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quarta-feira, 14 de maio de 2014

AUTENTICIDADE DA MENSAGEM DE DANIEL - ÚLTIMA PARTE



Historiadores antigos dizem que Daniel foi profeta.

por José Carlos Ramos

 

No intuito de substanciar sua posição contrária à genuinidade profética do livro de Daniel, os críticos alegam duas evidências externas como indicativas de que esse livro é uma produção anônima do 2~ século a.C. A primeira se liga ao processo de canoniza­ção, e a segunda é conhecida como a ausên­cia de Daniel no “elogio aos pais” feito por Je­sus Bem Siraque, autor do Eclesiástico.

A alta-crítica argumenta que os judeus consideraram o livro de Daniel como de posterior produção, pois o incluíram na terceira divisão do cânon hebreu, conhe­cida como Kethubim (os Escritos), e não na segunda, conhecida como Nebhiim (os Profetas), conforme se pode observar no Talmude Babilônico, uma coletânea das tradições rabínicas datada do 4o. sécu­lo d.C. Com base nessas conclusões, tam­bém afirmam que Daniel não foi reconhe­cido como profeta.

 

JESUS BEM SIRAQUE

 

Em Eclesiástico 44-49, obra reconhe­cida como do 2o. século a.C., Jesus Bem Si­raque, o autor, tece uma série de elogios a vários dos antepassados da história de Is­rael. Daniel não é mencionado, o que tem levado os críticos a reforçar o argumento de uma data tardia para os seus escritos. Mas isso bem pouco significa, quando se considera que o referido escritor jamais pretendeu esgotar a lista dos grandes vul­tos de Israel.Tanto que ele não menciona, além de Daniel, a Esdras, um dos lideres exponenciais do retorno dos judeus à Pa­lestina. Ninguém, por isso, invalidaria a realidade histórica de Esdras, ou o coloca­ria em tempos posteriores à edição do Eclesiástico de Jesus Bem Siraque que dei­xa igualmente de citar a todos os juizes, exceção feita a Samuel. Também não fa­zem parte de sua lista reis piedosos que marcaram época na realeza judaica, como Asa e Josafá. Nem o grande Mardoqueu, do livro de Ester, foi lembrado.

Para compensar tal omissão da parte do autor do Eclesiástico existe um signifi­cativo número de referências feitas, direta ou indiretamente, a Daniel na literatura in­tertestamental. Vejamos a lista:

Fragmento Zadoquita (1o.ou 2o. Século a. C). Contém várias citações de Daniel.

 III Sibilinos (145-140 a.C.). Refere-se aos 10 chifres de Daniel 7.

 Fragmento Zadoquita (1o.ou 2o.século a.C.)

Testamento dos 12 Patriarcas (109-107 a.C.).Traz numerosas citações sobre Daniel.

      Livro dos Jubileus (109 a.C.).Toma emprestado de Daniel  9:24 o esquema das semanas de anos.

      Salmos de Salomão (70-30 a.C.). Fa­la da ressurreição, citando Daniel  12.

Aparte final de I Enoque (64 a.C.). Possui trechos de Daniel 7.

      Livro da Sabedoria (50 a.C.). Ci­ta Daniel 12.

Essas referências indicam a populari­dade de Daniel nos círculos literários da época. Podemos finalmente mencionar I Macabeus, escrito entre 137 e 105 a.C., que além do registro de importantes ci­tações de Daniel, perpetuou o testemu­nho do idoso sumo sacerdote Matatias pouco antes de morrer em 166 a.C., tecendo um elogio, nos moldes de Jesus Bem Siraque a vultos preeminentes da história de Israel, entre eles, Daniel, Ananias, Azarias e Mi­sael. Suas palavras foram:

“Porventura Abraão não foi achado fiel na tentação, e não lhe foi isto imputado à justiça? José guardou os mandamentos no tempo da sua angústia, e veio a ser o se­nhor de todo o Egito. Finéias, nosso pai, abrasando-se em zelo, pela lei de Deus, re­cebeu a promessa dum sacerdócio eterno. Josué, cumprindo a palavra do Senhor, veio a ser chefe de Israel. Caleb, dando tes­temunho na assembléia do povo, recebeu uma herança. Davi, pela sua brandura, con­seguiu para sempre o trono do reino. Elias, ardendo em zelo pela lei, foi arrebatado ao céu. Ananias, Azarias e Misael, crendo fir­memente, foram salvos das chamas. Da­niel, na sua simplicidade, foi livre da boca dos leões:’ (1 Macabeus 2:52-60, versão ca­tólica do Pe. Matos Soares).

Poderia um testemunho como esse, em favor das últimas quatro personalida­des mencionadas, ter sentido, tivesse mesmo o livro de Daniel sido escrito por um judeu anônimo, autor de vários deslizes históricos, que viveu nos tem­pos da própria produção de I Macabeus?

 

OUTRAS EVIDÊNCIAS

 

 

O ponto de vista que não confere au­tenticidade ao livro de Daniel deve ser re­jeitado pelas seguintes razões:

1- Se o livro de Daniel provém do 2o. século a.C. por pertencer aos Escritos, esse deveria ser também o caso de todos os de­mais livros que compõem essa divisão do canon hebreu. Porém, mesmo a alta-critica reconhece que vários documentos perten­centes a ela são bem antigos.

2- A tríplice divisão hebraica do An­tigo Testamento não indica que os ju­deus reconheciam diferentes níveis de inspiração. Era apenas uma forma didá­tica de referendar os escritos sagrados. Assim, a colocação de Daniel na tercei­ra divisão não lhe confere menor impor­tância. As três divisões não significam nem mesmo que ocorreram três está­gios de canonização.

3- Flávio Josefo, duzentos anos antes da elaboração do Talmude Babilônico, colocou Daniel entre os profetas (Contra Apion 1.8), o que indica que os judeus do primeiro e segundo séculos d.C. assim o consideravam.

4- O Novo Testamento também o re­conhece como profeta. O discurso escato­lógico de Jesus (Mat. 24 e 25; Mar. 13; Luc. 21), a referência do apóstolo Paulo à vin­da do “homem do pecado” (II Tess. 2), e vá­rias partes do Apocalipse estão ligadas à mensagem de Daniel.

5- Os judeus que traduziram as Escri­turas Hebraicas para o grego koínê colo­caram Daniel entre os profetas na Septua­ginta, tal como aparece em nossas Bí­blias, após o livro de Ezequiel e antes de Oséias. A produção da Septuaginta data do segundo ou, mais provavelmente, do terceiro século a.C.

6- Vários estudiosos reconhecem que Daniel foi inserido na terceira divisão do cânon porque os judeus não o considera­ram um profeta no sentido técnico do ter­mo. Ele não cumpriu o oficio de um pro­feta, como ocorreu com aqueles que as­sim foram considerados. Oficialmente, ele foi mais estadista que profeta, e por aqui­lo que é relatado acerca dele em seu livro, somado ao testemunho de Ezequiel 28:3, os judeus o colocaram na galeria dos sá­bios de Israel. Mas eles viram na mensa­gem de Daniel os elementos proféticos necessários para torná-la tão normativa como os demais escritos proféticos.

7- Esse fato é constatado pelo valor atribuído a Daniel pelos sectários de Qumran, que achavam que suas profecias diziam respeito aos seus dias (1o. século d.C.). Ademais, os vários manuscritos e fragmentos do livro encontrados nas ca­vernas 1 e 4, revelam a popularidade da obra. Um florilégio, encontrado na caver­na quatro, registra uma referência a Da­niel como “o profeta”.

8- Os escritos de Daniel possuíam valor profético no 4o. século a.C. Uma tradição preservada por Josefo, diz que o sumo sacerdote Jadua interceptou Alexandre o Grande em sua marcha contra Jerusalém. Isso teria ocorrido en­tre a conquista de Tiro e a primeira ba­talha contra os persas, antes de 334 a.C. Jadua, no traje su­mo-sacerdotal, acompanhado de vários sacerdotes também trajando as vestes do oficio, impressionou o conquistador ao ponto de Alexandre considerá-lo co­mo emissário de um Deus que antes lhe aparecera em sonho garantindo-lhe a conquista do Oriente. Entrando em Je­rusalém, foi ao templo para adorar, quando então Jadua lhe teria mostrado as previsões de Daniel, segundo as quais seria o conquistador da Pérsia. Muito contente, Alexandre outorgou diversos favores aos judeus (Antigüidades Ju­daicas, Xl, 8, 5).

Os críticos consideram o relato uma simples lenda, mas teriam que explicar por que razão Alexandre jamais pertur­bou os judeus. São também inconsisten­tes, ao aceitar o que Josefo diz imediata­mente antes da fala de Jadua. O historia­dor afirma em Antigüidades, XI, 7,2 que Jadua procede dos tempos imediatos a Dario, possivelmente o segundo rei com esse nome (423-404 a.C.), o que indica que a lista de sumos sacerdotes de Nee­mias 12:10 e 11, realmente data da épo­ca de Neemias e não de uma época pos­terior como alguns pensavam.

A alta-crítica não questiona o relato de Josefo, mas rejeita a historicidade da visita de Alexandre a Jerusalém. Vale ob­servar que Josefo é confirmado pelos pa­piros de Elefantina que mencionam Jôna­tas, pai de Jadua, como sumo sacerdote em 408 a.C.

 

 

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