Youtube

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

ADVENTISTAS E EVANGÉLICOS



APOLOGÉTICA

Adventistas e evangélicos
Resposta à reportagem “Como água e óleo”, publicada pela revista Eclésia,
edição de janeiro de 2001
por Moisés Mattos


A edição da revista evangélica Eclésia de fevereiro de 2001 pu­blicou a matéria de capa “Co­mo água e óleo”, do jornalista Carlos Fernandes, apresentando a Igreja Adventista como uma seita. Es­sa classificação foi atribuída ao fato de os adventistas manterem algumas di­ferenças doutrinárias em relação aos demais cristãos.
Que diferenças são essas e como entendê-las à luz da Bíblia? Como os adventistas podem afirmar sua legíti­ma identidade cristã? Respondendo a estas perguntas, este texto provê também uma réplica à referida matéria.
Em linhas gerais Fernandes pre­tende mostrar-se isento, como manda sua profissão, limitando-se a citar a posição adventista de um lado e a dos demais evangélicos do outro. Mas não se comporta assim em todo o texto.
Os pontos mais relevantes da matéria:

Imprecisões historicas  É pena que os críticos que discutem o adventismo não bebam em fontes primárias e seguras. Por fontes primárias e seguras, entendem-se livros e artigos escritos por pessoas isentas de preconceito ou produzidos pelos próprios adventistas.
Muitas publicações sobre os adventistas são cópias de cópias e não refletem a verdade dos fatos. Um escreveu e os outros se limitaram a co­piar sem investigação acurada. Infe­lizmente, Fernandes caiu nesse “canto da sereia”, que é pesquisar pouco com medo de perder-se nos argumentos.
Observe: Ele diz que Guilherme Miller “criou o Movimento do Ad­vento” em meados do século 19. Á primeira vista, parece certo, mas não é bem assim. O Movimento do Adven­to teve fundadores em vários lugares com a participação de várias denomi­nações. Por exemplo, na América do Sul, um sacerdote católico escreveu um livro sobre o segundo advento de Cristo (La Venida dei Messias). Seu nome é Manuel Lacunza, um jesuíta. José Wolf, um judeu cristão, também pregou a segunda vinda de Cristo, na Europa e no Oriente Médio, e foi até perseguido por isso. É interessante que os críticos do adventismo igno­rem esses personagens. Voltam-se apenas para Miller, conceituando-o como inconseqüente marcador de da­tas para a volta de Jesus. Miller era um pesquisador sincero das Escrituras. Teve avanços significativos e redesco­briu pontos da Bíblia esquecidos pe­los cristãos de sua época.
Lendo em fontes não-confiáveis, Fernandes afirma que, uma vez que Jesus não voltou em março de 1843, Miller teria “refeito os cálculos” e chegado à conclusão de que a data seria 22 de outubro de 1844. Na verdade quem refez o cálculo” não foi Miller, mas seus colaboradores, entre eles Samuel Snow. Para Miller o mais importante não era a data, mas a mensagem da volta do Senhor.
Fernandes também vacila quando cita os desdobramentos de 1844. Com o desapontamento, o movimento adventista fragmentou-se em vários gru­pos. O grupo dos que desanimaram e abandonaram a fé era grande. O segundo foi o grupo do status quo que conti­nuou a marcar datas para a vinda de Cristo. E o terceiro grupo era formado por estudiosos da Bíblia que, com ora­ção e lágrimas, descobriram as verda­des bíblicas então ignoradas. Foi esse grupo que, em maio de 1863, tornou-se a Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Os três grupos não se “uniram para formar a Associação Geral das Igrejas Adventistas do Sétimo Dia”, como dito na reportagem. A Igreja Adventista não surge de alguma briga de líderes por causa do poder eclesiás­tico, mas de um grupo que entendeu que Deus o chamou para pregar a mensagem bíblica, cristocêntrica e completa.
Ellen White teve participação no desenvolvimento da doutrina, mas não foi ela quem “lançou as bases da fé adventista”, como diz a revista Eclé­sia. Pessoas piedosas estudaram pro­fundamente as Escrituras e chegaram a conclusões importantes sobre pon­tos doutrinários. Com suas visões, El­len apenas confirmou o que já se ha­via estudado.

Distorções doutrinárias Nem sem­pre uma heresia é exatamente uma doutrina errada, mas pode ser uma ênfase errada numa doutrina certa. É o que o acontece quando alguns “especialistas em apologética” falam ou escrevem sobre o adventismo.
Por exemplo, Roque Carvalho, um dos entrevistados de Eclésia, falando da maneira como os adventistas vêem a salvação, afirma: “Se a salvação, para eles, depende da obediência à lei do Antigo Testamento, então a graça de Deus não faz sentido”. Em seguida, desafia: “É possível ser meio cristão?” Es­sa é uma argumentação imprópria.
Os adventistas não crêem na salvação pelas obras da lei. A Igreja Adventista crê na salvação pela graça por meio da fé em Cristo (Efés. 2:8). Entende também que, sendo perdoada e justificada por Cristo (Rom. 5:1), a
pessoa passa a guardar pela fé os man­damentos de Deus.  Pois a fé sem as obras é morta (Tia. 2:17).
A grande dificuldade de alguns é entender a verdadeira função da lei moral (os Dez Mandamentos) na vida do cristão salvo pela graça. Essas pes­soas ficam confusas quando Paulo diz que ninguém será justificado diante dEle por obras da lei” (Rom. 3:20); e em seguida que “a lei é santa; e o man­damento santo, justo e bom” (Rom. 7:12). “Afinal, Paulo era contra ou a favor da lei?”, perguntam  elas.


Os que guardam a Lei o fazem depois de terem uma experiência de salvação com Jesus Crísto e Sua graça.

Um estudo isento de preconceitos e dentro de princípios hermenêuticos básicos mostra que Paulo era contra o mau uso da lei de Deus. Na sua época pessoas achavam que, cumprindo os preceitos, seriam salvas. Assim, deixa­vam Jesus de lado. Segundo o apósto­lo Paulo, a lei mostra o pecado (Rom. 3:20), e como um aio (um ajudador), ela conduz o pecador a Cristo (Gál. 3:24) a fim de que seja justificado pe­la fé. Desta forma o apóstolo não des­cartou a lei, mas colocou-a no seu devido lugar: mostrar o pecado.
O problema, porém, está com os que param aí, e dizem: “Paulo nos livra da obediência à lei.” Ledo engano! O mesmo Paulo adverte que os “simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados” (Rom. 2:13).
Estaria Paulo pregando salvação pela lei? De forma alguma. Ele está di­zendo que os que guardam a lei o fazem depois de terem uma experiência de sal­vação com Jesus Cristo e Sua graça.
        Portanto, para os adventistas, guardar a lei não é um meio para a salvação, mas uma conseqüência da salvação.
Alguns intérpretes desavisados acabam sugerindo que “estar salvo em Cristo” é o mesmo que desobedecer à lei. Isso é um equívoco, diante do evan­gelho. Nem os críticos sérios do adven­tismo concordam com essa idéia.
Os intérpretes desavisados usam do Antigo Testamento só o que lhes in­teressa. Quando o assunto é dízimo, logo correm para Levítico, Deuteronô­mio e Malaquias. Mas quando se fala em sábado, dizem que ele foi abolido.

Miguel — Outro exemplo de distorção fi­cou por conta de Natanael Rinaldi. Pri­meiro, ele diz que os adventistas fazem Miguel ser igual a Cristo. Na verdade Miguel é um dos nomes de Cristo na Bí­blia. Com um razoável conhecimento de hebraico, conclui-se que o nome “Miguel” quer dizer “quem é igual a Deus?” A resposta na­tural é: só Jesus Cristo. Portanto, diferente do que afirma Rinaldi, di­zer que Miguel é um nome de Cristo na Bí­blia não relativiza a deidade de Cristo, mas a confirma. Para o adventismo, Jesus Cristo é Deus pleno (Col. 2:9).
É provável que alguma autorida­de do Instituto Cristão de Pesquisas ainda fique com dúvidas e argumente dizendo que a Bíblia fala de Miguel como um arcanjo e não como Cristo. Pois bem, é preciso lembrar que a pa­lavra bíblica para “anjo” também quer dizer “mensageiro”. Jesus Cristo foi o mensageiro de Deus para a humani­dade. Em Cristo está a maior revela­ção de Deus Pai (Heb. 1:1 e 2). E ain­da mais, devemos recordar que ao identificar Jesus como o “arcanjo Mi­guel”, a Bíblia não O torna um mero anjo, como também não O transfor­ma em animal ao identificá-Lo como um “cordeiro” (João 1:29), ou como um “leão” (Apoc. 5:5). Além disso, “Miguel”, em Daniel 12:1 e 2, aparece para defender o povo de Deus. De acordo com o profeta. ocorre a ressur­reição dos justos como conseqüência disso. Será que um anjo pode ressus­citar mortos? Esse Miguel deve ser mais do que um anjo!
       A matéria em questão diz ainda que “os adventistas consideram que Cristo adentrou no santuário celeste em 1844”. Quem disse isso? De onde Rinaldi tirou essa afirmação?
A literatura adventista deixa claro que Cristo foi ao lugar santíssimo do santuárío celeste por ocasião de sua ascensão ao Céu. O que se destaca é que em 1844 (segundo a  profecia de Dan. 8:14), Jesus iniciou um ministé­rio de juízo no santíssimo no santuá­rio celestial. Porém, Ele sempre traba­lhou em nosso favor, como interces­sor, e ainda trabalha.
Sobre o ministério de Cristo no Céu, é preciso lembrar que, embora a obra de salvação tenha sido completa na cruz, seus efeitos serão sentidos por toda a eternidade. Alguns críticos do adventismo não entendem por que Je­sus hoje está ministrando no santuá­rio celestial (Heb. 8:1 e 2) como su­mo-sacerdote, se Ele já fez tudo na cruz. O motivo é que eles não enten­dem que a salvação é um plano amplo. Não sabem que ela envolve o nasci­mento, a vida impecável de Cristo, Sua morte, ressurreição, intercessão, o juí­zo no santuário celestial e ainda a se­gunda vinda para fazer o juízo final. Ora, a mesma Bíblia que diz que quem não crê em Cristo “já está julgado (João 3:18), também diz que Deus “es­tabeleceu um  dia em que há de julgar o mundo com justiça” (Atos 17:31).
Portanto, ao falar sobre a obra de Cristo na cruz, temos de enfatizar os atos do Senhor antes e depois dela. A cruz é o centro, e o centro de­ve ser um ponto de atração de todos os demais atos do plano de salvação, sem anula-los.
       O Sr. Rinaldi faz ainda outra afir­mação imprópria: “Os ensinos de Ellen White deixam claro que o salvador não é Cristo, e sim, Satanás, já que sobre ele seriam lançados os pecados, à seme­lhança do bode emissário descrito no livro de Levítico”. O dito pesquisador escurece a interpretação adventista so­bre o “bode por Azazel” (Lev.16:8). Azazel e o bode emissário representam a mesma coisa. No original hebraico, está exatamente assim: “E lançará Arão sorte sobre os dois bodes. Uma sorte para Javé e outra sorte para Azazel.”
O obra evangélica (não-adventis­ta) The New Schaff-Herzog Encyclope­dia of Relígious Knowledge comenta as­sim esse texto de Levítico: “Partindo do fato de que há um contraste entre as expressões ‘para Jeová’ e ‘para Aza­zel’, muitos supõem que Azazel seja um nome oposto a Jeová, monstro do deserto, um demônio, ou diretamente Satanás... O contraste entre para Jeová’ e ‘para Azazel’ favorece a interpretação de Azazel como subs­tantivo próprio, sugerindo em si mes­mo, uma referência a Satanás.” Assim, o bode emissário (Azazel) é visto co­mo o próprio Satanás. Porém, a acusa­çao é de que os adventistas, por inter­pretarem Levítico 16 desta forma, es­tão dizendo que o diabo é o salvador, e não Cristo. Esse é um erro inteiramen­te ausente na mensagem adventista.
Para os adventistas, Azazel (Sata­nás) não participa da expiação. Ele não é o salvador; ele nem derrama seu sangue. Isso é concluído a partir de uma leitura bem feita de Levítico 16:9 e 10. O verso 9 fala do bode “para o Senhor” (que simbolizava Cristo). Es­te era sacrificado e derramava seu sangue. Sem derramamento de san­gue, não há remissão” (Heb. 9:22).
Levítico 16:10 fala do bode emis­sário (Azazel) e fica claro que seu san­gue não era derramado, e ele não era oferecido em sacrificio pelo pecado. Ele simbolicamente carregava os pe­cados do povo e morria no deserto sem derramar sangue. O bode emis­sário prefigura Satanás que vai mor­rer, após o milênio, não para perdoar pecados, pois quando ele morrer os pecadores arrependidos já estão sal­vos.  Mas por causa dos pecados que cometeu e induziu pessoas a cometer (Apoc. 20:7 e 10).
Só a morte de um justo pode sal­var os pecadores. Jesus Cristo é o Jus­to que morre.
Portanto, dizer que, por esta in­terpretação de Levítico 16, os adven­tistas crêem em Satanás como salva­dor, é totalmente equivocado.
Bem compreendidas essas ques­tões doutrinárias e teológicas, fica bas­tante enfraquecida a classificação do adventismo como uma seita. Mesmo assim, é bom lembrar que a palavra “seita” já foi usada em referência a mui­tos outros movimentos cristãos, tam­bém legítimos. Quem usa a palavra de forma indiscriminada, parece ter pouca memória acerca da história cristã.
Nos primórdios, a igreja cristã foi considerada uma seita judaica. Nem por isso o cristianismo deixa de ser a fé verdadeira. No início da Reforma, no século 16, o movimento de Lutero e Calvino foi considerado uma “seita do diabo”,  por quem detinha as “chaves do céu e do inferno”, a igreja oficial.
Os adventistas se consideram cristãos e defendem as doutrinas es­senciais do cristianismo. Mas, dife­rentes da maioria, eles levantam a bandeira de doutrinas que têm sido esquecidas pelos demais cristãos. Por lembrarem as verdades esquecidas aos seus irmãos, os adventistas são acusa­dos de ser uma “seita”.
O batista Walter Martin, autor do livro The Kingdon o fthe Cults, depois de uma exaustiva pesquisa sobre o ad­ventismo, concluiu que, embora a igreja adventista tenha doutrinas dis­tintivas, ela pode ser considerada cris­tã por proclamar verdades básicas do cristianismo.
A despeito disso, ser chamado de “seita”, por causa do testemunho da verdade, não é o fim.

Moisés Mattos é diretor de Ministério Pessoal da União Sul-Brasileira.

Sem comentários:

Enviar um comentário

VEJA TAMBÉM ESTES:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...