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quinta-feira, 15 de maio de 2014

DANIEL CAPÍTULO 8 O BODE E O CARNEIRO



Poderes em conflito
A Bíblia previu o surgimento de um sistema humano que tentaria assumir o papel de Cristo
 
“A verdade não é um mero conceito filosófico, mas sim uma Pessoa, Jesus”
 
José Carlos Ramos, D.Min., é professor de Daniel e Apocalipse no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, em Engenheiro Coelho, SP.
 


N

 
a visão registrada no capítulo 8 de seu livro, o profeta Daniel contem-piou um carneiro e um bode, re­presentativos de dois poderes que dominaram o mundo entre 539 e 168 a.C.: os impérios da Média-Pérsia e da Grécia. A aten­ção do profeta foi então chamada para um novo chifre, pequeno de início, mas que se tomou muito forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa” (verso 9). Esse chifre é símbolo do governo roma­no (ver a edição anterior).
A referência ao “sul”,  “oriente” e “terra gloriosa” e apropriada para carac­terizar a expansão do
Império Romano. Os romanos, surgidos do ocidente, avançaram para o sul, na conquis­ta do Egito; para o oriente, começando com a conquista da Ma­cedônia (que, em rela­ção a Roma, situa-se na­quela direção) e prosse­guindo até a Síria e pon­tos mais distantes; e fi­nalmente para a “terra gloriosa”, na con­quista da Judéia.
Uma consi­deração mais atenta às carac­terísticas e atitudes do chifre pequeno, con­forme relaciona­das em Daniel 8, leva-nos a concluir que a profecia, todavia, alude às duas formas do domínio romano, imperial e eclesiástico. Isso não deve nos sur­preender, pois, como visto nas edições de ja­neiro a agosto de Sinais, o capítulo 7 do livro também se vale da figura de um “chifre peque­no” como símbolo do sistema papal.
Nessa profecia, dois símbolos distintos foram usados em alusão a duas formas de poder (o quarto animal e o chifre pequeno nele surgido). A idéia aqui é Roma eclesiás­tica como segmento ou parte do antigo im­pério. Mas não podemos esquecer que. como a História constata, ocorre mútua identidade entre ambas as formas, pois os       papas foram os legítimos herdeiros do tro­no imperial (ver a edição de maio/junho de Sinais), A idéia agora, no capítulo 8, é Roma eclesiástica como segui­mento ou seqüência do antigo império. É natu­ral, portanto, que ape­nas um símbolo, neste capitulo, englobe as duas formas.
 
Detalhes proféticos - Veja­mos agora alguns deta­lhes específicos da profe­cia e sua interpretação.
     O verso 10 diz: “Cres­ceu até atingir o exército dos céus” (representativo do povo de Deus). Em ter­mos de Roma imperial, isso é uma alusão às perseguições movidas pelos imperadores romanos á igreja cristã, nos três primeiros séculos da nossa era; em termos de Roma eclesiástica, é uma alusão ás perseguições movidas pelo romanis­mo, principalmente na era me­dieval, a todos os que não se sujeitavam a seus ditames, considerados “hereges” e sen­tenciados pela tribunal da Inquisição (ver edição de julho/agosto).
Verso 10: “...a alguns do exército e das es­trelas [que representam a liderança do povo de Deus] lançou por terra e os pisou.” Quanto á Roma imperial, isso signifi­cava o martírio imposto pelos impe­radores romanos aos apóstolos e ou­tros líderes da igreja nos primeiros sé­culos. Em relação á Roma eclesiástica, significava o martírio imposto pelo romanismo a líderes de grupos refor­madores, como João Huss e Jerônimo Savonarola, entre outros.
Verso 11: “...engrandeceu-se até o Príncipe do exército” (conforme Da­niel 12:1, o Príncipe é Jesus). Em re­lação á Roma imperial, isso se aplica á morte de Jesus por ordem do tribunal romano sob Pôncio Pilatos, em 31 d.C. Em termos de Roma eclesiástica, há duas aplicações:
(1)           à atitude do romanismo contra dissidentes na Ida­de Média, perseguindo-os e matando-­os, o que significava um ataque indi­reto a Cristo; e
(2)           a partir do titulo de Sumo Pontífice, às prerrogativas do papado, pelas quais ao chefe máxi­mo do romanismo foi atribuida pari­dade com Cristo.
Verso 11: “.., dEle [do Príncipe = Cristo] tirou o sacrifício costumado e o lugar do Seu santuário foi deitado abaixo.., deitou a verdade por terra.” Em termos de Roma imperial, os exércitos romanos destruíram Jeru­salém e arrasaram o templo em 70 d.C. Além disso, o paganismo sem­pre se opôs à verdade divina, por per­seguição e por perversão do que é correto. Em termos de Roma eclesiás­tica, o romanismo instituiu e impôs um sistema de salvação oposto ao evangelho. Tal sistema, de fato, neu­tralizou a eficácia expiatória do Cal­vário e do ministério sumo sacerdo­tal de Jesus no santuário celestial, cristalinamente expostos nas páginas do Novo Testamento.
Este pormenor reaparece em Da­niel 11:31, onde é dito que o “sacri­fício costumado” seria substituído pela “abominação assoladora”. Com efeito, o romanismo desviou a aten­ção dos pecadores do ministério de Jesus em favor deles. Desviou a aten­ção de Jesus, o único Sumo Pontífice e intercessor no santuário celestial, para um sistema salvífico com base em obras meritórias: penitências, pa­gamento de promessas, compra de indulgências, peregrinações, mortifi­cações. E, para solidificar todo esse aparato do mérito humano, o roma­nismo concorreu com missas, confis­são auricular, pontificado e sacerdó­cio clerical, queima de incenso, ofe­recimento de sacrifício incruento (hóstia) e a garantia ao fiel do Céu após a morte (e mesmo ao mais ou menos fiel, mediante as penas no purgatório). Na verdade, um santuá­rio paralelo foi levantado neste mun­do para obliterar o celestial e substi­tuir a obra mediadora de Jesus.
Verso 12: “deitou por terra a verdade.” Na Roma imperial, como foi dito, o paganismo, que contou sempre com amplo consenso e apoio do império, se opôs às insti­tuições divinas por intolerância e por perversão da verdade. Na Roma eclesiástica, a igreja, pura em seu co­meço, não perseverou em ser “colu­na e baluarte da verdade” (1a.Tim. 3:15). Aos poucos, cedeu a pressões externas em matéria de fé e doutri­na. Nos anos que antecederam á ins­tituição do papado, no 60 século, fi­losofias e práticas pagãs adentraram o cristianismo e pavimentaram o ca­minho para a institucionalização do engano. O ensino e a prática da reli­gião ficaram em total desacordo com os princípios da Bíblia, antes plenamente incorporados pelos cris­tãos primitivos.
Que no transcurso da História uma grande apostasia avançou em solo cristão é evidente pelo fato de que, em geral, ser cristão hoje não correspon­de a ter sido cristão no 1o. século. Pau­lo previu que a apostasia, após a era apostólica, iria seduzir a muitos. “Sei que, depois da minha partida... se le­vantarão homens falando coisas per­vertidas para arrastar os discípulos atrás deles” (Atos 20:29 e 30).
Para tanto, em muito contribuiu, no 40 século, a pretendida conversão de Constantino (que permaneceu pagão até pouco antes da morte, quando re­cebeu o batismo). Cedo, esse impera­dor compreendeu que lhe seria propí­cio o apoio das comunidades cristãs do império. Tão logo foi proclamado im­perador, em 306, garantiu liberdade de culto aos cristãos, passando a se reunir com eles. “Mas seu pensamento era político”, afirma Luís Aznar, em sua in­trodução á versão hispânica da Historia Eclesiástica, de Eusébio de Cesaréia, contemporâneo de Constantino. “Ele queria organizar as comunidades epis­copais autônomas numa igreja univer­sal, hierarquizada e doutrinariamente homogênea, que correspondesse ao império como a alma ao corpo.
Com isso, a fusão paganismo/cris­tianismo se tornou inevitável. E desse tempo que vêm o culto ás imagens, que se tornaria mais ostensivo a par­tir do século 9, e o primeiro decreto dominical, demandando, com força de lei civil, a guarda do domingo, identificado pelo próprio imperador como “o venerável dia do Sol”, o deus mais universal do panteão romano.
Poucos anos mais tarde, o Concilio de Laodicéia ratificou o decreto de Constantino, acrescentando que todo aquele que guardasse o sábado seria excomungado. É nesse contexto que a igreja cristã se tornou hierárquica e universal (ou católica).
 
Volta à verdade Segundo a Bíblia, a ver­dade não é um mero conceito filosó­fico. É antes de tudo uma Pessoa, Je­sus. “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida” (João 14:6). É também a ex­pressão e ensinamento desse Deus que veio ao mundo para “dar teste­munho da verdade” (18:37). É por isso que a mesma Bíblia diz: “a Tua Palavra é a verdade” (17:17) e “a Tua lei é a própria verdade” (Sal. 119:142). No que diz respeito a Jesus, a verdade foi jogada por terra quando um sistema espúrio de salvação to­mou o lugar do genuíno evangelho. No que diz respeito à Bíblia, quando a tradição humana suplantou a Pala­vra de Deus; e no que diz respeito à lei, quando ela foi adulterada pela ousadia clerical.
Mas a verdade não ficaria jogada por terra para sempre. Daniel 8 pre­diz um tempo em que ela seria res­taurada. E cabe a todo ser humano a responsabilidade de buscar na Bíblia, e só nela, essa verdade pura.
 
Sinais dos Tempos    Novembro-Dezembro/2003

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