Deus
revelou o desenrolar de eventos que determinam o surgimento e a queda das
grandes potências
A profecia de Daniel 8, assim como a do capítulo 7,
é muito importante. Nela se nota uma perspectiva histórica que também se
estende até os tempos da “restauração de todas as coisas” (Atos 3:21), isto é,
os nossos dias, com a diferença de que essa profecia começa com o domínio dos
persas.
Quando se indaga o motivo da não inclusão do império babilônico no material
profético, geralmente se afirma que este império estava chegando ao fim e não
havia mais espaço para ele na profecia. De fato, a visão foi dada “no ano
terceiro do reinado do rei Belsazar” (verso 1), em 550 a.C, Belsazar foi o Ultimo rei de Babilônia. Todavia, a visão
anterior (a do capítulo 7) foi dada só dois anos antes, e Babilônia, embora já
declinasse em poder, é incluída. Além disso, quando a visão do capítulo 8 foi
dada, o império tinha ainda onze anos de domínio pela frente. Como veremos, a
razão para Babilônia não ser referida é outra, muito mais condizente com o teor
da profecia.
O conteudo básico de Daniel 8 é a profecia da purificação do santuário. Ela
alcança a culminância no verso 14, onde se lê: “Até duas mil e trezentas
tardes e manhãs; e o santuário será purificado.” Estas palavras foram proferidas por um anjo
e, naturalmente, causaram profunda
impressão no profeta, um judeu cativo em Babilônia, que em 586 invadira
Jerusalém e arrasara a cidade e o templo. Este ainda jazia em ruínas, mas
Daniel sabia, pela promessa divina, que o período de setenta anos do cativeiro
(Jer 25:11; 29:10) estava chegando ao fim. Agora, um outro período de tempo
foi referido, e ele sentiu que as palavras estariam, de alguma forma, ligadas à
situação de seu povo.
A afirmação do anjo realmente tinha a ver com a experiência do povo de
Deus, mas de modo muito mais amplo e significativo do que o profeta sequer
poderia imaginar. Se a profecia se estende até os nossos dias, é inevitável a
conclusão de que o verso 14 está agora em processo de cumprimento. Isso indica
que o santuário referido não pode ser um templo de construção humana.
O clímax da visão, Daniel 8:14, é, na
realidade, o seu ponto final. Depois deste lance, tudo o que temos é uma
interpretação do que Daniel presenciam e ouvira (versos 17-26). Esta interpretação
foi dada pelo anjo Gabriel (verso 16). O que, exatamente, teria o profeta visto
de tão importante para que o mais poderoso anjo do Céu viesse explicar? O que
era tão terrível para que o santuário divino necessitasse uma purificação?
Bem, novamente Daniel vê o desenrolar de eventos que determinam o
surgimento e a queda de remos que exercem domínio na Terra. E novamente
animais são usados como símbolos. Mas, se em Daniel 7 estes se caracterizam
por figuras de monstros sanguinários, aqui os simbolos são mais amenos, mais
condizentes com a normalidade da natureza: um carneiro (verso 3) e um bode
(verso 5), tão antagônicos que o segundo destrói o primeiro (verso 7).
E possível que Deus tenha usado a figura desses animais para estimular em
Seu povo no exílio um senso de confiança em Suas providências. Carneiros e
bodes eram os animais comumente utilizados no ritual do santuário judaico. O
ritual era dividido em duas fases distintas, o ministério diário, ou contínuo,
e o mínistério anual, conhecido
como o Dia da Expiação, quando carneiros e bodes entravam em cena (Lev.
16:3-10). Parece que Deus queria mostrar que, assim como os judeus tinham
autonomia sobre os animais utilizados na liturgia do templo, assim Deus tinha
total controle das circunstâncias criadas pelos inimigos de Seu povo.
Poderes em ação - Diz o profeta que o carneiro tinha dois
chifres, um mais alto que O outro, e que o mais alto “subiu por último” (verso
3). Além disso, “o carneiro dava marradas para o ocidente, e para o norte, e
para o sul” (verso 4). Gabriel interpretou este símbolo como representativo do
império medo-persa (verso 20). A Média, de início, se destacou; poste-dormente,
a Pérsia sobrepujou a Média e absorveu-a. As marradas nas três direções
referidas se cumprem nas três principais conquistas da Pérsia: Síria,
Babilônia e Egito, respectivamente em 547, 539 e 525 a.C.
“0 bode,” Continua o profeta, “vinha do ocidente” com tal velocidade que
parecia não tocar o solo; “tinha um chifre notável entre os olhos”, com o qual
avançou contra o carneiro derrubando-o e matando-o (versos 5-7). Segundo Gabriel, este animal
simboliza o império grego/macedônico (verso 21), que partiu do ocidente para o
domínio mundial. O chifre notável é uma apropriada representação de Alexandre
Magno, “o primeiro rei” (verso 21), e sua velocidade retrata a rapidez de ação
do grande conquistador. Alexandre conseguiu, em três decisivas batalhas
(Grãnico em 334, Issus em 333 e Arbelas em 331), se apoderar do império persa.
Tendo destruído o carneiro, o bode se “engrandeceu sobremaneira”, e teve
seu “chifre notável” quebrado e substituído por outros quatro, na direção dos
pontos cardeais (verso 8). A interpretação de Gabriel (verso 22) é praticamente
um relato literal do que ocorreu na História. Alexandre, no auge do domínio,
veio a falecer, deixando o império para quatro de seus generais: Cassandro,
Lisimaco, Seleuco e Ptolomeu.
O que ocorre em seguida é fundamental
para a compreensão desta profecia. “De um dos chifres saiu um chifre pequeno e
se tornou muito forte para o sul, para o oriente e para terra gloriosa” (verso
9). Muitos intérpretes afirmam que este “chifre pequeno” é Antíoco Epifânio, da
linhagem de Selêuco, e que dominou entre 175 e 164 na Síria. É suposto que a
profecia esteja fazendo alusão principalmente às tentativas deste rei de
helenizar os judeus, e a seus atos sacrílegos no templo de Jerusalém.
Esta interpretação deve ser definitivamente rejeitada porque a trajetória
de Antíoco não corresponde aos termos da profecia, muito menos à interpretação
de Gabriel. Segundo o anjo, o chifre pequeno representava um poder que se
levantaria no “fim” do reinado dos quatro chifres, “quando os prevaricadores”
acabassem (verso 23). Em outras palavras, o poder representado pelo “chifre
pequeno” entraria em cena apenas quando o domínio da linhagem dos quatro
generais de Alexandre chegasse ao fim. Antíoco Epifânio, todavia, dominou
cerca de 100 anos antes do reino selêucida se acabar em 65 a.C. Depois de Epifânio,
mais 14 reis ocuparam o trono da Síria. O reino dos ptolomaidas ao sul, outro
dos quatro chifres, acabou somente no ano 30 a.C. Antioco, portanto, não
cumpre o que foi previsto pelo anjo. O poder representado pelo chifre pequeno
seria um novo império, pois se apossaria do que antes pertencera a Alexandre.
Além disso, a interpretação epifanista se choca com as afirmações de
Jesus, em Sua alusão ao livro de Daniel (ver Mat. 24:15; Mar. 13:14; Luc.
21:20). Para Ele, o cumprimento da profecia do chifre pequeno aguardava pelo
futuro; simplesmente as abominações referidas nos versos 11-13 não poderiam
ter se cumprido com Epifânio, 200 anos antes. Roma, o império seguinte, é o
único poder que cumpre os dados proféticos. Por exemplo, o tornar-se forte para
o sul, para o oriente e para a terra formosa se cumpre na conquista romana do
Egito em 30, da Síria em 65 e da Palestina em 63.
Mas como cumpre Roma as outras especificações proféticas (versos 10-12),
principalmente aquelas relacionadas com o santuário? Que santuário é esse e o
que significa a sua purificação? O que tal purificação tem a ver com os nossos
dias? Aguarde. ~
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