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terça-feira, 16 de outubro de 2018

UM DEUS SANGUINÁRIO?



Um Deus sanguinário?
Saber por que Deus mandou matar no tempo
do Antigo Testamento evita mal-entendidos

Michelson Borges
Editor associado





Numa época em que o terrorismo  e o fundamentalismo religioso estão sendo amplamente discu­tidos, surgem algumas dúvidas e confusões com relação a certos textos bíblicos. Robert Wright, autor de O Animal Moral: Psicologia Evolucionária e o Cotidiano, chegou a escrever que “Se Osama Bjn Laden fosse cristão e quisesse destruir o World Trade Cen­ter, citaria a reação violenta de Jesus contra os vendilhões do templo” -
Exageros á parte, Wright não é o único escritor contemporâneo a com­parar a postura de terroristas com certas passagens das Escrituras, espe­cialmente aquelas em que Deus apa­rece intervindo de forma drástica na vida humana ou ordenando a morte de pessoas. Mas o Deus do Antigo Testamento não é menos amoroso do que o Deus revelado por Jesus.
Para Chris Blake, autor de Searching for a God to Love (Procurando um Deus para Amar), “figuras de doenças em um livro de medicina não refletem o médi­co; elas ilustram a grande necessidade de cura” A comparação é boa, uma vez que conhecer o contexto do Antigo Testamento e as “doenças espirituais” do povo de Deus —   ajuda e muito a en­tender certas reações divinas.
Blake faz outra comparação: “Deus Se revelava ao povo do Antigo Testa­mento como uma persiana num quar­to escuro uma lâmina por vez para que eles se acostumassem aos poucos com a luz. Se Ele houvesse aberto to­talmente a persiana e revelado Sua deslumbrante ternura e tremenda bondade, a luz teria cegado os antigos. Eles não teriam visto coisa alguma.”
Quando se conhece o contexto cul­tural da época pode-se perceber que, na verdade, o Deus do Antigo Testa­mento é o mesmo no Novo. Se não, note este texto bíblico: “Amaras o teu próximo como a ti mesmo.”  São pala­vras de Jesus, certo? Certo. Mas elas estão registradas em Levítico 19:18, como tendo sido ditas primeiramente por Yahweh ao povo de Israel. Ainda que tenham sido necessárias atitudes extremas da parte de Deus em alguns momentos da História, uma coisa fica clara para o estudante da Bíblia: indis­cutivelmente, do Gênesis ao Apocalipse, “Deus é amor” (1o. João 4:8).
Mas, se Deus é amor, por que Ele mandou matar? Esta é a pergunta que se impõe quando certas passagens bí­blicas são analisadas. A primeira difi­culdade em se lidar com essa questão e justamente a pequena compreensão que o ser humano tem do caráter de Deus. As pessoas formam seus valores e tomam suas decisões através do para­lelismo ou comparação. Escolhem este ou aquele produto comparando cores, formas, sabores, preço. Com relação ao divino. não ha com o que ou com quem compara-lo. Os padrões da di­mensão terrena e finita não podem ser parâmetros ou projeções para aquilo que está infinitamente acima da per­cepção e do conhecimento humanos.

Conseqüências—A Bíblia fornece algumas pistas sobre a pessoa de Deus. Ela diz que Deus é puro, santo, justo e amoro­so. Sua santa lei tambérn possui esses atributos, pois é a expressão de Seu caráter. Assim, a conseqüência negativa surge porque o padrão divino para a vida humana é rompido. O “castigo” antes de ser um ato isolado de um Ser superior e rigoroso, nada mais é do que o exercido zeloso e exigente da própria virtude que foi desprezada.
A não observância da virtude divi­na da pureza, por exemplo, foi a cau­sa de muitas conseqüências negativas para o ser humano. A impureza que se alastrava condenou toda a geração de Noé, numa oportunidade para um novo começo da raça humana. Note-se a grande longanimidade de Deus: Noé pregou por 120 anos que viria a destruição, mas os antediluvianos preferiram assumir as conseqüências.
Outro exemplo de extrema impu­reza: Sodoma e Gomorra. A destrui­ção destas duas cidades evidencia a consequência do pecado. É uma das páginas mais tristes sobre o ponto a que pode chegar a depravação do ser humano. Não havia outro jeito. A im­pureza, cujo clamor subira aos Céus, tinha que ser exemplarmente conde­nada, como a um câncer que precisa ser extirpado, sob o risco de comprometer aquilo que ainda está são.
Por outro lado, Deus poupou a cidade de Nínive em circunstâncias semelhantes, devido ao arrependimento de todo o povo. Isso deixa evidente a misericórdia divina (ver Jonas 3:1-10).
A impureza na vida impede o ser humano de se aproximar de Deus. Foi o que aconteceu com Nadabe e Abiú. Por serem filhos do grande sacerdote Arão, julgavam que poderiam apresen­tar-se diante de Deus da forma como lhes convinha, e não de acordo com os preceitos divinos. As cerimônias do santuário apontavam para a obra inter­cessória de Cristo, e tinham um caráter sagrado. A impureza dos dois hebreus foi castigada: “Ora, Nadabe e Abiú [...] ofereceram fogo estranho perante o Se­nhor, o que Ele não ordenara. Então saiu fogo de diante do Senhor, e os de­vorou; e morreram perante o Senhor” (Lev 10:1 e2).
Posteriormente, por não ter outro alimento, Davi comeu dos pães da proposição), o que não era permitido (ver 1 Sam. 21:4-6). Mas Deus não o matou. Isso demonstra que a irreve­rência e mais uma disposição do cora­ção do que meramente atos exteriores.
Santidade e pureza andam de mãos dadas. Enquanto pureza é eliminar tudo aquilo que prejudica o viver, santidade é somar tudo aquilo que exalta e dignifica o ser humano;  en­quanto pureza é retirar do viver ético tudo aquilo que rebaixa a vida moral, santidade é acrescentar padrões divi­nos a vida, pela comunhão com Jesus.
Santidade e o segundo padrão pelo qual o ser humano deve caminhar. As­sim, a quebra deste padrão também traz consigo desgraças inevitáveis.
Israel estava diante da sonhada ter­ra prometida. O grande confronto da santidade exigida do povo teria inicio a partir do momento em que a terra começasse a ser conquistada. Isso porque os povos que ali viviam não eram nada santos. Pelo contrário, eram imorais, violentos e idólatras, praticando toda sorte de profanação e ofensas ao nome de Deus. Essa dife­rença teria que ser clara e evidente­mente absorvida pelo povo de Israel.
O   padrão divino de santidade co­meçou a ser mostrado através da cida­de de Jericó e tudo o que nela havia: “A cidade, po­rém, com tudo quanto nela houver, será anátema ao Senhor; somente a prostituta Raabe viverá, ela e todos os que estive­rem em casa” (Jos. 6:17). Raabe aceitou os termos do Senhor e foi salva, da mesma maneira que aque­les que aceitarem a Pala­vra de Deus serão salvos.
O Senhor ainda advertira Israel para não tomar nada do que fosse de Jericó símbolo do peca­do. A ambição de Acã foi maior e ele ten­tou esconder consigo algumas riquezas. Resultado: foi apedrejado e suas coisas queimadas (Jos. 7:15, 24 e 25).
Como escreveu Chris Blake, “Deus levantou Sua voz freqüentemente no Antigo Testamento para atrair a aten­ção dos filhos de Israel”. De fato, Deus precisava ser “duro” com Seu povo; afinal, Ele os havia conduzido até ali para serem luz para outros po­vos. O perigo da paganização era constante. As nações vizinhas pos­suíam divindades de caráter funda­mentalmente violento e imoral, que conduziam o povo á guerra e a depra­vação. Os cultos eram verdadeiras or­gias, com sacrifícios até de vidas hu­manas. Não havia como compactuar. O povo que deveria ser santo porque o seu Deus é santo tinha que lutar e eliminar por completo tais pecados.
A justiça é outro padrão para o qual não temos paralelismo. Por isso, hoje, nem sempre é possível entender exata­mente o porquê de certas coisas terem acontecido. Como exemplo da quebra deste padrão, tomemos apenas uma passagem: “Estando, pois. os filhos de Israel no deserto, acharam um homem apanhando lenha no dia de sábado. E os que o acharam apanhando lenha trouxeram-no a Moises e a Arão, e a toda a congregação e o meteram em prisão, porquanto ainda não estava declarado o que se lhe devia fazer Então disse o Senhor a Moisés: “Certamente será morto o homem; toda a congrega­ção o apedrejara” (Num. 15:32-36).
Será que foi agradável para aquelas pessoas apedrejarem o homem? E por que “toda a congregação” deveria par­ticipar da terrível cena? Os preceitos para a vida de obediência e adoração a Deus já tinham sido declarados por Moisés. O Senhor queria que o povo entendesse a importância de Seus mandamentos. O transgressor do sá­bado, certamente não arrependido de seu feito, foi morto como exemplo da justiça divina e da gravidade do peca­do. Se Deus perdoasse o homem em rebelião consciente, Satanás seria o primeiro) a acusa-Lo de injusto.
É preciso que entendamos que o caminho da justiça de Deus se faz muitas vezes de forma incompreensí­vel para nos, e que o Senhor não tem “prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu cami­nho e viva” (Eze. 33:11).
A quarta razão pela qual as mani­festações negativas de Deus estão re­gistradas na Bíblia é decorrente não da falha do ser humano diante de qualquer padrão divino, mas de uma decisão soberana e amorosa de Deus.
Por incrível que pareça, apenas uma vez o Senhor vai Se manifestar negativamente por causa do amor, e esta única vez é contra Ele mesmo: “Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o Seu Filho único, para que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16, Bíblia de Jerusalém). A palavra “entregou” poderia ser substi­tuída por –“matou”. Sim, porque não foi nada mais, nada menos do que isso.
Deus amou tanto a cada um dos seres humanos que deu o que mais amava: Seu único Filho. Quando Deus comissionou os anjos para guiar os pastores ate Belém em forma de uma linda estrela, sabia que ela apon­tava para o Golgota.
O Pai Celestial sempre visou ao bem da humanidade. E para isso não poupou esforços, correndo mesmo o risco de ser mal interpretado. Por que Ele Se afligiu até suar sangue e mor­reu por decisão própria? Porque Deus, o Senhor, é puro, santo, justo e amoroso.


Sinais dos Tempos       Maio-Junho/2002

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