O perdão traz vida
nova a quem o oferece.
por Alejandro Bullón
Orador do programa de TV Está
Escrito
Não podia perdoar. Por mais que
se esforçasse para fazê-lo não conseguia. E aquilo doía terrivelmente, lá
dentro, onde nada se enxerga e onde não há remédio que acalme a dor.
Incomodava, machucava e asfixiava, mas estava sempre presente de dia e de
noite.
Tudo começou ao Marisa receber
uma amiga em casa, oferecer-lhe teto, comida e amor. De repente, porém, ela
fugiu com o seu marido. “Não há coisa pior do que a traição” pensava consigo
mesma. Posso perdoar tudo, menos o que aqueles dois fizeram comigo.”
Vários anos depois, a ferida
ainda sangrava como se tivesse sido aberta no dia anterior. Marisa acordava
pensando em vingança e adormecia com ódio no coração. Aquela tragédia a incapacitou
de amar outras pessoas e de ser feliz. Seu coração era um poço de veneno; suas
palavras pareciam facas afiadas e prontas
para destruir. Não havia luz em sua vida. Apenas sombras, escuridão e
pessimismo.
Foi nessas circunstâncias que
uma amiga a levou para assistir a uma cruzada evangelistíca que dirigi no Rio
de Janeiro. A mensagem que ela ouviu acerca do perdão a revoltou. Por isso,
ligou para mim no hotel e disparou todo o seu arsenal de críticas e amargura.
— Não
concordo com você — disse. — É fácil
falar de perdão quando não se foi traído e não se sabe a dor que isso causa.
Depois contou-me sua
história. Chorou quando falou do momento em que descobriu que seu marido tinha
um caso com sua melhor amiga, hospedada em sua casa, e quando expressou a dor
que significou vê-lo abandonar o lar para morar com ela.
Cinco anos é muito tempo.
Diante da brevidade da vida, cinco anos de amargura e rancor é tempo precioso,
desperdiçado inutilmente.
— Por que você não os
perdoa? — Perguntei.
— Perdoar? Você está louco?
Tenho amor-próprio — quase
gritou.
Isso não é amor-próprio.
Porque guardar rancor é ilógico, autodestrutivo, irracional e além do mais, é
uma bobagem que não faz sentido. Se o rancor fizesse pelo menos um pouquinho de
mal a quem traiu, poderia ter alguma razão de ser. Mas não, o traidor está lá,
feliz, e a vítima fica remoendo-se de ódio, prisioneira de seus próprios
algozes interiores.
O rancor só prejudica a quem o guarda no coração e, por incrível que
pareça, o perdão beneficia mais a quem perdoa do que a pessoa que foi perdoada.
Pense em Jesus. No sermão da
montanha Ele pregou com Sua palavra: “Perdoai os vossos inimigos”, e na cruz do
Calvário pregou com Sua vida: perdoou seus inimigos. Ele fez isso só porque
tinha que ser coerente com Seus ensinos? Não! Foi muito mais. A dor
física era extrema na cruz. Seu corpo estava machucado. Tudo doía. Sangrava
muito e para complicar, aquela posição na cruz, sem poder mover-Se, era
completamente incômoda. Por outro lado, o sofrimento emocional por causa da
salvação da raça
humana era sobremodo grande. Para que então adicionar à dor, a amargura do
veneno que o rancor ou a mágoa pela atitude daquele povo ingrato produziria em
Seu coração?
Naquela
noite, através do telefone, Marisa entendeu que seu rancor era uma faca afiada
que a estava destruindo. Entendeu a tolice de seu ódio. Clamou pelo poder
sobrenatural de Jesus. Abriu o coração e permitiu ao Espírito de Deus trabalhar
em sua vida. Se o seu marido e a sua melhor amiga a tinham traído cinco anos
atrás, ela não mais permitiria que eles a continuassem prejudicando.
Meses depois, recebi uma carta. As palavras dela não eram mais amargas.
havia paz nas suas expressões. Finalmente tinha descoberto um novo horizonte. A
mágoa do passado tinha sido diluída diante da esperança do futuro. Havia
perdoado. Agora queria viver. E a única pessoa que lucrou com isso foi ela.
Sinais dos Tempos novembro/98
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