A arqueologia desvenda mistérios sobre reis e
fatos mencionados pelo profeta Daniel.
por
José Carlos Ramos
Teólogo
Estamos abordando a precisão histórica do livro de
Daniel, agora com a análise de mais três referências consideradas inexatas
pela alta crítica: o conteúdo do capítulo 4, que narra o distúrbio mental de
que Nabucodonosor foi vitima na parte final do seu reinado, a identidade de
Belsazar, o último rei de Babilônia de acordo com Daniel 5, e a relação desse
rei com Nabucodonosor, citada também no capítulo 5. Ao contrário do que pensam
os críticos, esses lances históricos sustentam a autenticidade do livro.
A DOENÇA DE
NABUC0D0NOSOR
Segundo
a crítica, o conteúdo de Daniel 4 é pura ficção, já que a
História não faz qualquer referencia a uma enfermidade do rei nos termos desse
capitulo. É considerado que esse fato põe em dúvida o valor
histórico do livro e conseqüentemente a hipótese de sua composição no século
a.C.
Antes de tudo deveria a
alta critica explicar com que propósito um judeu do 2o. século a.C.
inventaria uma doença para Nabucodonosor, rei de um império que já havia
passado, e que, portanto, nenhuma influência exercia então.
Novamente o argumento do
silêncio está sendo evocado, mas um silêncio que igualmente nem é tão
eloqüente, nem tão duradouro. Inicialmente, deve-se notar que as informações
históricas dos últimos 30 anos do reinado de Nabucodonosor estão longe de
serem satisfatórias. Algumas de suas campanhas, por exemplo, são simplesmente
ignoradas. É reconhecido também que os eventos desagradáveis
ocorridos com os grandes reis do passado dificilmente ficavam registrados para
conhecimento das gerações
É verdade
que Daniel 4 tem o seu conteúdo na forma de uma proclamação real de autoria do
próprio Nabucodonosor, que, nesse caso, teria sido perpetuada pelo profeta. Sua
edição original, todavia, poderia ter sido destruída logo após a morte do
monarca. No capítulo 5, Belsazar,o novo rei de Babilônia, é repreendido pelo
profeta por não ter dado a devida consideração ao que ocorreu com Nabucodonosor
(versos 18-23). Isso indica que os dirigentes do palácio não estavam dispostos
a conservar aquilo que poderia de alguma forma deslustrar a brilhante carreira
de um dos maiores reis de Babilônia. Mas pode também ocorrer que algo
pertinente àquela proclamação esteja perdido entre as ruínas da antiga
cidade. Não nos admiremos se algum dia algo assim for desenterrado.
Para alguns, isso já aconteceu.
A descoberta relativamente recente do tablete BM 34113 (sp 213), publicado por
A. K. Grayson em 1975, dá conta, embora precariamente, pelas condições
fragmentadas do documento, que em determinado tempo de seu reinado,
Nabucodonosor teria agido de forma bastante estranha, dando ordens contraditórias,
ignorando os conselheiros e a própria família, e demonstrando incapacidade
administrativa tal, que Evil-Merodaque, seu filho mais velho, teria sido
aconselhado a assumir as responsabilidades do governo. Não poderia esse
comportamento ser decorrente de um abalo mental? Os interessados poderão ver o material a
respeito publicado pelo Dr. Siegfried Horn, conhecido arqueólogo, sob o título
“New Light on Nebuchadnezzar’s Madness”, na revista Ministry, de abril de 1978, págs. 38-40.
Esse tablete confirmaria uma
antiga tradição referida pelo historiador Eusébio, com base num texto de
Abidemo (2o. século a.C), que por sua vez cita Magástenes (300
a.C.), dando conta de que próximo ao fim de seu reinado, Nabucodonosor se viu
possesso de um deus e profetizou a conquista de Babilônia por Ciro.
desaparecendo em seguida (Proeparatio
Fvangelica, 9, 41). Sabe-se que naqueles tempos um homem louco
era reputado como possuido por espíritos (SDABC,
vol. 4, pág. 792).
Essa referência indica, no
mínimo, que havia no tempo de Abidemo uma tradição entre os babilônicos de que
algo fora do normal teria ocorrido com Nabucodonosor no final de sua vida.
Igualmente Flávio Josefo, com base no historiador Beroso (4o. século
a.C.), fala da doença dc Nabucodonosor em seus derradeiros anos (Contra Apion, 1, 20).
B E LSAZA
R
As fontes históricas gregas
informam que o último rei de Babilônia foi Nabonido e não Belsazar, como afirma Daniel 5.
Essa objeção era
apresentada com alguma força pela critica, até perto do final do século
passado. Hoje, as descobertas de determinados documentos arqueológicos
comprovam que a verdade sempre esteve do lado da Bíblia, e a figura de Belsazar
como co-regente nos últimos anos do império babilônico não é mais seriamente
questionada. Veja um resumo desses achados:
1. H. E. Talbot publicou, em 1861. certos textos encontrados no templo
da Lua em Ur dos caldeus. Nele aparece uma oração de Nabonido em favor de seu
filho mais velho, Bel-Shar-Usur, que
tem sido identificado como Belsazar.
2. T. G. Pinches, em 1882,
publicou a Crônica de Nabonido, descoberta
no ano anterior, na qual é mencionada a conquista de Babilônia por Ciro. É também
afirrnado que o filho de Nabonido estava em Babilônia nessa ocasião.
3. Novos textos foram descobertos e publicados nos anos seguintes dando
conta das diversas funções e posições de Belsazar antes e durante o reinado do
pai.
4. T G. Pinches publicou, em
1916, outro texto onde apareceram Nabonido e Bel-Shar-Usur conjuntamente
invocados num juramento. Isso seria uma evidência da co-regência de
Bel-Shar-Usur.
5. Sidney Smith publicou, em
1924, o Relatório em Verso de Nabonido, no
qual esse rei afirma ter confiado a direção do reino ao filho mais velho, no 3o.
ano. Belsazar seria então o 22 rei, ou co-regente. Nabonido havia partido
para a conquista de Tema na Arábia.
6. Rayrnond P. Dougherty publicou, em 1929, uma monografia
reunindo as diversas inscrições cuneiformes descobertas a partir do fim do
século 19. Nesse trabalho, ele chega à seguinte conclusão: Nabonido seria filho do príncipe de Harã.
Nabu-Balatsu-lqbi. e da sacerdotisa do templo da Lua cm Harã. Quando os medos
e babilônicos capturaram Harã em 610 a.C., a mãe de Nabonido foi levada para o
harém de Nabucodonosor. Nabonido, portanto, cresceu ao lado do rei. Possivelmente
em 585 a.C., segundo Heródoto, ele teria atuado como mediador de paz entre os
lídios e os persas, o que o revela um
favorito de Nabucodonosor (SDABC, vol.
4, págs. 806-808).
Segundo Heródoto, Nabonido
seria Labinetus II (o rei dc Babilônia em 546 a.C.), já que em
seus escritos Nabucodonosor corresponde a Labinetus I. Nabonido subiu ao trono em 556 e reinou até 539. Heródoto identifica o pai do
rei de Babilônia, no ano de sua conquista pela Pérsia (539 a.C.), pelo nome de
Labinetus II. Note-se, todavia, que os historiadores gregos antigos jamais
citam o nome do filho de Nabonido.
Ainda segundo Heródoto, a
esposa de Labinetus II foi Nitócris, uma mulher sábia e prudente, tal como
transparece em Daniel 5:10-l2.Parece que ela era filha de uma princesa
egípcia, pertencente ao harém de Nabucodonosor. Nesse caso, Belsazar era neto de Nabucodonosor, e Nabonido genro,
além de ser possivelmente filho adotivo.
Resumindo, a História clássica
aponta Nabonido como o último rei de Babilônia, enquanto Daniel nos fala de
Belsazar. Ambas as fontes estão corretas. Por anos a critica se levantou
contra a autenticidade deste livro, imaginando que haveria uma disparidade
aqui. Agora sabemos, pelos achados arqueológicos, do filho de Nabonido, Bel-Shar-Usur.
co-regente com o pai, pois esse se encontrava no Líbano numa campanha contra
Tema. Essa é a razão porque ao Belsazar pediu a Daniel que lhe interpretasse a
escrita na parede, prometeu-lhe a terceira posição no reino (Daniel 5: l6).A
primeira pertencia a Nabonido e a segunda era do próprio Belsazar.
BELSAZAR E
NABUCODONOSOR
Uma comparação dos textos
babilônicos com as informações históricas de Heródoto levam à conclusão de
que Belsazar era neto de Nabucodonosor e não filho como o livro de Daniel
afirma (versos 5:2, 11,18 e 22).
Para essa aparente
dificuldade, basta lembrarmos de que a Bíblia às vezes considera pai, um
antepassado, ou especificamente o avô ver Josué 7:18 e 24 por exemplo). O
termo para pai tanto no hebraico corno no aramaico é ‘ab, que também significa avô e ancestral (Gênesis 28:13; 32:9;
Êxodo 10:6;! Reis 15:11). Este certamente é o caso no que respeita ao
relacionamento de Belsazar com Nabucodonosor.
Essas informações colhidas da
História clássica e substanciadas por documentação da época, provida pelos
achados arqueológicos atuais, confirmam a precisão histórica do livro de
Daniel. Na próxima vez reforçaremos esse fato, analisando o problema da
identidade do rei Dario, da linhagem dos medos, referido em Daniel 5:31, 9:11,
11:1 e em todo o capitulo 6, outra suposta dificuldade histórica do livro
segundo preconizam os conceitos do alto criticismo.
Excelente produção, há riquezas de detalhes e bem elaborado, tanto é que até aquele que não tem um conhecimento do assunto tem que admitir que a Bíblia tem sempre a razão. Parabéns, continue assim trazendo conhecimento teológico para nosso povo pois há uma carência de verdadeiros ensinos.
ResponderEliminarDeus abençoe.