Como entender os 1.290 e 1.335
dias de Daniel 12:11 e 12?
A natureza e
o cumprimento dos “1.290 dias” e “1.335 dias” de Daniel 12:11 e 12 só poderão
ser devidamente compreendidos se considerados dentro da estrutura de
paralelismo profético do livro de Daniel. William H. Shea esclarece que no
livro de Daniel cada período profético (1.260, 1.290, 1.335 e 2.300 dias)
aparece como um apêndice calibrador ao corpo básico da respectiva profecia que
lhe corresponde. Por exemplo, a visão do capítulo 7 é descrita nos versos 1-14,
mas o tempo a ela relacionado só aparece no verso 25. No capítulo 8, o corpo
da visão é relatado nos versos 1-12, mas o tempo só ocorre no verso 14. De modo
semelhante, os tempos proféticos relacionados com a visão do capítulo 11 só são
mencionados no capítulo 12. (W. H. Shea, Daniel 7-12: Prophecies of the End Time, págs.
217 e 218.)
Esse paralelismo comprova que
os 1.290 e 1.335 dias, de Daniel 12:11 e 12, compartilham da mesma natureza
profético-apocalíptica que os “tempo, tempos e metade de um tempo”, de Daniel
7:25, e as 2.300 tardes e manhãs, de Daniel 8:14. Assim, se aplicamos o
princípio dia-ano aos períodos proféticos de Daniel 7 e 8, também devemos
aplicá-lo aos períodos de Daniel 12; pois todos esses períodos estão
interligados entre si, de alguma forma, e a descrição de cada visão indica
apenas um único cumprimento para o período profético que lhe corresponde.
Básico para a compreensão
desses períodos é também a identificação dos eventos e dos poderes a eles
relacionados. A alusão em Daniel 12:11 ao “sacrifício diário” e à “abominação
desoladora” conecta os 1.290 e 1.335 dias não apenas com o conteúdo da visão de
Daniel 11 (ver Dan. 11:31) mas também com as 2.300 tardes e manhãs de Daniel
8:14 (ver Dan. 8:13; 9:27). O mesmo poder apóstata que haveria de estabelecer a
“abominação desoladora” em lugar do “sacrifício diário” é descrito em Daniel 7
e 8 como o “chifre pequeno”, e em Daniel 11 como o “rei do Norte”.
A expressão “sacrifício diário”
é a tradução do termo hebraico tamíd, que
significa “diário” ou “contínuo”, ao qual foi acrescida a palavra “sacrifício”,
que não se encontra no texto original de Daniel 8:13 e 12:11. Esse termo (tamid) é usado nas Escrituras em
relação não apenas com o sacríficio diário do santuário terrestre (ver Êxodo
29:3 8 e 42) mas também com vários outros aspectos da ministração contínua
daquele santuário (ver Exodo 25:30; 27:20; 28:29 e 38; 30:8; 1 Crôn. 16:6). No
livro de Daniel o termo se refere, obviamente, ao contínuo ministério
sacerdotal de Cristo no santuário/templo celestial (ver Dan. 8:9-14). Já a
“abominação desoladora” subentende o amplo sistema de contrafação a esse
ministério, construído sobre as teorias antibíblicas da imortalidade natural
da alma, da mediação dos santos, do confessionário, do sacrifício da missa
etc.
Foi com base nesses princípios
que Guilherme Miller chegou à conclusão de que tanto os 1.290 anos como os
1.335 anos iniciaram em 508, quando Clóvis obteve a vitória sobre os visigodos
arianos, passo esse decisivo na união dos poderes político e eclesiástico para
a punição dos “hereges” pelo catolicismo medieval. Os 1.290 anos eram vistos
como havendo se cumprido em 1798, com o aprisionamento do Papa Pio VI pelos
exércitos franceses. Já os 1.335 anos eram considerados como se estendendo por
mais 45 anos, até o término dos 2.300 anos de Daniel 8:14, em 1843/1844. Essa
interpretação foi mantida pelos primeiros adventistas observadores do sábado,
transformando-se na posição histórica da Igreja Adventista do Sétimo Dia até
hoje.
Rompendo com essa
interpretação, alguns indivíduos têm proposto, em anos mais recentes, uma
“nova luz” sobre um suposto cumprimento futuro dos 1.290 e 1.335 dias, como
meros dias literais. Por mais interessante que possa parecer, essa nova interpretação
(1) rompe completamente com o paralelismo profético do livro de Daniel; (2)
busca endosso em uma leitura parcial e tendenciosa do Espírito de Profecia; (3)
é inconsistente em sua aplicação do princípio dia-ano de interpretação
profética; (4) promove a interpretação profética futurista da contra-reforma
católica; e (5) menospreza as advertências do Espírito de Profecia sobre
marcações de quaisquer novas datas.
Sem dúvida, esse suposto
cumprimento futuro dos 1.290 e 1.335 dias é totalmente irreconciliável com as
declarações de Ellen White de que “o tempo não tem sido um teste desde 1844, e
nunca mais o será” (Primeiros Escritos, pág.
75), e que nunca mais haverá para o povo de Deus uma mensagem baseada em
tempo.” — Mensagens
Escolhidas, vol. 1, pág. 188. O
O Dr.
Alberto R. Timm do Centro de Pesquisas Ellen G.White (Brasil) é quem responde.
Escreva para Perguntas e Respostas - Caixa
Postal 2600; CEP 70270-970, Brasília, DF ou revistadoanciao@das.org.br.
A proposta deste espaço é esclarecer duvidas sobre assuntos ligados às
doutrinas da igreja. Dentro do possível a resposta será publicada nesta seção.
FONTE: Revista
do Ãncião, janeiro-março 2004
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