá, cheio dc fé e coragem, conclamou o povo a se apegar às promessas de
Deus apresentadas por Seus porta-vozes:
Crede no Senhor, vosso Deus”, bradou
ele, “e estareis seguros; crede nos Seus profetas e prosperareis” (II
Crónicas 20:20). Em seguida veio o maravilhoso livrimento: o próprio Deus
batalhou por Seu povo e venceu os inimigos.
Esse
fato continua verdade hoje. Se queremos viver uma vida cristã vitoriosa, e
desfrutar acima de tudo a salvação provida por Deus, ainda temos que dar a devida
atenção à palavra profética da Bíblia, que será qual lâmpada a nos guiar nos
obscuros caminhos deste mundo até que a lua divina raie para sempre em nossa vida
(IIPedro 1:19). É por essa
razão que conceitos negativistas, tais como os da alta crítica, que ignoram
o valor profético do livro de Daniel, precisam ser sumariamente rejeitados.
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