Deus
usou símbolos para descrever os poderes que atuam em nosso planeta
“Os símbolos comunicam expressivamente à mensagem e a
tornaram mais impressiva na consciência”
José Carlos Ramos, D.Min., é professor de Daniel e
Apocalipse no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, em Engenheiro
Coelho, SP.
Daniel, um admirável livro profético da Bíblia, tem
uma mensagem importante para o nosso tempo. No capítulo 7, o profeta apresenta
o segundo plano profético de sua obra. A partir desta edição, estudaremos o
conteúdo desse capitulo e seu significado.
Para revelar as
profecias, Deus usou muitos símbolos. Alguns pensam que Ele deveria ter
facilitado as coisas, anunciando-as em linguagem literal. Mas Deus foi muito
sábio quando decidiu empregar símbolos. Ao contrário de ser um entrave no
processo da revelação, os símbolos a tornam interessante e a disponibilizam de
modo mais efetivo. No anseio de conhecer o que significam, o estudante se
empenhará por compreendê-los, indo a fundo na investigação bíblica e intensificando
sua comunhão com Deus. E, com isso, ele só tem a ganhar.
Os símbolos comunicam
expressividade à mensagem e a tornam mais impressiva na consciência. Além
disso, Deus pode ser bem mais específico com os símbolos, pois uma figura vale
mais que muitas palavras. O Apocalipse, por exemplo, poderia ser considerado
“o livro dos símbolos”, devido ao tipo de linguagem que o caracteriza.
Todavia, o termo significa “revelação”, e jamais enigma, misténo ou ocultação.
Há também envolvido um fator de segurança. Os que
servem a Deus sempre contam com inimigos. Os símbolos, nesse caso, funcionam
como um código que torna a mensagem praticamente inacessível a eles. Isso é
importante, porque a profecia, em vários lances, faz alusão a esses inimigos,
e, se as referências fossem explícitas, a hostilidade seria maior.
Categorias de símbolos — Daniel 7 usa duas categorias
principais de símbolos: elemento animal e elemento humano, como representação
de forças respectivamente contrárias e favoráveis a Deus. Em outras palavras,
Deus tem inimigos e tem também aliados. O quadro mostra como essas categorias
aparecem distribuídas no texto da visão.
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|______________Símbolos__________________________________|
|Versos | Elemento animal | Elemento humano | |
3 |
Quatro Animais | ----
|
| 4
| Leão | Mente humana dada ao leão |
| 5
| Urso |
----
|
| 6
| Leopardo | -----
|
| 7, 19
| Monstro terrível |
----
|
| 7, 20
| Dez chifres | ----
|
| 8, 20,
21| Chifre pequeno |
Olhos e boca humanos neste chifre |
|
13 | --- | Filho do homem |
Para acompanhar melhor as
considerações a seguir, seria extremamente útil você abrir a Bíblia em Daniel 7
e ler os versos indicados.
No verso 1, Daniel
inicia informando em que circunstância e tempo a visão lhe foi
dada. Esta ocorreu na forma de um sonho no primeiro ano do reinado de Belsazar,
o último rei de Babilônia. A identidade deste rei foi, por muito tempo, motivo
de controvérsia entre estudiosos do Antigo Testamento. Os liberais consideravam
o relato bíblico fictício, por causa do aparente conflito com o testemunho dos
historiadores clássicos, segundo os quais o último rei de Babilônia foi
Nabonido.
Hoje se sabe que ambos,
Bíblia e historiadores, estão corretos. Na realidade, Nabonido foi o último rei
de Babilônia, e Belsazar, que era seu filho, assumiu o trono na forma de
co-regente. Isso se deduz de um
documento conhecido como Relatório em Verso de Nabonido, publicado pelo
arqueólogo Sidney Smith em 1924. Aí é afirmado
que este rei, no terceiro ano de reinado, confiou a direção do reino ao filho
mais velho, Belsharuzur (inequivocamente o Belsazar da Bíblia), e partiu para a
conquista de Tema na Arábia.
Segundo Heródoto,
Nabonido teria subido ao trono em 556 a.C. Como os babilônicos computavam o primeiro
ano de um rei como sendo o seguinte ao da ascensão, o primeiro ano de Belsazar
foi 553 ou 552 a.C. Este é o tempo desta visão. Babilônia continuaria no
domínio do Oriente por pelo menos mais 12 anos.
No verso 2, o profeta
contempla em visão o Mediterrâneo agitado pelos “quatro ventos”. Em profecia,
“muitas águas” significam “povos, multidões, nações e línguas” (Apoc. 17:15).
“Ventos” apontam para comoções naturais, políticas, ideológicas ou religiosas
que marcam o dia-a-dia do planeta. O ser humano voltado ao pecado não tem paz
(Isa. 48:22). Assim, o mar das nações aparece aqui agitado pelos quatro ventos.
Injustiças, intolerância, perseguição, opressão e conflitos de toda a natureza
caracterizam a história da humanidade, desde que o mal aqui se estabeleceu,
Das águas agitadas do
“Grande Mar” (verso 3), Daniel contemplou, um após o outro, o surgimento de
quatro animais. Assim, do redemoinho das agitações políticas e sociais do
mundo, determinadas nações se sobressaem e impõem o domínio. Mas levantam-se
para cair, cedendo espaço para as que lhes sucedem. Não é o que se constata na
História?
Nos versos 4-8, o
profeta passa a descrever esses animais. O primeiro éum leão alado que afinal
recebe um coração humano e se ergue como um homem. O segundo é um urso feroz
que se apóia em uma das patas e traz entre os dentes três costelas. O terceiro é um leopardo guarnecido com
quatro asas e quatro cabeças. Finalmente, surge o quarto animal causando
tremendo impacto: era “terrível, espantoso e sobremodo forte”. Com dentes de ferro,
nenhum animal podia com ele. Em sua cabeça ostentava dez chifres, do meio dos
quais se levantou outro, pequeno de início, mas que se tomou mais forte que os
anteriores. Este chifre possuia olhos e boca humanos, e diante dele três dos
dez chifres caíram.
No transe profético, o
vidente passa deste mundo para o ambiente celestial (versos 9-14). Ele vê o assentamento
de tronos e Deus tomando o Seu lugar. “Milhares de milhares e miríades de
miríades” estão diante dEle. Livros são abertos e tem inicio a solene sessão do
tribunal divino. O julgamento culmina com dois resultados: (1) o domínio é
tirado dos animais e (2) é outorgado a “um como o Filho do homem “, que
deve reinar para todo o sempre.
Ansioso por saber o que
tudo aquilo significava, Daniel, ainda em visão, pediu a ajuda de um anjo (versos
15 e 16). Nos versos 17 e 18, o anjo interpreta as duas categorias de símbolos
sucintamente, mas com precisão: (1) os quatro animais simbolizavam quatro
reinos que exerceriam domínio sobre a Terra; (2) o Filho do homem entregará o
reino aos “santos do Altíssimo”.
Os quatro remos
referidos são:
Babilônia, que dominou o mundo de 605 a
539 a.C.; a Medo-Pérsia, entre 539 e 331 a.C.; o império greco-macedônico,
de 331 a 168 a.C.; e finalmente Roma, de 168 a.C. a 476 dc. Mas chegaria
o tempo em que o tribunal de Deus decidiria a quem deveria ser entregue, para
sempre, o domínio do mundo: os santos do Altíssimo.
Daniel queria saber
mais. Quem dominaria depois de 476? O anjo nada falara sobre os dez chifres do
quarto animal, aquele chifre pequeno que tinha olhos e boca humanos, e quando
o tribunal divino começaria os seus trabalhos. E de nossa parte indagamos:
não afirma o Novo Testamento que o Filho do homem é Jesus Cristo? Como o anjo
interpreta esta figura representando “os santos do
Altíssimo”? Aguarde os próximos números.
Sinais dos Tempos Julho-Agosto/2002
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