A
máscara do anticristo
As
características do anticristo o identificam como um poder religioso que
aparenta fidelidade a Deus
O “chifre
pequeno” do quarto animal de Daniel 7, que começamos a estudar no último
número de Sinais, é um ingrediente
muito significativo dessa profecia. Em visão, o profeta contemplou quatro
animais saindo do Mediterrâneo, o último dos quais era “terrível, espantoso e
sobremodo forte”. Este simboliza o Império Romano, que dominou o Ocidente e o
Oriente por mais de seiscentos anos. Ele tinha dez chifres, representando os
diferentes remos formados pelas tribos bárbaras que invadiram e dissolveram o
império, dando origem às nações da Europa ocidental.
O
chifre pequeno surgiu e cresceu a ponto de derrubar três dos dez. Ele atraiu a
atenção do profeta por ter olhos e boca como de homem, falar insolentemente e
fazer coisas terríveis, como perseguir os fiéis de Deus e mudar a Sua lei (vs.
8, 21 e 25). Nesta edição, prosseguiremos considerando este símbolo, a fim de
determinar que poder na história ele representa. Para isso, observemos mais
atentamente os aspectos proféticos a ele aplicáveis.
Detalhes
— A profecia apresenta dez características do poder
representado pelo chifre pequeno:
1. Um poder que se levantaria do
Império Romano. Segundo
o que o profeta viu, o chifre pequeno não se manifestou no primeiro, no segundo
ou no terceiro animal, mas no quarto, precisamente aquele que simboliza o Império
Romano.
2. Um poder que se levantaria na parte
ocidental do império. Se os dez
chifres do quarto animal representam as tribos bárbaras que invadiram e
dividiram a parte ocidental do Império Romano, e se o chifre pequeno surgiu
entre eles (v. 8), temos que convir que este símbolo representa um poder também
ocidental. Como visto, quando se afirma que o ano 476 d.C. marca o fim do
Império Romano, está sendo feita, é claro, uma referência ao Império do
Ocidente, já que o do Oriente, também conhecido como Império Bizantino,
continuou por ainda quase mil anos.
3. Um poder que se levantaria após a
queda do Império Ocidental. A
profecia previu que o
chifre pequeno não surgiria apenas “entre” os dez,
mas “depois” deles (v. 24). Se a invasão bárbara do império ocidental culminou
com a queda de Roma diante de Odoacro, rei dos hérulos, em 476, então o poder
representado por esse chifre projetar-se-ia no cenário da História
particularmente após este ano.
4. Um poder
diferente. Embora
o chifre pequeno haja aparecido “entre” os dez e “depois” deles, é-nos dito
que ele seria um reino “diferente” (v. 24), isto é, distinto dos primeiros, naturalmente
na forma e natureza do domínio exercido, bem como em força e influência. A
profecia afirma que ele “parecia mais robusto do que os seus companheiros” (v.
20).
5. Um poder supressivo. A profecia previu que o chifre
pequeno chegaria ao pleno domínio com a derrubada de três dos dez primeiros
chifres (vs. 8, 20 e 24). Isso implica, naturalmente, que os remos
representados por esses chifres invadiriam o Império Ocidental, mas não
perdurariam. Na verdade, mais de três dessas tribos tiveram duração curta, mas
exatamente três não vingaram por influência direta do poder representado pelo
chifre pequeno.
6. Um poder
insolente. Quatro
vezes a profecia anunciou que o poder representado pelo chifre pequeno seria
blasfemo: três na descrição da visão, quando é dito que falaria “palavras insolentes”
(vs. 8, 11 e 20), e uma ao ser dada a interpretação, quando é dito que estas
palavras seriam proferidas “contra o Altíssimo”.
7. Um poder
usurpador. Além de
blasfemar contra Deus, este poder usurparia prerrogativas divinas, pois a
profecia declara que ele cuidaria em mudar os tempos e a lei de Deus (v. 25).
Assim como é Deus quem muda os tempos (Dan. 2:21), igualmente Ele apenas pode
alterar Sua lei, caso ela devesse ser alterada. Mas por ser
uma expressão do caráter dEle, ela, a exemplo de
Deus, não muda (ver Mal. 3:6). É por isso que Jesus afirmou: “Émais fácil
passar o céu e a terra do que cair um til sequer da lei” (Luc. 16:17).
8. Um poder
opressor. Além de blasfemar contra Deus e de se levantar contra
os tempos e a lei estabelecidos por Ele, o poder representado pelo chifre
pequeno também investiria contra os Seus fiéis, chamados “santos do Altíssimo”
na profecia (vs. 22 e 25).
9. Um poder que dominaria por determinado
tempo. A
profecia estabeleceu também o período durante o qual o poder representado pelo
chifre pequeno dominaria: “um tempo, dois tempos e metade de um tempo” (v.
25). Considerando que na mensagem profética do livro de Daniel um tempo corresponde
a um ano (ver 11:13), temos aqui três anos e meio como extensão do domínio
deste poder. Considerando ainda que, na profecia de gênero apocalíptico, 1
dia profético equivale a 1 ano literal (ver Sinais de abril de 1998), e que, com base em Apocalipse 11:3,
12:6, 14, e 13:5, o ano profético contém 360 dias, três tempos e meio seriam o
produto de 3,5 multiplicado por 360, isto é, 1.260 dias, na realidade 1.260
anos (cf. Ezeq. 4:7).
10. Um poder
aparentemente favorável a Deus. Na visão, o chifre pequeno possui olhos “como os de homem”,
e uma boca que fala (v. 8), portanto humana, Já observamos que a profecia de
Daniel 7 contém dois blocos principais de símbolos: o elemento animal e o
elemento humano. O primeiro retrata poderes hostis a Deus e a Seu povo; o
segundo, poderes favoráveis a Ele. Os olhos e boca do chifre pequeno não podem
ser autenticamente humanos porque explicitamente agem contra Deus, Suas
instituições e Seu povo, o que conflita com o caráter dos elementos
representados pela simbologia humana na visão. O substantivo “olhos”, no
original aramaico, é registrado prefixamente com a letra kaph, que funciona, dependendo do sentido, como partícula de
comparação, de aparência, de equivalência ou de qualidade, entre outras
aplicações. Em nossas Bíblias, a partícula que aparece nesse texto é “como”
(“olhos como os de homem”).
Assim, a profecia deixa
entrever que, enquanto o poder representado pelo chifre pequeno se levanta
contra a lei de Deus e contra Seu povo, ele ostenta uma aparência favorável a
Deus. Jesus tocou nesse ponto ao advertir os discípulos: “vem a hora em que
todo o que vos matar julgará com isso tributar culto a Deus” (João 16:2).
Identificação
- Um grande número de comentaristas do livro de Daniel, em
que pesem as diferentes linhas interpretativas adotadas, reconhece que o
chifre pequeno do quarto animal, na visão do capítulo 7, projeta a discutida
figura do “anticristo”. E não poderia ser diferente, pois a maneira
como o texto sagrado descreve o poder representado por este símbolo não deixa
dúvida. Somente o anticristo iria usurpar direitos exclusivos de Deus,
atentar contra Sua lei, insolentemente blasfemar de Deus e finalmente guerrear
contra Seu povo.
Os dados proféticos,
todavia, nos advertem contra tendências interpretativas que contrariam a
revelação profética. Por exemplo, aqueles que imaginam que o anticristo será
um poder totalitário, materialista e abertamente contrário a Deus e às coisas
de Deus estão equivocados, pois a profecia atribui-lhe uma aparência de
piedade. Outros imaginam que o anticristo procederá do Extremo Oriente (onde
imperam religiões não cristãs), quem sabe na forma de um novo messias, um Maitréia,
como anunciado pelos arautos da Nova Era. Outros ainda o imaginam na figura de
um importante líder comunista, ateu e carismático, que mobilizará o mundo numa
última batalha contra o Céu; ou, então, o vêem no perfil de uma figura islâmica
radical, imponente, impulsiva, arrebatadora, um novo Bin Laden infinitamente
mais ameaçador, levando os atentados às últimas conseqüências. Porém, se o
chifre pequeno do quarto animal é um símbolo do anticristo, este é um poder
ocidental.
Mas quem é ele? Quem,
unicamente, cumpre as dez características acima?
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