O governo
papal herdou o
poder do Império
Romano e cumpre profecias bíblicas
“Roma
deixou de ser o baluarte do paganismo e tomou-se a cabeça do cristianismo”
(Ferdínand
Lot)
José Carlos Ramos, D.Min., é professor de Daniel e
Apocalipse no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, em Engenheiro
Coelho.
É importante
conhecer um detalhe profético de uma das mais significativas profecias da
Bíblia: Daniel 7. Esse detalhe aparece no último dos quatro animais que o
profeta contemplou em visão: o chifre pequeno que surgiu e se desenvolveu
entre os dez chifres do quarto animal.
Alguns comentaristas concordam, em linhas gerais,
com as afirmações do padre Matos Soares quanto ao significado dos símbolos de
Daniel 7. Ele os interpreta no rodapé da página onde este capítulo aparece na
versão bíblica católica de sua autoria, publicada por Edições Paulinas em 1962.
Sua interpretação, a meu ver correta, é como segue:
“Uma
leoa, que simboliza, com a sua força, o império de Babilônia...
Um urso, que simboliza o império
Medo-Persa... Um leopardo, o império
da Macedônia e as rápidas conquistas de Alexandre Magno. — As quatro cabeças [do leopardo] são as
quatro monarquias em que se dividiu este império. Um quarto animal, que representa o império Romano...
Se o leitor tiver em
mãos as últimas edições de Sinais, poderá
constatar que a interpretação oferecida por Matos Soares coincide basicamente
com aquela que tem sido aqui registrada. Com precisão histórica, ele expõe a
sucessão de impérios dominadores representados na profecia. As quatro cabeças
do leopardo, o terceiro animal, representam a quádrupla divisão a que os quatro
principais generais de Alexandre (Cassandro, Lisímaco, Seleuco e Ptolomeu)
submeteram o império greco-macedônico, após a morte do grande conquistador.
Invasão
do Império — Segundo Matos Soares, os dez chifres do quarto animal,
algo que chamou a atenção do profeta e que o padre traduz na forma de “dez
hastes”, representam os numerosos estados a que deu origem a dissolução deste
império”. Esses “estados” se originaram das tribos bárbaras que invadiram o
império. Foram ancestrais, como vimos, das nações da Europa Ocidental. Eram dez
chifres, e dez tribos são relacionadas por estudiosos do texto profético. As
tribos e as nações delas oriundas podem ser mais bem visualizadas na seguinte
relação:
Tribo Nação Tribo Nação
Alamanos Alemanha Lombardos Itália
Visigodos Espanha Suevos Portugal
Francos França Hérulos -
Burgundos Suíça Vândalos -
Anglo-Saxões Inglaterra Ostrogodos -
Alamanos Alemanha Lombardos Itália
Visigodos Espanha Suevos Portugal
Francos França Hérulos -
Burgundos Suíça Vândalos -
Anglo-Saxões Inglaterra Ostrogodos -
Naturalmente, a Europa
Ocidental reúne maior número de nações que as alistadas acima. Uma razão é que
houve tribos que deram origem a determinados grupos. Por exemplo, os alamanos
foram os ancestrais do grupo germânico, e os anglo-saxões, do grupo formativo
do Reino Unido. Por sua vez, as três últimas tribos relacionadas foram
erradicadas pouco tempo depois de se estabelecerem em território imperial.
E quanto ao “chifre
pequeno”? Matos Soares indica o poder por trás do chifre pequeno, ou “haste
pequena”, como ele traduz, afirmando simplesmente que representa o
anticristo. Claro que a sua interpretação está correta, pois as ações do
chifre pequeno na visão não deixam dúvida a respeito. De fato, só um poder com
caráter de anticristo teria a ousadia de levá-las a efeito. Todavia, o padre
não nos informa precisamente que poder, entre aqueles que se elevaram das
cinzas do antigo império, cumpre a profecia. Se quisermos identificá-lo,
teremos necessariamente que nos valer dos indícios oferecidos pela própria
profecia e outras partes da Bíblia que tratam do assunto.
Na edição anterior de Sinais, observamos que a profecia
apresenta dez características específicas do chifre pequeno. É relevante,
a esta altura, a primeira delas, que aponta para um poder que haveria de se levantar
no Império Romano. O profeta viu na
visão que o chifre pequeno apareceu no quarto animal, precisamente aquele que
representa esse império. Por outro lado, o apóstolo Paulo menciona, em 2a.
Tessalonicenses 2, a vinda futura de uma entidade que se aproxima, em sua
descrição, daquilo que Daniel 7 fala do “chifre pequeno” do quarto animal. Isso
foi notado pelo padre Matos Soares, que, em sua versão bíblica, intitulou este
capítulo de “apostasia geral e aparição do Anticristo”. Em outras palavras, na
visão deste intérprete, Paulo está aqui falando do mesmo poder que, em Daniel
7, é representado pelo “chifre pequeno”.
Entre outras coisas, o
apóstolo afirma que este poder, nos termos desta versão, “se sentará no templo
de Deus, apresentando-se como se fosse Deus” (2a. Tess. 2:4). Unindo
as duas feições mencionadas do anticristo, a de Daniel 7 e a de 2~ Tessalonicenses
2, pergunta-se: quem, nos domínios do antigo Império Romano, se assenta num
templo e ostenta-se “como se fosse Deus”? Dos poderes que se levantariam daquele
império, quem cumpre a profecia? A única resposta possível é: o sistema papal
de governo eclesiástico, mais conhecido como papado. Este poder acabou por se
estabelecer precisamente na própria capital do antigo império, Roma.
E não é apenas este fato
que consolida o papado como o legítimo sucessor do trono imperial. Segundo o
historiador Will Durant, a Igreja “não se limitou a tomar algumas formas e
costumes religiosos da Roma pré-cristã — a estola e outras vestes sacerdotais,
o uso do incenso e da água benta nas purificações, o círio e a luz
perpetuamente acesa nos altares, a adoração dos santos, a arquitetura da
basílica, a lei romana como lei básica da lei canônica, o título de Pontifex Maximus, para o supremo
Pontífice, e no século IV o Latim como língua oficial. [...] A grande coisa que Roma deu à Igreja foi uma vasta estrutura
de governo que, quando a autoridade secular desabou, veio a se tornar a
estrutura do governo eclesiástico” (César
e Cristo, II, pág. 285). Outro historiador, Ferdinand Lot, afirma:
“De maneira imprevista, Roma deixou de ser o
baluarte do paganismo e tornou-se a cabeça do cristianismo. O poder dos bispos
cresceu, vencendo toda a resistência, e vemo-los tomando o lugar do imperador
no ocidente” (The End of the Ancient
World, pág. 39).
E quanto às outras
características? Na última edição de Sinais,
vimos que a profecia de Daniel 7 reúne outras nove características proféticas
do chifre pequeno. Se, de fato, este símbolo representa o papado, essas
características devem ser cumpridas nele e por ele. Se uma delas faltar, a
interpretação não é digna de crédito. Então, o único caminho é constatar se
realmente cada uma delas pode ser confirmada como própria desse poder.
Aguarde!
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