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quinta-feira, 15 de maio de 2014

PRECISÃO HISTÓRICA DE DANIEL PARTE 2


 


A arqueologia desvenda mistérios sobre reis e fatos mencionados pelo profeta Daniel.

 

por José Carlos Ramos

Teólogo

 

Estamos abordando a precisão histó­rica do livro de Daniel, agora com a aná­lise de mais três referências consideradas inexatas pela alta crítica: o conteúdo do capítulo 4, que narra o distúrbio men­tal de que Nabucodonosor foi vitima na parte final do seu reinado, a identidade de Belsazar, o último rei de Babilônia de acordo com Daniel 5, e a relação desse rei com Nabucodonosor, citada também no capítulo 5. Ao contrário do que pen­sam os críticos, esses lances históricos sustentam a autenticidade do livro.

 

A DOENÇA DE

NABUC0D0NOSOR

 

Segundo a crítica, o conteúdo de Daniel 4 é pura ficção, já que a História não faz qualquer referencia a uma enfermidade do rei nos termos desse capitulo. É considerado que esse fato põe em dúvi­da o valor histórico do livro e conseqüentemente a hipóte­se de sua composição no século a.C.

 

Antes de tudo deveria a alta critica explicar com que propósito um judeu do 2o. sé­culo a.C. inventaria uma doença para Nabucodono­sor, rei de um império que já havia passado, e que, portan­to, nenhuma influência exer­cia então.

 

Novamente o argumento do silêncio está sendo evoca­do, mas um silêncio que igual­mente nem é tão eloqüente, nem tão duradouro. Inicialmente, deve-se notar que as informações históricas dos úl­timos 30 anos do reinado de Nabucodonosor estão longe de serem satisfatórias. Algumas de suas campanhas, por exemplo, são simplesmente ignoradas. É reconhecido também que os even­tos desagradáveis ocorridos com os gran­des reis do passado dificilmente ficavam registrados para conhecimento das gerações

É verdade que Daniel 4 tem o seu con­teúdo na forma de uma proclamação real de autoria do próprio Nabucodonosor, que, nesse caso, teria sido perpetuada pelo profeta. Sua edição original, todavia, pode­ria ter sido destruída logo após a morte do monarca. No capítulo 5, Belsazar,o novo rei de Babilônia, é repreendido pelo profeta por não ter dado a devida consideração ao que ocorreu com Nabucodonosor (versos 18-23). Isso indica que os dirigentes do pa­lácio não estavam dispostos a conservar aquilo que poderia de alguma forma deslustrar a brilhante carreira de um dos maio­res reis de Babilônia. Mas pode também ocorrer que algo pertinente àquela procla­mação esteja perdido entre as ruínas da an­tiga cidade. Não nos admiremos se algum dia algo assim for desenterrado.

Para alguns, isso já aconteceu. A des­coberta relativamente recente do tablete BM 34113 (sp 213), publicado por A. K. Grayson em 1975, dá conta, embora pre­cariamente, pelas condições fragmenta­das do documento, que em determinado tempo de seu reinado, Nabucodonosor te­ria agido de forma bastante estranha, dan­do ordens contraditórias, ignorando os conselheiros e a própria família, e de­monstrando incapacidade administrativa tal, que Evil-Merodaque, seu filho mais ve­lho, teria sido aconselhado a assumir as responsabilidades do governo. Não pode­ria esse comportamento ser decorrente de um abalo mental?  Os interessados poderão ver o material a respeito publicado pelo Dr. Siegfried Horn, conhecido ar­queólogo, sob o título “New Light on Ne­buchadnezzar’s Madness”, na revista Mi­nistry, de abril de 1978, págs. 38-40.

Esse tablete confirmaria uma antiga tradição referida pelo historiador Eusébio, com base num texto de Abidemo (2o. sécu­lo a.C), que por sua vez cita Magástenes (300 a.C.), dando conta de que próximo ao fim de seu reinado, Nabucodonosor se viu possesso de um deus e profetizou a con­quista de Babilônia por Ciro. desaparecen­do em seguida (Proeparatio Fvangelica, 9, 41). Sabe-se que naqueles tempos um ho­mem louco era reputado como possuido por espíritos (SDABC, vol. 4, pág. 792).

Essa referência indica, no mínimo, que havia no tempo de Abidemo uma tradição entre os babilônicos de que algo fora do normal teria ocorrido com Nabucodono­sor no final de sua vida. Igualmente Flávio Josefo, com base no historiador Beroso (4o. século a.C.), fala da doença dc Nabu­codonosor em seus derradeiros anos (Contra Apion, 1, 20).

 

B E LSAZA R

 

As fontes históricas gregas informam que o último rei de Babilônia foi Naboni­do e não Belsazar, como afirma Daniel 5.

Essa objeção era apresentada com algu­ma força pela critica, até perto do final do século passado. Hoje, as descobertas de de­terminados documentos arqueológicos comprovam que a verdade sempre esteve do lado da Bíblia, e a figura de Belsazar co­mo co-regente nos últimos anos do império babilônico não é mais seriamente questio­nada. Veja um resumo desses achados:

1. H. E. Talbot publicou, em 1861. cer­tos textos encontrados no templo da Lua em Ur dos caldeus. Nele aparece uma ora­ção de Nabonido em favor de seu filho mais velho, Bel-Shar-Usur, que tem sido identificado como Belsazar.

2. T. G. Pinches, em 1882, publicou a Crônica de Nabonido, descoberta no ano anterior, na qual é mencionada a conquis­ta de Babilônia por Ciro. É também afir­rnado que o filho de Nabonido estava em Babilônia nessa ocasião.

3. Novos textos foram descobertos e publicados nos anos seguintes dando conta das diversas funções e posições de Belsazar antes e durante o reinado do pai.

4. T G. Pinches publicou, em 1916, ou­tro texto onde apareceram Nabonido e Bel-Shar-Usur conjuntamente invocados num juramento. Isso seria uma evidência da co-regência de Bel-Shar-Usur.

5. Sidney Smith publicou, em 1924, o Relatório em Verso de Nabonido, no qual esse rei afirma ter confiado a direção do reino ao filho mais velho, no 3o. ano. Belsa­zar seria então o 22 rei, ou co-regente. Na­bonido havia partido para a conquista de Tema na Arábia.

6.    Rayrnond P. Dougherty publicou, em 1929, uma monografia reunindo as di­versas inscrições cuneiformes descober­tas a partir do fim do século 19. Nesse tra­balho, ele chega à seguinte conclusão:  Na­bonido seria filho do príncipe de Harã. Nabu-Balatsu-lqbi. e da sacerdotisa do templo da Lua cm Harã. Quando os me­dos e babilônicos capturaram Harã em 610 a.C., a mãe de Nabonido foi levada para o harém de Nabucodonosor. Naboni­do, portanto, cresceu ao lado do rei. Possi­velmente em 585 a.C., segundo Heródo­to, ele teria atuado como mediador de paz entre os lídios e os persas, o que o revela um favorito de Nabucodonosor (SDABC, vol. 4, págs. 806-808).

Segundo Heródoto, Nabonido seria La­binetus II (o rei dc Babilônia em 546 a.C.), já que em seus escritos Nabucodonosor corresponde a Labinetus I.  Nabonido subiu ao trono em 556 e  reinou até 539. Heródo­to identifica o pai do rei de Babilônia, no ano de sua conquista pela Pérsia (539 a.C.), pelo nome de Labinetus II. Note-se, todavia, que os historiadores gregos antigos jamais citam o nome do filho de Nabonido.

Ainda segundo Heródoto, a esposa de Labinetus II foi Nitócris, uma mulher sábia e prudente, tal como transparece em Da­niel 5:10-l2.Parece que ela era filha de uma princesa egípcia, pertencente ao harém de Nabucodonosor. Nesse caso, Belsazar era  neto de Nabucodonosor, e Nabonido gen­ro, além de ser possivelmente filho adotivo.

Resumindo, a História clássica aponta Nabonido como o último rei de Babilônia, enquanto Daniel nos fala de Belsazar. Am­bas as fontes estão corretas. Por anos a cri­tica se levantou contra a autenticidade deste livro, imaginando que haveria uma disparidade aqui. Agora sabemos, pelos achados arqueológicos, do filho de Nabo­nido, Bel-Shar-Usur. co-regente com o pai, pois esse se encontrava no Líbano numa campanha contra Tema. Essa é a razão porque ao Belsazar pediu a Daniel que lhe interpretasse a escrita na parede, prome­teu-lhe a terceira posição no reino (Daniel 5: l6).A primeira pertencia a Nabonido e a segunda era do próprio Belsazar.

 

BELSAZAR  E  NABUCODONOSOR

 

Uma comparação dos textos babilôni­cos com as informações históricas de He­ródoto levam à conclusão de que Belsazar era neto de Nabucodonosor e não filho como o livro de Daniel afirma (versos 5:2, 11,18 e 22).

Para essa aparente dificuldade, basta lembrarmos de que a Bíblia às vezes consi­dera pai, um antepassado, ou especifica­mente o avô ver Josué 7:18 e 24 por exem­plo). O termo para pai tanto no hebraico corno no aramaico é ‘ab, que também signi­fica avô e ancestral (Gênesis 28:13; 32:9; Êxodo 10:6;! Reis 15:11). Este certamente é o caso no que respeita ao relacionamen­to de Belsazar com Nabucodonosor.

Essas informações colhidas da Histó­ria clássica e substanciadas por docu­mentação da época, provida pelos acha­dos arqueológicos atuais, confirmam a precisão histórica do livro de Daniel. Na próxima vez reforçaremos esse fato, ana­lisando o problema da identidade do rei Dario, da linhagem dos medos, referido em Daniel 5:31, 9:11, 11:1 e em todo o capitulo 6, outra suposta dificuldade his­tórica do livro segundo preconizam os conceitos do alto criticismo.

 

1 comentário:

  1. Excelente produção, há riquezas de detalhes e bem elaborado, tanto é que até aquele que não tem um conhecimento do assunto tem que admitir que a Bíblia tem sempre a razão. Parabéns, continue assim trazendo conhecimento teológico para nosso povo pois há uma carência de verdadeiros ensinos.
    Deus abençoe.

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